Encerrado o ano de 2019, há poucas dúvidas de que a Respawn Entertainment assumiu oficialmente o posto de o mais importante estúdio da Electronic Arts. Há poucas dúvidas também, aliás, de que essa posição é nada menos do que merecida.

Fundada em 2010 por Jason West e Vince Zampella, ambos egressos da Infinity Ward e responsáveis pela criação da série Call of Duty, a Respawn sempre foi uma das mais consistentes produtoras dentre as que hoje estão sob o guarda-chuva da EA. Ainda assim, ela custou a chegar à merecida posição de destaque que conquistou ao longo dos últimos doze meses.

Essa consistência, é claro, fica na conta de Titanfall e Titanfall 2, franquia elogiada de jogos de tiro em primeira pessoa da Respawn que mantém, até hoje, uma base fiel de fãs e de jogadores em seu multiplayer online. Até hoje, Titanfall 2 também segue sendo considerado um dos melhores jogos de tiro e ação de todos os tempos, condensando um combate frenético e inovador com uma campanha single player cinemática e com excelente narrativa.

Divulgação/Respawn Entertainment

Os dois jogos, no entanto, nunca trouxeram o reconhecimento merecido pela Respawn – em boa parte, por responsabilidade da própria EA.

Isso porque, além de ser considerado um dos melhores jogos de tiro da história, Titanfall 2 também ficou marcado na história dos games como um dos títulos mais injustiçados da geração, esquecido no churrasco por conta de uma péssima janela de lançamento.

Por insistência da própria EA, publisher de Titanfall 2 à época de seu lançamento, em outubro de 2016, o jogo de ação da Respawn chegou às lojas na exata semana entre os lançamentos de Call of Duty: Infinity Warfare e Battlefield 1. Incapaz de disputar pela atenção de jogadores em meio aos dois mastodontes do gênero de ação, o título teve vendas abaixo do esperado tanto para o estúdio quanto para a EA.

Felizmente, esse não era o fim da história da produtora. Mesmo com o resultado fraco de Titanfall 2, a EA resolveu investir na aquisição da Respawn, apostando no potencial criativo do estúdio. Com um total de US$ 151 milhões – cerca de R$ 600 milhões, na conversão direta em valores atuais –, a produtora passou oficialmente a fazer parte da publisher em novembro de 2017.

Por mais que a Electronic Arts tenha responsabilidade no lançamento ruim de Titanfall 2, é difícil não afirmar que a Respawn só chegaria no nível de reconhecimento que tem hoje se não fosse o investimento milionário recebido da sua nova publisher. Reestruturada e com mais capital no bolso, o estúdio poderia começar a trabalhar nos dois hits que a consagraram em 2019.

Do nada ao topo

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Enquantos muitos esperavam – e alguns torciam ativamente – por Titanfall 3, a Respawn Entertainment surpreendeu meio mundo em abril de 2019 com o lançamento surpresa de Apex Legends, um carismático battle royale ambientado no universo de Titanfall que serviria aos anseios da Electronic Arts em ter um novo game multiplayer online no modelo “como serviço”.

Enquanto alguns torceram o nariz, Apex Legends foi ganhando espaço – e fãs – em uma velocidade impressionante. Com um sistema de jogo que utiliza heróis ao estilo Overwatch, com um battle royale baseado em times de três jogadores e mecânicas sólidas de jogo, como movimentação ágil e um sistema de ping que facilita (em muito) a comunicação, Apex Legends conquistou milhões de jogadores em pouco tempo.

Para felicidade da EA, a primeira das duas consagrações da Respawn foi rápida, em dias, Apex Legends se tornou mais popular na Twitch que o grande rival, Fortnite. Em dois meses, o jogo já tinha mais de 50 milhões de jogadores registrados.

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Nos meses seguintes, o entusiasmo ao redor do jogo reduziria um pouco, como era esperado, mas a Respawn segue firme e forte suportando Apex Legends como novos conteúdos e temporadas – apostando, inclusive, em uma agenda bem mais tranquila de atualizações, ao invés de investir no tão criticado crunch que marcou a indústria dos games ao longo de 2019.

Paralelamente, a empresa também seguiria o desenvolvimento de um dos título mais aguardados do ano: Star Wars Jedi: Fallen Order.

A Força esteve com a Respawn

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Passado o lançamento de Star Wars Jedi: Fallen Order, agora já podemos respirar tranquilos com o conhecimento de o jogo é um ótimo título da série Star Wars. Mas essa certeza nem sempre esteve lá – por vários motivos.

O maior deles é, talvez, o péssimo histórico da Electronic Arts até então na produção de jogos de Star Wars desde que conquistou o licença da Disney para a produção de games baseados na franquia. Lançado em 2015, Star Wars: Battlefront teve uma recepção apenas morna, enquanto Star Wars: Battlefront 2, de 2017, foi um completo desastre, recheado de polêmicas envolvendo loot boxes e uma campanha abaixo do esperado por fãs.

Outro fator que deixou muita gente com a pulga atrás da orelha em relação ao jogo de Star Wars da Respawn é toda a trajetória esquisita que o jogo teve até seu lançamento.

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Anunciado em maio de 2016 pela EA, com Stig Asmussen, ex-diretor do terceiro jogo da série God of War, na direção, o jogo ficou nas sombras por alguns anos. Até a revelação oficial no nome do jogo foi esquisita: durante a E3 2018, Vince Zampella revelou o nome do jogo de forma desajeitada, sentado na plateia da apresentação da EA Play daquele ano.

Star Wars Jedi: Fallen Order ainda ficaria longe dos holofotes por mais um ano, até ter suas primeiras imagens de gameplay divulgadas na E3 do ano passado. Sem uma grande campanha de marketing, apesar da importância do jogo para a EA e Respawn, alguns fãs duvidaram da qualidade de game até o último segundo.

Tudo ficou bem em 15 de novembro de 2019, quando Fallen Order foi lançado oficialmente e recebido com uma enxurrada de elogios por parte de crítica especializada e por fãs da série. Com uma história envolvente e gameplay que mistura elementos de Dark Souls com exploração ao estilo Uncharted e Tomb Raider, Fallen Order foi o segundo grande acerto da Respawn em 2019.

O jogo foi, sem dúvida, não só o melhor título de Star Wars lançado pela EA – uma tarefa não muito difícil, convenhamos –, mas também um jogo que foi capaz de mostrar à publisher como o nicho de títulos single player com narrativas sólidas ainda são importantes e bem-vindos junto ao público. Com sorte, mudando as prioridades internas da EA após o flop de Anthem, por exemplo.

Mais um hit e já pode pedir música

Divulgação/Respawn Entertainment

Após os sucessos de Star Wars Jedi: Fallen Order e Apex Legends, não há dúvidas de que a Respawn Entertainment está hoje em uma posição extremamente confortável frente à Electronic Arts.

Com dois hits seguidos, a empresa tem agora alavancagem suficiente para pleitear projetos que deseja junto a publisher, o que deve garantir mais liberdade criativa aos próximos planos da Respawn. Se tratando de um estúdio com o excelente histórico da Respawn, isso, é claro, é extremamente positivo para gamers.

Não é certo, no entanto, quais serão os próximos passos do estúdio. Em 2020, temos o lançamento previsto de Medal of Honor: Above and Beyond, jogo em realidade virtual para o Oculus Rift que marca o retorno de uma das séries mais populares de jogos de segunda guerra. Titanfall 3 também é uma possibilidade, ainda que nada tenha sido discutido publicamente.

De qualquer forma, após um 2019 estelar, jogadores – e, é claro, a Electronic Arts – não têm porque não confiar nos próximos passos da desenvolvedora.