Com a proibição de sua venda em alguns países, e novas exigências vindas de SonyMicrosoftNintendo, as loot boxes parecem estar perdendo a força na indústria dos games. Novos modelos de monetização ganham cada vez mais destaque, ao passo que as caixas surpresa enfrentam uma série de investigações.

Talvez ainda seja um passo muito grande dizer que as loot boxes estão perto de acabar, já que o item não mostra muitos sinais de enfraquecimento no Counter-Strike: Global Offensive e no Dota 2, por exemplo. Ainda assim, sua despopularização é real.

O início da crise

Um grande marco para que as loot boxes fossem vistas com olhos negativos por muitos foi Star Wars Battlefront II. Com um sistema de progressão que basicamente incentivava o jogador a pagar para conseguir melhorar seu personagem, o game foi extremamente criticado e, por ter sido lançado no início do “boom” das caixas, ajudou a criar a aura negativa em torno do item.

Atualmente, são poucos os jogos que dependem de dinheiro para progredir, já que a maioria das caixas de itens trazem cosméticos; a prática se tornou mais comum no mobile com Clash Royale e até mesmo o fenômeno Pokémon GO, por exemplo - todos possuem itens pagos que melhoram o desempenho do jogador, ainda assim, é possível conquistar a maioria deles com o puro gameplay.

Nos consoles, FIFA é um dos maiores exemplos de progressão paga. Os FIFA Points, moedas desbloqueadas apenas com dinheiro da vida real, ajudam a abrir mais loot boxes de jogadores para o Ultimate Team. Por mais que o grind seja intenso, também é possível conseguir bons atletas apenas jogando sem investir mais dinheiro.

Intervenções Políticas

Com as polêmicas já estabelecidas e a aproximação aos jogos de azar sendo cada vez mais relevante, vários países discutiram regulamentações para as loot boxes. Na Coreia do Sul, por exemplo, as caixas precisam mostrar a probabilidade de ganhar cada item; outras nações europeias, como Polônia e Reino Unido, decidiram que o item não se adequa à descrição de um jogo de azar.

O buraco foi mais embaixo na Holanda e na Bélgica. Na Holanda, uma entidade governamental concluiu que quatro jogos, entre os dez estudados, violam a lei que proíbe jogos de azar no país, portanto, deveriam ser removidas dos games. A Valve obedeceu, tirando o recurso de CS:GO, Dota 2 e Team Fortress 2.

Na Bélgica, o impacto foi ainda mais amplo, com o governo proibindo as caixas em FIFA 18, Overwatch e CS:GO; graças à movimentação, uma série de distribuidoras sentiram o golpe, e também mudaram suas políticas de loot boxes.

Valve, 2K, Konami, Blizzard e Arena Net retiraram o recurso de seus games no país; a Nintendo encerrou Animal Crossing: Pocket Camp e Fire Emblem Heroes, e a Square Enix anunciou um recall de três games mobile após a regulamentação.

A EA resistiu, defendendo as caixas - ou mecânicas de surpresa, como a empresa gosta de chamá-las - até o fim. Entretanto, a empresa acabou cedendo e encerrou a venda de FIFA Points na Bélgica.

Nos Estados Unidos, uma das maiores referências para o mercado atual de games, as loot boxes seguem livres, mas já há tramitações para um estudo mais aprofundado. Um projeto do senador Josh Hawley pretende banir tanto as loot boxes quanto microtransações “pay-to-win”, que dão vantagem sobre outros jogadores.

A indústria reage

As proibições e tramitações políticas não ajudaram nem um pouco o status da loot boxes com a comunidade gamer. Sua presença ou ausência em novos títulos é sempre tema de debate, e vários grandes títulos já estão dispensando o recurso.

Need For Speed Heat, o novo game da série, não contará com a mecânica; Gears 5 e Mortal Kombat 11, idem. Rocket League, que possuía caixas de cosméticos, também excluiu essa funcionalidade.

Em um aspecto mais amplo, as donas dos consoles também tomara uma atitude. Nintendo, Sony e Microsoft vão exigir que os games mostrem a probabilidade de cada item ser sorteado em uma caixa - algo que já existe em FIFA 19, por exemplo.

Qual o caminho a ser seguido?

Para outros jogos que já refletiram a insatisfação dos consumidores com as loot boxes, como Gears 5 e Need For Speed Heat, o caminho das pedras pode ter sido dado há algum tempo pela Epic Games e Fortnite.

A loja do Battle Royale oferece itens por tempo limitado, que podem ser escolhidos a dedo e comprados com dinheiro da vida real. O mercado é dividido entre cosméticos semanais e diários, sendo substituídos por outros itens assim que esse prazo se encerra.

O modelo já inspirou Rocket League, que inclusive mencionou Fortnite ao revelar que estava se despedindo das loot boxes; por enquanto, não há data para que a loja chegue ao game da Psyonix.

Olhando por um ponto de vista comercial, a loja de tempo limitado também possui bastante apelo, já que o jogador não sabe quando terá a oportunidade de comprar aquele item novamente. Assim sendo, é bem possível que cada vez mais games adotem esse formato e abandonem as caixas randomizadas.

Oferecer itens sem que o jogador precise pagar por eles, mas tenha que se submeter a um intenso grind, também é uma opção, como FIFA já mostrou. Entretanto, o altíssimo lucro provindo de FIFA Points já provou que essa não é uma das alternativas mais viáveis para o consumidor; reduzir o grind ou os preços podem ser estratégias 

De qualquer maneira, loot boxes se mostram uma ferramenta bastante lucrativa em alguns formatos. No CS:GO, elas são a base para um mercado bilionário nas skins; no FIFA, elas representam 28% da receita da EA no último ano fiscal. Portanto, até que haja uma proibição em um país grande como os Estados Unidos, as caixas continuarão aparecendo em grandes títulos.