PS VR2 evolui em tudo o que importa, mas falta algo

Ainda estamos longe do tão imaginado mundo em que a Realidade Virtual é um fenômeno

Diego Lima | @diego_sdl Editor de Games

Poucas tecnologias instigam a curiosidade e alimentam as fantasias de tantas pessoas ao redor do mundo quanto a Realidade Virtual.

Com a chegada do PS VR2, entusiastas da imersão absoluta podem sentir que estão um passo mais próximos dos mundos futuristas apresentados em obras como Jogador N° 1 ou mesmo Matrix, mas ainda existem muitas barreiras a serem quebradas.

Poucas experiências são tão mágicas quanto os primeiros minutos que passamos dentro de um cenário fantástico capaz de nos fazer esquecer do que está ao nosso redor.

O encanto é imediato. É quase impossível não se convencer de que a Realidade Virtual é o futuro... Até que começamos a jogar, de fato.

Fantástico e um tanto complicado

Existe uma diferença imensa entre olhar ao redor para se sentir dentro de uma igreja, como no menu introdutório de Moss, e interagir, de fato, com o ambiente.

Não apenas no que diz respeito a cumprir desafios e tocar naquilo que o jogo nos mostra, mas também no simples ato de andar ou correr.

Continua sendo extremamente fácil sentir enjoo e perder o equilíbrio em determinados jogos, como Star Wars: Tales from the Galaxy's Edge, ao abraçar a opção de andar livremente pelo cenário usando os analógicos.

A saída menos enjoativa é a de transformar a nossa movimentação em uma sequência de teletransportes, mas isso torna a experiência bem menos engajante.

Já que este texto fluiu naturalmente na direção da imersão, é importante levantar outra questão relevante.

Em termos de conforto, o PS VR2 acerta em cheio, mas ainda estamos vestindo um capacete enorme para jogar — e você se lembrará disso constantemente.

Pesando cerca de meio quilo, o headset do PS VR2 pode ser usado por quase qualquer pessoa. Desde crianças até adultos, o peso em si raramente será um problema.

Além disso, as camadas de borracha entre a parte de plástico e o rosto do jogador são bem espessas, então, não há atrito entre um produto sólido rígido e a pele do usuário.

Muito mais fácil de manusear

Vestir o PS VR2 é extremamente fácil. Basta apertar um botão na parte de trás do dispositivo para alongar o espaço reservado para a cabeça e, depois, girar uma trava.

Encontrar o ponto de equilíbrio ideal entre firmeza e conforto pode levar um tempo, mas não demora tanto até que os jogadores se ajustem.

A "máscara" de borracha, aliás, é grande o bastante para que qualquer pessoa consiga vestir o PS VR2 sem remover os óculos.

É recomendado que qualquer pessoa com visão minimamente comprometida — seja por um baixo grau de miopia ou algo mais sério — esteja de óculos enquanto joga.

Infelizmente, o PS VR2 sofre com algo que qualquer item com lentes sofreria ao se aproximar tanto do rosto de alguém: é comum que as lentes fiquem embaçadas.

Esteja pronto para limpar o interior do PS VR2 com certa frequência, e não apenas por motivos de higiene. Ao transpirar, você pode acabar comprometendo a visão de jogo.

O ajuste das telas, que ficam a milímetros dos olhos, também precisa ser adaptado à distância que existe entre os olhos de quem está jogando.

Caso você não calibre bem esse aspecto do dispositivo, com um botão que fica na parte frontal, à esquerda, todos os jogos perderão a nitidez.

Novas medidas de segurança

Já confirmada desde a revelação do PS VR2, talvez a maior decepção em relação ao dispositivo seja a necessidade de jogar com um cabo conectado ao PS5.

Ainda que esse cabo seja, sim, muito longo, é difícil não pensar que a obrigatoriedade de conexão física para aproveitar a experiência seja evitável.

Essa decisão só se torna mais surpreendente quando consideramos que o PS VR2 foi criado, acima de tudo, para jogar — e, muitas vezes, isso inclui virar para os lados.

Não há como dizer, entretanto, que jogar o PS VR2 seja perigoso. As medidas de segurança do dispositivo funcionam incrivelmente bem.

Por exemplo: existe um botão localizado à direita do botão de ligar, que nos permite ver o nosso entorno no mundo real a qualquer momento por meio de câmeras externas, algo inédito na linha.

No que diz respeito às opções de mapeamento, o dispositivo é absolutamente confiável e detalhista.
Diego Lima, The Enemy.

Talvez até mais do que os próprios jogos, um aspecto verdadeiramente "futurista" do PS VR2 está no escaneamento do ambiente.

Esse mapeamento de superfícies sólidas altas para delimitar a área de jogo do usuário vem com direito a um pequeno show de luzes em que as margens do nosso espaço jogável são marcadas na cor azul em cima de um fundo cinza, que mostra o restante do quarto ou da sala.

Inclusive, assegure-se de que você possua bastante espaço para jogar em pé no PS VR2.

Como segurança é a prioridade do dispositivo, a área jogável em um ambiente cheio de objetos sólidos tende a ser extremamente limitada — e, honestamente, é assim que precisa ser mesmo.

No que diz respeito às opções de mapeamento, o dispositivo é absolutamente confiável e ainda mais detalhista do que o PS VR original.

Também é possível jogar sentado no PS VR2, mas, se esse for a sua opção, é bom se preparar para o desafio de não sentir enjoo enquanto seus olhos dizem que você está em movimento e o seu cérebro sabe que não.

Sem exagero algum: muitas pessoas podem passar mal de verdade enquanto jogam. Foi o meu caso com o já citado jogo de Star Wars, mas isso passou longe de se repetir em Horizon Call of the Mountain, que receberá uma análise própria.

Seja sentado ou em pé, um aspecto fascinante do PS VR2 é o nível de precisão nas interações guiadas pelos olhos, algo que transforma o movimento da íris em um cursor.

Interagir com menus não exige o movimento de um controle — basta olhar para a opção desejada e clicar (aí, sim, com o X).

Sucessor do PS Move é mil vezes melhor

Tudo em relação ao capacete já foi dito. Agora, podemos passar à minha parte favorita: o PS VR2 Sense Controller, que inclui todos os botões do DualSense, controle oficial do PS5.

Unindo vibração localizada de diferentes intensidades à captação de movimento, o controle oficial do PS VR2 é infinitamente mais versátil do que o antecessor direto.

Movimentos individuais dos dedos do usuário são captados pelo PS VR2 Sense Controller, de maneira que até gestos específicos são vistos nos jogos.

Não bastasse isso, podemos "sentir" a superfície de determinados objetos e líquidos com a ajuda da vibração localizada, que me permitiu, por exemplo, "tocar" a água enquanto dentro de um barco em movimento.

Obviamente, existem limitações em relação a enganar o tato, mas a vibração fraca se torna uma excelente alternativa para garantir algum nível de interação com o ambiente.

Horizon Call of the Mountain é obrigatório

Dentre todos os jogos aos quais tive acesso enquanto testava o PS VR2, Horizon Call of the Mountain se destacou como aquele que mais soube aproveitar o potencial do dispositivo.

Ainda assim, é fato que o brilho está mais na imersão e nos desafios de plataforma do que na ação frenética, de fato. No próprio Horizon, durante a maior parte do tempo, jogadores se limitam a coletar itens, escalar montanhas e atirar com arco e flecha em objetos fixos.

Os combates, ainda que relativamente comuns, não são tão variados. O que faz valer a experiência é só a tensão de estar cara a cara com os inimigos mesmo. Qualquer luta é muito melhor no controle normal.

Vale a pena ou não?

Infinitamente superior ao irmão mais velho, o PS VR2 apresenta evolução em todos os aspectos relevantes — seja no conforto, no mapeamento da área de jogo ou nos controles.

Ainda assim, algumas limitações um tanto irritantes existem, como a necessidade de jogar usando cabo e o fato de que jogar por tempo demais, quase sempre, irá embaçar as lentes.

Além disso, o novo dispositivo não roda jogos do primeiro PS VR, o que é extremamente frustrante para quem já conta com uma biblioteca relativamente cheia de jogos em Realidade Virtual.

Disponível por mais de R$ 4 mil, o PS VR2 não é compatível com a renda de mais da metade da população brasileira.

A aquisição é recomendada somente nos casos em que o comprador realmente se importa muito com Realidade Virtual.

Se você ainda possui dúvidas a respeito da implementação desse tipo de tecnologia nos jogos, espere. Aprenda com a experiência dos outros em vez de se precipitar.