Uma pesquisa realizada pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, grupo da Universidade de São Paulo (USP), aponta que os grupos de família no WhatsApp são os principais vetores de divulgação de notícias falsas da atualidade.

Divulgada pela BBC, a pesquisa coletou informações através de questionários online com 2.520 pessoas, com metodologia baseada em um estudo israelense que avaliou a disseminação do boato de um sequestro de três jovens israelenses na Cisjordânia, em 2014.

O estudo brasileiro, por sua vez, focou na avaliação da disseminação de informações falsas sobre o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, ocorrido em março deste ano.  O formulário foi divulgado através das páginas de Marielle Franco e Quebrando o Tabu no Facebook.

De acordo com os resultados, quase metade dos respondentes afirmou ter recebido mensagens falsas que indicavam que Marielle era ex-mulher do traficante Marcinho VP e que teria engravidado dele aos 16 anos. As informações falsas eram acompanhadas de uma foto que supostamente mostrava Marielle sentada no colo de Marcinho VP – a foto, no entanto, não era nem da vereadora, nem do traficante.

No total, 51% dos entrevistados indicam que as notícias falsas vieram através de grupos de família no WhatsApp. Grupos de amigos (32%), grupos de trabalho (9%) e mensagens diretas (9%) completam a lista. Ainda segundo os resultados da pesquisa, o WhatsApp foi a plataforma que liderou a disseminação de fake news, seguido pelo Facebook e pelo Twitter.

"Pode ser apenas que existam mais grupos de família do que grupos de amigos ou de colegas de trabalho e os boatos tenham circulado igualmente em todos eles, mas, como há mais grupos de famílias, nosso estudo tenha apenas captado essa distribuição dos grupos. Agora, caso, de fato, os boatos tenham circulado mais nos grupos de família do que nos outros grupos, temos um dado interessante", avalia Pablo Ortellado, um dos autores da pesquisa e professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP). "Pode ser que grupos de família sejam ambientes mais 'íntimos' que permitam compartilhar seguramente conteúdos mais especulativos sem que quem compartilhe seja alvo de julgamento".