Terra sem lei:
o competitivo
do Fortnite
no Brasil

Por que um dos jogos mais bem
sucedidos dos últimos tempos
não consegue engrenar competitivamente?

Bruno Povoleri | Redator de Esports

Se você acompanha ou tem conhecimento sobre o cenário de esports, já deve ter se perguntado ou pensado a respeito do porquê do Fortnite ainda não ter deslanchado competitivamente no Brasil. Lançado em 2017, o battle royale da Epic Games vive uma linha tênue entre agradar dois públicos distintos dentro de um mesmo universo.

Historicamente, o jogo carrega dois fardos que caminham lado a lado. O primeiro deles é em relação à prioridade de produzir conteúdos voltados ao entretenimento. Já o segundo envolve distribuir grandes premiações em competições que dispõem de um sistema único e um tanto quanto confuso e inadequado. É aí que está o problema.

Essa clara divergência de preferências da Epic em relação ao que implementar no Fortnite é um desperdício enorme de potencial para um game que certamente poderia estar entre as referências competitivas do país. O cenário é uma bagunça e a resposta exata talvez nem a própria empresa tenha. Só que existem caminhos existentes e alguns outros meios extremamente alcançáveis que mudariam o rumo do Fortnite.

Afinal, como funciona o competitivo?

Mesmo aqueles que já estão inseridos há um bom tempo no competitivo do Fortnite têm dificuldade para explicar como funciona o sistema empregado pela Epic Games, e isso é um dos grandes problemas do jogo. Até hoje não há um espaço oficial fixo que engloba todas as informações competitivas que já ocorreram ou acontecem ao vivo no battle royale.

Dentro do próprio Fortnite existe a aba destinada ao competitivo que informa quais campeonatos estão por vir e atualiza quase que instantaneamente as pontuações dos torneios, mas como fica a situação de quem quer acompanhar o competitivo sem precisar ter que ficar abrindo o jogo? Na maioria dos casos, eis o uso do Fortnite Tracker, plataforma desenvolvida por terceiros que detalha número de jogos, taxa de vitórias, calendário completo da temporada e, de quebra, também conta com um ranking que calcula o desempenho geral para determinar os melhores jogadores daquela região.

A pergunta que não quer calar: será que a Epic não tem capacidade de desenvolver algo desse tipo ou só não faz questão mesmo? A segunda opção parece mais realista, mas antes disso a empresa precisa rever a logística do competitivo, que é atualizado a cada nova temporada e não anualmente como outras desenvolvedoras de jogos.

Ou seja, jogadores, organizações e jornalistas precisam aguardar o término das temporadas, que geralmente duram em torno de três meses, para saber quando acontecem as principais competições do Fortnite. A título de contextualização sobre a gravidade da situação, staffs de equipes importantes presentes no Brasil confidenciaram que, em algumas ocasiões, só descobrem a realização de um determinado torneio do jogo na véspera da realização dele.

Isso normalmente é comum de acontecer na Cash Cup, competição que ocorre semanalmente em formatos de Solo, Duplas, Trios e Quartetos - a Epic escolhe dois desses para implementar durante a season. Em duas etapas distintas, o torneio exige que os jogadores atinjam uma determinada colocação para passar às finais daquela edição, que costuma ocorrer de um a dois dias depois das classificatórias. O torneio distribui diferentes valores de prêmios em dinheiro para quem terminar nas melhores posições. Os campeões das nove edições da Temporada 1 do Capítulo 3, por exemplo, receberam US$ 750 no Solo e US$ 1,1 mil nas Duplas.

Já a Fortnite Champion Series (FNCS) é o grande produto das temporadas do Fortnite e, portanto, é mais organizada. A competição tem ao menos uma edição garantida a cada season, com o extra da FNCS Grand Royale, considerado o encerramento anual do torneio e responsável por disponibilizar uma premiação ainda maior em comparação com a tradicional FNCS.

O sistema da FNCS é modificado pela Epic com certa frequência e, por isso, é difícil de entender a fundo. O torneio também alterna entre formatos de Solo, Duplas, Trios e Quartetos, sendo que um deles é escolhido pela publisher a cada temporada. De uma maneira resumida e intuitiva, a FNCS começa com classificatórias abertas ao longo de semanas, depois tem as semifinais em um curto espaço de tempo e, então, chegam as finais - que acontecem em dois dias distintos e garantem premiações em dinheiro para todos os classificados.

Somente Phzin e kitoz, dupla campeã da FNCS na Temporada 1 do Capítulo 3, levaram para casa US$ 80 mil. Como comparação, o valor se aproxima da premiação total de R$ 405 mil distribuída pela Riot Games no primeiro split do VALORANT Challengers Brasil 2022, o principal campeonato nacional de VALORANT.

A cereja do bolo, no entanto, é a Fortnite World Cup, também conhecida como Copa do Mundo de Fortnite. Assim como já diz o próprio nome, a competição reúne os melhores jogadores das regiões Europa, América do Norte (Leste e Oeste), Brasil, Ásia, Oriente Médio e Oceania, com a diferença de acontecer presencialmente em vários formatos.

A única edição da Fortnite World Cup ocorreu em julho de 2019, no Arthur Ashe Stadium, na cidade de Nova York, nos Estados Unidos. O campeonato premiou cerca de US$ 8,5 milhões entre disputas Solo, Dupla e modos Criativo e Charity Pro-Am. Apesar da Epic planejar a realização anual, não houve Fortnite World Cup em 2020 e 2021 por conta da pandemia de Covid-19.

Investimento de organizações

Por mais incrível que seja, o Fortnite não é composto exclusivamente por “organizações de Twitter”. Apenas no Brasil, o battle royale não só já contou, como segue dispondo de equipes com certa notoriedade no cenário nacional e internacional de esports. Em um passado nem tão distante assim, FURIA, Falkol (atualmente Liberty) e W7M foram alguns dos times nacionais que investiram na modalidade.

Hoje, o cenário brasileiro do Fortnite tem jogadores que dispõem do apoio de organizações internacionais, como os casos de FaZe Clan, Team Liquid e Cloud9. Além disso, há LOUD e Hero Base, que se tornaram as grandes referências nacionais do game no país, e 9z Team, talvez a maior organização da Argentina e presente também em outros jogos de destaque.

Mas por que o Brasil consegue atrair investimento estrangeiro? A resposta é muito simples: primeiro que o Brasil é a terceira região mais prestigiada financeiramente pela Epic Games, atrás somente de Europa e América do Norte (Leste); segundo que os pro players tiveram bons resultados internacionais; terceiro que o real é uma moeda desvalorizada e isso faz com que o custo de uma operação competitiva seja menor em comparação com a realização de investimentos em outras regiões; por último, mas não menos importante, há o diferencial do engajamento da comunidade brasileira.

Foto: Divulgação LOUD

Na junção de todos esses fatores, investir no competitivo do Fortnite tem um bom custo-benefício para quem vem de fora do Brasil. Por outro lado, não faz muito sentido para quem faz parte do cenário nacional atualmente. Não há retorno financeiro expressivo, não há uma variedade de marcas dispostas a patrocinar o projeto e uma estrutura adequada dificilmente vale o investimento, tendo em vista o caso da LOUD, que optou por fechar a mansão destinada ao Fortnite depois de cerca de dez meses de uso.

Em outras palavras, não é necessário ser especialista em finanças para entender que a conta de investir no competitivo do Fortnite sendo uma organização brasileira, hoje, não fecha. Além do fato no qual a Epic também não costuma ter uma relação direta com os times e foca mesmo em dialogar com os pro players e criadores de conteúdo diretamente. A ideia pública passada pela publisher é de que não muda absolutamente nada se o time X contratou o jogador Y.

Com exceção do lado financeiro, é preciso pontuar que a Fortnite World Cup age como um fator diferencial na chegada e na manutenção de organizações no jogo como um todo. A competição é um dos maiores eventos dos esports, tem uma estrutura completamente única, conta com marcas relevantes e atrai praticamente todos os olhares do mundo. A FURIA é o principal exemplo disso, porque só entrou na modalidade a partir da contratação de Leleo, hoje na LOUD, que estava entre os classificados à edição de 2019.

Fator "mudança de vida"

Fortnite não é um jogo fácil do ponto de vista competitivo, principalmente no Brasil em que há um grande volume de bons jogadores. Engana-se quem pensa que, por ter altos valores em premiações, não há dificuldades em estar no topo do game. Alguns profissionais chegam a ultrapassar 12 horas de treino por dia sabendo que todo o esforço pode ser recompensado no fim. Esforço esse que tem o poder de transformar vidas de jovens e suas famílias, como acontece no futebol.

A diferença é que o jogo não é inclusivo e demanda um poder aquisitivo bem maior para que o jogador consiga ter acesso, como um computador de alto desempenho e uma internet de alta velocidade. Ainda assim, basta um título de FNCS aqui e boas colocações em outros torneios ali para que a vida não só do pro player, como de sua família, mude de perspectiva.

Esse aspecto é ainda mais agravante com a participação em uma edição da Fortnite World Cup. Tal qual também ocorre na Copa do Mundo de futebol, poucos jogadores têm a capacidade e o privilégio de atuar em uma competição disputada entre nações, o que valoriza demasiadamente a participação no torneio.

O valor da premiação da Copa do Mundo 2019 para o vencedor do Solo foi US$ 3 milhões (Bugha), e o da Duo também de US$ 3 milhões (nyhrox/aqua)
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Fortnite

Antes da Fortnite World Cup, em 2019, quem era o norte-americano Bugha pré-título? Será que ele estaria hoje na Sentinels se não fosse campeão? E do ponto de vista da região brasileira, quem era o argentino k1ng pré-quinta colocação? Quem eram os brasileiros DrakonZ, Leleo, Nicks e Lasers pré-participação? Será que k1ng entraria na FaZe Clan se não tivesse tido uma atuação de destaque? Será que DrakonZ e Nicks entrariam na Cloud9 se não conseguissem se classificar? Será que Leleo entraria na FURIA se não conseguisse se classificar? E se o Lasers não estivesse lá, ele teria entrado na LOUD?

É difícil encontrar respostas para todas essas perguntas porque a partícula “se” não só pode mudar muita coisa, como também tem muitas variáveis. Mas a real é que todos esses jogadores citados têm uma vida antes e depois da Copa do Mundo do jogo, eles entendem o peso e a relevância da competição melhor que ninguém.

A grande questão é que a Fortnite World Cup só teve uma edição e já está sem acontecer há quase três anos devido a fatores externos. Se tudo ocorrer bem e a competição voltar a acontecer anualmente, esse valor pode ser naturalmente diminuído com o tempo. Mas nada muda o fato de que o jogo seguirá sendo um agente de transformação na vida dos pro players, com uma influência que ultrapassa, em muito, um mero mapa colorido.

Imagem: Epic Games

Potencial de mercado

O competitivo do Fortnite no Brasil é um eterno desperdício no que diz respeito a não atrair grandes marcas. No caso, há um número baixo de empresas que estão dispostas a patrocinar um campeonato, uma equipe ou um pro player do jogo. Número esse que é bem inferior ao de outros games - inclusive o Free Fire, parte do mesmo gênero Battle Royale.

A título de exemplificação nacional, a Hero Base, criada originalmente no Fortnite, tem somente três patrocinadores. É verdade que a organização fundada por Flakes Power dispõe de menos de um ano de existência, mas conta com pro players de renome e criadores de conteúdo que realizam um trabalho diferenciado no Fortnite. Mesmo com boas intenções e resultados expressivos, a Hero tem dificuldades no mercado publicitário.

Outro exemplo é a LOUD, revolucionária do cenário gamer. A organização vive uma situação diferente e tem ao seu lado sete marcas expressivas. Porém, nenhuma delas foram “conquistadas” devido à presença no Fortnite, já que a equipe é muito mais consolidada no Free Fire e até mesmo no League of Legends (LoL) e no VALORANT, modalidades em que entrou bem depois do battle royale da Epic Games.

Cenário competitivo forte é sinônimo de organizações fortes. Se na atual conjuntura nem as organizações brasileiras têm um retorno expressivo de estar no Fortnite, por que as marcas vão patrocinar? Não vão. E isso diz mais sobre o jogo do que sobre as marcas.

É a Epic que precisa passar uma mensagem positiva ao mercado, com a valorização dos seus produtos. Basta ter um diálogo mais claro e direto com as organizações, definir melhor a comunicação com a comunidade, dar segurança com um calendário bem definido e fazer com que a marca do Fortnite consiga, enfim, emplacar competitivamente. O potencial existe, mas não é aproveitado.

Foto: Epic Games

(Falta de) Relevância na mídia

Tenho ligação com o competitivo do Fortnite desde agosto de 2019, quando entrevistei Nicks e kurtz, que haviam acabado de participar da Copa do Mundo do jogo. Desde então minha relação com a comunidade do game se estreitou e passei a cobrir com maior proximidade. O primeiro contato da Epic Games comigo só aconteceu em dezembro de 2021, praticamente dois anos e quatro meses depois. Isso talvez explique bastante coisa sobre a falta de cobertura do battle royale na imprensa brasileira.

No geral, a Epic sempre teve dificuldades para lidar ou basicamente se comunicar com jornalistas de esports no país. Tanto é verdade que existe uma carência enorme de profissionais da área que realizam uma cobertura frequente de Fortnite. São poucos os veículos que cobrem o jogo além da nota mensal sobre o vencedor da FNCS. E, por incrível que pareça, há demanda de quem quer consumir mais do que o factual.

O que acontece então? Não há um site próprio do Fortnite para encontrar informações básicas. Não há um calendário bem explicado. Não há produções condizentes com o nível dos campeonatos durante as transmissões oficiais. Trata-se, então, de um cenário competitivo bagunçado e completamente casa da mãe joana.

Em uma analogia barata, a Epic é o ataque e os pro players são a defesa. Não tem meio-campo.
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Bruno Povoleri

Já perdi as contas de quantas vezes deixei de noticiar um fato porque não tinha foto de um determinado jogador. Já perdi as contas de quantas vezes tive que pedir ajuda diretamente aos jogadores para me explicar o formato de um campeonato. Já perdi as contas de quantas vezes precisei ir de jogador em jogador para descobrir o nome verdadeiro deles - algo que até já rendeu falsidade ideológica e a própria família do jogador veio me informar.

É um desafio cobrir Fortnite no Brasil e, para piorar, ainda é um trabalho que não recebe o devido valor da comunidade. Não julgo, porque quem faz parte dela nunca foi acostumado com um jornalismo sério, comprometido com a verdade e que não precisa agradar fulano ou ciclano. No fim, a falta de uma relação consolidada entre a Epic e a imprensa obviamente colaborou para a formação de um buraco mais fundo do que imaginamos.

Prioridades da Epic Games

Toda grande desenvolvedora de jogos tem prioridades, né, mores? Com a Epic Games não é diferente, e é bem claro até. A publisher não esconde da comunidade, do mercado de games e de todos os envolvidos no Fortnite que o foco é produzir entretenimento a partir de crossovers com as mais variadas empresas. A realidade é que a Epic faz muito bem e talvez seja a principal referência nisso, mas e o competitivo?

Como já disse Publílio Siro, escritor latino da Roma Antiga, “fazer duas coisas ao mesmo tempo é não fazer nenhuma delas”. Obviamente, a Epic não consegue tornar o competitivo do Fortnite nem próximo do sucesso que é a produção de skins, asas-delta, ferramentas de coleta, emotes e tudo que envolva conjuntos de cosméticos dentro do jogo. E isso não é porque a publisher é incapaz. É uma questão de priorização. Nada além disso.

Ao mesmo tempo em que cosméticos e colaborações com celebridades influentes de diferentes segmentos dão certo, os esportes eletrônicos seguem sendo uma ferramenta de conversão e engajamento utilizada por outros jogos. Mesmo assim, a Epic parece não se animar com isso e permanece fiel aos seus princípios.

A Epic está errada? Não necessariamente. Do ponto de vista mercadológico, a desenvolvedora é muito bem sucedida, mesmo sem investir e fazer mais pelo ecossistema competitivo. Quando digo fazer mais, não quero dizer colocar um caminhão de dinheiro em premiações, e sim investimento em organização, logística, comunicação, transmissão e demais fatores que possam gerar estabilidade, inovação e interesse público.

Lei na terra sem lei

Se quiser mesmo dar o próximo passo, o competitivo do Fortnite precisa ter um cenário fechado, que nada mais é do que um calendário oficial regulamentado e organizado pela própria Epic Games. O desafio da empresa é fazer com que isso não afete a atual essência do jogo, que nada mais é do que dar liberdade e autonomia para o surgimento de novos talentos.

Um circuito terminantemente fechado é limitador e menos flexível, mas ao mesmo tempo dá mais estabilidade, segurança e rivalidade. Isso porque há duas opções de modelos distintos: o primeiro tem pelo menos duas divisões em que há rebaixamentos e promoções entre elas, enquanto o segundo é formado por franquias, onde organizações compram uma vaga e não têm chances de rebaixamento.

No atual momento, o Fortnite segue com circuito aberto e possibilita que qualquer jogador consiga ser campeão independentemente de A, B ou C - algo que é legal pela frequente manutenção do improvável. Em contrapartida, esse mesmo circuito aberto não possibilita identidade ao torneio e não dá poder às organizações, que praticamente só expõem suas marcas com um mero nome antes do nickname dos jogadores.

Mas existe um certo e errado a respeito dos dois sistemas? Não, não existe. E por isso tenho minhas convicções de que o competitivo do Fortnite deveria fazer uma mescla entre ambos. Um circuito fechado com uma disputa entre X equipes certamente iria atrair várias equipes de esports presentes hoje no país, mas um circuito aberto exatamente como sempre aconteceu dá a oportunidade dos pro players atuarem por livre e espontânea vontade.

Não faço ideia sobre a viabilidade disso e tenho minhas dúvidas se acontecerá em um futuro próximo, mas a Epic tem que entender, de uma vez por todas, que precisa ter as organizações ao seu lado para evoluir competitivamente. Para isso, é necessário que seja formulado um cenário do Fortnite bom para os pro players, que terão estrutura, salários e projeção de futuro; bom para as organizações, que poderão elaborar um planejamento de criação de valor; e bom para a própria Epic, que terá um produto valorizado e com uma janela de oportunidade gigantesca para se consolidar na indústria da competição.

Como engrenar então?

Por mais óbvio que seja, a engrenagem do competitivo do Fortnite passa única e exclusivamente pelas mãos da Epic Games. É ela quem tem a faca e o queijo na mão para fazer com que o cenário evolua e possa se consolidar entre os principais do mundo. Eu juro que não é difícil, mas não me parece que a desenvolvedora esteja afim de ir além de uma Copa do Mundo do jogo.

Um dos erros mais consideráveis do Fortnite é seguir uma mesma cartilha ao redor do planeta. Na América do Norte (Leste e Oeste, mas principalmente na região Leste) e na Europa, por exemplo, há duas comunidades muito mais envolvidas com o jogo do que o Brasil. Basta ver os números de espectadores simultâneos da transmissão brasileira (média de cerca de 1,7 mil durante os meses de fevereiro e março deste ano na Twitch) em comparação com a transmissão estrangeira (média de 15 mil no decorrer do mesmo período na plataforma) e de premiações das competições (Europa com US$ 1,3 milhão e América do Norte com US$ 876 mil, enquanto Brasil tem US$ 418 mil).

Em vista disso, já passou da hora da Epic olhar diferente competitivamente para cada uma das regiões em que o battle royale está presente e não só estudar, como entender a demanda das comunidades - especialmente a brasileira. Depois, é preciso que a publisher defina melhor quais caminhos quer seguir e não só ficar alterando o formato e os valores dos prêmios dos torneios.

O Brasil é um paraíso para desenvolvedoras e organizações de esports, mas quem quer colher frutos precisa primeiro plantar a semente
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Bruno Povoleri

Na minha visão, há uma independência entre as temáticas das temporadas e as logísticas dos campeonatos. Sem entrar no mérito de que o meta das seasons tem influência direta no desenrolar das competições, a questão é que as datas do calendário competitivo poderiam ser organizadas anualmente, com exceção de quando ocorre troca de Capítulo, algo que não acontece todo ano e é um período que demanda mais dedicação por parte da desenvolvedora.

A Epic, inclusive, tem a dura missão de quebrar a barreira de comunicação com as organizações e a imprensa presentes no Brasil. A empresa precisa entender que é imprescindível ter as duas ao seu lado a fim de fortalecer uma relação que pode ser benéfica para todos os envolvidos no Fortnite.

Não sou inimigo da Epic e muito menos dos pro players. Acredito que as organizações também não sejam, e quando todos estiverem caminhando juntos em prol da evolução do cenário, o negócio muda. Posso ser um tanto quanto otimista, mas o cenário brasileiro do Fortnite tem potencial para chegar próximo da LBFF em termos de estrutura, marketing, competitividade e jogadores com patamar de “estrelas”.

Como já falei anteriormente de uma forma mais desenvolvida e agora reitero de uma forma mais direta, a implementação de um circuito fechado é a “virada de chave” para o Fortnite engrenar no Brasil - e por que não no mundo? O motivo vai muito além de ter apenas a participação e a consequente grife das organizações. É sobre estruturação, valorização e consolidação de um produto que, hoje, é uma verdadeira zona para quem está fora do ônus.

Para finalizar, a Epic precisa externar e dimensionar a gravidade da situação do competitivo do Fortnite. Embora eu acredite que a empresa já tenha a compreensão e o conhecimento do que precisa ser feito, “o primeiro passo para a mudança é a aceitação”. Quando isso acontecer, a comunidade brasileira do jogo terá aquilo que merece. Mas enquanto isso não acontece, segue sendo uma terra sem lei.

Publicado 01 de Abril de 2022
Editor de Esports: Bruno "LeonButcher" Pereira
Projeto gráfico: Kaique VIeira | @kaicovieira