Por dentro do Pokémon TCG com Gustavo Wada, brasileiro campeão mundial

Todos conhecem Pokémon, mas você sabia que o Brasil manda bem no cenário de esports do card game?

Por Bruno Pereira e Gabriel Reis 04.06.2021 17H46

Gustavo Wada, de 21 anos, é um dos jogadores mais consagrados do cenário de Pokémon TCG. O brasileiro já conquistou todos os títulos possíveis no circuito competitivo do card game, sendo campeão mundial quando ainda tinha 12 anos de idade. O jogador contou sua história em entrevista ao The Enemy e também explicou como funciona o cenário competitivo da modalidade, que apesar do brilho brasileiro, ainda está longe do alcance de outros esports.

Descendente de japoneses, Gustavo começou a jogar Pokémon TCG em 2009. O rapaz colecionava cartas na época do colégio, e depois de um tempo percebeu que tinha talento e amava o jogo. Não demorou muito para que Wada conquistasse o seu primeiro título internacional, o que aconteceu em 2011, na categoria Júnior do Pokémon World Championship

Wada ainda carrega em seu histórico três títulos nacionais, um intercontinental e quartas de final em todos os continentes do mundo, um currículo invejável, compartilhado apenas com o alemão Robin Schulz, o único que, ao lado do brasileiro, venceu todas as competições do circuito de Pokémon TCG. Gustavo é considerado um dos jogadores mais consistentes da cena. 

Entre outras conquistas individuais, está a regularidade em torneios intercontinentais, sendo o único que terminou todas as edições que disputou entre os oito melhores, além do título inédito que trouxe para o Brasil em abril de 2019, quando venceu o Intercontinental Europeu, disputado em Berlim.

Estados Unidos, Holanda, Austrália, Argentina, Alemanha, Chile... Estes são alguns dos países nos quais o Gustavo Wada disputou campeonatos de Pokémon TCG. Fora as viagens, os títulos renderam muito dinheiro para o brasileiro, que especula ter ganhos próximos de um milhão de reais. Multicampeão, Gustavo tem propriedade para falar sobre seus títulos, e o que mais o marcou foi o mundial conquistado a 12 anos atrás em San Diego, na Califórnia.

É o sonho de qualquer jogador competitivo [ser campeão mundial]. Pra mim foi um sonho e ainda é, é surreal lembrar que fui o melhor do mundo. Tinham japoneses, europeus, americanos e eu superei todos eles. Me marca até hoje, mesmo que tenha sido em 2011, fico sem palavras”, disse Gustavo.

“Uma partida reflete uma batalha Pokémon”

Pokémon TCG é um card game estratégico, no qual o jogador monta o seu baralho com vários Pokémons, estratégicas e várias possibilidades de combos diferentes. O jogo coloca os competidores frente à frente e quem tiver o melhor deck, somado às melhores estratégias, sai vitorioso do duelo. 

É preciso raciocínio, criatividade e lógica para mandar bem nas partidas, e sendo campeão de tudo, Gustavo preenche bem todos os requisitos - não é à toa que o mesmo relatou que o Pokémon TCG o ajudou na escola e agora tem o ajudado na faculdade de Medicina

É um jogo muito atual, apesar de ser antigo. E claro, sempre com estratégias que remetem ao Pokémon, embora não seja parecido com os jogos de videogame. Uma partida reflete uma batalha Pokémon”, contou.

Por dentro do cenário competitivo de Pokémon TCG

O Mundial não é especial para Gustavo Wada por acaso. O campeonato é o principal torneio na hierarquia do cenário competitivo de Pokémon TCG. O circuito, organizado pela própria Pokémon, é dividido em seis competições. Do mais baixo para o maior: League Challenge, League Cup, Special Event, Regional, Intercontinental e Mundial. De acordo com Gustavo, a hierarquia tem o propósito de nivelar a competição. 

Os torneios são realizados presencialmente, mas a pandemia pegou a Pokémon de surpresa, e a desenvolvedora precisou se adaptar ao cenário atual. Gustavo conta que o processo de reinvenção com a realização dos torneios no formato remoto está sendo bem feito, pontuando que a comunidade também tem organizado campeonatos não-oficiais para ajudar na movimentação do cenário.

Os treinos no Pokémon TCG são praticados como nas demais modalidades. Existem grupos de treinos organizados pela comunidade, onde os jogadores têm a possibilidade de testar estratégias e colocar ideias malucas em prática. Estes treinos normalmente são abertos, o que não é muito a praia de Gustavo, que prefere treinos fechados, no formato 1v1, sendo o adversário sempre uma pessoa de confiança para evitar o vazamento de estratégias e aproveitar ao máximo o treinamento. Lucas Araújo e Leandro Fernandes são alguns dos outros nomes do cenário brasileiro e são parceiros de treino do jogador. Não se tratando de um circuito fechado, como é no LoL, por exemplo, os competidores também têm a liberdade de disputar torneios avulsos, nos quais aproveitam para treinar novos decks e construir estratégias.

Além disso, Gustavo ressalta que é importante se manter sempre atualizado, acompanhando as ligas ao redor do mundo.

Manter-se atualizado é acompanhar os campeonatos ao redor do mundo e entender os metas para se adaptar, já que as pessoas têm ideias diferentes. É importante para criar suas ideias e melhorar”, pontuou.

“Quem é do exterior fala muito mais de mim do que os brasileiros”

É bem capaz que a maioria das pessoas que leiam esse texto se surpreendam com a imensidade que é o cenário de Pokémon TCG. Mas isso acontece porque o cenário é muito desvalorizado. 

Pokémon é uma das maiores franquias do mundo, mas o Pokémon TCG não chama muita atenção, além de ser um título muito específico para quem curte esse estilo de jogo. Gustavo entende que card game é um nicho específico, mas enxerga o crescimento do cenário, relembrando, inclusive, o brasileiro PVDDR, campeão mundial de Magic: The Gathering, eleito Atleta do Ano no Prêmio eSports Brasil no ano passado.

O Prêmio eSports Brasil tem ainda a categoria “Melhor Atleta de Card Games”, que também foi faturada por PVDDR na última edição. Entre os indicados, cinco jogadores de Hearthstone e três de Magic: The Gathering, e nenhum de Pokémon TCG, o que leva Gustavo a acreditar que o próprio cenário de card games esnoba o jogo.

Teve Hearthstone, Magic, mas nada de Pokémon TCG, e isso me deixa muito triste. Sempre representei o país muito bem e tive orgulho de fazer isso, mas quando volto para cá, não vejo nada. Quem é do exterior fala muito mais de mim do que os brasileiros”, desabafou.

O mercado milionário por trás do Pokémon TCG

As cifras enormes não são mais impressionantes no mercado de games, e muito dinheiro é movimentado, principalmente no exterior, quando o assunto são card games. No Pokémon TCG, algumas cartas raras já chegaram a ser negociadas por quase R$ 2 milhões

A movimentação atrai muitos criadores de conteúdo, youtubers e streamers, como é o caso do caster Tixinha, fã assíduo da franquia, e uma das personalidades do cenário que abre packs de cartas em live, ou de Capitão Hunter, que se especializou neste conteúdo. Nada abrilhantado com esse mercado, Gustavo acredita que sim, ajuda um pouco a dar visibilidade ao jogo, mas não competitivamente.

Ajuda um pouco, mas são colecionadores. Isso atrai um público diferente, que deseja ver as cartas, colecionador, e não competidor”, analisou.

Sempre junto da comunidade

Apaixonado pelo comunidade de card games e um dos guerreiros na luta para trazer visibilidade ao cenário de Pokémon TCG, Gustavo Wada não se abala com a falta de holofotes, e deixa recado ao público.

Tento ajudar a comunidade como posso, ela merece mais notoriedade. Esse jogo é incrível e moldou a pessoa que sou hoje. [...] Me fez conhecer o mundo e várias pessoas, e por isso eu quero que a comunidade cresça, que mais pessoas joguem e vivam isso. Muito obrigado pelo espaço, fortalece demais a nossa luta”, finalizou.

Você pode acompanhar Gustavo Wada no próximo campeonato oficial, a Players Cup, a ser disputada no dia 19 de junho, com final da região brasileira no dia 03 de julho. Os quatro melhores passam então para as finais globais, que acontecem a partir de 17 de julho. As transmissões acontecem na Twitch TV e no YouTube oficial da Pokémon, com comentários em inglês.