League of Legends | Mães de jogadores viajam mais de 1000km para torcer pelos filhos na final do CBLoL
Thereza Rodrigues e Ereni Alves contam como é ser mãe - à distância - de MicaO e Takeshi, jogadores da INTZ e da Keyd
Todo jogador de eSport profissional, uma hora ou outra, tem de lidar com o entendimento dos pais sobre a carreira - afinal, como jogar a noite inteira e estar na escola às 7h no dia seguinte? Mas há parentes que compreendem e apoiam a decisão dos filhos de se tornar um atleta do esporte eletrônico e, claro, acabam virando torcedores.
Thereza Rodrigues com seu filho, Micael "micaO" Rodrigues, da INTZ
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Thereza Rodrigues e Ereni Alves viajaram horas para acompanhar os filhos Micael "MicaO" Rodrigues e Murilo "Takeshi" Alves, que disputam pela INTZ e pela Keyd Stars a final da 1ª etapa do Campeonato Brasileiro de League of Legends. No difícil papel de serem mães à distância, as duas contam as dificuldades de entender o sonho dos filhos e chegar em uma final.
O carregador da INTZ Micael “MicaO” Rodrigues é capixaba e veio de Vila Velha (ES) para São Paulo em 2014, com apenas 17 anos de idadde. Já o capitão e meio da Keyd, Murilo “Takeshi” Alves, mudou-se de Taguatinga, região administrativa do Distrito Federal, em 2012, com a mesma idade. Ambos fazem parte da elite de jogadores que moram em gaming houses e vivem uma rotina pesada de treinos e obrigações para conquistar o sonho de chegar numa final.
Como começou esta história de jogador profissional na vida dos seus filhos?
Thereza Rodrigues, mãe do micaO: "È melhor ele estar ali no quarto do que estar na rua"
Thereza - Desde que o Micael tinha 9/10 anos de idade, ele tinha muita curiosidade por informática. Ele baixava algumas entrevistas de jogadores mais famosos que mesmo naquela época não tinha remuneração, me mostrava e falava "Um dia eu quero ser profissional" e eu como mãe respondia "Ah ta bão! Esquenta não." Mas ainda era muito longe da realidade.
Ereni – Em 2012, foi a primeira vez que ele me pediu, "Mãe eu vou ir pra SP para jogar". Eu não entendia nada de LOL e respondi: "De jeito nenhum, você não vai de maneira alguma, tu vai é estudar rapaz." Ai ele obedeceu tranquilo. Não passou muito tempo ele voltou com a mesma conversa "Mãe, deixa eu ir?" eu falei, "Murilo você não vai para SP, você é de menor (sic), você não vai para SP sozinho, uma cidade gigantesca como você vai se virar?". Ele respondeu que tinha conhecido um menino aqui de Taguatinga, no caso era o ManaJJ, e assim aconteceu. Mesmo sem a gente conhecer o Mana, a gente falou, pode ir.
Qual era a profissão que vocês gostariam que cada um seguisse?
Ereni - Engenheiro. Que ele fosse engenheiro. Brigava e brigava com ele: "Murilo vai estudar! Murilo vai fazer um vestibular", e ele: "Tá mãe vou fazer!". Ele passou na Universidade Federal de primeira. Cursou um ano e aí começou de novo: "Eu vou abandonar, eu vou abandonar, não quero engenharia, não quero engenharia, eu quero é jogar". Eu respondia: "Não vai, Murilo, não vai fazer isso com a gente." Ai acabou que abandonou. Ai mudou: "Eu quero processamento de dados", então tá, fez mais um ano de processamento de dados, e novamente trancou matricula e aí veio pra SP em definitivo.
Ereni Alves, mãe de Takeshi: "Fico contente de ver que ele está fazendo o quer e gosta"
Thereza - Eu entendi que ele queria alguma coisa com engenharia eletrônica. Ate quando ele foi prestar vestibular antes de vir para SP e ele prestou para psicólogo. Eu pensei: “Mas o que isso tem a ver com informática?”.
Como é ver seus filhos virando a noite jogando sabendo que tem aula no outro dia? Vocês pegavam no pé deles?
Thereza - Eu e o Micael sempre tivemos muita afinidade para conversar e eu sempre questionava: "Como você vai conciliar ficar a madrugada jogando e acordar às 7h para estar na escola? Como você vai fazer isso?". E ele respondia: "Mãe, eu prometo não atrasar!". Aí o dia que ele atrasava ele já sabia que ia ficar sem jogar. Ele mesmo se dava o castigo. Ele tirava o cabo do computador e me entregava. Ele já sabia que tinha vacilado.
Ereni – Muito complicado. Porque as vezes ele ficava sonolento de manhã ai arranjava uma desculpinha. "Estou muito cansado, estou com dor de cabeça". Mas de repente não era nada disso, de repente era o cansaço de ter ficado até mais tarde no computador. Mas no fim das contas foram poucas as vezes que ele deu trabalho para ir para a escola. Esta obrigação aí ele sabia certinho. Estudioso, passava tranquilamente, não ficava de recuperação, com relação aos estudos ele sempre cumpria a obrigação direitinho.
Teve algum momento em que vocês tiveram que dar uma força para eles neste processo de se tornarem profissionais?
Ereni – Nunca. A minha vontade até que seria que ele voltasse para casa e continuasse os estudos. Mas até o momento é dedicação exclusiva. A gente sabe que ele desempenha muito mesmo em prol do LOL. É o que ele gosta de paixão. É com amor, é com paixão que ele faz.
Thereza - Não, ás vezes ele ficava na duvida com relação a valorização, pois as vezes ele montava um time e quando começava a dar certo alguém saia, ai ele vinha conversar comigo. Teve momentos que ele desanimava, porque não chegava aonde ele queria.
MicaO
Como foi quando eles saíram de casa para morar numa gaming house?
Thereza - No começo eu sempre ligava, e era tipo: "E ai filho tudo bem?", e ele: "Tudo ótimo mãe, tá maravilhoso!". Até que tivemos o primeiro contato, ai ele falou "Mãe eu não quis te preocupar, mas primeiro eu achei apavorante!", porque ele estava acostumado sempre a viver só comigo, eu e ele, aí de repente era aquele monte de gente pra usar um banheiro. "Que desespero, mãe". Ele apavorou, mas eu sabia que era um crescimento para ele, a vida tem que seguir. Eu entendi que era algo bom, positivo, mesmo que para ele fosse algo sofrido. A única questão é quando ele ligou e estava doente. Você se sente impotente, é apavorante.
Takeshi
Ereni – Era uma ansiedade total. A minha maior preocupação era que ele se envolvesse no mundo das drogas, ficar longe do nosso olhar, não sabia quem eram as companhias dele, exceto o ManaJJ. Felizmente ele nunca trilhou por este caminho. Realmente só dedicação aos jogos.
E com relação as namoradas? Como eles falam sobre isso?
Thereza - A questão das namoradas, eu pergunto: "Micael, quem que é agora?". As vezes elas entram em contato, ai ele me fala: "Mãe, não tenho mais nada a ver com essa menina mais não, é a outra!". Ele vai me explicando porque eu preciso saber, senão eu falo de uma pra outra e vice versa. Então preciso saber. Mas é um menino que teve uma namorada séria aqui. Mas ele sempre coloca, gostei desta por isso, por isso e por isso, não vai combinar comigo por isso, por isso e por isso. Sempre conversamos, ele não me esconde nada!
Ereni – Não, até hoje não teve nenhuma namorada do Murilo. Ele está sempre concentrado nos jogos.
E como é hoje ver eles como jogadores profissionais?
Ereni – Para mim é muita emoção, depois que eu passei a acompanhar de perto, saber o que é que ele enfrenta no dia a dia, o tanto que ele é dedicado, aí eu fico mais contente de ver que ele realmente esta fazendo o que ele quer e o que ele gosta. É a paixão dele jogar LOL. Se eu soubesse que ele chegaria até aqui teria apoiado ele mais no começo.
Thereza - Desde o começo, eu fui buscar o que era e me interessei pelo assunto. Eu não conhecia mesmo esta profissão, mas ao mesmo tempo como ele era um menino muito centrado, nunca me deu trabalho, nunca me surpreendia como adolescente, também tinha o comodismo, meu filho esta dentro de casa a noite, afinal é melhor ele estar ali no quarto do que ele estar na rua. E uma coisa compensava a outra e ele nunca deixou de me ajudar em casa, a gente dividia os afazeres e obrigações, pois morávamos só nós dois. E eu falava: "Quando eu chegar tem que estar tudo certinho!". Então deu para levar sem muitos riscos. Mas claro que busquei psicólogos, busquei cardiologistas para ver o quanto isso faria mal para ele. Pedi para os médicos falarem para ele: "Olha não fica muito tempo que isso não vai te fazer bem", mas não convenci os caras, pensei algo como: "Ai Meu Deus, ninguém me ajuda!".
Como foi para cada uma de vocês este 1º Split do Campeonato Brasileiro de League of Legends?
Thereza - Ele me ligava, e eu falava: "Micael, o que está acontecendo exatamente?". Aí ele explicava tudo e me falava, "Mas tô aguentando firme!", e como mãe só posso dizer que a gente sofre junto, porque esta questão de perder pontos (a INTZ perdeu pontos por inscrições irregulares) é caminhar para trás, e eles se esforçando sozinhos e tão novos, passando por tanta problemática em uma coisa que você não tem como ajudar. Mesmo que eu estivesse morando do lado, eu ia mais estar dando colo como a gente pensa que pode fazer.
Ereni – Eu, meu marido e o irmão dele sempre apoiamos, ficamos em casa nos finais de semana para ver as partidas e torcer por ele e mandar muita energia positiva para o time. Eles se dedicaram muito e treinaram muito para chegar nesta final. A gente acredita que desta vez vai. Estamos torcendo, muito muito.
Como mãe de um jogador profissional, o que você falaria para os outros pais?
Thereza - O mais importante é o dialogo e a confiança que a gente tem que passar para os filhos. Olhar nos olhos, entender que aquilo é um sonho dele. E a partir dai, tentar sonhar junto. Idealmente é uma coisa não tocável, é uma coisa que você não consegue visualizar e tocar. E a gente tem muito disso. Quando você confia no seu filho, quando você se coloca no lugar dele, eu acho que fica tudo mais fácil. A gente negociou muito, pra nunca deixar os sonhos deles para segundo plano. Não só para games, mas para qualquer busca que eles tenham na vida. Negociamos para que eles se coloquem primeiro dentro das responsabilidades deles, com a família e compromissos, para podermos confiar mesmo. Aquilo que você plantou de valores, em qualquer lugar que eles estejam, eles estarão lembrando daquilo que a gente falou e ai não tem o que temer.
Ereni – Passe a conhecer de perto o que é jogar LOL, que não tem nada de extraordinário, nada encoberto, não é nada perigoso. É tudo tranquilo. É uma coisa limpa que tai livre, para qualquer um ter acesso e jogar. Se a pessoa se dedicar, tem futuro.