O brasileirinho fã de Counter-Strike não tem um segundo de paz, realmente.

Apesar de a FURIA emplacar três jogadores no Top 20 da HLTV, mostrando o excelente ano que tiveram, a MIBR, equipe que atrai a maior quantidade de fãs do jogo, mais uma vez se vê em uma novela com final triste.

Recapitulando o primeiro capítulo:

Imagem: MIBR

Apesar da falta de títulos, com tão pouco tempo de treino e jogadores de nível internacional desconhecido (v$m e leo_drk raramente disputaram competições internacionais de alto nível) até então, a MIBR bateu de frente com as melhores do mundo, resgatando o orgulho de torcer para a tag. A organização, antes duramente criticada, recebeu apoio da comunidade por apostar em um planejamento totalmente diferente.

Inclusive, isso trouxe à tona o melhor dos dois jogadores que restaram do primeiro disband, trk e kNg. O último, inclusive, capitaneou a equipe na raça e na bala, disparando seu rating na HLTV e puxando a responsabilidade inclusive fora de jogo, ao publicar em seu canal todas as imagens de bastidores para aproximar os fãs da equipe, como dito em entrevista exclusiva ao The Enemy em dezembro.

Por ser uma aposta, a MIBR fechou um contrato de três meses com cogu, LUCAS1, leo_drk e v$m. Os dois últimos haviam sido emprestados por Sharks e DETONA, respectivamente.

Com as grandes atuações, era praticamente consenso entre torcida e especialistas que a organização do MIBR faria de tudo para manter o elenco em 2021.

E aí começa a segunda novela.

Negociações e discussões em live

Após os contratos expirarem no dia 01 de janeiro de 2021, bastou quatro dias para que LUCAS1, v$m e cogu postassem em horários semelhantes seus agradecimentos à MIBR, efetivamente começando uma pandemia nas redes sociais dos jogadores e na imprensa.

Segundo apurou Roque Marques, do Globo Esporte, a negociação foi travada devido a valores e a “casinha fechada” entre os jogadores e o técnico. O comandante da equipe receberia um salário de US$ 10 mil (R$ 52 mil), e que aumentaria com metas. No entanto, cogu colocou como condição a contratação de leo_drk, LUCAS1 e v$m.

Aos jogadores havia sido feita uma proposta salarial semelhante, US$ 10 mil - depois negada por cogu e LUCAS1, citando cogu que seria “um pouco mais da metade deste valor”. Além disso, LUCAS também afirmou que a organização não ofereceria ajuda de custo para moradia e alimentação aos jogadores e técnico. A equipe ficaria sediada em Los Angeles (EUA), cidade conhecida pelo seu alto custo de vida.

Os tweets, reafirmados em post oficial de dispensa do elenco por parte da MIBR, geraram grande discussão. Sempre antenado, Gaules, melhor streamer e personalidade do ano de 2020 pelo Prêmio eSports Brasil, reagiu com duras críticas à organização durante uma live em que jogaria FIFA 21.

“Não segurar o cogu é a decisão mais patética e tosca que a MIBR poderia fazer”, disparou o streamer. “É uma vergonha. O cogu trouxe uma alma nova para a equipe, liderada pelo kng e pelo trk, e que fez com que todos se entregassem ao máximo para nos representar bem no exterior. É a pior decisão que a organização tomou nos últimos meses, incluíndo o primeiro disband”.

Tão logo Gaules começou a comentar a respeito da decisão da organização, Yuri “fly”, CEO da GamersClub e que lidera as decisões e negociações do MIBR via IGC (Immortals Gaming Club, a dona da tag), entrou na live para comentar as negociações, decisões e ouvir o posicionamento de Gaules, que em grande parte reflete também o sentimento da comunidade.

“Existem pedidos e limitações individuais de cada jogador, e também do cogu, que devem ser respeitados. No entanto, tínhamos uma limitação de orçamento que não se mostrou necessária para garantir a continuidade do projeto, por mais que ambas as partes quisessem permanecer juntas”, disse fly.

Em diversos momentos, Gaules se mostrou apreensivo com o futuro da equipe, questionando as decisões da organização. “A questão é que quando aconteceu o primeiro disband, toda a expectativa foi para o chão, e esta equipe trouxe ela de volta para cima, junto com o orgulho. Representaram a tag, eram carismáticos e cativantes, mas agora novamente a MIBR se vê sem uma equipe e precisa reconstruir do zero um time de olho na BLAST que começa em fevereiro, mas dessa vez com expectativas muito altas”, pontuou o streamer.

“Fomos de uma equipe que todos conheciam, mas não vencia, para um diband. Disso, nos transformamos em um underdog que mostrou boas atuações. Agora, não temos ninguém. Não subimos degraus, na verdade estamos rolando escadaria abaixo. A um mês de um campeonato importante, a diretoria mandou um ‘torcedores, calma… não temos ninguém’. Por isso o torcedor se sente palhaço”, desabafou Gaules.

Na sequência da conversa com fly, Gaules recebeu pedido de cogu para participar da transmissão. Tão logo o ex-técnico do MIBR entrou na live, já adiantou “Teve muitas coisas que o fly falou que fazem sentido, mas outras que foram completamente fora da realidade”. Abalado, o técnico procedeu a falar sobre as negociações criticar a cúpula da organização e demonstrar insatisfação sobre como tudo aconteceu.

“O que eu posso falar é que (nas negociações) eles (MIBR) abaixaram 70% o valor dos salários dos jogadores que estavam na equipe (trk e kNg) e ofereceram um valor bem abaixo do que está saindo na mídia. Falaram US$ 10k, mas a realidade era um pouco mais do que a metade disso. Recusamos e dissemos que nossa base era US$ 15k. Isso tudo foi em uma reunião entre eu e o Tomi (lurppis, diretor da IGC e um dos responsáveis pela organização). Eu passei os valores que queríamos e ele só disse “assim, não dá”. Foi literalmente uma chamada de cinco minutos com ele de câmera desligada, ele me esperou falar, depois disse ‘para a gente, isso não serve, tenha um bom dia’, e desligou na minha cara. Eu me senti como um lixo. É esse tipo de pessoa que toma as decisões dessa organização”.

Imagem: MIBR

Fly retornou ao papo pouco depois de cogu começar a falar, para sanar alguns apontamentos e dúvidas do ex-técnico, e não foi poupado de críticas. “A proposta que vocês fizeram pra gente e que irão investir em contratar outra equipe são muito diferentes, fly. A impressão que me dá é que desde o começo vocês já sabiam que iam fazer o disband e já estavam fechando com outros jogadores”, disparou cogu.

Fly confirmou que as propostas são diferentes, e mais atrativas em alguns pontos, como o auxílio alimentação no exterior, mas negou que já estavam fechados com outros jogadores enquanto negociavam com cogu, leo_drk, v$m e LUCAS1. “Não aconteceu outra negociação no decorrer da nossa. Os valores são diferentes pois em alguns casos não precisamos negociar tanto os valores de compras de jogadores que agora estão nos nossos planos, e isso nos dá mais margem para trabalhar outros aspectos de contratos”, disse fly.

Gaules então trouxe o ponto do tratamento com cogu. “A grande questão, aparte das negociações, é a forma com que foi tratado tudo isso. Mais uma vez, a diretoria do MIBR pega uma parte da história da equipe, neste caso o cogu, e tudo acaba errado”, ao que fly concordou. Cogu continuou, “Eu me sinto completamente lesado nessa negociação, fly, e não por você. É alguém acima de você, no caso o Tomi, que já cagou em outros elencos e continua cagando”. Gaules completou: “E ele está numa posição confortável, porque ele nunca é o cara cobrado, enquanto você está aqui para tentar dar um pouco de luz a situação, fly”.

A discussão foi longa, e não houve um consenso, mostrando um pouco dos bastidores de uma negociação falha e que rompeu um elo importante (talvez o mais importante) da história do MIBR, cogu, ao menos enquanto a diretoria da equipe não mudar. O ex-técnico e fly concordaram em discordar de alguns pontos. O “presida”, apelido de fly, fez questão de agradecer em público todo o trabalho de cogu e dos agora ex-jogadores do MIBR, mas o gosto ruim permaneceu na lenda do Counter-Strike brasileiro.

Disband e futuro das equipes

Ao final da live, cogu deixou claro que os planos continuam para os jogadores que representaram o MIBR no final do ano permanecerem juntos em um projeto futuro. Isso foi confirmado nesta sexta-feira (8), quando kNg e trk postaram em seus Twitters comunicados de solicitação de inatividade ao MIBR. 

Se a primeira novela terminou com dois atores ainda presentes para reconstruir um legado, desta vez o elenco está zerado. O MIBR precisará, a quase um mês de seu primeiro campeonato do ano, começar um projeto vencedor do zero, com o dobro de pressão e expectativa de uma torcida já cansada do tratamento com os jogadores e os próprios fãs.

Os contratos de kNg e trk com o MIBR são vigentes até 01 de agosto de 2021. Leo_drk e v$m ainda estão em contrato (informações de duração a serem apuradas) com Sharks e DETONA, respectivamente. LUCAS1 e cogu estão livres no mercado, e a informação de bastidores é que HEN1, irmão gêmeo de LUCAS, seja o sexto jogador do elenco. O “Jacaré” já se despediu da FURIA, equipe pela qual alcançou o 16º lugar no Top 20 da HLTV no ano anterior.

Segundo cogu, os sete procuram uma organização para dar andamento ao projeto que, certamente, será acompanhado de perto por toda a torcida brasileirinha.