Atualmente, a Blizzard parece estar sofrendo uma espécie de guerra de influência interna.

Em 2008, a Activision e a  Vivendi Games - que na época era companhia dona tanto da Blizzard quanto da Sierra Entertainment - fizeram uma fusão corporativa, que acabou gerando a Activision Blizzard.

Durante muito tempo, a empresa parecia ser composta por duas entidades separadas, cada uma cuidando de seus assuntos: o lado da Activision estava principalmente focado em lidar com suas propriedades intelectuais, como Call of Duty, Skylanders e Destiny; e a Blizzard era… bem, a Blizzard.

Recentemente, porém, reportagens - principalmente do site Kotaku - parecem indicar que o braço da Activision planeja ser bem mais influente quanto aos projetos e propriedades intelectuais da Blizzard, com o aparente objetivo de aumentar seu ritmo de produção e lucratividade.

A ligação entre as empresas começou a ganhar um contorno maior após a Battle.net, antes uma plataforma específica da Blizzard, passar a vender jogos desenvolvidos pela Activision, como os últimos Call of Duty e Destiny 2. E não parou por aí.

Em uma matéria de novembro do Kotaku falando sobre as direções da franquia Diablo, a Activision é citada como um elemento que se mostrou bem mais presente, direta ou indiretamente, nos rumos da Blizzard neste último ano.

Entrevistados relataram que, ao contrário dos anos anteriores, o assunto de finanças começou a tomar mais proeminência, especialmente ligado à nova Chief Financial Officer da companhia, Amrita Ahuja, veterana da Activision.

“Você poderia pensar que a Blizzard estava para falir e não tínhamos dinheiro nenhum”, declarou um ex-funcionário que teria deixado a produtora pela presença maior da Activision. “O modo com que cada coisinha estava sendo analisada de um perspectiva de gastos. Isso obviamente não era o caso. Mas foi a primeira vez que eu ouvi ‘Precisamos mostrar crescimento’. Aquilo foi inacreditavelmente desapontador para mim.”

A julgar pelo texto do Kotaku, parte deste novo interesse deve-se também ao fato da própria Activision estar em um período de (relativas) vacas magras: apesar de Call of Duty continuar sendo o maior nome da indústria, o investimento em Destiny não teve o retorno esperado pela companhia, o que impactou seu valor de mercado. Por isso, ela estaria procurando se ligar mais a sua empresa-irmã para ajudar no crescimento econômico.

“Estamos recebendo ordens para gastar menos em cada canto por não termos nenhuma propriedade intelectual nova”, disse um ex-desenvolvedor. “Porque Overwatch criou um novo patamar de quanto podemos arrecadar em um único ano, há uma pressão enorme da Activision para acelerar o passo. Eles querem algo para mostrar aos investidores.”

Ao que tudo indica, este corte de custos promete impactar todos os setores da empresa que não envolvam game design diretamente. Uma reportagem da Eurogamer na última semana revelou que 100 funcionários do serviço de atendimento ao consumidor na Irlanda aceitaram um pacote de demissão voluntária - o que preocupou outros empregados do setor, embora a Blizzard tenha declarado que não pretende fechar o escritório.

Outra matéria recente do Kotaku também indica que a Blizzard tem utilizado do chamado programa Career Crossroads para que funcionários de serviços como atendimento ao cliente, QA e TI deixem a companhia - embora a empresa tenha negado que tenha encorajado estes funcionários a adotar o pacote.

“Ninguém está sendo requerido ou encorajado a participar do programa, mas para aqueles que quiserem, trabalhamos duro para deixá-lo generoso”, diz o comunicado.

A empresa está abrindo novas vagas para desenvolvimento de games, o que reforça a ideia de que a Blizzard quer acelerar seu ritmo de produção de jogos, enquanto corta custos de outros setores.

Isso, em teoria, é uma boa notícia para fãs da desenvolvedora, mas há o problema de que “mais jogos” não quer dizer necessariamente “melhores jogos”. Isso sem falar no aparente impacto criativo nesta nova direção.

“Muitas decisões agora estão sendo direcionadas pelo pessoal executivo, o pessoal do marketing e finanças”, descreveu um ex-funcionário. “Há uma verdadeira luta agora entre os desenvolvedores e as pessoas de negócios… Decisões estratégicas estão sendo feitas pelo grupo financeiro.”

Mike Morhaime

Reprodução/Blizzard Entertainment

Outro fator importante na mudança de direção da Blizzard é a saída do cofundador Mike Morhaime da posição de CEO. De acordo com declarações, Morhaime era conhecido principalmente por não cobrar por lucratividade ou prazos para títulos, e sim no bem-estar de funcionários e produção dos games em si.

A este ponto é difícil saber como será a gestão do novo CEO, J. Allen Brack, mas a impressão é que a Blizzard não será o mesmo ambiente de trabalho de antigamente, especialmente com a influência impessoal da Activision.

Já se sabe, ao menos, que há diversos jogos mobile de propriedades intelectuais da Blizzard em produção, incluindo o controverso Diablo Immortal.

De qualquer forma, não há como prever qual será o futuro da Blizzard nestes próximos anos, mas a verdade é que muitos temem que a empresa perderá a cultura que a tornou tão adorada no mundo dos games.