Lá se vai quase uma década desde que a Rare lançou Banjo-Kazooie: Nuts & Bolts para Xbox 360, último jogo original da produtora com o bom humor e capricho pelos quais ela ficou conhecida.

De lá pra cá, o estúdio britânico dedicou-se ao sistema de avatares da família Xbox e também à trilogia Kinect Sports - títulos de imenso sucesso comercial, é verdade, mas sem o carisma e a criatividade maluca que marcaram obras anteriores da empresa.

É por esse motivo que fiquei muito empolgado para testar Sea of Thieves na própria sede da Rare, na pacata cidade de Twycross, no interior da Inglaterra.

Não se trata apenas de um jogo bonito e engraçado, que promete dar ainda mais brilho aos pontos fortes da marca Xbox: é também um jogo inédito da Rare, feito à moda antiga, mas com novidades o bastante para empolgar e conquistar uma nova geração de fãs.

O jogo chega no dia 20 de março para Xbox One e PCs com Windows 10.

Os perigos dos sete mares

Sea of Thieves começa direto na ação, sem apresentar uma história ou grande objetivo para alcançar. Você começa em uma taverna e pode se juntar a outros piratas para explorar o mares em busca de tesouros, seja de forma aleatória ou seguindo as missões dadas por alguns representantes de facções. A maneira ideal de aproveitar o game é em grupos de quatro pessoas, mas dá para curtir bem em números diferentes - ou até sozinho!

Na prática, trata-se de um grande playground virtual com tema de piratas e a jornada em si é mais importante do que o destino. A história improvisada contada pelas decisões dos jogadores e eventos aleatórios - a chamada narrativa emergente - é a grande estrela em Sea of Thieves.

Não importa se a missão é acabar com os esqueletos malvados de uma ilha ou encontrar os tesouros enterrados em outra, o game se encarrega de colocar muitas surpresas pelo caminho. Elas podem vir na forma de tempestades, monstros gigantes, ataques de tubarão, mapas do tesouro dentro de garrafas ou até em encontros com outros piratas - todos eles jogadores de verdade!

Que tal tentar se aliar a eles em busca de tesouros maiores? Melhor ainda: que tal roubar os tesouros que eles já têm no navio e depois afundar a embarcação com um tiro bem dado nos barris de pólvora?

Estas são apenas algumas das possibilidades que Sea of Thieves apresenta e tudo fica ainda mais divertido e variado graças a outros aspectos técnicos.

A nova obra da Rare aposta forte no ecossistema Xbox e parece feito sob medida para mostrar a força de todos esses elementos combinados.

O primeiro é que é possível conversar via chat de voz com outros jogadores que encontrar pelo mundo ou até mesmo ouvir eles conversando sem perceberem que você está por perto. Encontros com jogadores desconhecidos ganham muito mais tensão e adrenalina e as consequências costumam ser hilárias.

Outro elemento importante é a comunidade unificada. Sea of Thieves faz parte do sistema Xbox Play Anywhere e conta com cross play, a galera do Xbox One pode jogar junto com o pessoal do PC. Além disso, é possível começar a jogar em uma plataforma e continuar em outra e assim por diante, já que o progresso fica salvo na nuvem. De cara, o game da Rare foge de problemas como os enfrentados por Destiny, que divide a comunidade em plataformas. Aqui, todos os piratas exploram e pilham os mesmos mares e tesouros.

Por fim, Sea of Thieves será o primeiro título first party da Microsoft a estar disponível no serviço Game Pass logo no dia de lançamento, diminuindo muito as barreiras para as pessoas testarem. Com certeza, muitos assinantes do Game Pass que ficariam em dúvida em pagar o preço cheio do game logo no lançamento (ou mesmo depois) não vão ter problemas em dar uma chance para o jogo que já estará no catálogo.

A nova obra da Rare aposta forte no ecossistema Xbox e parece feito sob medida para mostrar a força de todos esses elementos combinados.

Para jogar e para ver

O pessoal da Rare não esconde: desde o início do desenvolvimento, Sea of Thieves foi pensado para ser um jogo tão divertido de jogar quanto assistir. Segundo Joe Neate, produtor executivo do game, quando o desenvolvimento começou, títulos como DayZ, Rust e EVE Online começavam a chamar atenção, assim como a Twitch, ainda em 'início de carreira'. Mais do que o gameplay, gráficos ou qualquer outro elemento, o que mais empolgava nestes jogos eram as histórias criadas de forma espontânea pela comunidade.

A natureza aleatória do jogo, aliada ao bom humor típico da Rare (e ausente durante tanto tempo) parecem uma combinação matadora que já rendeu bons resultados: o jogo chegou a ser o mais visto na Twitch durante o período de teste beta fechado, no final de janeiro, e também foi muito popular Mixer, plataforma própria de streaming da Microsoft.

O maior incentivo para continuar jogando é conseguir roupas mais elaboradas, que vão demonstrar para outros piratas online que você é um aventureiro experiente.

O sucesso nas plataformas de streaming pode ser a chave também para lidar com o único aspecto que me preocupou durante os testes na Rare: falta de conteúdo.

Sea of Thieves tem um ciclo muito bem definido: pegar uma missão, ir fazer o objetivo e voltar para pegar as recompensas. Será que isso é o bastante para manter a comunidade ativa nos primeiros meses, antes das inevitáveis (e já planejadas) expansões?

A princípio, o maior incentivo para continuar jogando é conseguir roupas mais elaboradas, que vão demonstrar para outros piratas online que você é um aventureiro experiente. Inclusive, é possível se tornar um Pirate Legend, um pirata lendário com acesso a uma base secreta e missões especiais, com tesouros raros. A recompensa por ter conseguido tantos tesouros é a possibilidade de ir em busca de riquezas ainda mais seletas.

Os gráficos despontam como outro ponto positivo para manter o charme do game. De estilo caricato, o visual preza por detalhes realistas em elementos pontuais, como a representação do mar e suas ondas e efeitos de luz, especialmente o nascer e pôr do sol, noites estreladas e tempestades ferozes.

Pode parecer pouco ao se considerar Sea of Thieves apenas como um game, mas talvez seja o suficiente para gerar muitas horas divertidas de streaming.

A jornada é ousada e repleta de promessas de tesouros e perigos - tanto no game em si quanto para a Rare. Porém, seja como for, é muito bom ver a Rare de volta com um projeto que transpira o DNA da empresa depois de tantos anos fora dos holofotes.

* O jornalista viajou a convite da Microsoft