League of Legends é o popular MOBA da Riot Games que anda elevando incrivelmente o nível de eSports - não apenas no Brasil mas no mundo todo. A final do Campeonato Brasileiro (CBLOL) foi realizada no Allianz Parque, trazendo mais de 12 mil jogadores no estádio para assistir às partidas que decidiriam qual equipe brasileira avançaria em direção ao Mundial.

Mesmo para quem enxerga isso de forma casual, esse passatempo pode até ser elevado para outros níveis - literalmente. Muitos jogadores levam os rankings de League of Legends a sério, fazendo de tudo para aumentar o Elo de suas contas - incluindo aí trapaças.

Mas o que é o Elo? Elos são a maneira que a Riot achou de separar os jogadores pelo nível de habilidade. Quando uma pessoa entra em uma fila ranqueada, o jogo determina um número que representa relativamente o quão habilidoso é esse usuário através dos resultados das partidas anteriores. Chamado de “Cálculo de Elo” graças a Arpad Elo, o matemático que desenvolveu esse sistema, esse cálculo é responsável por alguém estar como Desafiante ou Bronze.

É comum ver reclamações de jogadores de League of Legends em relação aos Elos: alguns dizem que é um sistema não tão justo e muitas vezes difícil de melhorar de nível. Hoje em dia, o Elo já deixou de ser uma questão de separação de habilidade para se tornar um status na comunidade para demonstrar quem é melhor.

Por isso, logo surgiram pessoas que começaram a vender um tipo de serviço diferenciado: o Elo Boost, ou Elo Job como também é conhecido. Ele é a manipulação dos dados ranqueados de uma conta. Um jogador de alto nível cobra um valor de alguém que possui uma conta de Elo baixo para jogar nessa mesma conta e deixá-la em um nível melhor.

Essa é uma prática totalmente ilícita, já que a Riot Games implementou esse sistema justamente para evitar que jogadores pouco habilidosos não jogassem nas mesmas partidas que pessoas de alto nível. Além disso, não são poucas as punições que a empresa já lançou não apenas em contas, mas em diversos jogadores – inclusive profissionais da área.

Mesmo sendo proibido, ainda é um serviço amplamente distribuído. Para entender mais sobre esse mundo, nós do Omelete entrevistamos dois jogadores desse mercado negro: Sheldon, o dono de um site que oferece esses serviços e Ezreal, um dos funcionários de Sheldon. Ambos usam apelidos para que seus verdadeiros nomes não sejam revelados e assim não possuírem problemas com suas contas verdadeiras dentro do jogo.

Sheldon, você é o responsável pelo Elo Rocket, um dos sites de Elo Job atuantes no Brasil. Como o sistema de Elo Boost funciona exatamente?
Hoje nós temos em média 70% da produção de Elo Boost no Brasil. Vendemos principalmente três tipos de produtos: Elo Boost, Duo Boost e Contas Level 30. O Elo Boost consiste em nossa equipe jogando na sua conta até o Elo desejado para adquirir alguma recompensa ou "destravar" daquela divisão que você está a muito tempo.
O Duo Boost é um serviço onde o cliente permanece na conta dele e nós jogamos junto com ele de outra conta ensinando todos os "macetes" necessários para subir de Elo sozinho. Este por sua vez vem crescendo e apresenta resultados positivos na maioria dos clientes que adquirem, pois a galera hoje em dia não quer só subir de Elo, mas sim aprender a jogar.

Para essas práticas, vocês contam com pessoas de alto conhecimento e nível de habilidade em League of Legends. Vocês já trabalharam com cyber atletas?
Exatamente, hoje nossa equipe é composta por exatos 70 jogadores, todos eles estão ou já estiveram com uma conta no Rank Mestre com 200 pontos. Já passaram por nossa equipe jogadores como o Esa, Krow, Brucer, Owning (Rank 1 do servidor atualmente) e outros que por não terem sido suspensos não posso citar os nomes.

Essa é uma prática comum no meio profissional pelo dinheiro recebido. Qual o valor dos serviços de vocês e até quanto esses jogadores podem receber mensalmente?
Isso já foi uma prática comum entre os jogadores que estavam ou gostariam de entrar no cenário competitivo, atualmente não é mais. Hoje a Riot juntamente com as organizações de times competitivos no Brasil oferecem suporte financeiro e oportunidade para quem quer ser um jogador profissional.
Tanto que nesta temporada já removemos da equipe todos os jogadores que aspiram se tornarem jogadores competitivos e não aceitamos jogadores que já participaram em algum momento do cenário e acabaram por se "aposentar". Nossos valores variam de R$ 35 por uma divisão do Bronze até R$ 375 pela divisão do Diamante I ao Mestre. Nossos jogadores recebem entre 70% e 80% do valor total de cada pedido em que trabalham, portanto a renda mensal depende exclusivamente da produção de cada um. Os que jogam pouco recebem uma média de R$ 500 por mês e os que se dedicam podem receber até R$ 2000~2500.

Pelo fato do seu site ser grande, a Riot provavelmente sabe da existência dos seus serviços oferecidos. Como exatamente a empresa lida com isso?
Nós sabemos que Elo Boost é contra as regras do jogo, porém também é ficar AFK [ausente] nas partidas, trollar o jogo dos outros, usar Script, stressar partidas (ataques DDOS) e nem por isso a Riot toma uma medida contra esse tipo de comportamento. Nós prezamos pela segurança da conta e privacidade das informações dos clientes, estamos sempre buscando melhorar nosso sistema para garantir que não seja identificada a prática.

O elojob não acaba atrapalhando no jogo em si, com jogadores de contas com ranque alto que deveriam estar em categorias menores?
Eu oriento aos boosters da minha equipe se tornarem jogadores didáticos nas partidas, orientando o resto da equipe com calls, builds, foco em teamfights e afins.Quando adotam essa postura se o companheiro souber aproveitar pode aprender um pouco. Eu por exemplo fiquei um ano todo travado nos 1450 de Elo que na época correspondia a Ouro. Só consegui subir de Elo vendo um amigo de nível superior jogar. Mas em geral sim, o Elo Boost como a Riot propriamente diz: "Manipula Dados Ranqueados".

Essa dificuldade de subir de elo não se limita apenas à habilidade do jogador então?
Atualmente não, como citei acima, o que influência realmente um jogador a ponto de ele não conseguir subir de Elo é a falta de punição a jogadores tóxicos, que ficam AFK, são mal educados, que já desistiram de melhorar no jogo e qualquer coisa saem das partidas ou começam a se matar. Também existem aqueles que não tem tempo para jogar (que são a maioria de nossos clientes hoje) pois fazem faculdade e trabalham. Um jogo como qualquer outra coisa precisa ser praticado para que você possa melhorar e se tornar um "mestre" nele.

Eu realmente acho que se a atitude da comunidade gamer melhorasse, as mães educassem um pouco mais alguns jogadores de 14~16 anos (pois acredite, eles são a maioria responsável pela zoeira), a prática do Elo Boost diminuiria consideravelmente. E eu particularmente ficaria contente com isso. Poderíamos focar exclusivamente no Duo Boost assim ajudando quem tem potencial e precisa somente de orientação (como era meu caso quando comecei).

Pois a Riot Games é uma empresa incrível, quase sempre que vejo um vídeo de algum evento deles ou novo conteúdo como o "Sad Amumu" e a dedicação, amor que passam nos projetos penso em parar de vender Elo Boost. Mas sem melhorar a comunidade e punir os responsáveis nada irá acontecer, senão outra empresa tomará o lugar da Elo-Rocket.
Em uma partida numa Smurf [conta adicional dos jogadores, normalmente com nível menor] que estava jogando com o Score 31/1 em partidas ranqueadas já no Diamante V, um Gnar do meu time simplesmente com base no match history presumiu que eu estivesse usando DropHack e ficou AFK o jogo todo andando na base, forçando assim a derrota do time e prejudicando outros 3 jogadores que nada tinham a ver com a história. Ninguém quer recorrer ao Elo Boost, é o "último" recurso.

COMO É SER UM ELO BOOSTER?

Com Ezreal, a conversa foi mais direta sobre como é exatamente ser um Elo Booster. Ao ser questionado sobre a escolha de seu apelido, o jogador respondeu que todos na "empresa" devem escolher um nome de um campeão, para ainda poder haver reconhecimento mesmo sem usarem seus nomes verdadeiros.

Ezreal, você atualmente faz Elo Boost e também o serviço de Duo Boost. Como é sua rotina nessas práticas?
Eu faço mais Elo Boost, casualmente eu faço o Duo Boost. Eu geralmente pego uma conta para o Boost, e jogo nela sempre nos horário que o cliente definiu, pra assim ele ter uma maior segurança pra ninguém descobrir. Com Duo Boost, nós convidamos o cliente para o TeamSpeak ou Skype para termos uma comunicação enquanto jogamos e para tentar ensinar o máximo possível para ele enquanto o boost é feito.
Geralmente eu jogo aproximadamente umas 12 horas por dia, as vezes menos ou mais, dependendo da demanda.

Você tem o elojob como trabalho então? Quanto mais ou menos você fatura por mês?
Eu vejo sim como um trabalho, mas só temporariamente. Depende do quanto eu me dedico, eu posso ganhar de R$ 800 até R$ 1500. As vezes mais, quando eu me esforço mais.

Por ter um nível alto de habilidade no jogo, você nunca teve pretensões de se profissionalizar em League of Legends?
Já tive, mas eu desisti pois queria estudar. E jogar profissionalmente iria me cobrar muito tempo, para treinar e jogar sem parar pra melhorar.

O duo boost funciona da mesma maneira como o elo boost, mas como uma aula? Como funciona e como é sua relação com seus clientes?
Exatamente, nós tentamos passar dicas pros clientes, sobre como melhorar o gameplay, as tomadas de decisão dentro do jogo, etc. A nossa relação é bem amigável para fazer o cliente se sentir bem enquanto joga, mas sempre mantendo o profissionalismo.

O sistema planejado para essas práticas é bem complexo. Para evitar o banimento das contas ou desconfiança geral, quais são os métodos usados?
Atualmente nós trabalhamos com o Boost Premium, onde o cliente pode escolher os campeões a serem usados, o horário que devemos jogar e a região que o Booster mora; para assim ninguém desconfiar que não seja ele jogando na conta, e para o IP não ser muito distante da conta do cliente.

Você já foi banido por elo boost?
Não, eu sempre mantenho sigilo sobre a minha conta principal.