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Fluxo no CBLOL

Bruno "Butcher" | @leeonbutcher Editor de Esports

Há quatro anos, em 2018, a KaBuM conquistou dois títulos de CBLOL no mesmo ano, alçando ao estrelato jogadores como Ranger, dyNquedo e TitaN. No palco do Campeonato Mundial de League of Legends, o Brasil ainda sofria, e assistia de longe as melhores regiões avançarem enquanto ficavam para trás. Na final, a Invictus Gaming de Rookie e TheShy batia a Fnatic de Rekkles e Caps para levantar a Taça do Invocador.

Muito longe de tudo isso, dois garotos não poderiam estar mais fora da realidade do Worlds, CBLOL ou qualquer coisa relacionada ao League of Legends e esports. Um deles era motorista de aplicativo no Rio de Janeiro, e o outro ainda batalhava pela chance de ser um jogador de futebol.

Quatro anos depois, CEROL e Nobru construíram um império chamado Fluxo.

Uma organização campeã do Free Fire e participante do Mundial em sua primeira aparição no cenário competitivo. Que atrai investimento de diversas marcas. Que expande seu alcance para mais modalidades, como o CS:GO e o League of Legends, e principalmente que tem em sua base mais de seis milhões de seguidores. Comunidade.

Quando CEROL diz que a organização foi criada para dar oportunidades e mudar a vida das pessoas, mas mantendo o contato com as raízes, a comunidade, a sua história mostra a verdade das palavras. E quem segue o Fluxo precisa saber disso.

“Independente de quem vai jogar, o Fluxo precisa ser um time muito brigador. O que eu mais me pergunto é ‘Os caras são bons? Eles vão se dedicar? Vieram pra dar a vida?’

Não adianta chegar para ser mais um.

Queremos ser a diferença”.

Introdução e carta ao leitor

Com dez anos completados em 2022, o CBLOL é o campeonato de esports mais relevante do Brasil há alguns anos. A visão de longo prazo e investimento da Riot Games transformou o cenário de League of Legends em uma mina de ouro para organizações com poder financeiro e estrutura profissional suficientes para aguentar a barra e a pressão que é estar no ecossistema.

Tomar a decisão de entrar no League of Legends não é fácil. O investimento é grande e de longo prazo, a começar pela vaga no CBLOL.

Por “sorte”, o tamanho do Fluxo ajudou neste processo. Nascido no Free Fire, o Fluxo fez sua primeira expansão fora da modalidade quando entrou para o CS:GO em agosto de 2022, mas desde janeiro deste ano a organização já havia começado a abrir as portas para o cenário de League of Legends.

Com o imbróglio entre Netshoes Miners e KaBuM, a possibilidade de entrar nas franquias do CBLOL nasceu logo em janeiro. O acordo não evoluiu porque a Miners procurava uma parceria, e o Fluxo queria o controle total da vaga e das decisões. No entanto, as conversas mandaram o recado para o mercado, e o mercado devolveu o interesse quase em forma de convite: a Rensga procurou o Fluxo em abril para negociar a sua vaga, e pouco tempo depois o acordo foi selado. Controle total da vaga e das decisões por um preço abaixo do mercado, já que o Fluxo ajudará as novas empreitadas da Rensga no mercado de tecnologia.

Ano passado contamos para vocês aqui no The Enemy, na primeira matéria especial de acesso total, como funcionam os bastidores da contratação de um jogador, o Ranger. Do outro lado da mesa, no entanto, há uma organização, muitos planejamentos e investimentos.

O Fluxo começou o seu processo do zero, e o The Enemy acompanhou ele inteiro. Compra da vaga no CBLOL, planejamento e estratégia para a entrada no cenário, contratação de diretores e comissão técnica, testes para o time do Academy, negociações com jogadores livres no mercado e equipes do cenário para montar o time do CBLOL, complicações no final da janela de transferências e, finalmente, o fechamento e anúncio da equipe.

Você pode imaginar que há muitas coisas. Uma parte dele está no documentário que lançamos no YouTube e você pode conferir abaixo. Neste texto, focaremos principalmente nas negociações e contratações do elenco de League of Legends. Outras partes serão publicadas futuramente no The Enemy.

Assim como foi na matéria do Ranger, em acordo com a organização e os jogadores envolvidos não divulgaremos aqui valores de contratação, seja de transferência, salários ou bonificações, bem como algumas empreitadas futuras.

Sem mais delongas, é hora de seguir o Fluxo.

Capítulo I: Master Plan

Já passava do horário do almoço do dia dezessete de outubro quando Felipe Cabral entrou no prédio da 3C, na Vila Madalena, em São Paulo, ao lado de Matt Pereira.

Cabral havia sido contratado havia pouco tempo para assumir o posto de Head de League of Legends do Fluxo, responsável pela criação de toda a estratégia da organização para a nova modalidade. Antes, Cabral trabalhou no Flamengo até 2019, época da Go4It e título brasileiro. Após a saída do rubro-negro, foi um dos responsáveis pela criação do projeto de LoL da LOUD, que entrou na modalidade em 2020. Também passou por TSM e Xis no Wild Rift antes de assumir o LoL na Rensga em 2022.

Na 3C, empresa irmã que faz a gestão de várias empreitadas do Fluxo, Cabral mostraria pela primeira vez o planejamento do Fluxo para o LoL para Matt, Diretor Geral de Operações da organização.

O Master Plan é um grande arquivo que contém todas as ideias iniciais do projeto, e lá você adiciona tudo: estratégia, realizações, atualizações diárias ou semanais, para que todos aqui possam acompanhar em um único documento vivo todas as coisas relacionadas ao projeto do League of Legends para o Fluxo”, disse Cabral para Matt.

O documento serve para que, mesmo se Cabral eventualmente saia da organização, qualquer pessoa possa abrir o arquivo e entender tudo o que foi feito, a situação atual e os planos para o futuro. É a partitura que rege todos os passos da equipe na modalidade, gerido não só por Cabral, mas sim por todas as pessoas envolvidas no projeto.

O que o Fluxo busca com o League of Legends?

A entrada da organização no maior jogo de computador do mundo pode contribuir no aumento da visibilidade e levar o Fluxo para um novo patamar.

Talento: Contratar talentos em potencial, construir um programa de desenvolvimento para os talentos, buscar sempre ter um time competitivo que dispute títulos.

Pessoas: Managers, coaches, analistas, players, staff. Todos devem focar em superar as expectativas das posições que ocupam.

Cultura: A cultura do Fluxo e como podemos aplicá-la ao LoL. Focar no desenvolvimento das forças e na melhora das fraquezas, criar um projeto que auxilie o desenvolvimento do atleta em todos os aspectos necessários para performar melhor no jogo, aprender com as dificuldades e adaptar o modelo às necessidades individuais de cada atleta/staff. Competir sempre, buscando vencer toda e qualquer competição, como é o DNA do Fluxo.

(Trecho retirado do Master Plan do Fluxo)

No Master Plan, está detalhado o planejamento de tópicos como: objetivos para o primeiro e segundo ano, modelo de trabalho (gaming office) e moradia, uniformes, estrutura das equipes Academy e CBLOL, análise dos concorrentes, quais jogadores o Fluxo tem interesse para sua equipe, possíveis criadores de conteúdo, comissão técnica e especificação de cada posição, ferramentas de suporte, finanças, regras e prazos.

Ao final das conversas do dia, o Fluxo tinha três grandes objetivos com o seu Master Plan:

1) Contratar uma comissão técnica forte, levando principalmente em consideração críticas levantadas sobre as comissões do Brasil e a falta de investimento nesta parte;

“A maior necessidade hoje é contratar o staff, porque influencia na contratação dos jogadores”, disse Cabral. “Tem bastante pessoa que está free agent para comissão técnica. Acho importante a figura de um head coach, e queria que fosse um cara mais de desenvolvimento de pessoas e projetos, como o Peter Dun e o Turtle, da EG, ou o Guilhoto, da Team Liquid. Não acho que é uma posição que alguém do Brasil consegue preencher no momento”.

Juntamente com o head coach, o Fluxo buscava um strategic coach, que é o segundo técnico em comando, com obrigações de tocar algumas partes específicas de jogo como match-ups dos jogadores, trabalho individual das rotas e algumas transições, entre outros. Este trabalho é feito em conjunto com o head coach, mas a maioria do trabalho fica com o técnico estratégico.

“É uma posição difícil no Brasil porque alguns dos principais já estão em equipes, mas olhando o mercado enxergo o OnMeta, da FURIA, e o Samyyy, da LOUD Academy, como principais. O OnMeta quer deixar de ser júnior do Maestro, quer experiências diferentes, e o Samyyy é um cara que está há tempos sendo preparado para o CBLOL na LOUD, mas não acho que a organização vai colocá-lo no lugar do Von, que venceu a Segunda Etapa. (NR: Nesta época a LOUD não havia anunciado a saída do Von) Fora estes dois ainda vamos analisar nomes como Político, Beelzy e Furyz.

Todo grande esporte ou programa esportivo mostra que os vencedores possuem boas comissões técnicas. Os Lakers de 80 com Westhead, Bulls de Phil Jackson, Mike Krzyzewski de Duke, Guardiola no Barcelona, etc. Grandes técnicos fazem grandes projetos que perduram por anos, independente da troca de peças
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Master Plan do Fluxo

2) A formação de um elenco do Academy em duas partes: Academy e Trainee, ambos focados no desenvolvimento de jogadores, e não no título do campeonato (é importante, mas não a primeira prioridade). O Academy alimenta o CBLOL, e o Trainee é composto por jogadores ainda mais novos e que alimentam o Academy;

Apesar de acontecer nas mesmas datas, a janela de transferências do Academy funciona de maneira diferente daquela do CBLOL. Pela maioria dos jogadores serem free agents, do Tier 3 (sem contrato fixo) ou abertos a propostas de outras equipes, o contato é mais fácil. Além disso, por serem jogadores por vezes desconhecidos ou sem muito teste competitivo, os jogadores do Academy precisam passar por tryouts, que pode ser apontado como a famosa “peneira” de atletas no futebol.

“O Fluxo como organização sempre se prezou a revelar talentos, como o Syaz no Free Fire”, disse Cabral, para entusiasmo de Matt. “Essa essência precisa se manter, e na LOUD eu participei da equipe que montou todo o projeto para, por exemplo, revelar o Brance. O Brance era o jogador reserva do Academy da LOUD, com o Vitin de titular, mas na verdade a gente sempre esteve preparando o Brance para o CBLOL no prazo de um ano, dois anos. Quando ele subiu depois de um ano e meio, você vê o estrago que ele fez no cenário”.

Após o fim da Segunda Etapa de 2022, muitas conversas sobre o rumo do Academy brasileiro tomaram conta das mídias sociais, apontando que muitos times priorizavam o título no lugar de formação de atletas - e é justamente este o ponto do Fluxo. “Óbvio que o Fluxo sempre vai entrar para ser campeão, mas se no final do ano a gente não for campeão do Academy, mas revelar um talento para jogar no CBLOL, a nossa missão estará cumprida”, disse Cabral.

A organização funcionará com um total de dez atletas. Cinco deles compõem o Academy e disputam o campeonato. Suas idades variam entre 18 e 21 anos, e todos possuem experiência competitiva em Academy ou Tier 3. O plano é que estes jogadores alimentem a equipe do CBLOL depois de um tempo com os talentos que estão evoluindo durante os meses. Os outros cinco jogadores irão compor o que o Fluxo chama de “Trainee”, jogadores mais novos que variam entre 15 e 18 anos e serão a geração futura do Academy, construindo uma cadeia que se retroalimenta.

Já ouviu falar da expressão “Moneyball”? Em resumo, é a utilização de ciência de dados e estatísticas para a tomada de decisões envolvendo jogadores, seja contratação ou promoção. Brance é um grande exemplo disso. Foi trabalhado mesmo não sendo o titular da posição no Academy para subir para o CBLOL, e os seus números também comprovavam que era a melhor escolha.

“Com isso em vista e pela janela do Academy ser diferente, já contratamos uma comissão técnica para o projeto, liderada pelo jUc e que tem o Lucas Dias como psicólogo presente a todo tempo e os analistas de performance Lucas Natal e o Robert ‘Kira’ na equipe. Os dois últimos criaram uma plataforma de dados que coleta todos os dados dos atletas do tryout durante jogos competitivos e de Solo Queue para dar uma nota para cada quesito deles, e aí a gente chama esses caras para o tryout e convida os melhores”.

No decorrer do mês de outubro e novembro, o Fluxo fez tryouts com mais de 120 jogadores selecionados pela equipe de performance, e avançou para uma segunda e final fase com apenas 20, quatro por posição. Destes, alguns optaram por ir para outras equipes, e o Academy do Fluxo foi fechado com Mito, Ancrath, Picknn, Adroitnes, Forlin, Randal, Xoska, Veiga, Kick e Murilão.

Mas esta é uma história para outro momento…

“Quando o seu adversário estiver cometendo erros, não o interrompa, deixe que ele continue. No final, fale “muito obrigado”.
Billy Beane em Moneyball, o filme

3) A formação de uma equipe agressiva e talentosa no CBLOL, visando títulos sem comprometer o projeto financeiramente e com grande capacidade de evolução.

Desde o primeiro momento, o Fluxo esteve interessado em três principais nomes para a formação do seu primeiro elenco no CBLOL: Hauz, Brance e Jojo. Com a falta de grandes nomes para as posições de Caçador e Topo sem comprometer um caminhão de dinheiro, a Cabral foi realista com Matt desde o primeiro momento.

“Aegis seria o nome perfeito para o projeto, mas sinceramente a multa rescisória dele é fora do alcance de todos os times do CBLOL, e não acho que a RED negociaria a sua principal peça junto com o TitaN, que também tem uma multa rescisória alta”, comentou. “Com isso, acho que as nossas principais peças para a jungle seriam o Grell, que está de saída da Isurus, e o Disamis, que é um garoto novo, mas que qualquer Caçador do cenário fala que será a grande estrela da posição no futuro. Se pensar em import, poderíamos ir para o Shrimp”.

“Top o Wizer e o Tay são as melhores opções disponíveis, e não sendo isso a gente teria que correr atrás de imports, que geram outro tipo de problemas, então todo o nosso pensamento é para não precisar de imports”.

“O Grell gostaria de voltar para o Brasil, mas por já ter jogado pela Keyd, vejo que a preferência dele seria voltar para a equipe caso venha para o CBLOL. Já o Wizer o que tenho de informação é que as negociações estão truncadas e ele pode sair da paiN, ninguém sabe o que vai acontecer direito. Está perto de se transformar em residente do CBLOL e não contar mais como import, então seria incrível. Os dois times que chegaram na final da Segunda Etapa eram com quatro brasileiros e um coreano, então o formato funciona, apesar de achar que é importante termos cinco jogadores brasileiros neste momento”.

“No Mid eu coloquei algumas opções, mas o Hauz é o cara que a gente quer, um jogador novo e em ascensão, que fez muito este ano pela KaBuM e estará Free Agent. Com certeza vai ser muito concorrido, então falei para o Renan (Philip, CEO do Fluxo) que cabe a gente oferecer uma grana para a KaBuM para conseguir falar com ele antes da janela de transferências abrir, se for o caso. Principalmente porque sei que a RED está atrás dele, mas não fez proposta e não vai pagar a KaBuM para ter acesso antecipado, e talvez podemos ganhar espaço nisso e fechar com ele. Envy e tinowns também são grandes nomes, mas acredito que os valores de negociação vão travar uma potencial transferência”.

“Para AD Carry eu coloquei os quatro melhores nomes”, diz Cabral, apontando para o computador de Matt aberto no Master Plan. “Trigo eu sei que a paiN não quer mais. Sei que ele tem uma briga interna com o Xero com relação a algumas críticas, então ele não quer ficar também. A multa é alta, mas pela situação se a gente oferecesse um valor menor eu creio que a paiN aceitaria. Sei que a FURIA quer ele também, o que nos traz a outro nome, Netuno, que ficaria sem time. Também tem o NinjaKiwi, que era da Rensga e é um menino novo e super dedicado, mas que precisa de bastante trabalho para assumir a posição. Isso nos leva ao principal nome, o Brance”.

“O Brance é o melhor entre todos estes, é novo, já venceu o CBLOL e jogou no exterior e vai ficar sem contrato agora, e me parece que a renovação com a LOUD está travada. Não sei o que vai acontecer, se ele vai para fora ou não, mas cara… Se a gente rouba o Brance da LOUD pode me dar um óculos escuro, eu vou sentar numa janelinha e sorrir”, diz Cabral, rindo para o divertimento de Matt.

“Suporte o que eu tenho de informação é que Jojo e TitaN não dá mais, e o Jojo vai ficar no mercado porque a RED não vai se desfazer do jogador que é a cara da equipe, e o Jojo é um jogador incrível. A nossa segunda opção é o Ceos, que acaba o contrato com a LOUD agora e é um dos melhores, mas os custos são muito altos. Entre pagar o que ele merece receber ou trazer um suporte coreano pelo mesmo custo, acho que fico com o coreano, e volta naquilo que comentei de um elenco formado por quatro brasileiros e um coreano”.

Diversos outros nomes foram descritos no Master Plan do Fluxo, sendo que alguns não foram apresentados à diretoria e nem foram procurados por diversos motivos. Entre eles, fNb, Kiari, Guigo, Cariok, Ranger, Minerva, Krastyel, Tutsz, Matsukaze e Damage.

Capítulo II: A primeira peça

26 de outubro, Arujá - São Paulo.

Renan e Matt aguardam Cabral chegar com Hauz no complexo de duas mansões que o Fluxo utiliza para as equipes de Free Fire Mobile e Emulador no Arujá, cidade próxima a São Paulo. A estrutura impressiona, tanto pelo tamanho quanto pelo cuidado da casa, que fica a cargo de uma equipe que conta com jardineiros, piscineiros, cozinheiros, diaristas e mais. Apesar de hoje em dia ser incomum no League of Legends a utilização do modelo de gaming house, no Free Fire ainda é comum.

Cabral e Hauz chegam pouco depois do meio-dia na casa. Hauz não sabe, mas a partir do momento em que começa a subir o lance de escadas para a grande sala de entrada, as negociações com o Fluxo já começaram, e a casa é parte disso. Mostra opulência, poderio financeiro, estrutura. É feita para impressionar, sem dúvidas.

O mid laner cumprimenta os dirigentes da equipe, que iniciam um tour pelas duas mansões passando por vários locais que são o cenário para diversos conteúdos publicados nas redes e no canal da organização: piscinas, academia, quadra de futebol, churrasqueiras e afins. Antes de efetivamente sentarem para negociar, todos fazem uma pausa para o almoço, cortesia dos cozinheiros do Fluxo presentes na casa.

“Acho que a mesa da churrasqueira é um bom lugar para conversarmos”, diz Matt ao final do almoço. No sol de 31ºC, a sombra e vento do local deixa tudo refrescado.

“Antes de começarmos com o Hauz, gostaria de passar algumas atualizações sobre o projeto para vocês”, começa Cabral, virando-se para Matt e Philip. Hauz, sentado à mesa, escuta o diretor falando sobre o projeto diretamente com os dirigentes do Fluxo sem falar nenhuma palavra - outra maneira de Cabral negociar com Hauz sem falar diretamente com o jogador, apelando para a atenção do potencial futuro mid laner do Fluxo.

“Neste domingo entrevistamos o Peter Dun e o Guilhoto”, abre Cabral. Hauz, ao seu lado, tem o rosto impassível, mas deixa sobrar uma sobrancelha levantada quando ouve o nome dos técnicos estrangeiros. “O Guilhoto é o Mourinho, rígido, fala que testa os jogadores ao limite, e quem quebrar é porque não serve para o projeto. O Peter é um cara de construção de projetos, falou muito sobre o trabalho dele na Splyce, MAD Lions e Evil Geniuses, e o grande objetivo dele é a formação e evolução de jogadores e comissão técnica. Ao final da apresentação, ambos falaram que foi um dos melhores projetos que eles viram, e isso validou muito do que a gente está fazendo nessa estratégia para a entrada no CBLOL”.

Técnicos do calibre de Peter Dun, Guilhoto e Turtle, que trabalhou com Peter durante os anos da Evil Geniuses, trazem à mesa algo que praticamente nenhum treinador brasileiro traz: a concepção de um projeto claro de longo prazo aliado a ideias e experiências de cenários internacionais, de regiões majors. “E são nomes importantes porque, até vamos falar isso na conversa com o Hauz”, diz Cabral, apontando para o jogador, “porque influencia bastante na decisão tanto dele quanto dos outros nomes que vamos conversar aqui”.

“Só um adendo antes de passarmos para o Hauz: tivemos um vazamento do nosso interesse no Brance pela imprensa, então a decisão estratégica é recuar e aguardar o tempo certo de procurá-lo. Estamos fazendo tudo certo até agora, não vale a pena entrar em conflito com nenhuma organização. Se ele não renovar com a LOUD e não ir para fora, abrindo a janela a gente fala com ele. Até lá, já devemos ter a comissão técnica também”, comenta Cabral.

“E pra finalizar, eu e o Hauz viemos trocando ideia no carro sobre jogadores que ele gostaria de jogar junto, e ele citou principalmente o fNb no top, certo?”, diz Cabral, virando para Hauz.

“Os jogadores sempre ficam de olho para ver com quem gostariam de jogar junto, e se tivesse a oportunidade de fazer isso no Fluxo com um cara como o Peter no comando, com certeza iria brilhar os olhos de quem quer que fosse”, respondeu o jogador.

“Só não sei se é realista a gente conseguir tirar ele da FURIA, para ser sincero”, comenta Philip. “Posso tentar ligar e ver com o Jaime”.

“Um ponto positivo é que a gente saiu da corrida pelo Trigo, que nem o Jaime tinha pedido para você, então pode ser um caso de termos aberto uma porta para ele, e ele agora abre essa para a gente”, diz Cabral.

“É uma opção. Preciso ligar para ele e ver se conseguimos avançar com isso”, responde Philip, que pouco tempo depois liga para Jaime. “Não quis nem ouvir a respeito, não quis nem saber de proposta”, disse, rindo, depois se virando para Hauz. “Mas e o senhor, como está?”

Antes de começar as conversas com Hauz, Philip fala um pouco sobre a história do Fluxo, as decisões que a organização tomou ao longo do tempo, a representatividade que tem no cenário com a comunidade e os motivos para entrar no League of Legends. “Para mim aqui hoje é sobre a gente se encontrar e se conhecer pessoalmente, você ver o tamanho do que a gente faz… o tamanho não, casa é casa, qualquer outra organização também poderia ser gigante, mas é o nível de detalhe, o profissionalismo, as duas operações que tocamos aqui de forma ímpar, mostra um pouco do que conseguimos oferecer como organização”.

“Para mim, o que conta mais é o que vocês podem me oferecer para evolução, perspectiva de jogar fora, que é o meu grande sonho”, responde Hauz. “Ter uma boa equipe, um salário que ajude a minha família e um caminho para jogar fora ou pelo menos ser Top 1 incontestável do Brasil. Quero abordar várias coisas que vão me ajudar. Claro que muitas delas falam sobre o time, mas coisas como bootcamp, positional coach, bonificações, tudo isso me faria feliz de tomar uma decisão. Querendo ou não tem muitas equipes atrás de mim com uma boa estrutura e times competitivos, então se o diferencial para a minha evolução pessoal estiver aqui, é o que me faria vir para cá”.

Uma das grandes forças do Fluxo também é uma vantagem para contratar jogadores como Hauz, que despontaram em 2022 e buscam evolução pessoal e destaque na mídia: a imensa torcida. Apesar da força na comunidade, o foco para o League of Legends não passa pela obrigação de criar conteúdo. “O que mais afeta é você ter a oportunidade de ter um retorno maior sobre a vitória, sobre o sucesso. Vencer e ser campeão traz mais atenção do que fazer conteúdo semanalmente. Não é porque você entrou no Fluxo que você vira uma estrela, e sim quando você ganha o CBLOL. O sucesso vai ficar claro quando a gente estiver brigando com a Fnatic para ver quem fica com você em uma janela de transferências”, comenta Philip, para sorriso de Hauz.

Sobre a equipe, a única ressalva de Hauz foi acerca do suporte. Caso não desse certo com Jojo, as outras opções seriam mais novas, e isso cria um desbalanço de experiência na equipe, já que Brance, o principal alvo de AD Carry, também é novo. “E jungler seria import, certo?”. “Ou import ou o Disamis, mas aí precisamos do Jojo de Suporte, para balancear”, responde Cabral.

Hauz passa pelos outros pontos de contratação antes de a entrevista terminar: salário, bonificação, moradia, premiação e mais, e os dirigentes negociam os valores e propõem soluções que agradem a ambas as partes.

“Então com você até amanhã a gente fecha, certo?”, diz Philip, sorrindo.

“Preciso repensar e analisar algumas outras propostas, e queria esperar um pouco mais para ver a line-up, o que vai se desenhar. Se eu pensar em mais algo, mando mensagem”, responde Hauz, sorrindo de volta.

Uma das principais ressalvas para Hauz ou qualquer outro jogador que participa do começo de um projeto é ser a primeira peça. É um quebra-cabeças. O Fluxo pode prometer milhares de coisas para o jogador, mas caso ele feche com a organização e os planos não se concretizarem, estará em uma situação fechada e sem possibilidade de saída. Para o Fluxo, fechar com o primeiro jogador indica a outros jogadores que já há uma base sólida para construir uma equipe competitiva. O primeiro passo é sempre o mais difícil a ser dado.

Um dia após a conversa com Hauz no Arujá, no dia 27 de outubro, Turtle publica no seu Twitter uma imagem dizendo que está Free Agent. O ex-jungler que disputou o CBLOL de 2014 a 2018 e passou como técnico por CNB e Keyd estava há dois anos na Evil Geniuses sob o comando de Peter Dun, vencendo a LCS em 2022 e disputando o MSI e Worlds com a equipe norte-americana.

O Fluxo imediatamente procurou o técnico, que estava ciente das conversas também com Peter e Guilhoto. Dez dias depois, Turtle combina de encontrar-se com Cabral, Davi Marques (novo manager do Fluxo) e jUc para conhecer o gaming office da organização na zona sul de São Paulo.

O tour inclui a passagem pelas futuras salas do CBLOL, Academy, sala de revisão de VODs, espaço para fisioterapia, espaço de convivência e mais. O complexo do escritório se encontra em andares superiores a um shopping, com praça de alimentação e outras facilidades, como academia, para prestar suporte às necessidades da equipe.

Turtle analisa toda a estrutura antes de perguntar a Cabral se pode gravar em seu celular para rever mais tarde e fazer anotações para sugerir mudanças que lhe ocorram mais tarde, apesar de conversar bastante com os presentes sobre algumas prioridades que leva consigo em seu trabalho. No decorrer do dia, o perfil do treinador aliado à sua experiência no exterior e conhecimento do cenário brasileiro encanta o Fluxo. Cabral tenta uma cartada.

“E aí, está pronto para fazer o F?”, pergunta, para riso de Turtle.

“Estou, só estou esperando umas respostas, mas estou pronto”, diz o técnico.

Três dias bastaram para que Turtle encerrasse as tratativas com outras equipes e se tornasse a primeira e principal peça para o League of Legends do Fluxo.

“Tô pronto para ser Fluxo Turtle ano que vem!”
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Turtle para Cabral, via WhatsApp

Capítulo III: Passos de Tartaruga

Um fato importante para notar sobre a entrada de Turtle é que o novo head coach do Fluxo trabalhou pesado por baixo do radar das negociações com todos os futuros jogadores da equipe. No radar, as diretrizes do técnico foram algumas:

1) O time precisa ser 100% brasileiro

2) É necessário a contratação de um strategic coach bom

3) O balanço de experiência na equipe precisa ser claro

O primeiro ponto fez o Fluxo se afastar completamente de algumas opções que, no decorrer do tempo, já estavam sendo deixadas de lado. Casos como os de Wizer, Shrimp, Grell e outras possibilidades de imports em posições como topo e suporte.

Para a segunda, Turtle entrevistou juntamente com Cabral diversos nomes: OnMeta, Alocs, Samyyy, Professor e Doran. De todos, o nome mais forte ao final da rodada de entrevistas e testes foi OnMeta, o strategic coach da FURIA que já trabalhava com Maestro havia cinco anos, e também queria uma mudança de ares e de ideias.

OnMeta teve coragem. Entre os testes da entrevista, selecionou um VOD para analisar na frente de Turtle.

Um VOD da Evil Geniuses. O ex-time de Turtle.

“Foi audacioso, não dá pra negar. Foi curioso porque foi a mesma coisa que eu fiz quando fui entrevistado pela Evil Geniuses, peguei uma partida da equipe para criticar jogadas e mostrar o meu conhecimento”.

Com a comissão técnica formada, o primeiro jogador que Turtle atacou foi Disamis.

Disamis rapidamente se transformou na primeira opção do Fluxo após a primeira conversa do Master Plan entre Cabral e Matt. Importante notar, assim como dissemos no especial com Ranger, que a grande maioria dos contatos entre equipes e de equipes com jogadores são feitos por WhatsApp devido à agilidade na conversa, mas isso dificulta o acompanhamento dos bastidores pelo lado da equipe do The Enemy.

Cabral entrou em contato com Marina Leite, Diretora de Esports da Liberty, equipe do Disamis. Pela reestruturação interna da organização, a dirigente permitiu o contato do Fluxo com o jogador após acertar o valor de transferência do jogador com Cabral. No entanto, sabendo do potencial do jogador, a KaBuM também entrou nas negociações com Disamis. Aí que entra a figura de Turtle.

O técnico brasileiro treinou durante todo o ano de 2022 o Caçador polonês Inspired, MVP da LEC em 2021 e MVP da LCS em 2022, além de ele mesmo ter sido Caçador durante toda a sua carreira como jogador. Turtle sentou com Disamis no meio da decisão para conversar com ele, mostrando o seu estilo de treino, o potencial que o novato conseguiria alcançar ao seu lado e suas ideias para o futuro do Fluxo.

“Ele trouxe um review de um jogo meu do CBLOL, perguntou sobre a minha carreira, como entrei no competitivo, o que eu fazia antes, qual era o meu estilo de jogo e o que eu pensava sobre as estratégias, comunicação e o que eu conseguiria ajudar na equipe”, comentou Disamis. “Ouvi dele coisas que eu nunca tinha ouvido em relação à jungle, e com certeza ele teria muito a agregar por ter treinado o Inspired na Evil Geniuses. Depois da conversa fiquei muito feliz e bastante inclinado a fechar com o Fluxo”.

Tenho muito potencial e sei que sou bom, e posso melhorar ainda mais no futuro. O próximo ano vai ser a chance de me provar
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Disamis

Dividido entre Fluxo, RED Canids e Los Grandes, todas com grandes projetos para 2023, Hauz passou por um momento único em sua carreira. Após disputar o CBLOL como top laner pela INTZ em 2021 e não jogar bem, tomou a iniciativa de fazer um bootcamp sozinho na Sérvia para chamar a atenção das equipes para 2022, e foi convidado para a KaBuM, onde despontou na sua posição de ofício, o meio. Pela primeira vez em sua carreira, o jogador era uma das peças mais cobiçadas da janela de transferências, e poderia escolher o seu futuro.

“Desde o começo o Fluxo tinha um projeto muito bom, mas precisava pensar no meu futuro, então queria ouvir todo mundo, dar a chance a todos e ouvir as propostas”, disse Hauz. “Mas conforme o tempo avançou, as equipes começaram a me pressionar para uma resposta, e comecei a colocar tudo de fato na balança”.

Neste momento de indecisão, Turtle entra novamente em cena, chamando o mid laner para o mesmo tipo de conversa que teve com Disamis. Hauz agora não entraria sozinho em um projeto, já tinha a certeza de estar ao lado do técnico e do Caçador, esta sendo uma posição que é chave para quem atua na rota de Hauz, o famoso duo mid-jungle.

“Foi uma conversa importante e que deu mais força para o projeto, abriu muito a minha cabeça para poder escolher o Fluxo. É um cara que está vindo de fora com conhecimentos que talvez ninguém aqui tenha”, comentou Hauz. “Apesar de não ter sido o empurrão final para que eu tomasse uma decisão. Acho que era mais sobre mim mesmo, o que o Hauz queria para agora. Passei a enxergar coisas que não estava enxergando quando conversei com o Fluxo no Arujá, e depois soube que a escolha faria sentido para mim”.

Cheguei a chorar várias vezes por não saber o que fazer, porque todas as propostas tinham algo bom. Foi um período difícil para mim, de aprendizado e amadurecimento
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Hauz

Pela equipe que se formava, ficava cada vez mais evidente que o Fluxo precisaria de alguém no topo com vivência de jogo, campeão e com experiência internacional. Alguém que fizesse o balanço com os novatos da equipe e tivesse uma voz ativa dentro de jogo.

Alguém que, felizmente, o Fluxo havia colocado no radar desde cedo: Tay.

Bicampeão do CBLOL pela INTZ, participante do Mundial 2020 e o único jogador a ter atuado competitivamente em quatro posições diferentes no Brasil (só não foi Suporte), Tay atuou em 2022 pelo Flamengo Los Grandes que ficou de fora dos playoffs na Segunda Etapa. Sem muito brilho em seu jogo desde o título em 2020 e passagem pela LOUD em 2021, Tay estava fora dos planos de diversas equipes para o ano seguinte.

“Como pessoa e jogador, não foi um bom ano para mim”, confessa Tay. “Desde que fui eliminado do CBLOL em agosto, pago um técnico individual para voltar a performar bem, sei que tenho essa capacidade. Até mesmo antes de o campeonato acabar eu sabia que não iria continuar na Los Grandes, e não sabia se teria outro time. Amo muito o que faço, e resolvi pegar esse tempo para dar alguns passos para trás e me reconstruir”.

Free agent, Tay foi um jogador crucial não só por encaixar no que o Fluxo precisava, mas também por atuar nos bastidores ajudando Cabral, conhecido da época de LOUD, com opiniões pessoais sobre os jogadores que a organização estava interessada. Não é surpresa para ninguém que os players são uma fonte insubstituível de indicação, já que conhecem os perfis companheiros de profissão dentro e fora de jogo.

“Foram conversas de amigo para amigo mesmo”, comenta Tay. “Ele me perguntava opiniões de jogadores e eu respondia com sinceridade. Apesar disso, nunca me considerei dentro do time, levei toda a conversa como um pedido de um amigo mesmo. Não é porque o ajudei que eu deveria estar no time, não é isso que eu mesmo gostaria, mas felizmente eles julgaram que eu encaixava no projeto e deu certo”.

Tay recebeu a proposta do Fluxo no dia 23 de novembro, o mesmo dia que o Fluxo entrou em contato com Brance. Pouco mais de duas horas após o envio da proposta, Tay respondeu Cabral com o ok.

Percebo quanta gente boa ficou de fora do CBLOL, e sei que muitos jogadores dariam muita coisa para estar no meu lugar. Estar no Fluxo é uma chance de ouro para mim
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Tay

A palavra corre rápido nos bastidores do cenário de League of Legends brasileiro.

Esta é uma das maiores verdades quando se fala sobre a janela de transferências do CBLOL. Apesar de ser um alvo do Fluxo desde o começo do planejamento da equipe, tirar Brance da LOUD nunca seria uma tarefa fácil. Campeão e ídolo da torcida rival do Fluxo, o novato AD Carry tinha tudo para ficar na organização e disputar um segundo título… Ou será?

Apesar de ser citado na primeira reunião entre Cabral e Matt, no dia 17 de outubro, o primeiro e único contato oficial que o Fluxo fez com Brance aconteceu no dia 23 de novembro.

Ainda assim, no dia 7 de novembro as primeiras publicações começaram a aparecer nas redes sociais sobre o Atirador ter fechado com o Fluxo, gerando muitas conversas. Alguns dias depois, em 16 de novembro, matérias sobre o suposto acordo entre a organização e o jogador já agitavam o cenário.

A comoção nas redes sociais certamente chegou até Brance, que passou a ser pressionado pela comunidade durante as negociações de renovação com a LOUD. O interesse de uma organização como o Fluxo criou uma dúvida na cabeça do jogador, que poderia fazer parte da criação da equipe desde o começo e com o status de estrela.

“Todo mundo falava sobre o Fluxo, e foi complicado”, diz Brance. “Me xingavam, falavam coisas ruins, e me afetou no começo, fiquei realmente chateado. Durante todo o processo de renovação com a LOUD eu falei com os meus pais, sei que sou novo e não poderia tomar essa decisão sozinho. Soube do interesse do Fluxo e tinha vontade de ficar na LOUD, mas não conseguimos nos acertar”.

Quando o contrato de Brance expirou, no dia 22 de novembro, o Fluxo aguardou um dia até entrar em contato com o jogador. Pelo Discord, Cabral apresentou todo o projeto e respondeu as perguntas de Brance.

“Sei mais ou menos a sua pretensão salarial, então te envio a proposta. Você tem alguma pergunta?”, disse Cabral.

“Acho que não tenho nenhuma dúvida, gostei do projeto e do time que estamos formando. Estou muito ansioso para trabalhar com o Turtle também!”, respondeu Brance.

Da maneira como respondeu ficou claro que, apesar de ser a primeira conversa oficial, Brance já se via dentro do projeto do Fluxo. E o grande motivo estava na figura do treinador da equipe.

“Sinceramente, quando eu soube do interesse do Fluxo e que o Turtle seria o técnico da equipe eu já fiquei muito animado”, diz o Atirador. “Muita experiência, muito conhecimento… é o Turtle! Queria muito trabalhar com ele e gostei da equipe que estava se formando, então ficou muito claro o que eu queria depois de conversar com o Cabral e, mais tarde, com o Turtle”.

O papo entre o head coach e o jogador foi o último prego na negociação. Dois dias depois do primeiro encontro entre Fluxo e Brance, o jogador acordou a sua entrada na organização.

Hoje sei que fiz o que foi melhor para mim, estou feliz da minha decisão e espero que um dia a torcida da LOUD entenda, eles sabem que gosto muito deles
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Brance

Capítulo IV: Is this a Jojo reference?

Dos cinco jogadores que o Fluxo havia mirado no começo do projeto, restava apenas o suporte, Jojo. Na realidade da linha do tempo, a RED Canids foi procurada juntamente com a Liberty e Disamis, mas um fato no meio do caminho viria para travar a negociação e colocar todos do projeto para fritar o cérebro: a contratação de Hauz.

Com Jojo livre para conversar com equipes no mercado, Philip ligou para Corradini, CEO da RED Canids, no começo de novembro e rapidamente chegaram em um acordo levando em consideração negociações em cima da multa rescisória do jogador, que possuía contrato até 2023 com a Matilha.

Pouco tempo depois do pré-acordo, a RED Canids entrou na concorrência por Hauz. Seguiu-se uma intensa disputa entre as equipes, com a Los Grandes correndo por fora, e nesse meio tempo as conversas sobre Jojo continuavam sendo dadas como acertadas…

… Até Hauz fechar com o Fluxo em 23 de novembro.

Após receber a recusa de Hauz no dia seguinte ao acordo com o Fluxo, a RED Canids travou as negociações com Jojo. Na Matilha, a expectativa para o acordo com Hauz era dada como certa, o que faria o core da equipe ser formado por Aegis, Hauz e TitaN, com uma dupla coreana como top e suporte, completando o elenco.

A rasteira do Fluxo foi um golpe de mercado, nada feito por debaixo dos panos, apenas negociações normais, mas forçou a RED a repensar todo o seu planejamento em um curto espaço de tempo e com opções escassas para a rota central. A equipe se inclinou a manter Jojo e contratar uma dupla para o top-mid, mas com o pré-acordo com o Fluxo acerca de Jojo, a expectativa do jogador já estava em outro lugar, bem como a da organização em contar com o suporte.

“Só falta o Jojo”, disse Cabral em reunião com Philip na quinta-feira, dia 24 de novembro. “Precisamos esperar e ver qual vai ser a birra do Corradini sobre isso”.

“Espera aí, vou ligar para ele”, respondeu o CEO do Fluxo, indo para uma sala sozinho. A conversa abaixo é toda acima das falas de Philip com o CEO da RED Canids. Conhecidos de longa data, a ligação mistura o tom direto e sério com risadas e xingamentos amigáveis entre ambos, que por vezes mascara a tensão por trás da negociação.

“E aí, Fê, tudo bem?”

“Tô te ligando pra você parar de me enrolar.”

“Pô, mas não faz isso, a gente já tinha chego em um acordo, você já tinha me dado o ok, a gente negociou com ele.”

“Não, você sabia que a gente estava concorrendo pelo Hauz. Que caminhão? Não tô oferecendo um caminhão (de dinheiro) para o cara.”

“Quanto você ofereceu?”

“A nossa proposta financeira era exatamente igual. Juro para você. Porra, tô jurando pra você, Fê, caralho”.

“Tá mas o que você quer fazer?”

“Pô, mas você vai dar para trás no acordo que você tinha comigo?”

“Dá opção pra ele, deixa ele escolher para onde ele quer ir, pô.”

Depois da ligação, Philip puxa Cabral para passar as atualizações.

“É óbvio que ele quer mais dinheiro”, ri Cabral.

“Vamos formular algo diferente do nosso lado, mas precisamos pensar em um plano B e C caso não dê certo com a RED”, responde Philip.

Durante o final de semana dos dias 26 e 27 de novembro, após conversas com Turtle e Brance, o Fluxo se junta pela primeira vez como equipe para fazer testes com Wos e Vahvel. Por preferência do técnico, o plano B vira Vahvel, que apesar de novo já atuou com Brance na LOUD Academy e quem Turtle acredita que pode atingir um potencial maior.

Dois dias depois, em 29 de novembro, um novo jogador rapidamente surge na conversa, e é Philip quem dá a notícia para Cabral. “A RED ofereceu o Jojo para a paiN Gaming, que está em impasse interno com relação ao Damage. Se a paiN fica com o Jojo, podemos ficar com o Damage por um valor abaixo do mercado”, diz o dirigente. “Posso falar com o Turtle a respeito, já que ele é um jogador experiente talvez entre na frente do Vahvel como plano B”, responde Cabral.

“Mas a decisão está nas mãos do Jojo ainda”, levanta Philip.

No dia seguinte, 30 de novembro, dia do Prêmio CBLOL 2022, Philip envia uma mensagem para Cabral via WhatsApp.

“Chegamos a um acordo com a RED Canids sobre o Jojo”, escreve.

“Só acredito vendo”, responde Cabral.

Philip então envia o documento de transferência do jogador assinado por Corradini.

“Eu queria mudar tudo, o ambiente, com quem trabalho, a maneira de pensar, estava muito acomodado na RED, e não gosto disso”, comenta Jojo. “Quando o acordo travou eu fiquei chateado, porque realmente queria vir para cá e meio que estava tudo certo, mas no fim eu sei como a RED é, como o Corradini e o JP são, e sabia que eles só travaram porque estavam preocupados com o time deles, e quando tudo estava se arrumando o Corradini falou para mim que a paiN entrou em contato e me recomendou ouvi-los, mas que a decisão final seria 100% minha. Ouvi a paiN, esperei um tempo e decidi vir para o Fluxo”.

Escorado sobre o bar na área de convivência do Prêmio CBLOL, Felipe Cabral pede uma cerveja para o barman.

“Fechamos, terminou”, disse, tomando um refrescante gole.

Dois meses de extenso trabalho nos bastidores para montar a estratégia para 2023 chegaram a um breve fim com a contratação da equipe de League of Legends para a estreia do Fluxo no CBLOL.

Quando iniciamos a apuração dos bastidores do Fluxo, a expectativa era de muitas reuniões e propostas por jogadores diferentes, negociações com diversas equipes. A realidade dos fatos foi que a organização mirou em cinco jogadores e contratou exatamente os cinco, sem sair do seu planejamento, mostrando a força que possui nos bastidores mesmo entrando pela primeira vez na modalidade.

Uma força montada em cima dos ideais e dos pilares do Fluxo como organização, passando por um Master Plan montado com esmero e detalhes, com uma diretoria concisa e uma comissão técnica de força trabalhando duro nos bastidores para provar os planos de dominação e títulos futuros em Turtle e OnMeta, que finalizou no balanço entre talento e experiência que vemos em Tay, Disamis, Hauz, Brance e Jojo.

Com toda a história cravada em pedra, agora é hora de seguir o Fluxo no CBLOL.

Publicado 16 de Dezembro de 2022
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