O processo de expansão da marca Gaules para além do mundo dos esportes eletrônicos já está claro e não é de hoje. Se alguém ainda desacreditava, a parceria com os direitos de transmissão da NBA liquidou qualquer tipo de dúvida. Chegamos em um momento que não só o Gaules precisa olha para as modalidades, mas as próprias modalidades também precisam olhar para o streamer.

Houve um tempo em que o foco era a expansão de Gaules, que necessitava de fatores externos como direitos de transmissão de grandes torneios de CS:GO. Naquela época o famoso "radinho de pilha" já fazia sucesso, é verdade, mas é impensável imaginar que o brasileiro, junto da sua equipe, atingiria o patamar atual sem evoluir seu conteúdo, canal, contatos e afins.

A parte em que Gau ainda precisa evoluir e se renovar constantemente para seguir crescendo é exatamente a mesma. Na verdade, isso não mudará nunca, já que, neste ramo, a evolução também significa sobrevivência. O que realmente mudou é que chegou o momento em que não é só Gaules que precisa de fatores externos como direitos de transmissão, pois agora os próprios detentores da transmissão também precisam do Gaules.

Quando digo isso, não me refiro apenas ao Counter-Strike, VALORANT ou esports em geral. Nesta lista incluo os esportes físicos, tradicionais. Especialmente aqueles menos proeminentes no Brasil e que tendem a perder ainda mais espaço com o grande interesse dos jovens se voltando para esports.

Analisando alguns fatores, vemos o quanto a via de mão dupla entre o streamer e outras modalidades pode se tornar realidade. Quando o assunto são os números, podemos citar a estreia da NBA no canal do brasileiro, na Twitch. De acordo com o Streams Charts, aquela stream teve uma média de 113 mil espectadores simultâneos e um pico de 142 mil. Foram 698 mil horas assistidas, em pouco mais de 6h no ar. Falando de potencial, vimos até onde ele já pode chegar durante a BLAST Premier Spring NA, com pico de mais de 390 mil pessoas simultâneas, na final entre MIBR e Evil Geniuses.

Outro ponto para se analisar é o tipo de comunidade que Gaules criou e como ela se comporta. Estamos falando de pessoas jovens, que podem renovar o público de outros esportes e torná-los mais rentáveis a longo prazo. Não só isso, mas também de seguidores que querem acompanhá-lo seja onde for, independentemente do que ele está transmitindo. Cativados por Gaules, parte deste público pode, sem mesmo ter qualquer intenção disso, ser cativado por modalidades e personagens (jogadores, treinadores e afins) que fazem parte delas. É o que acredito piamente que acontecerá com o basquete na NBA e que também pode virar a realidade de outras modalidades.

Usando o Tênis como exemplo, vimos a França alcançar uma média de audiência de 3,2 milhões de espectadores durante uma partida do francês Dominic Thiem, durante o Roland Garros 2020. O pico chegou a 5,6 milhões. Já no Brasil, o SporTV 3 comemorou a marca de 0,7 pontos de audiência - pouco mais de 182 mil pessoas - durante uma final entre as lendas Nadal e Djokovic, como apontou matéria do UOL. Um número alto, mas que, além de estar completamente dentro da realidade atual de Gaules, seria de muitas pessoas que não estão dentro do público padrão do Tênis, mas que poderiam estar no futuro, com esta renovação que Gau tem a capacidade de causar.

É importante mencionar que a necessidade de renovação de público não é algo levantado pioneiramente por mim. É um problema que diversos esportes estão passando e já é até mesmo assunto Olímpico. Em entrevista à agência Reuters, o ex-número 1 do mundo, vencedor de sete Grand Slams e atualmente comentarista de televisão, Mats Wilander, afirmou que a média de idade dos espectadores de Tênis é de 50 anos e que está na hora de se renovar. Ele também disse que teme pela iminente aposentadoria de Roger Federer, que é o responsável por boa parte do interesse do público.

O treinador da lenda Serena Williams, Patrick Mouratoglou, é outro que já abordou o tema da renovação de público no Tênis algumas vezes. Enquanto Wilander acredita que é preciso investir mais nos jovens jogadores, Mouratoglou afirma que os tenistas precisam ter mais liberdade de se expressar em quadra, para se tornarem personagens reconhecidos - sejam amados ou odiados. Seja lá onde, como e no que será o investimento, renovar o público interessado no Tênis é prioridade e pauta de muitos profissionais e especialistas do ramo.

O Tênis foi apenas um, entre milhares de modalidades esportivas, a qual escolhi para utilizar de exemplo argumentativo neste texto. Eu poderia citar muitos outros e a realidade e argumentos seriam muito semelhantes. A renovação é pauta prioritária e enxergo Gaules como um catalisador que pode não só ajudar e acelerar este processo, mas torná-lo realidade, que é o mais importante atualmente, já que ele nem ao menos teve início.

Após muito falarmos sobre Tênis, voltemos aos esportes eletrônicos para salientar mais uma questão. Quando aponto Gaules em direção aos esportes tradicionais e vice-versa, não quer dizer que eu ache que ele deva largar os esports. Muito pelo contrário. Deixar de lado as próprias origens seria péssimo tanto para o Gau quanto para a comunidade. Ele precisa continuar no CS:GO e em outros jogos e tenho certeza que continuará, já que nada mostra o oposto disso. Mas não quer dizer que ele não possa dividir o próprio tempo das streams diárias, principalmente porque não há torneios importantes todo dia e a todo momento. E, como vieram as CS_Summits para mostrar, nem sempre ele terá os direitos de transmissão de um torneio de CS - mesmo com toda a fama e dinheiro pronto para pagar por eles.

Nós que amamos a comunidade de esportes eletrônicos, precisamos vibrar quando vemos alguém que nasceu e cresceu nisso, tornando-se um expoente em outras frentes e até mesmo ficando famoso no mainstream. Trata-se de uma vitória da comunidade e mais uma prova de quanto os esports estão crescendo e revelando talentos ao mundo - mesmo que Gaules não seja tão novo para ser considerado uma revelação - risos.

A integração de jogadores de futebol, músicos e outros com a cena de esports já é uma realidade que mostra tudo isso. Porém, chegou a hora de parar de importarmos ídolos e começar a exportá-los também. Gaules, Nyvi e tantos outros tem tudo para seguir este caminho, enquanto nós, apaixonados e unidos pelos "joguinhos", temos a missão de apoiar e alavancar essa galera, para crescermos juntos e mostrar nosso orgulho de participar desta história.

Quem sabe daqui há alguns bons anos não contemos aquela velha história de "quando tudo era mato" aos nossos filhos e netos, enquanto vemos a potência mundial que os esports se tornaram perante a qualquer mercado existente.