O termo “Galácticos” começou a ser utilizado pela imprensa espanhola para se referir ao super-time de futebol do Real Madrid que, de 2001 a 2011 gastou mais de um bilhão de euros na contratação de um elenco recheado de estrelas, mas que não conseguiu brilhar em conjunto e conquistar títulos quando eram favoritos.

Ser considerado um dream team é algo que as organizações de esports tanto buscam como fogem. Assim como a alcunha dos Galácticos, isso traz consigo:

  • Bom marketing, hype da torcida, mais força para trazer reforços, patrocínios
  • Favoritismo, cobrança de imprensa e torcida, necessidade de resultados

Quando a paiN Gaming formulou seu elenco para 2020, o hype tomou conta das conversas no Twitter e na imprensa brasileira, com razão. A equipe estava reunindo dois membros de sua line-up mais famosa: brTT, indiscutivelmente o maior jogador brasileiro de League of Legends, e Kami, lendário jogador do mid, voltando após dois anos de pausa na carreira. 

Além da dupla, o time também estava montado com Yang, um dos melhores top laners do Brasil há alguns anos; Tinowns, mid laner da segunda geração e nome grande da posição no Brasil; SeongHwan, caçador ex-Gen.G da LCK e reserva de Peanut; e Key, suporte ex-Hanwha Life da LCK.

Elenco da paiN se reúne antes da primeira rodada do CBLoL 2020

Imagem: Riot Games Brasil

Mas, rodada a rodada, o tom de animação da imprensa e torcida aos poucos foi se convertendo em dúvidas e questionamentos. Foi uma montanha-russa que ninguém na paiN estava pronto para embarcar. De Tin, que foi de contestado a praticamente última esperança da torcida, aos jogadores coreanos, que na verdade mantiveram a constante de jogos sem qualquer brilho, com raríssimas exceções. No final, a paiN Gaming perdeu o jogo decisivo contra a FURIA na última rodada e não se classificou para os Playoffs da Primeira Etapa do CBLoL. Uma amarga sexta posição (entre oito equipes) foi o que sobrou para o badalado elenco.

Com bastidores fechados ao melhor estilo equipes de futebol, a paiN cedeu a maior parte das coletivas pós-derrota apenas à comissão técnica. “Precisamos resguardar os jogadores e descansar um pouco suas cabeças”, respondeu o técnico Dionrray, que mesmo pressionado pela torcida e resultados, atendeu cinco das últimas seis coletivas do CBLoL.

Aos jogadores, principalmente brTT, que sempre prezou por um contato próximo com seus fãs, coube tuítes reforçando esforços e treinos que, no final das contas, não se mostraram em campo. 

A paiN parecia um conjunto de esforços individuais lutando para tentar alguma coisa. No começo, parecia ser encaixar a equipe, no meio, buscar os playoffs, no final, ninguém entendia o que queriam.

Tinowns foi muito contestado pela torcida no começo do campeonato, principalmente com a sombra de Kami

Imagem: Riot Games Brasil

Talvez o mais desesperador para a torcida fosse o marasmo que mostravam dentro da partida. Poucas vezes saíram fora da caixa, ou mostraram um jogo agressivo, foram combatentes e mostraram que estavam motivados. “Isso vai muito do momento da equipe, da confiança que estão em seu jogo”, comentou Dionrray quando o questionei o motivo da KaBuM, fora da zona de classificação e com potencial de disputar o Relegation, mostrar muito mais motivação dentro das partidas do que a paiN, que passou metade do campeonato no Top 4. Por quê?

Dentro das partidas, SeongHwan e Key muitas vezes pareciam em um jogo sem comunicação com seus companheiros, tomando decisões pensando muito, ou não pensando. Um desbalanço entre instinto e racionalidade que, equilibrados, com certeza mostram que são grandes jogadores, mas que não aconteceu no Brasil. Por quê?

Tinowns foi massacrado por grande parte da passional - talvez demais - torcida da paiN na primeira metade do campeonato. De KDA Player e abaixo-assinados para Kami retornar a campo em seu lugar, Tin virou praticamente a última esperança da equipe em conquistar a vaga para os playoffs na reta final, incluíndo um milagre de LeBlanc num penúltimo jogo de 53 minutos contra a adversária direta PRG. Tanto esforço para achar um bode expiatório. Por quê?

Até brTT voltou a receber - pela milésima vez na sua carreira - questionamentos de não ter se aposentado, de trocado o Flamengo, sua equipe de coração, pela paiN, sua equipe de maior identificação. A torcida tentando controlar a carreira de uma lenda que nunca escondeu que toma suas decisões com base em motivação e coração. Por quê?

Nem mesmo brTT, ídolo da paiN Gaming, escapou das críticas da torcida na campanha ruim da equipe no CBLoL

Imagem: Riot Games Brasil

A constelação de estrelas da paiN nos fez deitar no chão e olhar para o céu pensando o que aquela equipe poderia conquistar no começo do ano. Cinco meses depois, o céu parece igual. Talvez um pouco nublado. Se apertar um pouco o olho, dá pra ver que algumas estrelas não estão mais lá, ou estão?

Mais uma vez a alcunha de dream team fica mais no dream do que no team.

Uma lição para o futuro ou para o presente?