Estamos às vésperas do lançamento dos novos consoles PlayStation 5 e Xbox Series e chegou a hora da retrospectiva dos grandes momentos deste ciclo que está se encerrando. Hoje nós vamos falar de alguns dos eventos e momentos mais marcantes desta geração de consoles. 

A Nintendo ainda tem mais uns dois ou três anos pela frente com o Switch, mas já que a nona geração tá às portas, não vamos esperar até 2023 pra recapitular as coisas. Vamos falar da Big-N aqui também e, é claro, quando ela encerrar seu console atual vamos relembrar de forma mais completa a vida do Switch. 

  1. Xbox One vs. PS4: um início conturbado

Se na geração anterior foi o PS3 que começou com dificuldades pelo seu preço proibitivo, nesta geração que começou patinando foi o Xbox One. E não foi só o valor 100 dólares mais caro que o concorrente PS4, mas toda a estratégia da divisão de games da Microsoft — sob a liderança do Don Mattrick — não foi das melhores.

O Xbox One ganhou esse nome porque pretendia ser um console “tudo em um”, um centro de mídia para ser comandado por voz, com reconhecimento biométrico, integração forte com o uso da TV, recurso de chamada de vídeo e mais um monte de coisas. E os games pareciam não ser exatamente a maior prioridade naquele momento e sim mais um recurso.

A Microsoft ainda queria fazer do Xbox One um console que funcionasse obrigatoriamente 100% do tempo online e colocar um DRM para impedir empréstimo de jogos em mídia física ou a revenda de jogos usados.

A Sony, que não pretendia ter uma restrição desse tipo no PS, é claro, aproveitou a fraqueza da concorrente pra vender seu peixe e com direito a alfinetada. Fez um "vídeo institucional" cômico ensinando como emprestar um jogo.

O plano da Sony com o PS4 era bem mais convencional e as palavras-chave da empresa eram coisas como “experiência do gamer”, “blockbusters” e “novas tecnologias gráficas”. Talvez a coisa mais diferente que eles tentaram no início e não colou muito foi a integração com o PS Vita no Remote Play, mas de resto… A estratégia permaneceu basicamente a mesma até o fim da geração.

Já a estratégia inicial da Microsoft se provou ruim. O público não gostou do preço, do DRM e nem da comunicação meio excludente da empresa, já que nem todo mundo morava em lugares com banda larga boa, especialmente em 2013  — e isso se refletiu nas vendas daquele.

O Xbox One demorou mais um pouco pra encontrar seu ritmo, algo que só começou a acontecer depois de uma substituição no time. 

  1. A gestão Phil Spencer no Xbox

Depois dos tropeços da administração do Don Mattrick, a divisão Xbox ganhou um novo chefe em 2014: o Phil Spencer, um veterano da Microsoft que trabalhava lá desde 1988. Spencer foi promovido pelo novo CEO da Microsoft, o Satya Nadella, cuja influência também foi crucial pro novo momento da divisão de games.

O foco do console não estaria mais na sua integração com a TV e o Kinect seria vendido separadamente, o que barateou o preço do videogame. A ideia de “jogos exclusivos” também seria deixada de lado para incluir o PC, com sistema operacional Windows, como parte do ecossistema do Xbox.

E os serviços e comodidades seriam armas: a retrocompatibilidade com os consoles Xbox anteriores, a disponibilidade pra fazer crossplay com todo mundo e o Game Pass, um tipo de Netflix dos games, que aperfeiçoou o que a Electronic Arts já tinha feito com o EA Access

A divisão Xbox ainda ganhou um talão de cheques em branco para fazer diversas aquisições de estúdios de desenvolvimento de games. Com a compra da Zenimax, a empresa-mãe da Bethesda, são agora 23 estúdios first-party.

O Phil Spencer salvou o Xbox One de um início desastroso, o fortaleceu durante a geração e preparou a divisão de games da empresa para uma nona geração que deve ser bem competitiva.

  1. Nintendo lança dois consoles

Depois do sucesso arrebatador do Wii, a Nintendo lançou em 2012 o Wii U, um console que trocava o foco dos controles de movimento para um controle parecido com um tablet

Mas o Wii U era problemático: ele tinha um nome que gerou confusão, um público-alvo meio incerto, um hardware semelhante aos aparelhos da geração anterior da concorrência em termos de potência e o seu grande chamariz, o gamepad inspirado em um tablet, não trazia a mesma diversão e inovação dos controles do console antecessor. 

Dois anos depois, a própria Nintendo já tinha declarado que estava descontente com as vendas e ao final da sua curta vida de cinco anos o Wii U tinha vendido apenas 13,5 milhões de unidades. O Wii vendeu mais de oito vezes esse valor.

A Nintendo então apressou o lançamento do seu próximo console. O Switch trouxe a evolução da ideia do tablet, com a adição de que ele é ao mesmo tempo um console portátil e um console de mesa. Foi a primeira vez na história que foi lançado um console híbrido.

Os controles do Switch, os Joy-Cons, fazem tudo que os Wii Motes faziam e mais um pouco. Sem contar que o primeiro ano do console já trouxe de cara uma lista de grandes sucessos inéditos como Super Mario Odyssey e ports de jogos excelentes lançados durante a vida do Wii U como Mario Kart 8.

Campanha de marketing melhor, design de hardware mais atrativo, mais espaço para desenvolvedoras terceirizadas… A Nintendo viu tudo que deu errado no Wii U, corrigiu no Switch e marcou a oitava geração como aquela em que ela lançou não um, mas dois consoles.

  1. Sony e Microsoft nas E3 de 2015 e 2016

Outros momentos marcantes foram as conferências da Microsoft e da Sony nas E3 de 2015 e 2016. Em 2015, a Microsoft fez sua melhor conferência em vários anos, com gameplay de Cuphead, Forza Motorsport 6, HoloLens, anúncio de Rise of the Tomb Raider e Gears 4, Controle Elite, além de avisar que traria a tão pedida retrocompatibilidade.

Porém, naquele ano, quem brilhou mesmo foi a Sony. Rolaram lá anúncios inimagináveis pra época, como a promessa de The Last Guardian e Final Fantasy 7 Remake saindo do limbo e a campanha de financiamento de Shenmue 3

No ano seguinte, o nível alto permaneceu. A Microsoft anunciou Tekken 7, Sea of Thieves, Halo Wars 2 e revelou o modelo S do Xbox One por 300 dólares — 200 dólares a menos que o valor do modelo padrão em 2013. Sem contar o finado Scalebound, que foi cancelado no ano seguinte, mas impressionou bastante naquele momento.

Já a Sony, trouxe uma conferência excelente com anúncios dos ainda inéditos Days Gone, Resident Evil 7, Crash Bandicoot: N’Sane Trilogy, Marvel’s Spider-Man, explodiu a cabeça de todo mundo com o retorno de God of War e ainda trouxe Hideo Kojima no palco, recém-saído de uma treta homérica com a Konami, e dizendo “Tô de volta” enquanto ele revelava seu novo game em um trailer muito maluco. Foram duas E3 muito boas pra anúncios.

  1. Sony e Microsoft lançando consoles premium

Esta geração também foi marcada pelo conceito praticamente inédito de consoles premium. Além dos modelos slim com hardware revisado, que são lançados em todo ciclo, Sony e Microsoft anunciaram aparelhos que ofereceriam melhor resolução — chegando aos 4K —, melhor taxa de quadros e outras melhorias visuais como HDR.

O PlayStation 4 Pro foi lançado em novembro de 2016 e o Xbox One X, conhecido antes por Projeto Scorpio, chegou às lojas em novembro de 2017.

Ambas as empresas e vários estúdios terceirizados forneceram patches de atualização com melhoramentos para seus jogos principais, que fizeram os games aproveitarem mais do hardware parrudo. 

Felizmente, apesar de alguns games no fim da geração terem apresentado um desempenho que deixou a desejar nos consoles base, todos os títulos da geração foram compatíveis tanto com os consoles premium quanto com os consoles base, sem alienar quem comprou o hardware mais fraco.

  1. Cavalheirismo entre concorrentes

Apesar de os fanboys terem infernizado as redes sociais com a briga de consoles, ao longo desta geração, as empresas adotaram medidas bem mais cordiais na sua comunicação. É verdade que rolaram alfinetadas da Sony na Microsoft em 2013, como mencionado, mas o próprio perfil oficial do PlayStation parabenizou a Microsoft pelo lançamento do Xbox One X alguns anos depois.

O Phil Spencer, como representante do Xbox, ficou conhecido por dar várias declarações elogiando as concorrentes e manter a política da boa vizinhança.

A verdade é que essas marcas descobriram que poderiam gerar uma reputação bem mais positiva com uma comunicação diplomática do que com o marketing hostil típico dos anos 90.

Teve ainda o "namorico" da Microsoft com a Nintendo, que levou pro Switch títulos como Ori e Cuphead, além do Banjo-Kazooie no Super Smash Bros. e o crossplay em Minecraft — o que foi muito importante pra popularizar a crossplay entre as empresas de games.

Mas talvez o momento mais marcante e histórico disso tudo foi quando os representantes da Nintendo of America, Xbox e PlayStation subiram juntos em um mesmo palco.

Reggie Fils-Aimé, Phil Spencer e Shawn Layden mandaram juntos uma mensagem sobre celebrar os games como uma comunidade unida no The Game Awards 2018. Nunca algo parecido havia acontecido na indústria.

  1. Tendências: Souls-like, GaaS e Battle Royale

Como toda geração, esta oitava teve várias tendências novas e bem características. Dark Souls, por exemplo, causou um impacto ainda maior nesta geração do que na passada, influenciando dúzias de jogos indies e até franquias consagradas como Star Wars.

É verdade que existe a discussão se o “Souls-like” é sequer um gênero, mas a dominação desse game design foi inegável.

Tivemos ainda a ascensão do "Game as a Service" (GaaS), os "jogos como serviços" ou "jogos como plataforma", que é um modelo online que engloba vários gêneros e que frequentemente usa coisas como assinaturas, expansões, eventos sazonais, microtransações…

É basicamente o game que é atualizado frequentemente e em que o jogador é incentivado a jogar quase que diariamente. Nos consoles, um dos primeiros exemplos mais populares foi o Destiny, que trouxe um misto incomum de MMORPG com a experiência que a Bungie já tinha entregue com Halo anteriormente. 

E não podemos esquecer, é claro, dos Battle Royales. O gênero estourou com PlayerUnkown’s Battlegrounds (PUBG), mas depois foi tomado de assalto pelo Fortnite, que é provavelmente o game online mais jogado do mundo atualmente.

O sucesso, é claro, trouxe toda uma legião de games do tipo e outros que usaram apenas a ideia básica pra fazer coisas diferentes, como Fall Guys, Tetris 99 e Super Mario 35.

  1. Mudanças executivas na Nintendo

É comum acontecerem várias mudanças entre os altos cargos das empresas de games durante uma geração, mas na Nintendo a situação mais pesada. Em 2015, faleceu o CEO da Nintendo Satoru Iwata, que foi vítima de câncer.

Iwata foi o primeiro presidente global da Nintendo fora da Família Yamauchi, que foi a família que fundou a empresa. Sob o comando dele, a companhia lançou o DS, o Wii, o 3DS e o Wii U e a comunidade inteira lamentou bastante, já que ele era uma figura muito querida e frequentemente apresentava os Nintendo Directs.

Outra personalidade bem popular entre o público que não está mais na Nintendo é o Reggie Fils-Aimé, que foi por muitos anos o rosto da empresa no Ocidente.

Reggie conduziu a Nintendo of America de 2006 a 2019, pelas fases do DS, Wii, 3DS, Wii U e Switch — além de protagonizar muitos memes da internet. Ele se aposentou em 2019.

  1. Discussões sobre crunch

Pela primeira vez nesta geração o público geral começou a prestar atenção em um problema crônico e crescente da indústria: o crunch. Com jogos cada vez mais complexos e sem leis que regularizem as normas de trabalho para desenvolvedores, muitos estúdios conhecidos se envolveram em denúncias de trabalho excessivo e às vezes exploratório.

Desenvolvedores que passam meses trabalhando além do horário, durante o fim de semana, feriado, sem ver direito a família e cuidando pouco da saúde só pra cumprir os prazos de entrega dos jogos. Para piorar, quando o jogo é adiado, o crunch acontece por todos esses meses extra.

Com base em depoimentos de funcionários e reportagens, algumas queridinhas do público como a Naughty Dog, a Rockstar Games e até a CD Projekt foram expostas como parte do problema.

Naturalmente, os veículos, os influenciadores e o público se envolveram na discussão e na cobrança pra que as empresas entreguem uma situação adequada e não exploratória para as pessoas que fazem os jogos que a comunidade ama. E esse é um debate que deve se intensificar ainda mais na geração seguinte.

  1. O sonho do crossplay realizado

Os donos de PlayStation 3, Xbox 360 e PC sempre sonharam com a chance de jogar um game multiplataforma online com seus amigos que tinham o mesmo jogo em outro console. Algumas tentativas bem tímidas foram feitas entre consoles de sexta e sétima geração com o PC, mas nesta oitava geração é que o crossplay realmente começou a acontecer entre todas as plataformas.

Graças a uma situação supostamente acidental em Fortnite em 2018, foi descoberto que era mais simples do que se pensava conectar a jogatina entre dois consoles.

A Microsoft embarcou de cara com o Xbox e o PC, a Nintendo seguiu logo depois. A Sony dificultou um bocado por alguns meses, mas depois cedeu e também aderiu.

Agora é comum encontrar games que não apenas podem ser jogados entre consoles, mas também dos consoles com os celulares, entre diferentes plataformas do PC e até entre sistemas operacionais de computador distintos. E esse deve ser apenas o começo.

Tudo indica que, na próxima geração, o crossplay deve deixar de ser um recurso bônus pra virar quase um padrão. E os jogadores agradecem.

 

Menções honrosas

  • A ascensão dos jogos em mídia digital 

  • Konami vs. Kojima e o P.T.

  • Epic Games Store vs. Steam, Apple, Google e o Mundo 

  • Escândalos na Ubisoft 

  • Remasters… Muitos remasters 

Não é possível condensar absolutamente tudo que aconteceu de memorável e chocante ao longo de 7 anos de geração em apenas uma única publicação, então contem aqui nos comentários quais são outros momentos que vocês consideram cruciais neste ciclo.