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Skull & Bones: Reportagem detalha ambiente disfuncional de estúdio da Ubisoft

Matéria destaca casos de discriminação racial e assédio sexual na Ubisoft Singapore

Por Victor Ferreira 23.07.2021 15H03

Após a publicação da reportagem sobre os percalços de Skull & Bones, que finalmente entrou em alfa após 8 anos de produção, o Kotaku lançou uma nova reportagem detalhando o ambiente disfuncional da Ubisoft Singapore, principal produtora do game e um dos estúdios de apoio essenciais para jogos como Assassin's Creed e Immortals Fenyx Rising.

"A Ubisoft Singapore sempre foi meio que conhecida [internamente] como um dos piores da Ubisoft em termos de cultura", disse um antigo desenvolvedor da publisher. "As pessoas iam visitar [de outros estúdios] e ficavam tipo 'Que porra tá acontecendo aqui?'"

A matéria, que cita 20 antigos e atuais funcionários do estúdio, relata um pouco do histórico da Ubisoft Singapore, criado em 2008 na cidade-estado de Cingapura com apoio e subsídios do governo local, que teria a contrapartida contrataria e treinaria o talento local para aspectos de tecnologia e desenvolvimento de games.

Em teoria.

"Anos depois, alguns dizem que isso não foi exatamente o que aconteceu", diz o texto. " A Ubisoft pegou o dinheiro dos subsídios sem pagar alguns desenvolvedores juniores o suficiente para que os fizessem se mudar da casa dos pais. Alguns até deixariam o estúdio após ganhar alguma experiência trabalhando em blockbusters mundiais, enquantos outros que ficaram raramente eram promovidos para os altos cargos dos departamentos criativos e administrativos."

A matéria chega até a comparar o estúdio a um "posto colonial" em que funcionários da matriz da Ubisoft poderiam trabalhar em um lugar exótico por um ou dois anos antes de seguir sua carreira em outros lugares.

Uma das principais críticas dos funcionários entrevistados era, inclusive, o fato de o topo da hierarquia do estúdio ser composta principalmente por homens, franceses, e brancos - supostamente conhecidos como a "Máfia Francesa" ou a "Conexão França".

"Temos uma piada: há um multiplicador francês e há um multiplicador de tom de pele", declarou um funcionário.

"O diferencial de salário entre locais e expatriados era simplesmente insano", diz um antigo empregado do estúdio.

O texto diz que, embora muitas das fontes elogiem o trabalho dos desenvolvedores e gerentes do estúdio em seus trabalhos de apoio para as grandes franquias. O problema central estaria em Hugues Ricour, que chefiava o estúdio até ser denunciado por abusos em uma matéria do Gamasutra, em meio às revelações sobre o ambiente tóxico dos vários estúdios da Ubisoft.

"A cabeça era podre, então o corpo era incapaz de funcionar propriamente", declarou uma fonte.

Ricour é definido na matéria como uma figura tirânica e abusiva que aterrorizava seus subalternos, com um funcionário comparando sua promoção e substituição do antigo cabeça de estúdio como "trocar uma luva de seda por um carrasco."

"Quando você acha que vai ser demitido porque está falando a verdade sobre um projeto isso é, por definição, um ambiente tóxico", disse um antigo empregado.

"Hugues falava abertamente que todos podiam ser substituídos e que deveriam agradecer por estar lá", declarou um funcionário que ainda trabalha no estúdio.

Uma fonte da reportagem também relata casos de assédio sexual contra o ex-chefe do estúdio, relatando ocasiões em que fez comentários impróprios para ela e pediu por um beijo durante uma festa.

Ricour, como dito antes, foi removido do cargo em 2020, mas apesar de sua má reputação e os supostos casos de abuso em que esteve envolvido, ele ainda é um funcionário de alto escalão da Ubisoft, trabalhando como diretor de produção de inteligência na sede da empresa - o que, mais uma vez, coloca em dúvida o quanto as mudanças prometidas pela publisher francesa após os escândalos revelados no ano passado.

Não só isso, problemas sistêmicos como a disparidade salarial e discriminação dentro da Ubisoft Singapore ainda parecem longe de serem resolvidos.