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Review: Blasphemous

'Metroidvania' gótico impressiona pelo visual, mas decepciona na mecânica

Por Pedro Henrique Lutti Lippe 27.09.2019 12H19

Em tempos de vacas gordas para fãs de jogos no estilo ‘Metroidvania’, novas ofertas do gênero precisam de algum fator especial para se destacar em meio à multidão: uma mecânica única de combate, um protagonista inusitado… no caso de Blasphemous, o chamariz é a estética, que recupera e distorce cenas e personagens do imaginário cristão de uma maneira que nem mesmo Diablo teve coragem de fazer.

Desenvolvido pelo estúdio espanhol The Game Kitchen, o jogo se passa no reino de Cvstodia - uma terra que sofre com as consequências de uma terrível maldição. O mundo é inspirado pela arquitetura e pela cultura de Sevilha, e envolve os jogadores com uma atmosfera constantemente opressora.

O protagonista é chamado apenas de Penitent One - “o penitente”. Após acordar em cima de uma enorme pilha de corpos, ele descobre que é o único sobrevivente de um massacre. Então, vestindo um longo capacete pontudo e munido apenas de uma longa espada, ele parte em uma jornada para acabar com os males de sua terra e as monstruosidades que a assombram.

Logo de cara, no melhor estilo Dark Souls, o herói precisa enfrentar um chefe gigante que serve para apresentar as mecânicas de combate do jogo. A batalha em si é pouco memorável, e o que realmente fica marcado na passagem é a cena que acontece após a batalha: o Penitent One banha seu capacete no sangue que escorre por uma das enormes feridas do gigante, e depois o veste novamente.

Blasphemous se apoia no grotesco e no desconfortável para prender a atenção do jogador. Até mesmo os tipos mais básicos de inimigos têm um quê de bizarro, e a situação vai se agravando a cada nova área. A alta qualidade das animações acentua a sensação de desconforto: os monstros cambaleiam pelos cenários, atacam de maneira errática, e morrem em explosões de sangue e entranha particularmente gráficas.

Infelizmente, a mecânica de jogo de Blasphemous não é tão elogiável quanto a apresentação visual. O combate básico gira em torno do uso de uma única arma - a espada mencionada anteriormente -, que deve ser utilizada em combinação com feitiços de defesa e ataque que podem ser aprendidos ao longo da jornada. O herói é capaz de rolar para se esquivar, mas sua carta na manga é o comando de aparar ataques dos oponentes; caso o botão seja pressionado no momento certo, a investida do oponente é neutralizada, e o jogador ganha uma janela de oportunidade para revidar.

A combinação destes fatores resulta em um combate que rapidamente se torna repetitivo. A mesma estratégia básica de aguardar um ataque inimigo e revidar logo em seguida é suficiente para acabar com praticamente todos os oponentes do jogo. Para criar dificuldade, o jogo recorre à tática de lotar pequenas áreas com tipos diferentes de inimigos com padrões de ataques distintos - o que cria situações caóticas das quais é quase impossível sair ileso.

A fraqueza do combate fica ainda mais evidente durante as batalhas contra chefes. Os monstrões têm barras de vida enormes, e a melhor maneira de esvaziá-las é partir para cima de maneira desgovernada, sem qualquer preocupação com estratégia - afinal, o combate simplório não oferece ferramentas suficientes para que o jogador ‘resolva’ tais conflitos de maneira inteligente. Após vencer os vilões, a sensação que tive não foi uma de satisfação, mas sim a de que eu tinha atravessado um paredão na base da força bruta.

A primeira impressão passada por Blasphemous é a mesma que fica na cabeça após concluir a aventura: a de um jogo bonito e intrigante na apresentação, mas fraco na mecânica. Com jogos melhores no gênero como Hollow Knight e Ori and the Blind Forest disponível em várias plataformas, este lançamento não deve ser a prioridade.

Blasphemous está disponível para PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC.

Nota do crítico