Os filhos de Anansi

NEIL GAIMAN - Conrad
5 ovos!

Neil Gaiman é um dos grandes responsáveis pela revolução dos quadrinhos que se iniciou no fim da década de 1980. Ao lado de Alan Moore e Frank Miller ele levou as histórias de super-heróis a um novo patamar. Diferente de seus companheiros de profissão, porém, Gaiman conseguiu atingir o público feminino, geralmente avesso a esse tipo de aventuras.

O feito foi alcançado na consagradíssima série Sandman, na qual o autor aprimorou o estilo pelo qual é mais conhecido, a fantasia que coloca elementos do cotidiano ao lado de passagens históricas e arquétipos mitológicos distintos. Tudo metodicamente pesquisado e sensivelmente reunido.

Pois Os filhos de Anansi, o mais recente romance de Gaiman - o primeiro desde Deuses americanos, de 2001 - segue justamente essa linha.

Ele aproveita uma idéia surgida em Sandman - e já aproveitada em Deuses americanos -, a de que os deuses do passado, pelos quais já não existe mais fé, seguem existindo de maneira humilde, muitas vezes no mundo dos homens. Desta vez, porém, o escritor parece mais à vontade, menos preocupado em criar algo cosmicamente grandioso e mais interessado em seus personagens e suas vidas.

E criar interesse pelos protagonistas é algo que Gaiman faz com grande competência já que todos são adoravelmente reais - enfrentam problemas com seus empregos, chefes irritantes, relacionamentos frustrados, etc. O "herói sem querer" da vez é o contador Charles Nancy, um sujeito que leva a vida de forma inercial na Inglaterra, sem grandes emoções. Chamado de Fat Charlie (Charlie Gordo) por todo mundo (mesmo sem ser tão gordo), ele tem uma namorada virgem, é desprovido de charme, não se mete em encrencas e aceita com desinteresse tudo o que a vida lhe coloca adiante. O típico perdedor.

Parte dessa personalidade insossa, Charlie acredita, veio da relação com seu pai, um homem brincalhão e adorável que não perdia oportunidades para tirar sarro do filho. No entanto, ele não faz idéia da verdadeira natureza de sua família, algo que começa a mudar quando ele recebe a notícia da morte de seu pai na Flórida e vai ao funeral. Pra começar, ele descobre que o homem era o deus caribenho e africano dos chistes e histórias, Anansi. A outra revelação é que ele tem um irmão, Spider (Aranha), que herdou as características divinas de seu pai. E sua jornada está apenas começando...

Apesar do começo pacato - que espelha a própria existência de Fat Charlie - o romance cresce exponencialmente conforme o protagonista investiga seu passado mágico. Mais uma excelente e bem-humorada obra de Gaiman, que prova novamente que, ele sim, é um verdadeiro filho de Anansi.