Não é novidade para ninguém que o mercado de eSports é gigantesco. Counter-Strike, League of Legends, Dota 2 e outros jogos já estão na ativa há bastante tempo e são mundialmente reconhecidos como os principais pilares dos esportes eletrônicos.

Curiosamente, os Battle Royales, que dominam a indústria dos games há quase três anos, não possuíam a mesma força nos eSports até 2019. O ano foi marcado pela primeira Copa do Mundo de Fortnite e pela ascensão meteórica do Free Fire, mostrando que há espaço para esse gênero nos esportes eletrônicos.

Entendendo as nuances dos eSports

Johannes EISELE / AFP

É claro que o competitivo de Fortnite já existia há algum tempo, ainda assim, o game tinha certa dificuldade de estabelecer torneios mais respeitados, que não tivessem o entretenimento como proposta principal.

Vale lembrar do infame caso da Infinity Blade em 2018, que mudou completamente o meta de Fortnite às vésperas de um evento competitivo. O Winter Royale tinha uma premiação total de US$ 1 milhão, e foi atormentado pela arma extremamente poderosa.

Em 2019, a Epic pareceu compreender melhor as nuances do eSport: Fortnite ganhou um modo competitivo, o Arena Mode, e uma Copa do Mundo gigantesca com calendários e premiações muito bem definidos.

O campeonato foi um sucesso, distribuindo US$ 30 milhões, batendo o recorde de espectadores simultâneos da Twitch e colocando o campeão Kyle “Bugha” em holofotes gigantescos. Claro, houve problemas com algumas trapaças, mas nada que manchasse a excelente promoção feita pela Epic Games.

Desde então, o competitivo de Fortnite se resumiu à Champion Series, torneio online anunciado logo depois do final da Copa do Mundo. Para 2020, não seria nenhuma surpresa se a Epic apresentasse um calendário ainda mais robusto, mesclando eventos presenciais com torneios online.

Novo player

Fortnite não está sozinho na luta pela relevância esportiva dos Battle Royales. Lançado no comecinho de 2019, Apex Legends já possui alguns campeonatos espalhados pelo mundo, com organizações tradicionais dos eSports recrutando seus próprios esquadrões.

Analisando rapidamente os dados do Esports Charts, entretanto, é fácil ver que o game da Respawn precisa de uma estrutura maior em seu cenário: entre os dez torneios mais assistidos, 8 foram promovidos pela Twitch.

O número de espectadores também não é dos mais animadores. O Twitch Rivals Apex Legends Challenge, que lidera a lista, teve um pico de 569 mil espectadores simultâneos, número comparável à sexta maior audiência de Fortnite.

Descendo o ranking, a situação se complica ainda mais: o segundo lugar teve um pico de apenas 200 mil espectadores, ficando atrás de vinte torneios de Fortnite.

Fenômeno no Brasil e no mundo

O Free Fire tomou o cenário brasileiro de eSports como um furacão. A World Series do Rio de Janeiro coroou o Corinthians como melhor time do mundo e ainda provou a força da audiência do jogo mobile: o torneio teve um pico de 2 milhões de espectadores simultâneos, marca comparável à Copa do Mundo de Fortnite.

Os números estrondosos vão lista abaixo, incluindo mais de um milhão de espectadores na Temporada 3 da Pro League, o campeonato mais importante do Brasil, e também na última Copa do Mundo, sediada na Tailândia.

Um diferencial da modalidade e, talvez, o que mais chama a atenção no Free Fire, é a Garena conseguir trazer essa audiência gigantesca com um investimento muito mais baixo: enquanto as finais do mundial de Fortnite distribuíram US$ 30 milhões, a World Series do jogo mobile deu apenas US$ 400 mil em premiação.

Isso se mistura com a narrativa de Free Fire ser um jogo extremamente acessível, conquistando fãs de várias classes sociais, e também pode ser explicado pelo game trazer um cenário organizado. A Pro League brasileira já está indo para a quarta temporada, enquanto Apex e Fortnite sofrem para estabelecer um calendário claro.

Torneios bem organizados e uma rotina clara de competições parecem ser a chave para o sucesso dos eSports: os supracitados LoL, CS:GO e Dota 2 fazem isso com muito mais qualidade, justificando o seu status como modalidades “tradicionais” nos esportes eletrônicos.

E o PUBG?

Um dos pioneiros dos Battle Royales, PUBG acabou ficando para trás no mundo dos eSports. O game prometia um 2019 forte, com calendário bem estabelecido e premiações altíssimas: o Global Championship distribuiu nada menos dos que US$ 6 milhões de dólares.

Mesmo com tanto investimento, o Global Championship teve audiências baixíssimas, com pico de espectadores simultâneos de apenas 197 mil. Além de ser baixo para padrões de eSport, o número também representou uma queda vertiginosa em relação ao Global Invitational, torneio similar de 2018. Naquela ocasião, foram mais de 700 mil espectadores simultâneos no pico de audiência.

Olhando pelo lado positivo, o Global Championship teve sua premiação total aumentada de US$ 2 milhões para US$ 6 milhões graças às microtransações e à comunidade. O torneio adotou um formato similar ao do The International, fazendo com que compras de skins fossem, em parte, redirecionadas para a premiação.

Com isso em mente, a PUBG Corp. não acusa o golpe: “Esse tem sido um ano incrível para o PUBG Esports, e ver todo esse talento pelo mundo competindo por uma premiação que foi apoiada pelos fãs resume tudo que tentamos alcançar”, disse Jake Sin, diretor de eSports do game, em material enviado à imprensa.

Seja esbanjando milhões ou conquistando pela simplicidade, os Battle Royales ainda possuem muito espaço para crescer no mundo dos eSports. Com Fortnite e Free Fire liderando o caminho, Apex Legends, PUBG e outros títulos podem encontrar formatos mais saudáveis para se estabelecer nesse universo.