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Review: Biomutant

Primeiro jogo do estúdio sueco Experiment 101 toma riscos e colhe os frutos

Por Angelo Sarmiento 24.05.2021 12H00

Na primeira vez em que Biomutant apareceu para o público, na Gamescom de 2017, ele foi chamado de uma "fábula pós-apocalíptica de kung-fu". E, anos depois, essa continua sendo a melhor descrição o jogo. 

Na época, porém, o chefe do estúdio Experiment 101, Stefan Ljungqvist - que trabalhou em Just Cause e Just Cause 2, já tinha dito que o jogo estava pronto, mas mencionou a dificuldade para equilibrar o sistema de combate e as habilidades de maneira totalmente intuitiva.

Agora, quatro anos após o anúncio, podemos dizer que este balanceamento foi feito de maneira espetacular e que com certeza corresponde ao hype criado sobre ele.

Biomutant é um RPG de ação que se passa em um enorme mundo pós-apocalíptico cheio de criaturas magníficas e traiçoeiras. Você assume o papel de um animal parecido com um guaxinim, no melhor estilo Rocket Racoon.

Antes de se aventurar por todo esse universo - no clássico estilo de RPG ocidental - é preciso criar o seu personagem. A customização inicial é simples, você pode mudar as cores dos pêlos do seu animal mutante e outras pequenas coisas, mas também pode mudar características físicas que afetam os seus atributos in game.

Como por exemplo um personagem com menos massa corporal possui mais agilidade do que força, ou um personagem que possui mais inteligência do que força também, entre outras variações.

E, caso durante a sua jogatina você se canse de sua aparência física, como a cor do seus pêlos, tamanho e entre outros, basta encontrar o NPC barbeiro para resolver isso de maneira rápida.

Porém, não vale se apegar a toda essa aparência, já que com o tempo e progressão diversas roupas e capacetes irão cobrir todo seu corpo. O jogo tem uma variedade enorme de itens, incluindo alguns que rendem boas risadas, como um grande capacete que é a cabeça de um urso de pelúcia, ou então alguns outros que podem deixar o seu personagem com cara de quem está realmente levando a sério o plano de salvar o mundo.

Ainda é necessário escolher uma classe, que vai definir sua arma inicial, mas também não se prenda tanto a isso pois você pode mudá-la a qualquer momento.

A história do jogo é definida pela sua escolha inicial entre as tribos. Você logo de início precisa decidir se quer acabar com os Devoradores, criaturas enormes que querem destruir o mundo, ou se você quer acabar com as outras tribos e deixar que os monstros destruam a Árvore da Vida para, assim, a natureza tomar o seu curso.

Às vezes as missões principais parecem não levar para este ponto, mas no final delas você começa a juntar todas as pontas soltas e perceber suas ligações.

Toda a "briga" que acontece em torno das tribos é marcada no mapa no melhor estilo "War", conquistando certos territórios e limpando um pouco a visibilidade do mapa. Além disso, temos um sistema de moralidade, que é separado por Escuridão e Luz, quanto mais atitudes boas, melhor a sua Luz, e atitudes ruins te dão mais Escuridão.

Essas escolhas influenciam diretamente no resultado de todas as ações e também nas habilidades que você vai poder adquirir ao longo da sua jornada e, em certos momentos é fácil se questionar sobre quem é o vilão ou o herói deste mundo e se as atitudes de cada tribo realmente justificam os meios escolhidos.

Foram necessárias quase 19 horas para ver os créditos subirem pela tela, mas isso não significa que fiz tudo o que poderia fazer durante o jogo. Diversas escolhas podem ter acelerado ou atrasado a conclusão, sem levar em conta as inúmeras e divertidas sidequests.

Tão divertidas e espontâneas que, em algumas delas, você precisa até parar para pegar o fôlego de volta depois. Como em certo momento do jogo, em que um NPC em um quiosque de praia me pediu um favor para pegar uma bebida pra ele em um esgoto próximo.

Depois desse pequeno esforço e entregar o seu pedido, ele me convidou para um "minigame" de quem bebia mais sem desmaiar.

(Eu claro, venci)

Um ponto muito importante de ressaltar, é que o jogo não te prende às missões principais, tornando totalmente livre a escolha de por onde ir ou o que fazer, encorajando a exploração do mapa - afinal, muitas vezes durante os seus longos passeios é possível encontrar áreas não marcadas no mapa para matar os inimigos e pegar alguns itens.

Explorar o mundo no trajeto para diversas missões é incrível, principalmente por conta das diversas montarias que o jogo te fornece. Algumas são maravilhosas pelo seu design, outras por seus grandes saltos e alta velocidade. Mas uma em particular que me chamou atenção e eclipsou todas as outras ao me fazer gargalhar em toda a sua bizarrice foi...

Uma mão robô. Isso mesmo: você cavalga por aí montado em uma mão totalmente robótica, que anda parecendo uma aranha e dispara tiros contra inimigos fazendo o gesto de arma com os dedos.

O sistema de combate tem os já conhecidos parries e dodges, que te recompensam por ter feito o movimento correto no momento correto. Em grande parte das lutas contra pequenas criaturas, eles não são tão necessários, mas contra os grandes animais mutantes e - principalmente - os chefões, saber quando e como reagir é essencial para garantir contragolpes poderosos, além de cancelar poderes especiais que podem causar um grande dano.

Cada estilo de arma possui a sua maneira de controlar e golpes únicos, tanto as de corpo a corpo como as de longa distância. É possível utilizar o mesmo armamento do início ao fim, mas isso traz o risco de nunca saber quando pode encontrar um novo favorito durante a exploração, principalmente se ele for a marca de algumas das tribos presentes no mapa.

Vale deixar claro que, apesar de todos os aparos e desvios em combate, Biomutant não tenta ser um Souls Like, muito menos um Hack n' Slash clássico. Cada arma de curto alcance possui uma sensação diferente ao usar, as espadas menores e de apenas uma mão ou utilizar duas ao mesmo tempo te permitem golpes extremamente rápidos.

Já as armas de duas mãos usam ataques mais lentos, porém com uma grande potência. Além disso, cada arma de longa distância tem seu próprio estilo e cadência para os disparos.

Com toda a liberdade disponível à vocês, todas as lutas podem ser resolvidas de maneiras diferentes, o que cria oportunidades de ser criativo em combate - por exemplo, ao subir em uma torre altíssima e todos os inimigos que estão te esperando no chão não atacam à longa distância.

Um show à parte são as já citadas lutas com os chefes, com cada um contando com um design criativo e sempre muito bem detalhado. Cada monstrão está em um habitat diferente, e as batalhas contra os Devoradores são muito interativas e divertidas, com resultados potencialmente hilários.

Como, por exemplo, ao morrer dentro do estômago do primeiro monstro e vê-lo literalmente te digerir, mostrando seu corpo descendo reto pelo sistema digestivo até ser... vamos dizer "ejetado".

A criação de itens em Biomutant é algo que inicialmente pode não parecer tão incrível e inovador, mas conforme você avança e começa a guardar os vários componentes diferentes, o jogo toma uma grande reviravolta nesse quesito.

É possível perder um bom tempo só pensando qual é a melhor combinação para cada arma que você quer usar, que efeitos podem ser colocados nela e muito mais. Principalmente depois daquele momento em que você consegue uma peça como loot que pode tornar uma arma que mal consegue trazer dano nos adversários em algo capaz de derreter todos os oponentes.

Isso vale para todos os tipos de armas, incluindo as de longo alcance. Dependendo da ocasião, você pode montar algo específico para o momento, o que acabei fazendo em quase todos os chefes que eu precisava usar alguma das minhas armas e não algo específico que eu não irei entrar muito em detalhes.

Apesar de toda essa diversão única, é preciso dizer que, durante toda a jogatina, notei alguns pequenos problemas técnicos, que para ser justo talvez possam ser consertados com o patch de lançamento, ou ainda mais no futuro. Mas preciso citá-los pois me causaram uma leve estranheza e outro que afetou diretamente o meu progresso.

Por estar jogando no PlayStation 4 base, foi recorrente a queda de taxa de quadros - principalmente em alguns lugares e/ou contra chefes que tinham muitas habilidades ou causavam alguma destruição no cenário.

Além disso, notei por várias vezes uma demora no processamento dos personagens e do ambiente ao redor, como em um flashback em que conversei com uma NPC e ela simplesmente apareceu totalmente sem roupa - que, para para a infelicidade e trauma do meu jovem protagonista, era a mãe dele.

Falando dos problemas que afetaram diretamente o progresso: vários crashes após alguns momentos mais pesados do jogo, sendo o mais emblemático de longe quando derrotei o chefe final - com direito a troféu e tudo - e, em seguida, o jogo simplesmente fechou e tive que refazer toda aquela missão do zero.

Já em outro momento, depois de reconstruir uma vila para alguns membros da tribo que escolhi me afiliar, o jogo simplesmente ficou totalmente marrom, quase preto, mas ainda sendo possível ver o que estava acontecendo. Por sorte, nesse caso consegui salvar antes dele finalmente fechar o jogo sozinho.

Apesar destas limitações no hardware do console mais antigo, Biomutant é uma obra que junta uma boa história, com diversas escolhas que realmente afetam o resultado final, a uma jogabilidade divertida, que vai te prender e fazer com que você jogue novamente para ver todos os resultados possíveis nesse mundo totalmente destruído.

Biomutant oferece uma experiência que junta uma boa história, com diversas escolhas que vão mudar a sua trajetória e uma jogabilidade divertida mas que pode te deixar perdido em alguns momentos. A campanha engaja e é convidativa o suficiente para um replay com escolhas diferentes e desfechos ainda inéditos.

Tão inéditos que o RPG sueco me deu vontade suficiente para começar um Novo Jogo Plus, algo que nenhum outro jogo dos últimos anos tenha me cativado o suficiente e me dado os ótimos motivos que Biomutant dá para os jogadores.

Para aqueles que estavam com dúvidas sobre a qualidade de um RPG em mundo aberto de uma desenvolvedora nova, vocês vão ser surpreendidos positivamente apesar dos pequenos problemas técnicos nos consoles mais antigos.

Este review foi escrito com base na experiência do autor com a jogabilidade e recursos disponíveis no PlayStation 4.

 

Nota do crítico