Aos 18 anos de idade, Bruno "NOBRU" Goes conquistou o Brasil e o mundo pelo Free Fire. Jogando pelo Corinthians, o atleta se lançou ao estrelato como MVP do Mundial e a "limpa" que fez no Prêmio eSports Brasil de 2019, ganhando os prêmios de Melhor Atleta de Free Fire, Craque da Galera e Atleta do Ano.

NOBRU é de origem humilde, vindo da comunidade do Jardim Novo Oriente, na Zona Sul de São Paulo, e faz questão de mostrar o seu carinho por todos lá. Inclusive, o atleta ainda mora na mesma casa "cheia de fios pra tudo quanto é lado", segundo ele próprio. Fios estes que estão ficando devagares demais para o jogador que explodiu também como streamer, atingingo um pico de 190 mil viewers simultâneos em seu recorde no YouTube, e 125 mil de pico na sua estreia da Twitch TV.

Falando com o The Enemy em entrevista exclusiva, NOBRU fala sobre sua carreira, rivalidades como streamer e jogador, relação com o pai e a comunidade de onde veio, além de ser um exemplo para uma nova geração de gamers.

Confira os principais trechos abaixo:

Foto: Divulgação Corinthians

NOBRU TEM RIVALIDADE COM CEROL OU EL GATO?

Muito pelo contrário. No competitivo rola um pouco de rivalidade, quando enfrento outras equipes, alguém morre e começa aquelas provocações. Acho que temos a maturidade e o profissionalismo pra entender. Quando eu jogava bola, sabia que o que acontecia dentro de campo morria lá. Se eu fosse jogar contra o Cerol, que é meu parceiraço, eu ia amassar o Cerol. Ia passar o Cerol nele, e esquece. Depois disso é só resenha, churrasco e tranquilidade.

O que acontece dentro do competitivo fica lá. Claro, a gente tem essa sede de vencer, mas nunca estragando a amizade que temos dentro do cenário. Não tenho nada contra nenhum deles, super adoro. Cada um tem que conquistar seu público. Fazemos lives em horários parecidos eu, Cerol e El Gato, mas eles tem os números deles e eu os meus. Tudo tranquilo.

A SAÍDA DO LEVEL UP PRA VIVO KEYD PREJUDICOU O CLIMA DE FAMÍLIA?

Não, acho que não. Muito pelo contrário, fiquei muito feliz do meu irmão estar indo atuar por outra equipe, desejei todo o sucesso do mundo pra ele, e não é a toa que estão os dois times lá no topo da C.O.P.A. FF.

Assim, a gente está de casa, ele jogando pela Vivo Keyd, eu pelo Corinthians e é um torcendo pelo outro. Quando não caímos na mesma chave eu mando mensagem pra ele feito doido falando “pô, amassa geral” e etc, então a amizade continua, ele é meu irmão.

Quando eu vou jogar xtreino em live, que é como se fosse a C.O.P.A. FF em modo de treino, jogamos contra. Aconteceu de essa semana… desculpa aí Level Up, mas eu amassei ele, tá ligado? E o chat só ficava “Matou seu irmão! Matou o Level!”, só resenha. E se ele estiver em live, vai ter que aguentar a zoação. É muita resenha, e isso é muito importante. Além de estar fazendo o que gosta e trabalhando, é algo que te faz feliz, então não tem palavras pra explicar. Eu amo o que eu faço e estarei sempre dando o meu melhor.

Foto: Garena Brasil

NEGO E NAPPON ESTÃO SENTINDO O PESO DA CAMISA?

Acho que sentir, todo mundo sente no começo. Eles vêm de times profissionais, mas disputando a Série C, outra pegada. Eu, Fixa, Pires, Japa, que somos mais experientes, disputamos o brasileiro e o mundial, tentamos sempre passar toda a experiência do mundo para acalmar os moleques e não se sentirem pressionados, apenas darem o melhor deles. E assim, não é porque chegaram agora que nós somos melhores do que eles, muito pelo contrário. Assim que chegaram eu falei “Olha, aqui todo mundo é igual. Vocês erraram a gente vai puxar a orelha, a gente erra e vocês também vão puxar nossa orelha. Tem que falar mesmo, isso aqui é Corinthians! Tem que vestir a camiseta!”. Então é desse jeito. A saída do Level abriu portas para entrar o Nego e o Nappon, e é um teste na vida de todo mundo, é a vida profissional. Se você está trazendo resultados, está se destacando, e se não está trazendo resultados, terão outras pessoas que virão e farão isso por você.

TIMES DA C.O.P.A. FF ESTÃO MARCANDO O CORINTHIANS?

O que tá acontecendo é que… Farpas e mais farpas né, família. Assim, no xtreino antes eram 12 times, uma parada bonitinha, cada um caia no seu lugar do mapa, ninguém brigava de começo. Meu parceiro agora que são 18 times os caras não querem nem saber de nada. Os caras caem juntos e vão na porrada mesmo. Colocam um personagem que é apelão lá, que se chama Kla, e vão na porrada mesmo, não pega nem arma. Começou a rolar muita farpa “Pô mano, tá caindo no mesmo lugar, vou te amassar no campeonato”. Só que isso não acontece muito com a gente não, creio que a gente tem maturidade suficiente e sabe ser profissional para separar as coisas. Isso vai acontecer, é o competitivo. Vamos cair com eles e eles vão caçar a gente e sem desenrolo. É jogo de tiro, não tem o que fazer. 

MUDANÇA DE CASA E PESO SER EXEMPLO PRA COMUNIDADE

Infelizmente às vezes a gente tem que mudar um pouco de vida. Tenho problemas de internet, o pessoal que acompanha as lives vê que está caindo bastante porque na comunidade é assim. Você pode ligar para qualquer companhia vir instalar internet que eles não vão vir. Falam que é “zona de risco”, ficam com medo de fazer gato… Porque se você for olhar aqui pra cima a fiarada que é aqui na quebrada… é um fio atravessando o outro. Não tenho uma internet de boa qualidade para suportar as lives, então futuramente vou me mudar. Mas assim, estar se mudando não quer dizer que você virou “playboy” ou coisa assim. Muito pelo contrário, nunca vou esquecer das minhas origens, de onde eu vim. Sempre vou deixar minha casinha aqui pra visitar e demonstrar meu carinho pela molecada.

Nobru e seu pai, Jeferson, vestindo a camisa do Corinthians

Imagem: Reprodução Corinthians

Sei da importância do meu trabalho. É muito gratificante sair de rua, passear pelas vielas e ver um moleque com um celular na mão. Te juro que se você parar qualquer um deles e perguntar o que ele quer ser da vida ele quer ser jogador de Free Fire como o Nobru. Você vira uma referência pras pessoas, pras crianças. É muito bom pra mim e é como você disse, infelizmente temos algumas coisas no mundo que acabam prejudicando muitas famílias, e muita molecada acaba se distraindo de tudo isso assistindo minhas lives e jogando Free Fire, então nada melhor do que ver o reflexo de tudo isso.

NOBRU E SUA INFLUÊNCIA NA COMUNIDADE

São números surreais que não dá pra ter uma noção. Você olha pra um chat com 50 mil pessoas e ele está a um milhão por hora. O pico máximo de pessoas que eu peguei no YouTube foi 190 mil pessoas assistindo, e continua a um milhão. Graças a Deus eu tenho consciência da minha influência. Tudo o que eu falo as pessoas querem falar, tudo o que eu faço as pessoas querem fazer. Influencio muito o cenário e sou muito grato por isso. Graças a eles eu tenho o sucesso que eu tenho.

O CANSAÇO DA ROTINA PERMITE NOBRU VIVER SEU SONHO?

Considero que estou vivendo um sonho, sim. Se eu puder fazer muito mais do que eu ando fazendo, eu vou fazer. Já falei diversas vezes, sou um moleque disposição, sempre correndo atrás dos meus objetivos. Corro atrás da perfeição, mas nunca vou ser perfeito, então sempre estarei correndo. Sempre querendo me aprofundar, aprender novas coisas. O jogo e o competitivo mudam muito, as lives e os conteúdos também. Não podemos virar uma pessoa enjoada, alguém que as pessoas se cansam de ver parado, e por isso precisamos caçar o diferencial. Falando de futebol, por que o futebol brasileiro é diferenciado? Porque temos aquele gingado, aquela pedalada, cortou pra direita e bateu, etc. É ter aquela coisa diferenciada. Graças a Deus eu consegui trazer isso pro Free Fire, uma jogabilidade diferenciada, um jeitinho brasileiro que o pessoal gosta, e isso ajuda bastante na minha carreira. É isso. É cansativo? É. O pessoal às vezes não tem noção do que a gente passa ou treina em off, estuda e aprimora, mas isso eu não quero mostrar pra ninguém mesmo. Isso serve pra agregar a mim mesmo e eu mostrar depois e ajudar no meu trabalho.

NOBRU PRECISA ESCOLHER ENTRE JOGAR OU STREAMAR?

Conheço um pouco da história do YoDa, deve ser por isso que ele é um pouco maluco. Brincadeira, brincadeira! Mas assim, não penso em ter que escolher entre ser jogador ou streamer. Quero jogar, quero treinar, fazer lives, tudo agrega. Acabei juntando o útil ao agradável e o público abraçou, tanto os que querem entretenimento quanto os que querem gameplay de qualidade e gostam do competitivo. Mas assim, vai acabar a entrevista agora e eu já tenho que treinar. É uma rotina maluca, mas eu gosto pra caramba e eu acho que vale a pena. Na verdade, tenho certeza que vale a pena!