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Review: GRID (2019)

Depois de cinco anos, a franquia retorna em forma de um reboot... Mas se trata de um novo começo ou apenas uma atualização de uma fórmula já conhecida?

Por Igor Nápol 08.10.2019 16H53

O ano era 2008 e o gênero de corrida estava passando por um momento que era, no mínimo, interessante.

Enquanto a franquia Need for Speed começava a dar sinais de fraqueza com o lamentável Undercover, Burnout e Midnight Club se despediam emplacando excelentes títulos, com Paradise e Los Angeles, respectivamente.

O destaque daquele ano, no entanto, não ficou com nenhum desses títulos: foi um novato, desenvolvido pela Codemasters, que roubou a cena. Racing Driver: Grid, ou só GRID, veio como sucessor espiritual dos excelentes jogos da série TOCA.

Aliando uma jogabilidade acessível, bons gráficos e uma abordagem muito mais amigável para o automobilismo enquanto esporte, o jogo ainda se destacava pelos acidentes cinematográficos e pela variedade de modalidades disponíveis, dando a possibilidade de o jogador experimentar as corridas tradicionais, a beleza do drift, a pancadaria dos destruction derby, entre outros tipos.

Desde então passou-se mais de uma década e, depois de um hiato de cinco anos desde o último título principal da série, GRID retorna na forma de um reboot que promete trazer tudo aquilo que fez o jogo lá de 2008 um sucesso... Mas será que se trata de um novo começo ou apenas uma releitura de uma fórmula já conhecida e, de certa forma, até meio batida?

Hora de descobrir quão bom GRID 2019 realmente é.

Em time que está ganhando não se mexe...?

Apesar dos carros atuais, visual bonito, menu simples e objetivo, o novo GRID parece estranhamente familiar. A jogabilidade parece corresponder exatamente ao que se espera de um jogo da franquia e isso acontece em diversos outros aspectos do game: mesmo depois de cinco anos desde o Autosport, tudo ainda é muito... GRID.

Isso significa que a primeira impressão é excelente: uma corrida noturna com um C7.R num circuito de rua em Xangai deixa claro que o novo jogo está belíssimo. A jogabilidade é a velha conhecida de quem já jogou algum título da franquia, puxando bem para o lado mais arcade, tornando a tarefa de pilotar os veículos bem mais tranquila e permitindo que seu foco seja na diversão.

O seu engenheiro frequentemente fala com você através do rádio, atualizando sobre o que está acontecendo na corrida durante a disputa com outros 15 pilotos, sendo que um deles é seu companheiro de equipe e outro servindo de rival.

Até aí, tudo certo. Mesmo com uma mudança sutil ou outra nas mecânicas, você percebe logo de cara que está diante de um GRID – mas isso pode não ser necessariamente bom.

Uma experiência simples e objetiva...

É válido dizer que, para bem ou para mal, a experiência do jogo é extremamente objetiva e simples: o menu principal conta com apenas seis itens e, para jogar mesmo, são apenas três: modo carreira, multiplayer e jogo livre (traduzido bizarramente como "Jogo Grátis", no que imagino que deve ter sido derivado de "Free Game" ou "Free Play").

Falando sobre o principal, a nova carreira deixa de ser linear e assume uma pegada mais parecida com um "sandbox", que permite ao jogador escolher o que vai correr, na ordem que desejar. São seis categorias no total (Touring, Stock, Tuner, GT, Fernando Alonso Challenge e Invitational), com cada uma delas contando com 14 eventos – a exceção ficando para a última, que tem 27 no total.

Os eventos nem sempre são de corridas tradicionais, com alguns deles sendo focados em competições para marcar o menor tempo em pista (Time Attack) ou num determinado trecho (Hill Climb). As corridas acontecem em 12 localidades diferentes, com quatro delas sendo reais (Brands Hatch, Indianapolis, Sepang e Silverstone) e as demais baseadas em cidades, como Havana e Xangai, ou circuitos autorais.

As categorias servem também para determinar qual o tipo de veículo será utilizado entre os mais de 66 modelos diferentes disponíveis e que são agrupados em mais de 20 classes.

Você pode escolher desde os divertidíssimos bólidos de tração dianteira do campeonato mundial de carros de turismo (WTCR), passando pelos monstros de time attack com potências astronômicas e pacotes aerodinâmicos extremos, os clássicos do campeonato britânico de turismo da década de 90, os ícones sobrealimentados do grupo 5 da década de 80 e até mesmo o Renault R26, o Fórmula 1 que deu a Fernando Alonso o seu bicampeonato na categoria máxima do automobilismo.

Falando em Alonso, é válido apontar que o piloto serviu como "consultor" para o novo GRID e, como citado anteriormente, conta com uma categoria de eventos especialmente dedicada a ele, que culmina em uma corrida de exibição contra uma versão virtual do piloto. A equipe do espanhol, a FA Racing Esports, também é representada no jogo, com seus integrantes sendo representados entre as centenas de corredores da IA que dividem a pista com você.

... Mas que também pode ser meio sem sal

É interessante notar que o que dita o tom do modo carreira é um campeonato chamado GRID World Series, derivado do World Series Racing que já deu as caras nos jogos anteriores. A equipe fictícia Ravenwest Motorsport, que servia como uma rival em GRID Autosport, também retorna e serve de referência aos games antecessores – mesmo que de forma bastante sutil.

Essa sutileza, inclusive, chega a ser tanta em alguns aspectos que acaba se transformando em superficialidade. Nada é explorado com densidade, não há qualquer ambição narrativa e a sensação é de que, de certa forma, o game é até meio raso demais ou muito cru. Não há grandeza no atingimento de objetivos, não há um grande rival a ser batido... Tudo apenas está ali, pura e simplesmente.

O maior problema é que isso acontece em quase tudo no jogo: você tem uma equipe, mas isso não significa muita coisa, já que você não tem todas aquelas mecânicas de escolher os patrocinadores, atingir objetivos específicos para cada um e coisas do tipo que rolavam nos títulos anteriores e que tornavam a experiência do modo carreira um pouco menos tediosa.

Existe um modo de progressão por níveis, que você ganha ao acumular pontos fazendo peripécias enquanto corre – seja um drift, pegar vácuo, andar próximo de outro carro... enfim, aspectos que são um lugar comum em jogos de corrida. A cada novo nível atingido, você libera pinturas, emblemas e outros pilotos que podem servir de companheiro (ou companheira) de equipe para você.

É possível dar sugestões sobre como esse companheiro deve se comportar em pista, mas isso não faz muita diferença: a posição na qual ele termina tem um impacto mínimo em quanto você ganha de premiação e XP. Troque muita tinta ou bata muito forte em outro piloto na pista e ele rapidamente pode se tornar o seu nêmesis, mas isso também pode não ter qualquer influência na sua corrida dependendo da sua rapidez.

O piloto que serve como rival nas corridas também é colocado de uma forma tão superficial que nem tem grande impacto na sua experiência: ele se perde entre tantos outros corredores e é apenas mais um carro no grid com uma marcação diferente no mapa. Já a customização dos carros se resume a pinturas diferentes e alteração nas cores – e só.

Até mesmo os diferentes tipos de eventos são, basicamente, uma variação da mesma coisa. Você não tem mais as competições de drift ou de drag, as eliminações e os destruction derbies – que agora se resumem a servir de passatempo nos lobbies de corridas online. As poucas modalidades diferentes, como o hill climb e o muito bem-vindo oval, mal são exploradas e aparecem vez ou outra.

Tudo isso faz com que, mesmo com 12 locações diferentes, em poucas horas a sensação de repetitividade comece a bater – e que, por mais bonito e gostoso de jogar que seja, o jogo acaba se resumindo a um grande ciclo de entrar, correr, vencer, mudar de evento e repetir.

O que o novo GRID faz bem

Felizmente, nem tudo no game carece de tempero e de personalidade. Visualmente, o reboot de GRID é extremamente bonito e bem acabado. A modelagem dos carros é excelente, por dentro e por fora, e o cenário está densamente populado e passa uma sensação de estar vivo.

Os espectadores se espalham ao longo de toda a pista com sinalizadores nas mãos, vibrando e gritando enquanto se apoiam nas barreiras de proteção, milhares de balões sobrevoando as arquibancadas na reta dos boxes, carros de suporte posicionados em lugares estratégicos da pista, gruas de filmagem acompanham os carros que disputam posições enquanto contornam as curvas, tudo isso contribui para criar um contexto visual mais dinâmico e traz uma animação para as corridas.

Os veículos, como todo bom carro de corrida, ostentam suas cicatrizes de batalha, com pinturas desgastadas e pequenos detalhes de danos, além da sujeira que vai se acumulando durante os campeonatos. Falando em danos, que são uma das marcas registradas da franquia, eles estão mais presentes do que nunca: bata demais e peças, como porta-malas, parachoques e capôs, começam a cair do seu carro ou do carro de seus oponentes, ao ponto de você poder desmontá-lo quase que por completo.

Não para por aí: os efeitos de iluminação estão incríveis (possivelmente derivados do ótimo trabalho feito em F1 2019, que utiliza a mesma EGO Engine 3.0) e correr em Xangai durante a noite – inclusive na já citada introdução do game – ou acompanhando o pôr-do-sol em Havana são cenas que realmente enchem os olhos. Todos os circuitos e locações, de forma geral, estão muito bem representados e extremamente detalhados.

Esse capricho também foi aplicado no interior dos veículos, que contam com espelhos retrovisores funcionais e outros detalhes visuais muito bacanas, como os pés do seu "eu" virtual alternando entre os pedais de acordo com os inputs que você dá – chegando até a pressionar a embreagem em carros que não contam com uma, vale mencionar.

A interface também é bastante dinâmica e acompanha bem o tom mais casual e despojado que é a marca registrada da série.

Embora a parte sonora, de forma geral, não tenha recebido o mesmo carinho da parte visual, não dá para dizer que está ruim. O clima vivo durante as corridas é reforçado com falas frequentes da dupla de comentaristas que é presença garantida em todas as corridas, e que narram eventos na pista de forma dinâmica: falando constantemente sobre alguém que sai da pista ou bate, disputas de posição e coisas do tipo.

O som dos carros é bom, assim como os efeitos sonoros, que também servem como importantes dicas sobre o comportamento dos veículos quando necessários, com pneus gritando no limite da aderência durante uma frenagem mais forte ou em uma reaceleração, por exemplo.

Um ponto extremamente positivo em GRID é a sua jogabilidade, que permanece bastante acessível para jogadores mais casuais e se apresenta como uma alternativa muito divertida para quem é mais hardcore, tornando o game uma ótima opção para quem quer jogar sem precisar pensar muito e que deseja apenas se divertir.

Alguns carros acabam se comportando de uma maneira bem diferente dos demais, como, por exemplo, os TCR sendo bem mais estáveis e fáceis de pilotar do que os clássicos (o Ford GT40 sendo um dos que me deu uma baita dor de cabeça). De qualquer forma, as assistências sempre estão lá para dar aquela forcinha quando você enfrenta alguma dificuldade ou, no caso dos mais experientes, para oferecer um desafio maior quando desligadas.

O comportamento da IA foi consistente na maior parte do tempo, com disputas porta a porta duras, mas justas – e, quando não foram tão justas assim, a tradicional função flashback, popularizada pelo primeiro jogo de 2008, está sempre lá para dar uma forcinha (a menos que você não queira).

É importante notar alguns detalhes legais, como a possibilidade de poder fazer uma classificação antes das corridas: se a tarefa de ultrapassar o grid todo em 2 ou 3 voltas está se provando um desafio, você tem a opção de fazer uma volta de classificação para largar um pouco mais na frente e evitar a fadiga.

Existe também uma opção para mexer nos ajustes do carro, mas a surpresa extremamente agradável é que a abordagem simplista funciona incrivelmente bem. No lugar das dezenas de variáveis assustadoras para os mais casuais, apenas cinco sliders estão lá para você mexer – mas só se quiser, uma vez que dá pra ser perfeitamente competitivo sem passar remotamente perto deles.

O resultado desses pontos positivos é um jogo estupidamente gostoso de se jogar e que serve muito bem para aquele momento que você quer jogar e se divertir sem a necessidade de pensar muito. É justamente isso que acaba sustentando o GRID como um bom jogo de corrida, apesar dos pesares.

O sapatênis dos jogos de corrida

No fim das contas, GRID é uma vítima justamente do que fez dele um sucesso: ser um jogo simples, objetivo e divertido. A Codemasters acabou pesando demais a mão quando quis oferecer uma experiência crua do que é um jogo de corrida, e acabou tornando o novo game simplista até demais.

Por outro lado, felizmente, a parte visual e a jogabilidade são pilares fortes o suficiente para sustentar a experiência praticamente sozinhos: GRID é, inegavelmente, um jogo muito bonito de se ver e gostoso de jogar – e isso faz com que ele acabe sendo divertido.

O resultado final é um game que não é nem de perto um triple A do gênero, não é um divisor de águas entre os games de corrida e que nem de longe remete ao impacto que o primeiro GRID teve há 11 anos, mas que também passa longe de ser um desastre e consegue ser competente no quesito de diversão. É o que eu acabei carinhosamente apelidando de "o sapatênis dos jogos de corrida": não é a melhor opção, mas é legalzinho, diverte e serve bem seu propósito.

Se você é um jogador casual e mais generalista, GRID (2019) pode ser exatamente o que você precisa ter na sua estante quando quiser jogar um game de carrinhos; se você é um entusiasta dos games de corrida, ele pode ser uma ótima alternativa para quando você só quer correr com qualquer coisa e dar umas risadas.

 

Nota do crítico