Eu me lembro vividamente da primeira vez que joguei PlayerUnknown’s Battlegrounds, no meio deste ano. O menu era tosco. O polimento nos gráficos e nas transições de tela era quase inexistente. Um monte de bonecos materializava numa tela com pulos de taxa de quadro e, de repente, eu estava em um avião. “É sério que as pessoas estão pirando com isso?”, pensava.

Daí eu caí num vilarejozinho desolado de Erangel com mais cem pessoas e, como só uma pode sobreviver, vi que era matar ou morrer. E aí percebi: Battlegrounds - ou PUBG, como gostam de chamar - é tudo isso mesmo.

Hit de 2017 no mundo dos videogames é um fenômeno cuja ascensão lembra a de Counter-Strike, PlayerUnknown’s Battlegrounds é uma daquelas febres que costuma levar uma década para aparecer. Sua trajetória, inclusive, é muito parecida com o jogo que hoje é da Valve: ambos têm origens “humildes”, pois nasceram do apaixonado esforço de modders e chegaram no patamar em que estão por caírem no gosto popular.

Mas PUBG guarda uma característica ainda mais especial, já que se mais de 20 milhões jogadores buscaram o game não apenas por seus controles, mas por seu conceito - e isso torna ainda mais difícil a tarefa de analisar o game deixando de lado seu enorme sucesso. Inspirado na obra japonesa Battle Royale, o jogo coloca cem pessoas em um mapa colossal, repleto de vilas, cidades e ambientes silvestres, e só um pode sobreviver.

Só a descrição pode parecer boba, mas a tensão criada pelo simples conceito de que tudo e todos naquele mapa estão contra você (ou sua equipe, já que você pode jogar em duplas ou quartetos) é o que faz toda a diferença. O título subverte as expectativas do gênero de tiro porque seu objetivo primordial não é matar. É sobreviver.

Isso explica, por exemplo, por que o jogo acaba dividido em duas grandes etapas: a primeira é a busca por suprimentos, já que você desce no mapa sem nada e precisa encontrar armas e ferramentas para se defender. A estratégia envolvida em uma partida de PUBG começa já no avião. A direção para onde ele está indo e as possibilidades de onde descer fazem toda a diferença, pois você pode optar por ir a locais mais bem-armados (e concorridos), ou pousar um conjuntinho de casas que não deve ter ninguém, mas também pode não ter arma nenhuma.

PUBG subverte seu gênero ao priorizar a sobrevivência

A genialidade do jogo na parte de sobrevivência não fica apenas no local onde pousar, mas também para onde ir, já que, para evitar que os jogadores fiquem enfurnados em casas a partida inteira, o mapa vai se fechando em um círculo depois de um determinado período de tempo. Quem ficar fora deste círculo vai perdendo pontos de vida. Ou seja, a zona de combate vai diminuindo para estimular o conflito.

E isso se aplica também aos pequenos detalhes. Se você se deparar em um local com uma porta aberta, saiba que alguém já passou por lá, por exemplo.

E o maior segredo de Battlegrounds consiste em como o jogo mistura perfeitamente o método à ansiedade. O ritmo tenso de cada partida, à medida que o número de jogadores vivos cai e a área diminui, faz com que você viva em um constante estado de alerta, sempre atento a cada detalhe em volta de si, e sempre calculando cada movimento.

Mesmo sabendo por onde andar em cada canto de Erangel (ou de outros mapas), a apreensão ao saber que você está cada vez mais próximo de ser o último jogador vivo - e, por consequência, cada vez mais próximo de um conflito derradeiro - sempre vai colocar um peso a mais em suas ações.

A força de um conceito

O conceito de PUBG - e do gênero que ele ajudou a consolidar após anos ruminando em jogos como ArmA - em todas as suas camadas, dos objetivos da partida aos mecanismos empregados para que eles sejam cumpridos, é realmente impressionante, pois segura, sozinho, um jogo ainda não muito bem polido, mesmo após ter acabado de sair do período de acesso antecipado no PC.

Embora seus controles sejam funcionais, a sensação de atirar ainda não é tão boa quanto, por exemplo, a de um CS, um Call of Duty ou um Rainbow Six. Os efeitos sonoros das armas também podem confundir um pouco, já que nem sempre são muito próximos do que você tem em mãos. E até mesmo a movimentação ainda pode receber algumas melhorias.

Mas, mesmo com todos estes problemas (que devem ser sanados eventualmente, tanto no PC quanto no XOne), PlayerUnknown’s Battlegrounds traz uma ideia de jogo boa demais para ser ignorada. Nenhuma partida é igual, e toda partida é empolgante - e, por isso, este jogo merece, sim, toda a atenção em torno de si.

PlayerUnknown’s Battlegrounds está disponível para Xbox One (ainda em acesso antecipado) e PC (Steam). O jogo foi testado em ambas as plataformas. Clique no nome delas para conferir o preço do jogo, em sua versão digital.

Nota do crítico