Começo minha caminhada para iniciar uma missão, que está a pouco mais de meio quilômetro de distância. Infelizmente, sou superado por inimigos que encontro no meio do trajeto, e preciso começar o caminho de novo.

Isso poderia ter sido um relato isolado da minha experiência com The Division 2, mas esse processo se repetiu incontáveis vezes durante minha maratona. O game é bastante exaustivo, mas possui vários elementos interessantes e que podem ser melhorados durante sua vida útil.

The Division 2 se passa sete meses depois de seu antecessor. Dessa vez, a ambientação é na capital estadunidense, Washington D.C., que também foi afetada pelo perigoso vírus Green Poison.

A impressão nas primeiras horas de jogo é bastante positiva. Com mecânicas de combate fluidas e uma dificuldade equilibrada, é bem prazeroso eliminar cada inimigo até acabar com uma gigantesca horda de adversários. O robusto sistema de loot engrossa o caldo, dando elementos de RPG a um shooter de ofício.

Entretanto, ao se aprofundar na campanha, a repetitividade das missões começa a incomodar. A tbônica é sempre ir até um local, eliminar todos os inimigos e, uma vez ou outra, interagir com um objeto ou com um NPC.

Esse problema poderia ser compensado com um enredo mais sólido, que te motivasse a destruir pouco a pouco as facções que se instalaram pela cidade. O que acontece é justamente o contrário: com poucas cutscenes, a história nunca chega a empolgar, explorando muito pouco os personagens que vão surgindo, sem se esforçar para fugir de um roteiro bastante simples.

O mesmo vale para as facções. No mundo de The Division 2, Washington D.C. é ocupada por três grupos maléficos, cada um com seu pano de fundo e motivações. Novamente, falta profundidade a cada um dessas organizações, e a única diferença sentida, na prática, é das diferentes habilidades que cada facção possui.

A maior exceção para o fraco enredo está nas gravações de áudio e vídeo. Espalhados pela cidade, esses pequenos colecionáveis reproduzem diálogos e cenas do passado, envolvendo as três facções e até mesmo alguns dos personagens da campanha principal.

Ao contrário das curtas conversas protocolares de cada missão, os audiologs de fato cumprem a função de envolver o jogador, contando pequenas histórias interessantes sobre o passado daquele universo. Infelizmente, eles são apenas um pequeno detalhe de um mundo aberto muito mais extenso.

O Gameplay

Reprodução/Ubisoft

Antes de mergulhar nos confrontos de The Division 2, tenha em mente duas coisas: a maioria dos inimigos é bastante resistente, e alguns podem requerer múltiplos pentes de munição para serem eliminados; em segundo lugar, qualquer adversário tem poder suficiente para abater seu personagem rapidamente.

Normalmente, as batalhas são bastante parecidas. Seu Agente precisa se esconder em algum dos vários objetos espalhados pelos cenários, aproveitando a melhor oportunidade para atirar nos inimigos. Eventualmente, usa-se granadas para infringir dano em área, ou se explode algum objeto incendiável para atear fogo em um adversário.

A simples mecânica fica mais desafiadora com a adição de inimigos com diferentes habilidades e personalidades. Existem alguns mais agressivos, que correm até seu personagem, sacrificando-se para te derrotar; outros jogam granadas que irão forçar o Agente a sair de sua região segura.

Naturalmente, existem inimigos mais poderosos, com uma armadura quase impenetrável. Esses oponentes são identificados com uma barra amarela de vida, e podem ser encontrados tanto em locais aleatórios quanto em missões importantes, representando o chefão daquela área.

Infelizmente, isso tira um pouco do carisma dos chefes, que são apenas inimigos como qualquer outro, com a diferença de terem um nome próprio e serem ainda mais fortes.

Reprodução/Ubisoft

Para ajudar os jogadores, um dos maiores recursos está nas suas próprias habilidades. Acessórios como drones, torres de artilharia, escudos e granadas teleguiadas podem ser desbloqueados conforme o jogo avança, e são algumas das opções que o Agente terá à sua disposição para sobreviver.

Ainda que tenha uma certa variedade nas “classes” de inimigos e também no repertório do Agente, a tônica das batalhas costuma ser a mesma: sobreviva até conseguir encaixar seus tiros. No fim das contas, todas as missões acabam se tornando apenas uma grande sequência de batalhas parecidíssimas.

Fora das missões, em tarefas à parte como retomar Pontos de Controle, a frustração é ainda maior. Falhar em sua investida e ter que recomeçar seu trajeto em um local já dominado é bastante cansativo, principalmente quando há uma tarefa difícil à sua frente.

Tudo isso resume a experiência que tive jogando sozinho, sem ter um companheiro online me ajudando. Usando o sistema de Matchmaking, que te junta com outros jogadores para fazer missões, ou até mesmo pedindo apoio a qualquer momento, o jogo realmente brilha; a jogatina se torna mais tranquila e é extremamente mais fácil completar missões e tarefas adicionais.

Aqui, ainda cabe a crítica a um dos maiores problemas do jogo: os bugs. Durante um longo período de tempo, minhas habilidades simplesmente não funcionavam. Tanto minha torre de artilharia quanto o drone desapareciam automaticamente, um defeito que foi reafirmado após pesquisar na internet. Felizmente, uma manutenção recente no servidor parece ter resolvido o erro.

Elementos de RPG

Reprodução/Ubisoft

Não faltam mecânicas em The Division 2: desde o loot até à evolução das Bases, o game é bastante completo nesse aspecto.

O grande foco da Ubisoft parece ser o loot, que fornece equipamentos bastante variados ao seu agente. Além das armas, é possível equipar coletes, joelheiras, máscaras e outros itens - cada uma com um nível e seus próprios atributos.

Os equipamentos podem ser adquiridos de diversas maneiras. O mais simples é pegando os itens derrubados pelos inimigos abatidos, mas também é possível encontrar inúmeras mochilas e baús pela cidade, além de poder manufaturá-los.

Bastante intuitivo, o sistema de crafting é apenas uma das várias maneiras de evoluir seu personagem no game. Juntando isso aos vários outros recursos oferecidos pelas Bases de Operação, como um estande de praticar tiros, sistema de recompensas por eliminar inimigos específicos, e Projetos para melhorar as Bases, a sensação transmitida é de que sempre há algo a se fazer naquele universo.

O visual

Mesmo no PlayStation 4 convencional, os gráficos de The Division 2 impressionam: uma iluminação incrível em todo o cenário dá vida à versão pós-apocalíptica de Washington D.C. Somando isso ao clima variável, eventos aleatórios com inimigos, animais andando pelas ruas e a transição do dia para a noite, o almejado “mundo vivo” foi atingido pela Ubisoft.

Entretanto, os bugs surgem novamente como um empecilho. É completamente normal encontrar imagens que demoram alguns segundos para carregar. Uma placa de publicidade, por exemplo, pode aparecer pixelizada por um bom período de tempo antes de “revelar” seu verdadeiro conteúdo.

Outro problema é um pouco mais específico: o game poderia ter aproveitado ainda mais a magnitude de uma cidade como Washington D.C. Poucas missões são ambientadas em locais realmente marcantes. Além do Lincoln Memorial e da batalha final no Capitólio, apenas uma tarefa me marcou por seu cenário, que possuía vários cubos brilhantes.

No geral, os campos de batalha parecem bastante genéricos, algo que só piora com o problema das texturas que não carregam.

Dark Zones

Um dos principais conteúdos do primeiro The Division faz seu retorno, em maior quantidade, com mais mecânicas e mantendo o mesmo nível de desafio. É um pouco difícil explicar o que são as Dark Zones, e como elas funcionam, de maneira breve. O conceito pode ser simplificado como uma região onde jogadores e inimigos de inteligência artificial podem guerrear livremente; quanto mais tempo o jogador conseguir sobreviver no local, mais itens raros podem ser obtidos.

A atração segue sendo bastante divertida e desafiadora. Por mais que os inimigos sejam poderosos, é fácil passar um bom tempo nas Zonas e sair de lá com histórias épicas de como sobreviveu aos inúmeros ataques.

Vale parabenizar os desenvolvedores por terem inserido a normalização de equipamentos. Isso significa que, ao duelar contra outros jogadores, seus equipamentos possuirão níveis equilibrados, dando maior igualdade ao combate. A única exceção à regra diz respeito às habilidades; um jogador mais experiente terá um repertório maior à sua disposição, assim como alguns Perks que seu adversário pode não ter.

O prometido End Game

Reprodução/Ubisoft

Depois de finalizar a campanha principal de The Division 2 e finalmente eliminar as facções inimigas, um quarto grupo surge repentinamente: sob o nome de Black Tusk, os oponentes possuem um maior poderio e inteligência artificial avançada, propondo um desafio ainda maior aos jogadores.

Mesmo com os novos recursos dos adversários, o gameplay permanece mais do mesmo. Aproveitando a possibilidade de atualizar os conteúdos do game, a Ubisoft poderia dar um pano de fundo mais elaborado aos seus personagens e à Black Tusk, o que tornaria o End Game algo diferente, e não apenas missões parecidas com as que já foram feitas.

Uma novidade é a presença das especializações, sistema que também surge depois da campanha principal, permitindo que o jogador escolha entre três “classes”, cada um com uma arma especial e sua própria árvore de habilidades - um tiro certeiro para manter o jogador interessado.

Outro grande acerto das especializações está em poder trocá-las a qualquer momento, basta uma visita à Base de Operações. Assim, o jogador tem a oportunidade de encontrar o estilo de jogo que mais gosta, ou até mesmo explorar todas as opções ao máximo.

Por cima de tudo isso, há um robusto planejamento para o conteúdo pós-lançamento: todas a DLCs do primeiro ano serão gratuitas, contando com novas missões, especializações e uma Raid para oito jogadores.

Os dois últimos itens são os mais empolgantes dessa lista, já que trarão atividades realmente novas. Quanto às missões, essa é a chance de fazer algo diferente, e não repetitivo como se vê durante todo o game.

Os bugs

Infelizmente, jogos ambiciosos como The Division 2 podem ter uma série de erros na programação, como já vimos recentemente em Fallout 76 e Anthem. O lançamento da Ubisoft não está isento disso, e não era incomum ver inimigos surgindo do nada, “teletransportando” e tiros demorando para surtirem efeito.

Novamente, as texturas que não carregam e as habilidades que não funcionam entram para esse panteão. Há ainda as várias vezes em que meu Agente travou em um local sem conseguir se mexer, inimigos que não conseguem passar por uma porta distante de sua área de ação, entre outros casos.

Em compensação, The Division 2 possui um formato de “serviço”, sendo constantemente atualizado por seus desenvolvedores. Ou seja, tudo isso pode ser resolvido em breve, assim como as habilidades que não funcionavam, mas é certo que o jogo está longe de ser totalmente estável.

Por fim, ainda sem explorar o suficiente das Dark Zones e sem ter alcançado o prometido End Game, The Division 2 consegue divertir por algumas horas com seu combate. Entretanto, uma história que não empolga falha em “dar liga” a todos os variados elementos que estão presentes no game, e a jogatina vai se tornando cada vez mais cansativa conforme se evolui na história.

O jogo possui bastante potencial para crescer, graças à abertura para várias DLCs e novos conteúdos, mas, por enquanto, The Division 2 pode ser classificado apenas como um bom game.

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The Division 2
Nota do crítico