O teatro Popular do SESI as últimas apresentações da peça Avenida Dropsie, baseada na obra do genial quadrinista Will Eisner. A nova turnê do espetáculo faz parte da mostra comemorativa dos 15 anos da Sutil Companhia de Teatro, que traz também outros dois espetáculos, Thom Pain/Lady Grey e Não Sobre o Amor, escolhidos entre as 24 já encenadas pelo grupo curitibano.

A peça foi montada originalmente em 2005, mesmo ano da morte de Eisner, e na época recebeu quatro indicações ao prêmio Shell (a mais importante premiação do teatro brasileiro), além de elogios entusiasmados da imprensa especializada.

Avenida Dropsie

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Avenida Dropsie, a graphic novel, é de 1995 (por aqui chegou só em 2004) e conta a ascensão, declínio e reconstrução de uma vizinhança do sul do Bronx, desde a chegada das primeiras famílias holandesas, que em 1870 se instalaram em pequenas fazendas, até a demolição dos prédios cem anos depois, que dão lugar a um condomínio residencial para a classe média. Nesse meio tempo, a chegada de levas de imigrantes europeus e de migrantes negros, o surgimento de cortiços, a decadência do bairro e o aumento da criminalidade.

Avenida Dropsie, a peça, apesar do nome, é baseada em toda obra madura de Eisner e apresenta também cenas de Contrato com Deus, Pequenos Milagres e outras HQs.

O cenário do espetáculo é um impressionante edifício construído por Daniela Thomas em cujas janelas, portas e calçada se desenrolam as várias histórias, melancólicas e engraçadas ao mesmo tempo.

O uso da tecnologia, aliás, é fundamental para dar vida aos dramas urbanos: é através de uma tela transparente, na frente do palco, que são projetados balões de pensamento, que fazem com que os atores se tornem praticamente personagens dos quadrinhos. Também parecem flutuar na tela os textos em que Will Eisner reflete sobre a vida nas grandes cidades, simultaneamente lidos na voz paternal de Gianfrancesco Guarnieri.

Mais do que simplesmente retirar trechos das graphic novels, a Sutil Companhia soube compreender o espírito da obra de Eisner. Não vemos o uso de cores quentes, nem no figurino nem no cenário, tudo tende aos tons pastéis, o que remete a sépia usada pelo desenhista estadunidense e também imprime um ar ainda mais melancólico e nostálgico às histórias contadas. E é no momento mais impressionante da peça, quando literalmente chove no palco, que isto fica claro: debaixo de um aguaceiro inacreditável vemos uma correria de pessoas, uns apaixonados, outros com o coração partido, uns sorrindo, outros chorando, quase todos alheios ao temporal, porque vivem um momento único em suas vidas.

Como diz a Sra. Rowena, personagem que está na graphic novel, mas não na peça, "no final, prédios são apenas prédios. São as pessoas que fazem uma vizinhança".

As últimas apresentações de Avenida Dropsie ocorrem entre até 5 de abril, sempre às 20h. Às quartas-feiras, as sessões são gratuitas e nos demais dias os ingressos custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). O Teatro Popular do Sesi fica na Avenida Paulista, 1313, próximo ao Metrô Trianon- Masp.

A peça não é recomendada para menores de 14 anos.

Informações: tels. (11) 3146-7405 / 7406 ou pelo site www.sesisp.org.br