Com o desafio de retornar ao topo do mundo do Counter-Strike: Global Offensive, a MIBR reuniu sua vitoriosa line-up de 2017, em tempos de SK Gaming, para finalmente conseguir derrubar os dinamarqueses da Astralis.

Com um início de ano turbulento, o time foi derrotado justamente pelos dinamarqueses nas semifinais do Major de Katowice, e foram surpreendidos pela Windigo nas quartas-de-final da WESG. Agora, o próximo desafio é em solo nacional, na BLAST Pro Series de São Paulo, onde a Astralis também marcará presença.

O The Enemy conversou com Fernando "fer" Alvarenga, Epitácio "TACO" de Melo e João "felps" Vasconcellos durante o Media Day do torneio, e, apesar do título estar longe de ser uma garantia, a equipe parece ter reecontrado sua motivação em 2019.

Felps, a última adição do elenco totalmente brasileiro, passou por problemas de motivação quando ainda era membro da SK, em meados de 2017. Atualmente, o jogador sempre reforça em suas redes sociais que quer voltar ao topo: "Antigamente eu acho que eu era mais difícil, mas eu não entendia muitas coisas e ficava triste com as coisas erradas, por besteira. Hoje eu já vejo de forma diferente, eu vejo que isso aqui é nossa vida, a gente precisa aproveitar o máximo que puder".

"O que eu coloquei na minha cabeça é que hoje eu vou levar a vida com mais felicidade e vou com certeza dar o meu melhor para chegar ao topo, porque eu tenho que aproveitar o que eu posso. Acho que amadurecimento é a palavra certa", ele completa.

Reprodução/YouTube

Dentro do jogo, o amadurecimento também fez parte do estilo de felps. Conhecido por ser bastante agressivo, seu período depois da SK foi essencial para se tornar um jogador mais versátil, e que consegue priorizar o coletivo: "[Na INTZ] eu fui capitão, então necessariamente eu teria que ficar mais tempo vivo, mais tempo coordenando as coisas, mais tempo jogando em bomb fechado, pro time".

Dessa maneira, ele consegue cumprir funções essenciais na MIBR, e que normalmente não seriam possíveis com a sua tradicional agressividade.

Seu estilo de jogo, inclusive, foi um motivo de grande questionamento dos fãs, no momento em que sua contratação foi anunciada. Como combinar a sua agressividade com a de fer, que construiu sua carreira com base em rushes e um estilo bastante ofensivo?

Fer afirma que essa função é conversada a cada jogo, dependendo do momento e do mapa em que cada um se encontra: "Se uma hora eu vou bater num lado, o felps vai ficar mais passivo, se uma hora ele vai bater, eu vou ficar mais passivo. Então a gente dá a oportunidade pra cada um agressivar uma hora".

Felps, que hoje em dia prefere ser mais conservador, reconhece que fer é a grande estrela do time quando o assunto é agressivar, mas não se exclui da equação: "Eu estou jogando passivo, mas às vezes aparece aquele lado [agressivo] meu. Tá aqui dentro, sabe? E quando for preciso, eu uso, quando não é preciso, o fer tá lá".

"Em um jogo que ele está sentido que está melhor, que quer bater nos caras, ele vai jogar mais agressivo e eu vou jogar mais passivo. E às vezes a gente vai agressivar junto também. A gente treina bastante essas coisas porque a gente sabe que na hora do jogo, se eu falar que estou querendo agressivar, ele já sabe o que fazer pra me complementar", explica fer.

Um dos mais experientes no elenco, fer fez parte do turbulento 2018 na MIBR. Sem preocupações extra-jogo em 2019, o jogador teve performances excelentes tanto em Katowice quanto na WESG, algo que ele consegue explicar de maneira certeira: "Foi um ano que eu estava bem desanimado com CS, eu estava com problema no ouvido, tive que fazer cirurgia; estava preocupado com a cirurgia porque podia dar errado. E a gente tava com o time americano, que não tava dando muito certo".

Ele conta que, uma vez que já se sentiu o "gostinho da vitória", as consecutivas derrotas pesam ainda mais, o que só contribuía para minar sua motivação: "Quando chegou esse ano eu falei que não vou deixar os mesmos erros acontecerem. Pra 2019 eu não vou deixar mais esses problemas me afetarem, então eu fiz a cirurgia do ouvido, fiquei livre dos problemas fora do jogo, vou só focar no jogo".

O resultado foi um player muito mais focado, e que passou por uma experiência "inédita" em sua carreira: "Aconteceu uma coisa que nunca tinha acontecido comigo, que é ter vontade de jogar à toa também. No Major a gente jogava os mapas, ia pro quarto do hotel com os computadores e jogava mais uns 5 ou 6 mapas no dia, e eu tinha vontade de jogar, coisa que eu não tinha".

De volta à casa

Reprodução/MIBR

TACO, extremamente criticado pela torcida nos seus últimos meses de SK Gaming, encontrou seu melhor jogo na Team Liquid, equipe de norte-americanos que se firmou como a segunda melhor do mundo em 2018. Além de retornar para MIBR com uma mira muito mais afiada, o jogador conta que também teve de buscar sua motivação mais uma vez.

"Acho que todo mundo fala um pouco de motivação porque, mais uma vez, é uma desculpa esfarrapada, é uma desculpa feia, mas depois que você conquista tantas coisas no jogo - e a gente conquistou não só titulo mas também respeito de grande parte da comunidade mundial -, depois que você passa por tudo isso, é normal você ter uma queda de motivação, é normal faltar desafios pra você", ele diz.

No atual momento, ele acredita que o time inteiro se sente desafiado a voltar para o topo do mundo, e é de onde os brasileiros encontram a gana vitoriosa: "Desde que a gente criou o time, é um grande fator que faz a gente trabalhar muito mais do que a gente pode, pra um objetivo final que é vencer".

Quanto às críticas, que tanto o afetaram em 2017, TACO parece ter amadurecido bastante: "Eu creio que se for pra a gente vencer como a gente vencia em 2016 e 2017, posso ser o mais criticado, podem fazer o que quiserem nas redes sociais, eu jamais vou ligar desde que meu time vença".

Ainda assim, ele espera que a comunidade brasileira tenha aprendido a lição sobre os jogadores de suporte: apesar de não aparecerem tanto nas estatísticas, players como ele são essenciais para o funcionamento do time. Ele ainda menciona o caso de Martin "STYKO" Styk, atualmente inativo na mousesports, que também fez bastante falta para a equipe após seu desligamento.

Falando sobre o grande sucesso dos brasileiros em 2016 e 2017, é impossível evitar a comparação com a Astralis, que teve um 2018 quase impecável. TACO acredita que os dinamarqueses podem sofrer da mesma desmotivação que os afetou naquela época:

"Acredito que num futuro, vai chegar a hora que eles vão perder. É normal, uma hora eles vão perder. E quando eles perderem, pode ser que a motivação caia, pode ser que tenha algum problema interno, pode ser que as coisas não funcionem tão bem quanto funciona hoje".

Ainda assim, TACO reconhece que os rivais estão em um momento magnífico da carreira e diz, em meio às risadas: "Espero que eles não leiam essa entrevista".

Buscando vencer seu primeiro campeonato internacional em solo brasileiro, a MIBR estreia na BLAST Pro Series hoje, 23 de março, às 19h do horário de Brasília. O primeiro duelo é contra os finlandeses da ENCE, seguido de uma pedreira frente à equipe da FaZe, às 20h30.