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Fortnite: Modo sem construção é um acerto ainda que temporário

Novidade promove inclusão e ampliação do battle royale dentro dos games. Modo precisa ser definitivo, mas Epic Games o limita por uma semana

Por Bruno Povoleri 21.03.2022 17H30

O sonho de muitos, enfim, se realizou: agora é possível jogar Fortnite sem precisar ser pro player ou ter diploma de engenharia civil para construir um prédio de oito andares com três tipos diferentes de materiais. Isso porque a Epic Games aproveitou a introdução da Temporada 2 do Capítulo 3 ao battle royale para retirar as construções do modo Casual do jogo. A novidade está prevista para ficar disponível até o dia 27 de março, mas todos os caminhos levam a crer que irá permanecer por um bom tempo.

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Antes de tudo, é preciso esclarecer que a mecânica de construir segue ativa no modo Arena, que costuma ser jogado tanto por pro players que ambicionam uma determinada pontuação com intuito de estarem habilitados a participar de campeonatos, quanto por jogadores que apenas querem mais competitividade.

Ou seja: o Fortnite, neste momento, disponibiliza as opções de jogar com e sem construção. Você gosta ou tem facilidade de construir e gerir materiais? Beleza, vai lá e joga sua Arena. Você não gosta ou tem dificuldade de construir e gerir materiais? Tranquilo, vai lá e joga seu Casual. É essa inclusão, embora superficial, que importa no fim das contas.

Na maioria das ocasiões, a primeira reclamação de quem não joga regularmente Fortnite é a necessidade de subir um Burj Khalifa - o maior prédio do mundo com 828 metros e 163 andares, localizado em Dubai, nos Emirados Árabes - em menos de cinco segundos. Esse fator historicamente afastou milhares de possíveis interessados no jogo, mas operou como um diferencial em relação a outros games do gênero Battle Royale.

Burj Khalifa no Fortnite (Foto: Reprodução/Fortnite)

A Epic Games, portanto, sempre esteve em uma encruzilhada: seguir firme nas suas convicções e deixar de ganhar público naquele que é o seu principal produto ou ouvir o apelo de grande parte da comunidade de games e abrir uma exceção. Pois bem, a publisher ficou com a segunda opção e agora precisa lidar com dois tipos de perfis de jogadores em um mesmo universo.

Só que isso está longe de ser um problema. Nos últimos anos, a Epic Games se notabilizou por criar diversas opções de jogabilidade dentro do Fortnite a partir do modo Criativo. Algumas dessas novidades até deram o que falar, como o modo de jogo inspirado em Among Us. No entanto, nenhuma delas gerou tanto burburinho quanto o modo sem construção. E isso diz mais sobre a comunidade do Fortnite do que sobre a desenvolvedora.

A grande verdade é que a maioria dos envolvidos no cenário do Fortnite sempre pensaram única e exclusivamente no próprio umbigo. Na visão deles, o mundo ideal tem cada vez menos mudanças para que consequentemente não haja a necessidade de aprendizado e de adaptação ao meta do game.

Além disso, os jogadores mais competitivos do Fortnite, grupo majoritariamente composto por quem já tem grande familiaridade com o jogo e que lidera as críticas em relação ao modo sem construção, nada mais são do que um poço de egocentrismo. Eles gostam de se sentir melhores. Eles gostam de se sentir superiores. Eles gostam de mostrar que podem fazer coisas que um usuário que joga com pouca frequência não consegue fazer porque eles dedicaram anos de jogatina para chegar naquele nível.

Quando a Epic Games remove as construções do modo Casual e dá a oportunidade de outros jogadores conseguirem usufruir do Fortnite de uma maneira diferente, a autoestima inflada da galera mais competitiva é tão afetada que parece o fim do mundo. Não precisa ir muito longe para se deparar com comentários que recriminam a decisão da publisher e dão a entender que a mecânica de construir acabou. Não, ela não acabou. E dificilmente vai acabar porque é isso que faz o Fortnite ser o Fortnite.

O buraco é mais embaixo do que pensamos, mas chegamos em um momento em que o Fortnite precisa pensar a longo prazo e não somente a cada três meses. A retirada das construções, ainda que temporariamente, mata dois coelhos com uma cajadada só.

Em outras palavras, o modo sem construção é um acerto porque consegue dois resultados ao mesmo tempo: integra públicos que almejam jogabilidades distintas e expande o produto do ponto de vista comunitário e de marca. Para o bem dos games e do Fortnite, o modo tem que ser definitivo. O resto é só balela.