Pc

Review: Death’s Door é a nova promessa indie de 2021

Jogo te coloca na pele de um corvo que precisa se aventurar por cenários detalhados e incríveis para coletar almas e trazê-las de volta a Porta da Morte

Por Julia Macalossi 20.07.2021 10H17

Death’s Door é o novo título da Acid Nerve, famosa por Titan Souls, e publicado pela Devolver Digital. Ele é um jogo de ação e aventura inspirado em Zelda, mas você joga como um corvo que coleta almas perdidas. Como uma grande amante de Zelda e da Devolver, fiquei empolgada quando vi pela primeira vez.

Ao abrir o jogo pela primeira vez, tive a impressão de estar em algum tipo de obra de Tim Burton. E no decorrer do jogo, a impressão se manteve. Do design dos locais aos personagens, todos eles têm um quê de macabro e humor, quase na mesma medida.

Mais um dia de trabalho

Você joga como um corvo (se eu não soubesse que era um corvo eu juraria que era um pinguim) iniciante cujo trabalho é coletar almas. Inicialmente, você é largado na porta da Sede do Comitê dos Ceifadores e acha seu caminho até o Mundo das Portas, onde encontramos algo que é muito similar a um escritório comum, com exceção de que é um espaço quase inteiramente cinza e frio, com diversas mesas alinhadas em frente a uma grande mesa de supervisor onde um corvo escrivão apresentará para você opções de melhoria nas suas habilidades em troca de almas coletadas de inimigos.

Você é apresentado para o primeiro “chefe” do jogo e precisa derrotá-lo para retornar sua alma para o Mundo das Portas. Aqui é, o que eu imagino, o jogo explicando como funciona toda a mecânica e qual o objetivo real, já que ele não deixa nada claro desde o momento em que você o inicia. Isso foi algo que me deixou bastante chateada (mas é algo particular porque gosto de direções).

Assim que matamos o primeiro chefe e vamos coletar sua alma, um corvo maior surge e nos golpeia na cabeça, fugindo com a alma logo em seguida. O que deveria ser mais um dia comum de trabalho acabou se tornando uma grande aventura a fim de recuperar a alma.

Seguir esse corvo te leva ao Cemitério Perdido, o primeiro local onde você vai explorar e onde se mantém como cenário principal nesse primeiro momento. Aqui você consegue perceber claramente a mecânica metroidvania do jogo: há portões bloqueados, escadas pela metade e paredes brilhantes que parecem fáceis de quebrar com o feitiço ou ferramenta certa, mas você ainda não pode fazer nada a respeito.

Alguns portões serão desbloqueados depois de eliminar uma horda de inimigos ou puxar alguma alavanca, mas outros locais também poderão e deverão ser visitados depois que você avançar cada vez mais no jogo.

Armas, vida e sistema de melhoria

Os jogadores têm apenas algumas ferramentas para avançar no jogo: uma espada e um arco e flecha com 4 tiros, que são recarregados automaticamente quando você bate em algum inimigo ou em algum objeto específico do cenário. Com o passar do tempo, você pode adquirir mais 4 armas.

O jogo é muito básico e dá ao jogador 4 vidas. O que deixa mais frustrante ainda quando você percebe que o ataque de um inimigo é um pontinho dos quatro da sua vida inteira, tornando as coisas ainda mais difíceis.

Os checkpoints são as portas que você encontra pelo cenário e existem também pequenos vasos onde você pode plantar sementes que lhe recuperam a vida inteira. São lugares difíceis de encontrar - mas normalmente são encontrados antes de entrar em algum local que tenha uma batalha ou muitos inimigos. Uma vez utilizados, serão reutilizados apenas em caso de morte do jogador.

Na Sede do Comitê dos Ceifadores, você pode trocar as almas-bônus dos inimigos - que você ganha quando mata os monstros, normalmente 1 ou 2, dependendo do inimigo, ou mesmo 8 quando é algum um pouco mais forte - por melhoria nas suas habilidades, como aumentar o dano que você dá com suas armas, aumentar sua esquiva e velocidade ou mesmo aumentar o dano e o alcance das habilidades mágicas.

Honestamente, aumentei 3 de 4 o dano das minhas armas e não senti a menor diferença. Bem como aumentei todos os outros em 3 ou 4 e nenhuma diferença também.

Os chefes de Death’s Door são macabros e, de certa forma, divertidos. E como o jogo trata de um assunto muito delicado, que é a morte, talvez consigamos entender um pouco eles - quando tentamos. 

Como, por exemplo, a primeira grande chefe do jogo: a Bruxa das Urnas, que enfiou as cabeças das pessoas em urnas para que elas pudessem evitar a morte, mas a sua tentativa de torná-las imortais as condenou a uma longa existência em um limbo horrível. Conhecemos também Pothead, um personagem icônico e engraçado que tem uma panela de sopa no lugar da cabeça.

Cenários detalhados

Os cenários do jogo são incrivelmente detalhados e te deixam facilmente com a sensação de querer passar mais tempo por ali. Mas o tempo é crucial para nosso amigo corvo, já que você precisa coletar as almas necessárias para passar pela Porta da Morte ou acabará morrendo - sim, a morte é persistente e vem para todos, até mesmo para os coletores de alma.

Um som solene de piano embala sua aventura pelos cenários mórbidos e impactantes e trazem ao seu jogo um pulsar mais forte quando seu personagem morre ou quando você entra em um ambiente de luta com inimigos. O som aumenta progressivamente e se torna mais violento à medida que as lutas vão chegando.

Amor e ódio - na mesma intensidade

Fiquei extremamente viciada em Death’s Door desde a primeira vez que coloquei minhas mãos nele. E, quase na mesma intensidade, soltei muitos palavrões enquanto estive jogando: me irritei e pensei em largar o jogo diversas vezes, mas persisti.

Ele não chega a ser um jogo tão punitivo quanto Dark Souls, mas certamente é muito desgastante. 

Embora sua mecânica seja um pouco travada, acredito que toda a questão que envolve isso seja o costume. Tanto com os inimigos normais - os que você encontra enquanto está andando pelos cenários - quanto com os chefões, os quais você precisará decorar os movimentos para que consiga derrotá-los. O satisfatório no jogo é avançar, não a luta em si.

Confesso que, quando comecei o jogo, achei que estaria jogando uma “versão corvo” de Hades. E é muito fácil compará-los porque ambos são indies isométricos que falam sobre a morte e as transformam em empregos reais (mas, é claro, apenas se tratando de história).

Mas eu não poderia estar mais enganada, já que a Acid Nerve deixou claro que Death’s Door não é um roguelike. No meio das minhas anotações, encontrei algo que escrevi e, honestamente, resumiu perfeitamente muito do meu pensamento enquanto estive jogando: “experiência de roguelike mas sem ser um, de fato, porque você não tem “melhorias” quando morre, só frustração”.

E apesar da imensa frustração em repetir mil vezes o mesmo lugar ou precisar voltar todo um caminho porque, no último golpe não consegui derrotar algum inimigo, o jogo me surpreendeu positivamente porque foi muito difícil pra mim largá-lo.

Embora eu não queira fazer mais comparações, é um jogo excelente para você que já jogou algum Zelda isométrico, gosta da dificuldade de Dark Souls - em doses bem menores - ou gostou de Hades - mesmo que seja bem diferente.

Nota do crítico