[Sossego no Ground Zero]

Por muito tempo vimos imagens de corpos sendo retirados dos escombros do World Trade Center. Agora esta rotina acabou. Terreno limpo, projetos aprovados, reconstrução em progresso. A renovada estação de metrô sob o vácuo da torres se abre em um cenário de caos, mas que não lembra mais a morte. O WTC Pathway transformou-se em motivo de orgulho para o novaiorquino. É quase uma obrigação visitar a estação feia e perdida em cenário que concentra esforços, energia e milhões de dólares para a renovação da região. Mas... não se consegue fugir do tom de cemitério, morte no ar, certo silêncio; solenes os que se aproximam e olham pelo alambrado.

[Segurança muita é bobagem]

Para os avisados é bom relaxar. Após dedos e fotografias na polícia federal americana e o frio na barriga, a chegada em Nova York encontra uma cidade livre do policiamento agressivo destes mais de dois anos após 11 de setembro. Ainda há ecos de medo e cuidado (não excessivo): muros de concretos em frente de prédios importantes, averiguações-relâmpago no metrô, em algumas lojas ou teatros revista de bolsas. Nada exagerado, mas a lembrança do terror ainda está nos olhares.

[Onda febril]

Demorou, mas pegou: Nova York aderiu e se viciou no celular.

No início da nova tecnologia tudo apontava para que o pequeno aparelho fosse item obrigatório e ostensivo no centro financeiro do planeta, mas não foi o que se viu. Agora, mesmo com multa de 50 dólares em teatros, museus ou cinemas, não há sossego nem respeito. Em plena platéia de 100 dólares por cabeça, há a garotada mandando torpedinhos para amigos. E olha que o Hugh Jackman estava dançando e rebolando no palco... Nem os mais respeitáveis escapam: engravatados esquecem a educação e sacam o aparelhinho já com a música a toda.

[AIDS e Bin Laden]

Enquanto a luta contra o terror ameniza-se, a ainda assustadora ameaça biológica atualiza-se ao final de todas as apresentações teatrais da Broadway.

Equity Fights Aids é uma poderosa associação da classe teatral americana que se dispõe a acolher vítimas desta doença e seus familiares. Cada final de espetáculo transforma-se em um cuidadoso e preparado apêndice que dá a impressão de espontâneo. Em terras de show business nada pode falhar, muito menos a chance de faturar com a camisa suada que Hugh Jackman (1000 dólares) acabou de usar, ou um lenço do pescoço do Boy George com uma boca de batom do próprio por módicos 500 dólares...

[Descontos sem filas]

Seaport não decola. A prefeitura tenta, as lojas de marca investem, os passeios de barco que de lá saem são os melhores de Nova York... mas o lugar está sempre vazio. Limpo e lindo local, chique e caro, pertíssimo da prefeitura - City Hall -, com vista para a Estátua da Liberdade.

Agora há mais um motivo para a visita: o antigo quiosque do TKTS soterrado sob as torres foi transferido para duas acanhadas janelinhas no antigo porto de Nova York. Para quem está acostumado, no Times Square, a duas horas de fila, no Seaport, a visitinha não passa de quinze minutos. E os atendentes são simpaticíssimos, inclusive estimulando a compra e oferecendo lugares bons... um luxo extra na nova New York.

[No sex and the city]

Para quem associa Nova York a sexo, intriga tanta propaganda de medicamentos para impotência. Flutuam nos mais altos prédios, com a mais clara iluminação, além de inserções na televisão.

Em recente pesquisa americana, o novaiorquino saiu-se bem: é o mais quente em sexo. Pensa mais, faz mais. Para que tanto alarde aos estimulantes masculinos para o sexo? Talvez seja uma resposta à cultura gay que domina a cidade. São cada vez mais restaurantes, bares e casas noturnas temáticas. Nunca houve na Broadway tantas peças com e sobre homossexuais. Assim como Hollywood foi reduto para os gays nos anos 40 e 50, agora Nova York é o núcleo (ou Queer eye for straight guys) deste segmento que dita a moda.

[Celebridade sem vergonha]

A representação de um papel homossexual sempre foi um risco para carreiras de astros. Parece, porém, que isto mudou: a famosa por lá Rosie O`Donell, se casa espalhafatosamente com a companheira de longa data. Hugh Jackman em Boy from Oz dá uma banana para o conservadorismo do público e faz uma bicha desvairada com direito a beijo na boca.

Mamma mia atrai uma multidão de gays (homens e mulheres). Boy George que nunca escondeu nada de ninguém escreveu Taboo, sucesso em Londres e fracasso na Broadway, mas que trazia um curioso fã-clube em suas apresentações. E era justamente para uma das personagens que faz o amante de Boy George representado nos palcos.

A galera era feminina e hetero. Fim de preconceitos? Na cena em que o Wolverine é literalmente lambido por um cara sentado atrás dele no piano as damas da platéia deliram, gritam, grunhem...e ... aplaudem!

Especial NY - Parte 1
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