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Life is Strange precisa ser jogado pelo menos uma vez na vida

Reflexões de uma jogadora não muito habituada nem fã de games com grandes diálogos

Por Clarissa Montalvão 31.12.2021 14H59

Para uma pessoa extremamente fã de filmes, curiosamente eu sempre odiei ser interrompida por cutscenes ao jogar.

Talvez seja meu lado ansioso, talvez meu caráter objetivo demais, mas eu sempre passei longe de jogos de escolhas em que era preciso ficar conversando com os outros personagens. Isso até o trailer de Life is Strange: True Colors cruzar meu caminho.

Confesso que logo de cara o visual e a calmaria de Haven Springs me encantaram. Em um período tão conturbado e claustrofóbico de pandemia de Covid-19, tudo o que eu mais queria era fugir para uma cidadezinha assim. Tanto que estava adorando rever Gilmore Girls pela milésima vez e tinha acabado de me apaixonar por Virgin River e Sweet Magnolias, séries que se passam em cidades pequenas de clima tão acolhedor quanto Haven Springs.

Mas eu sou metódica. True Colors é o terceiro jogo de uma franquia e eu não gosto de começar pelo meio, ainda mais se eu sei que há personagens que já estiveram nos títulos anteriores.

(Será que a Marvel me estragou?)

Eu já tinha ouvido algumas pessoas falarem do primeiro Life is Strange, que era um jogo intenso e todos mencionaram chorar jogando. Choro e jogo geralmente não são palavras que andam juntas pra mim, afinal eu gosto de jogar para me divertir. Mas, por causa de True Colors, eu precisava ver qual era a desse primeiro jogo.

Square Enix/Divulgação

A princípio ele me pareceu meio sem rumo, pois há muitas coisas para observar, tanta informação aparentemente inútil jogada na cara do jogador e uma grande possibilidade de perder tempo vasculhando tudo em todo lugar. Algumas vezes cheguei a esquecer o objetivo do momento e passar um tempo desnecessariamente grande mexendo em objetos e falando com pessoas sem precisar. Mas cada ação gera uma consequência e o efeito borboleta é muito real.

Lembrar detalhes da vida pessoal de cada personagem ou optar por ser legal com quem faz bullying com você pode literalmente salvar vidas. E embora Max Caufield, a protagonista do primeiro game, possua o poder de voltar no tempo, essa habilidade tem suas limitações, seja por tempo máximo de cada rebobinada ou por momentos que simplesmente seus poderes não funcionam ou não parecem fazer a menor diferença.

Por mais que exista um número específico de possibilidades de escolha e portanto de consequências para cada escolha, são elas que moldam a história, e que me fizeram sentir diretamente responsável por tudo ao mesmo tempo que me deu a ilusão de que eu tinha possibilidades infinitas, bastando mudar as escolhas em um novo game.

Square Enix/Divulgação

É chocante ver as consequências que chegam apenas várias horas de jogo depois. Então, o jogo é um verdadeiro teste de memória e me envolveu de uma maneira que eu não esperava que conseguiria. Por diversas vezes fiquei irritada comigo mesma por não dar a devida atenção a algum detalhe "bobo" que me atrapalhou para avançar no jogo depois. E não é isso que muitas vezes a gente faz na vida real?

O jogo também me fez refletir sobre como tudo tem dois lados. Uma pessoa que está sendo grossa e estúpida com você às vezes o faz como mecanismo de defesa, frustração ou simplesmente por falta de atenção. Nem todos que parecem ser maus são de fato, eu apenas não sabia o que eles estavam passando ou precisava me policiar para mudar a abordagem nas conversas para descobrir isso. Afinal, eu podia testar muitas situações e se achasse o desfecho ruim eu rebobinava. É um exercício mental de empatia muito interessante que pode ser aplicado no mundo real, mas muitas vezes as pessoas simplesmente não fazem.

Por fim, é importante destacar que Life is Strange salva suas decisões e as compara com as dos demais jogadores. Achei muito legal chegar ao final de um capítulo, relembrar as decisões tomadas e conferir se a maioria das pessoas fez as mesmas decisões que eu. Confesso que algumas decisões me fizeram sentir um monstro, um coração de pedra ancorado na lógica, no momento em que as tomei, mas me senti leve ao ver a porcentagem de pessoas que tomou a mesma decisão que eu.

Ainda não sei dizer se foi Life is Strange ou esse gênero que finalmente me conquistou, mas foi definitivamente uma experiência importante que agora acredito que todos devem passar. Aprendi com essa jornada que games não servem apenas para diversão e se desconectar do mundo real por algumas horas. Há jogos que têm tanto ou mais poder educativo que certos livros e filmes