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Jogos mais esperados de 2020: Vampire: The Masquerade – Bloodlines 2

Um dos maiores RPGs de todos os tempos finalmente ganhará uma sequência

Por Rafael Romer 05.01.2020 23H00

Antes de mergulharmos nos motivos pelas quais Vampire: The Masquerade – Bloodlines 2 é um nome obrigatório na lista dos jogos mais aguardados deste ano, é preciso dizer que a simples existência desse jogo já me deixa duplamente ansioso.

Primeiro, é claro, ansioso no sentido de empolgado, já que ainda é difícil de acreditar que, depois de mais de 15 anos, um RPGs mais aclamados de todos os tempos finalmente ganhará uma sequência em 2020. Mas ansioso também no sentido de preocupado.

Afinal, faltando poucos meses para o lançamento do jogo, muitos jogadores ainda se estão incertos com o que exatamente podemos esperar de Bloodlines 2 – sequência direta do clássico lançado em 2004, sim, mas também desenvolvido por um estúdio diferentes e com só alguns dos nomes que estiverem no jogo original envolvidos no novo projeto.

Mas antes de nos aprofundarmos nessa dobradinha de ansiedade, vale retomar o porquê, para o bem ou para mal, Vampire: The Masquerade – Bloodlines 2 merece a posição entre os pesos pesados que estão na lista de mais aguardados deste ano – já que boa parte disso está diretamente ligado ao peso que o jogo da Hardsuit Labs carrega em seu nome.

Uma obra-prima inacabada

Reprodução/Paradox Interactive

Lançado em 2004 e publicado pela Activision para os PCs, Vampire: The Masquerade – Bloodlines foi o terceiro – e último – projeto da hoje finada Troika Games, estúdio que durou pouco tempo, mas que tinha o trio lendário Jason Anderson, Tim Cain e Leonard Boyarsky, cocriadores da série Fallout, como seus fundadores.

Até hoje, o jogo é considerado por muitos uma espécie de obra-prima inacabada, elevada ao status de clássico cult apesar de sofrer com inúmeros problemas técnicos – decorrentes de planos ambiciosos demais ao longo do desenvolvimento, de uma relação complicada com a publisher e de dificuldades do time da Troika com o engine Source, da Valve, que ainda estava em sua infância enquanto Bloodlines foi produzido. É notório, inclusive, que foi a tarefa de fãs terminarem Bloodlines através de patches e mods, tamanho eram os bugs na versão final do jogo.

Para piorar, quando desembarcou nas lojas, em novembro daquele ano, Bloodlines também enfrentaria outra dificuldade – ou melhor, dificuldades. já que o game chegou em uma janela de lançamento que incluia gigantes como Half-Life 2, Metal Gear Solid 3: Snake Eater e Halo 2.

Apesar desse show de horrores que tinha tudo para tornar Vampire: The Masquerade – Bloodlines um jogo esquecível e esquecido, o título da Troika Games impressionou críticos e fãs como um RPG memorável.

Reprodução/Paradox Interactive

Boa parte disso vem do foco que a Troika deu em fazer de Bloodlines um “RPG raiz” em forma de game, aproximando o jogo o máximo possível de seu material de origem: a série de RPG de mesa Vampiro: A Máscara, parte do universo ficcional Mundo das Trevas, da editora White Wolf.

E, apesar das limitações que um RPG eletrônico tem frente à contraparte de mesa, Bloodlines compre essa missão de forma exemplar, com elementos de mundo aberto, narrativa complexa recheada de dilemas e surpresas, diferentes facções e NPCs carismáticos – e, aliás, com animações faciais que fazem inveja até a jogos modernos (alô Mass Effect: Andromeda).

Mas, mais importante que tudo isso, era a total liberdade nas mãos do jogador, que podia escolher seu próprio caminho nas ruas de Los Angeles, forjando alianças e criando inimigos ao longo da campanha e enfrentando todas as consequências de suas ações de forma direta e orgânica.

Quer criar um Toreador e seduzir todos os NPCs que aparecem na sua frente? Siga em frente! Prefere um Malkaviano, mesmo ninguém entenda bulhufas das insanidades que seu personagem fala? Fique à vontade! Bloodliness fazia o jogador se sentir parte da trama como poucos RPGs, moldando o mundo do jogo ao redor do protagonista – se você escolhesse um Nosferatu, clã vampírico conhecido pela aparência grotesca, NPCs ao redor fugiriam de medo do seu personagem à primeira vista, obrigando o jogador a se deslocar sempre pelos esgotos, por exemplo.

Todos esses elementos podem parecer lugar comum em jogos modernos, mas, à época, faziam de Vampire: The Masquerade – Bloodlines um membro de um clube raro de excelentes RPGs que não tinham medo de deixar as escolhas na mão do jogador, como Planescape: Torment e Fallout. Não à toa, todos figuram até hoje em listas de os melhores RPGs de todos os tempos.

Mas e Bloodlines 2?

Reprodução/Paradox Interactive

Com esse resgate histórico, entender a relevância de Bloodlines 2 fica mais fácil – mesmo para quem nunca encostou no primeiro jogo da série. De cara, no entanto, vale ressaltar que o novo jogo da série está um tanto quanto distante do original.

Com a aquisição das IPs da White Wolf pela publisher Paradox Interactive em outubro de 2015, a franquia Vampiro: A Máscara passou para as mãos da publisher sueca – que é, em grande parte, conhecida por algumas das séries de estratégia mais populares da atualidade, como Europa Universalis e Hearts of Iron series.

Algum tempo depois, a desenvolvedora de Seattle Hardsuit Labs, formada por ex-funcionários da Zombie Studios (de Blacklight, Daylight e da série Spec Op), fez o pitch de uma sequência de Bloodlines para a publisher – que topou a ideia.

Para dar algum sossego para os corações de fãs do primeiro jogo, a Hardsuit Labs, com um histórico modesto de bons jogos, trouxe nomes do primeiro jogo da série abordo, incluindo Brian Mitsoda, um dos roteiristas de Bloodlines, e Rik Schaffer, compositor da excelente trilha do jogo.

Das ruas de Los Angeles, a sequência passará para o submundo moderno de Seattle, anos após os eventos do primeiro jogo, mas novamente com diferente facções e clãs vampíricos que vivem em um cabo de guerra político.

Jogadores acompanharão a história de um recém-transformado sangue fraco, vampiros de nova geração que não possuem as mesmas habilidades de vampiros antigos – ainda que retenham a capacidade de consumir pequenas porções de alimentos humanos e certa resistência à luz do Sol. O personagem do jogador é transformado em vampiro em meio a um surto de ataques em série a humanos – uma violação das regras da Camarilla, uma das facções mais importantes do mundo de Vampiro, que tem colocado a comunidade vampírica em conflito interno.

Desenvolvedores de Bloodlines 2 já deixaram claro que pretendem recriar a liberdade e imersão do antecessor no novo jogo, colocando o jogador em um mundo aberto recheado de personagens e facções com interesses diversos que colocarão as escolhas do protagonistas à prova. Em alguns aspectos, o novo game promete ir além: um novo sistema apelidado de "Resonances" levará em consideração a emoção de sua vítima (delírio, desejo, medo, dor ou raiva) na hora de sua modida vampiresca para garantir diferentes habilidades ao seu personagem.

Reprodução/Paradox Interactive

Mas mesmo com esse respeito ao material de origem e com a presença de desenvolvedores do primeiro jogo do time da produtora, a principal dúvida fica por conta da capacidade da Hardsuit Labs e a Paradox Interactive em dar sequência à complexidade narrativa e ao nível de liberdade trazido pelo primeiro título da série, já que tanto a produtora quanto a publisher de Bloodlines 2 não contam com a mesma tradição em RPGs que a finada Troika Games tinha.

Além disso, imagens iniciais de gameplay de Bloodlines 2 deram uma prévia negativa para alguns jogadores do combate do jogo, que não parece particularmente sólido para um RPG de ação moderno – não que o primeiro Bloodlines tivesse um excelente combate, vale lembrar, mas expectativas para um jogo de 2020 são bem diferentes nesse aspecto.

Com sorte, essas questões serão resolvidas com o tempo extra de desenvolvimento conquistado pelo time da Hardsuit Labs – originalmente previsto para o início deste ano, Bloodlines 2 agora consta apenas como um lançamento de 2020 para o PlayStation 4, Xbox One e PC, mais ainda sem data definida. Até lá, a dobradinha de ansiedade continua.

Mas o que são mais alguns meses para fãs que esperaram mais de 15 anos?