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Dedo no c* e gritaria: GTFO é jogo de tiro eletrizante do criador de PayDay

Jogo que mistura terror e ação cooperativa está em acesso antecipado na Steam

Por Pablo Raphael 11.12.2019 16H39

Eu e meus companheiros fomos enviados ao Complexo, uma instalação secreta subterrânea, para recuperar alguma informação importante para o Warden, o figurão que misterioso que nos contratou.

Passamos pela primeira porta com a sintonia de soldados de elite das forças especiais: chequei as assinaturas biológicas do outro lado com meu equipamento, informei ao grupo onde os alvos estavam, um colega posicionou uma torreta naquela direção, todos se prepararam para o ataque. Quando a porta abriu, as criaturas do outro lado não tiveram a menor chance.

Mas enquanto um soldado procurava por pistas em um computador, eu me distraí com a conversa e abri outra porta, sem verificar o perímetro ou avisar os colegas.

Ops! Deu ruim.

A partir daí, foi tudo muito rápido. Um bando deles veio de surpresa pela porta, atraído pela luz da lanterna. Outros vieram pelo corredor ao ouvir o barulho dos disparos. Cercados e sem planejamento, nossa extração super profissional virou o que pode só consigo descrever como "dedo no c* e gritaria".

Segundos depois, estávamos todos mortos.

10 Chambers Collective/Divulgação

Essa é uma descrição bem real de uma das minhas primeiras partidas em GTFO (Get the Fuck Out, ou "Cai Fora dessa P***a", numa tradução livre), game de tiro em primeira pessoa da 10 Chambers Collective, estúdio criado pelo designer da série PayDay, e disponível em acesso antecipado na Steam, onde sai por R$ 65,99.

Num primeiro momento, você pode pensar que GTFO é um PayDay com zumbis, meio que um sucessor espiritual de Left 4 Dead. Também achava isso no início, mas quanto mais eu jogava, mais me parecia uma versão encapsulada das raides de jogos como Destiny e The Division 2  com talvez uma pitada de Rainbow Six.

A comunicação e o planejamento são essenciais para sobreviver e, na melhor das hipóteses, ter sucesso na missão. Ou o contrário. Você precisa estar sempre falando com os colegas, alinhando o que cada um vai fazer e tentar prever de onde vai vir a próxima ameaça. Qualquer descuido e os corredores escuros do Complexo viram uma carnificina brutal e acelerada.

É um game cooperativo onde jogar junto com o time realmente importa. Em GTFO o grupo é tão forte quanto o membro mais fraco dele  e acredite, mesmo que não tenha a pontaria perfeita de um pro player de CS:GO, existe alguma função que você vai conseguir cumprir nesse jogo.

Só de avisar os colegas que avistou inimigos em algum canto escuro, você já está contribuindo para o progresso e a sobrevivência.

Um detalhe bacana é que os computadores do jogo aceitam comandos de texto a estilo DOS. É possível passar um bom tempo só ali, explorando as informações disponíveis sobre as salas e itens, ou testando alguns comandos que não estão na lista. Diversão certa para os mais curiosos, um pesadelo para os colegas de time que não querem ficar parados por ali.

Quem está mexendo no computador não tem como ver o que está rolando fora da tela, o que é bem explorado em puzzles onde um jogador precisa ler um código num cartão em uma sala para outro que está operando o terminal, por exemplo.

O jogo traz algumas ferramentas bem úteis para a comunicação, como o "ping" ao estilo Apex Legends e a possibilidade de rabiscar num mapa compartilhado para traçar rotas ou tentar definir posições. Mas por enquanto, GTFO não tem seu próprio chat por voz ou a opção de encontrar outros jogadores aleatórios para formar um grupo.

A história, à primeira vista, é bem simples, com novas informações se revelando conforme o grupo explora os vários níveis do Complexo e busca por novos objetivos. Mas na verdade, é a narrativa emergente de momentos como o que abre esse texto que fica gravada na memória dos jogadores.

Horror de sobrevivência

10 Chambers Collective/Divulgação

Durante a experiência, você carrega pouca munição e nunca encontra muitas balas para repor as que gastou. Dá para lutar com marretas contra os inimigos, mas não espere uma batalha fácil e mesmo que sobreviva, torça para encontrar mais curativos antes da próxima horda de monstros aparecer.

GTFO usa muito bem os minutos de exploração, planejamento e quase silêncio nos corredores escuros para construir a tensão até o momento em que os monstros aparecem e a gritaria tem início.

Por falar nos monstros - não dá para chamar essas coisas de zumbis - eles são ferozes e assustadores, com aparências que fariam as armas biológicas de Resident Evil corarem de vergonha.

Eles atacam à distância, cuspindo coisas e golpeando com a língua, ou com garras afiadas quando chegam perto. Muitos deles perdem a cabeça e continuam avançando. Com o tempo você aprende a usar a bestialidade do inimigo à seu favor, colocando minas no caminho ou posicionando a torreta numa direção e o grupo em outra. Vai funcionar até a próxima criatura desconhecida aparecer.

Muito trabalho pela frente

10 Chambers Collective/Divulgação

É importante notar que GTFO está em acesso antecipado e, embora seja um jogo divertido e com muito potencial de sucesso, seus desenvolvedores ainda tem muito trabalho pela frente.

Implementar recursos como o chat por voz e o matchmaking são prioridade. Enquanto isso, jogadores se viram com o Discord para encontrar grupos e conversar durante a partida  e em uma comunidade com mais de 80 mil jogadores, não demora para você descolar novos colegas.

O suporte para controle também seria bem vindo. O jogo funcionaria perfeitamente com um controle de Xbox ou DualShock4 na mão.

Algo que não sei se é 100% intencional, é o fato do GTFO não se ajustar à quantidade de jogadores na partida. Sozinho ou em dupla, você não tem a menor chance contra os predadores que vagam pela escuridão do Complexo.

Os produtores dizem que é um desafio para jogadores hardcore, mas as surras que levei tentando "solar" algumas salas de GTFO me deixaram com saudade do sistema Diretor de Left 4 Dead. Ainda assim, não é algo que tire o brilho do game, ainda mais quando se joga com um grupo de 4 pessoas e chat por voz.

Quando jogado do jeito que foi planejado, Get the Fuck Out é uma experiência eletrizante.