Em 13 de março de 2019, a Valve lançou uma atualização que praticamente encerrava o chamado reset econômico no Counter-Strike: Global Offensive, trazendo uma grande mudança para esse aspecto do game.

Mas, antes de tudo, o que é o reset econômico? Durante uma partida competitiva, o CS:GO dá diferentes bônus para os jogadores: ao vencer um round, a bonificação padrão é de $3250; ao perder, ela começa em $1400, e vai aumentando gradativamente a cada derrota consecutiva, chegando ao máximo de $3400.

O “reset” acontecia ao vencer um round depois de uma grande sequência de derrotas: caso o time perdesse a rodada subsequente, seu bônus voltaria aos $1400, quebrando totalmente sua economia e impossibilitando a compra de boas armas e equipamentos.

A nova atualização encerra essa quebra: o bônus não volta mais aos $1400, ele vai para $2900 e diminui gradativamente até chegar ao $1400. Dessa maneira, além de encerrar os resets, a tendência era de que os rounds econômicos diminuíssem, já que as equipes teriam mais dinheiro para trabalhar.

Como o jogo respondeu?

Reprodução/BLAST

A BLAST Pro Series de São Paulo foi o primeiro grande torneio após o patch; a WESG chegou a adotar a atualização nos Playoffs, mas o resto do campeonato aconteceu na versão anterior do CS:GO.

À primeira vista, a impressão é de que há menos rounds “secos”, aqueles em que nenhum jogador compra qualquer tipo de equipamento. Ao se aprofundar nos dados fornecidos pelo HLTV.org, o panorama fica ainda mais interessante.

Comparando as estatísticas da BLAST com os Playoffs do IEM Katowice, é possível notar que a frequência dos rounds totalmente armados se manteve praticamente a mesma: os times derrotados nos mapas analisados tiveram armamento completo em 59,7% de seus rounds na BLAST; em Katowice, essa porcentagem foi de 58,9%.

Quando se fala apenas dos rounds econômicos, a diferença aumenta, mas também não assusta. Os times derrotados gastaram menos de $4000 em 7,8% dos rounds na BLAST, redução de 1,8% em comparação com o IEM Katowice.

Para se ter uma ideia do quanto esse 1,8% significa, em um mapa que completa todos os seus trinta rounds, a porcentagem corresponde a pouco mais de meio round.

A grande diferença acontece mesmo nas compras intermediárias, que flutuam entre um “forçado” e um round com armamento semi-completo. A atualização parece ter favorecido principalmente as compras parciais, com armas inferiores e um nível razoável de acessórios.

Comparando as partidas do Major com as da BLAST, os semi-armados foram o que mais demonstraram um salto nos times derrotados, passando de uma frequência de 11% para 14%. Curiosamente, os pistoletes tiveram o efeito justamente contrário, caindo 3% em frequência.

Dessa maneira, é possível concluir que está mais fácil ter um round com armamento razoável no novo patch. Por mais que a diferença não pareça tão grande, um ou dois rounds de CS:GO são essenciais para construir ou quebrar a sua economia.

O que pensam os especialistas

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O analista Otávio “bczz” Boccuzzi concorda que os chamados “rounds forçados” terão uma importância ainda maior com a nova atualização: “Com essas alterações, eu acredito que os rounds forçados vão se tornar muito mais ensaiados do que hoje em dia”.

Ele também acrescenta, que, como já indicaram as estatísticas, os rounds forçados terão armamentos superiores, exigindo uma melhor preparação das equipes: “Eu acredito que ainda há um espaço para as equipes planejarem rodadas específicas para rounds forçados, como ‘chuva de granadas’ e táticas realmente bem planejadas”, ele completa.

No futuro próximo, bczz pensa que os times ainda precisam se acostumar com as alterações do jogo, aprendendo a ler melhor a nova economia: “Como a mudança é muito recente, você nota claramente que às vezes a equipe pensa que vai ser um round econômico, e na verdade é um round armado, ou o contrário”.

Bczz enxerga isso como ainda mais prejudicial para o lado Terrorista do jogo, que normalmente é o que precisa tomar a iniciativa dentro do game. Sem uma noção precisa do que esperar de seus adversários, fica mais difícil planejar as execuções e entradas nos bombsites.

Durante o Media Day da BLAST Pro Series, o The Enemy também conversou com Epitácio “TACO” de Melo, jogador da MIBR que já havia comentado publicamente sobre a atualização na economia:

Eu costumava ler a economia e comunicar o dinheiro dos oponentes para meus colegas em quase todos os rounds. Hoje eu anuncio que estou me aposentando dessa posição, e vou focar apenas em CS:GO”, ele disse em seu Twitter.

Durante a entrevista, TACO confirmou que o tweet era apenas uma brincadeira, e rasgou elogios à nova mudança: “Acho que é excelente pra nós, jogadores profissionais. A gente acorda com uma motivação a mais de trabalhar porque o jogo mudou”.

Ele acredita que, com mais dinheiro para ambos os times, o jogo se torna ainda mais acirrado; ele pensa que quanto mais competitivo estiver o game, melhor: “Os rounds armados são os rounds mais difíceis de jogar, então, tornando o jogo mais difícil, na minha opinião, isso é maravilhoso”.

Peter “dupreeh” Rasmussen, da Astralis, discorda de seu colega de profissão: “A atualização parece injusta em algumas situações. Obviamente ela pode criar mais rounds armados e mais rounds animadores para a torcida, mas como jogador, eu acredito que deveriam haver algumas mudanças”.

Reprodução/BLAST

O entry fragger pensa que está mais fácil quebrar a economia do adversário, mesmo depois de se perder uma série de rounds: “Mesmo se você estiver na frente, você começa a perder a economia muito rápido”.

Com menos de um mês na ativa, a mudança de economia no Counter-Strike: Global Offensive pode afetar o jogo de uma maneira ainda mais profunda no futuro próximo. Se a atualização será mantida ou não, apenas o tempo dirá, mas ela já mostra que a Valve está mais interessada no cenário competitivo de seu game.

A Valve está dando bastante atenção pro jogo nos últimos meses. Isso não acontecia antes. A gente cobrava bastante a Valve: ‘Pô, dá uma atenção pra gente, faz alguma coisa", e eles vinham com algumas atualizações menores”, conta TACO.

Por outro lado, é compreensível que dupreeh se incomode com as novas regras: esse tipo de mudança pode balançar o reinado da Astralis, que terá de se adaptar para continuar no topo do mundo. As alterações abrem espaço para outras equipes se acostumarem ainda mais rápido ao patch e, quem sabe, finalmente tirar a coroa dos dinamarqueses.