Quando você bate o olho nas CGs de Sonic Frontiers, o desespero vem daquele jeito. Quem cresceu com o Sonic como referência de herói nos jogos já fica triste antes do jogo começar. No entanto, essa impressão inicial logo é substituída pela empolgação com o gameplay. Acredite: Sonic está de volta. O mascote da SEGA vive.

Tão mal acabado quanto divertido, Sonic Frontiers é algo único na história da franquia. O arquipélago de Starfall Islands já é meu lugar favorito na história de Sonic, porque, apesar da sensação de vazio, inevitável à primeira vista, quando você realmente entra na onda dos desafios de plataforma e habilita mais opções no combate, a experiência toma um rumo sensacional.

Mais rápido do que nunca

Sonic

Todas as estruturas que Sonic pode escalar para obter itens especiais são super bem planejadas. Os mapas acertam em cheio na integração dos desafios e no level design. Um desafio de plataforma leva a outro, que leva a um ponto de interesse do mapa e assim por diante.

Talvez mais do que literalmente qualquer outro jogo da franquia, Sonic Frontiers realmente passa aquela ideia de que o Sonic é absurdamente rápido. Quando você vê a paisagem se transformando num borrão conforme ele corre, vem a alegria que não sentíamos nos outros jogos.

Nem os jogos dos anos 1990, que são tidos como o auge da série, passavam essa sensação. Sempre que o Sonic dos jogos clássicos realmente corria mais rápido, ele havia sido impulsionado por uma mola ou arremessado por aquelas bolinhas vermelhas. Aqui, não.

Em Sonic Frontiers, Sonic simplesmente corre na direção que o jogador quiser e também na velocidade que o jogador desejar. Os mapas podem parecer imensos para um ouriço que não tem nem um metro de altura sequer, mas você consegue ir de ponta a ponta em segundos.

Na verdade, isso não se aplica a um mapa específico, que é a ilha vulcânica. Ali, a SEGA perdeu a mão no level design. Existem muitos espaços esburacados e muitas setinhas que mudam para a perspectiva 2D quando não queremos. Enche o saco.

Exploração em nível sem precedentes

Sonic observa a ilha.

Basicamente, Sonic Frontiers oferece 5 ilhas: a primeira é aquela toda verde, que você já viu nos trailers. Depois, vêm a do deserto, a do vulcão, uma especial bem pequena e mais uma última muito parecida com a primeira.

É tudo em 3D e tudo muito aberto, mas existe uma questão: os desafios de plataforma espalhados pelos cenários, às vezes, funcionam quase como minigames escondidos que mudam a perspectiva da câmera para o 2D por alguns segundos. Quando você realmente quer fazer esses desafios, não há problema. Mas, quando você entra nesses desafios por engano, aquela sensação de liberdade acaba sendo prejudicada.

Justamente por Sonic ser tão rápido, você às vezes nem vê as setinhas escondidas no chão enquanto corre. Se ele passa por cima de alguma das que mudam a perspectiva da câmera, pode acabar sendo difícil sair dali sem pular todos os obstáculos de novo.

Até aqui, você já entendeu que Sonic Frontiers tem mapas separados que funcionam cada um como um mundo aberto próprio. E em todos eles o Sonic pode correr para onde quiser, seja enfrentando inimigos e chefões ou cumprindo desafios de plataforma para obter os itens da história.

E qual é a história?!

Sonic e Tails descobrem a verdade.

Basicamente, em um belo dia, Sonic, Tails, Knuckles e Amy estão passeando de avião. Aí, um portal se abre no céu e suga todos eles. Sonic entra nesse portal e cai em Starfall Islands. Os outros três ficam presos entre duas dimensões: a dimensão real e a dimensão digital. A partir daí, cabe ao Sonic salvar os amigos e trazer todos de volta para o mundo físico.

Curiosamente, Robotnik também está preso no mundo digital. Aliás, o vilão aparece acompanhado por uma inteligência artificial chamada Sage, que já é uma das melhores personagens criadas para o universo de Sonic nas últimas décadas.

Não vou estragar a história aqui, mas, apesar das CGs de Sonic Frontiers serem muito feias, a história realmente consegue ter uns momentos emocionantes. Os que mais me marcaram, inclusive, foram os da Sage. Você entenderá.

Nesse contexto, Sonic precisa coletar os chamados itens mnemônicos de cada personagem para salvar cada um deles. Um a cada ilha.

Então, qual é o loop do jogo?

Sonic no ciberespaço.

Resumindo, o jogo funciona assim: Sonic chega à ilha, encontra um amigo preso entre o mundo digital e o mundo real, conversa com o holograma desse amigo, sai pelo mundo coletando os itens mnemônicos dessa pessoa para desbloquear novos diálogos, coleta chaves para pegar as esmeraldas do caos e derrota o grande chefão da ilha. É isso que você faz do começo ao fim da história.

O que me conquistou no jogo foi a liberdade que Sonic tem na busca pelos itens mnemônicos e pelas chaves das Esmeraldas do Caos.

Quando fui salvar a Amy, por exemplo, precisei procurar corações mnemônicos. Então, cumpri os desafios de plataforma e procurei pelos baús de itens específicos. O processo é um pouco mais demorado do que o ideal, mas tudo bem.

Pras chaves que garantem acesso às Esmeraldas do Caos, existem mais opções ainda. Você pode, por exemplo, ir pescar com Big The Cat, que é o personagem mais assustador que existe nesse jogo. Eu não conseguia não achar que ele ia matar o Sonic antes da pesca começar. Aliás, gente, que delícia esse minigame de pesca. É simples, inclui muitas recompensas boas e pode adiantar uma bela parte da história se você gastar bem os pontos que coletar.

Outra maneira de conquistar as chaves das Esmeraldas é jogando as curtas fases do Ciberespaço. Basicamente, podemos descrever essas fases como desafios no estilo dos jogos 3D de Sonic. Você corre da esquerda para a direita ou em direção ao fundo da tela passando por obstáculos e inimigos de diferentes tipos.
A depender de quantos objetivos do Ciberespaço você realiza em cada fase, Sonic recebe um número de chaves das Esmeraldas. Quanto mais perfeita for a tentativa, maiores serão as recompensas.

Combate revolucionário (para a franquia)

Inimigo voador em Sonic.

Para entrar no Ciberespaço, você precisa lutar contra chefões que deixam cair engrenagens usadas para abrir os portais. Essas lutas contra chefes, por incrível que pareça, são muito, muito legais.

O combate de Sonic Frontiers traz uma proposta inédita na franquia que precisa ser reaproveitada mais e mais vezes. A árvore de habilidades funcionou super bem, e era uma delícia aumentar os combos com os ataques desbloqueados.

Se pelo menos os inimigos fossem um pouco mais desafiadores, mesmo no nível mais alto, e tivessem mais respostas para as ações dos jogadores, o combate seria ainda melhor. Nunca pensei que existiria um jogo do Sonic com marcações de chefe espalhadas pelo mapa, mas fico feliz que isso tenha acontecido.

Sendo muito sincero, gostei desse modelo de sair pelo mundo coletando itens na primeira ilha. Na segunda ilha, tolerei. Na terceira, já me irritei bastante. Ainda bem que a quarta ilha funciona de um jeito diferente. E a última, embora funcione igual à primeira, acabou me parecendo mais rápida.


Apesar do modelo cansativo, Sonic Frontiers toma muito cuidado para não repetir fases no Ciberespaço e nem repetir desafios de plataforma no mundo aberto. Isso torna a experiência mais rica e deixa os jogadores um pouco mais tolerantes. Até os minigames de desbloquear a visão geral do mapa são super variados.

Mas o jogo é feio

Sonic abre o portal.

Apesar de todos os meus elogios, devo reconhecer que o jogo é muito feio em algumas cenas. Nossa senhora.

Os modelos 3D do Sonic, dos amigos dele e até do Robotnik são muito sem vida. Na tentativa de garantir mais expressão para Sonic, o Sonic Team, que é a equipe responsável pelo jogo, decidiu colocar um sorrisinho de canto de boca para ele… E ficou muito estranho.

Durante o gameplay, nem parece que o nível é tão baixo assim. Tudo bem que o design dos inimigos em si é pouco memorável, mas as ilhas até são bonitas. Quando chove, por exemplo, é uma delícia ficar olhando a água batendo nas árvores e no próprio Sonic. Passa uma sensação de calma que instiga a contemplação, ainda que por pouco tempo. Sabe? Você fica ouvindo aquela música tranquila, olhando um cenário todo verde, a água caindo... Aí, entra uma cutscene, e o Sonic vem com o sorrisinho torto dele.

Por incrível que pareça, a história de Sonic Frontiers consegue ser bem dramática, e as CGs, se fossem melhores, passariam sentimentos muito mais intensos. Quando você realmente conhece as aflições da Sage, quando você descobre a verdade por trás dos Kocos... Falando neles!

Enquanto nosso querido Sonic explora Starfall Islands, ele encontra uns bichinhos de pedra chamados Kocos, que são como os Rots de Kena: Bridge of Spirits. Eles são muito fofos, mas... Digamos que eles não são bem o que parecem ser. Tem todo um arco dramático em torno desses bichinhos que é maravilhoso e é super triste. Sabe?

Ainda que eles sejam fofos nas cenas em CG, seria tão mais legal se todos os personagens fossem mais bem representados. Não sei se o que faltou foi tempo, foi dinheiro, se foram as duas coisas... Mas é fato que Sonic Frontiers causaria sensações mais fortes se tivesse sido mais polido.

O saldo é positivo

Sonic e Knuckles observam soldados Kocos.

De coração, Sonic Frontiers é o melhor Sonic com que tive contato. A proposta clássica dos jogos 2D pode parecer a mais legal na cabeça dos fãs de longa data, mas aquele tipo de experiência já não funciona para mim hoje em dia. Sabe? Eu até curti reviver Sonic 3 e Sonic CD na coletânea Sonic Origins, mas plataforma 2D é o tipo de coisa que, hoje, já não me interessa tanto. Pelo menos, não naquele formato, já que Donkey Kong, por exemplo, eu ainda curto bastante.

Frontiers marca a revitalização de Sonic. Existem maneiras de melhorar muitas das ideias apresentadas no jogo, mas, no geral, não tenho como dizer que o saldo é negativo, longe disso. Sonic em mundo aberto é o que desejo para Sonic de agora em diante. Só espero não estar sozinho nessa, porque é difícil imaginar o Sonic Team sobrevivendo a mais um fracasso. Bom, o público e as vendas dirão o que acontecerá.


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Sonic Frontiers
  • Lançamento

    08.11.2022

  • Publicadora

    SEGA

  • Desenvolvedora

    Sonic Team

  • Gênero

    Ação, aventura, mundo aberto

  • Testado em

    PlayStation 5

  • Plataformas

    PC PlayStation 4 PlayStation 5 Xbox One Xbox Series X Xbox Series S Nintendo Switch

Nota do crítico