O céu resplandece ao redor dos fãs de Dragon Ball. Depois de muita espera com trailers e gameplays pelos últimos meses, Dragon Ball FighterZ finalmente chegou para trazer um game de luta com ritmo novo e contagiante nesse universo.

E ele já chega com uma difícil missão — afinal, depois da série Budokai Tenkaichi, muitos jogadores apaixonados pela série não conseguiram encontrar o mesmo envolvimento e nostalgia nesse mundo de deuses, magias destruidoras e Esferas do Dragão.

A grande diferença é que, desta vez, quem assume a responsabilidade é a Arc System Works, estúdio já conhecido pela qualidade em séries como Guilty Gear e BlazBlue.

Mas a grande questão é: será que este poderia ser o melhor jogo já feito para a série? E o que cairia tão bem no gosto dos fãs da série e de games de luta?

Referências nos mínimos detalhes

O visual do jogo é, sem dúvidas, o impacto inicial que muitos jogadores e fãs sentem. Os gráficos cartunescos da Arc System Works, que funcionam como uma mistura entre 2D e 3D e surpreendem na série Guilty Gear, foram adaptados com maestria para Dragon Ball. É como se o anime estivesse acontecendo ao vivo, na sua frente.

Isso é um alívio principalmente para os fãs da série, que podem acompanhar o desenvolvimento do modo História com fidelidade aos traços, personagens e interações originais. E mais do que isso: três arcos diferentes para você explorar e ver as variações de cada final do game.

E fidelidade é um conceito importante que foi bem cultivado no jogo. Em qualquer batalha você pode observar detalhes diversos que contribuem para reforçar as suas raízes. Derrotar um oponente com um golpe forte no canto da tela lançará ele através de prédios e montanhas. Finalizar com uma magia poderosa irá deslocar a câmera para o espaço para mostrar o tamanho do estrago que você fez.

Até mesmo os pequenos golpes e interações fazem você relembrar constantemente do material original. Freeza vê que o adversário será Gohan jovem e já solta o quanto ele cresceu, por exemplo.

Para realçar isso, ainda há momentos marcantes da série que foram adicionados como pequenos “easter eggs”. Como ter Goku e Freeza liderando equipes adversárias e, se ninguém escolher Kuririn, o início da luta é justamente “aquela morte” do nosso querido amigo.

O humor continua também característico da série. E, como falamos de mortes de Kuririn, até mesmo Goku solta uma engraçada citação na história falando para  o carequinha que achou que “ele estivesse morto”. Ainda bem que não morreu mais uma vez, né, Goku?

Gameplay delicioso

Os controles de Dragon Ball FighterZ são simples e, ao mesmo tempo, oferecem várias opções para os jogadores se movimentarem pelo cenário. A configuração é simples: um botão para golpes fracos, outro para médios, mais um para os fortes e outro dedicado a magias. As variações são simples — como apertar para baixo e soco médio para realizar uma rasteira. Magias funcionam como hadoukens, mas sempre focados em um botão próprio.

Teleportes, corridas do dragão, agarrões e mais funções podem ser ativadas com dois botões padronizados para todos os personagens, mas eles são mapeados automaticamente como atalhos nos botões traseiros do controle. E, para os novatos, é possível realizar combos apertando apenas um botão, mas geralmente eles não são os melhores para causar mais dano no adversário.

Isso permite uma jogabilidade fácil de aprender e que ignora aqueles combos com tempos específicos para darem certo. Basta um pulinho no modo training para você saber que combinações funcionam e que variações você pode tentar para surpreender o adversário.

Se você quer saborear o modo história, ele oferece boas doses de diversidade com relação ao gameplay e tem uma duração agradável. Além de apresentar uma história original, três finais e uma nova personagem à trama, ele traz vários incentivos para você continuar explorando esse modo.

Na história, em específico, você pode evoluir os personagens e aplicar modificações para aumentar atributos específicos da equipe, como dano de ataque, defesa e recuperação das assistências. É algo que até lembra daquelas customizações existentes na série Budokai Tenkaichi que incentivam a melhorar constantemente o personagem.

24 lutadores é um número grande para um game de luta, mas ao mesmo tempo é pequeno se comparado à série Dragon Ball.

E é também na história que aparecem várias interações divertidas e dramáticas entre os personagens e que complementam de forma agradável a trama de “salve o mundo novamente do caos”. Com certeza, esse é um dos modos em que você pode passar entre oito a dez horas explorando e fazendo os finais, ainda mais por honrar a série com uma trama bem conectada com todo o universo original.

Há também outras opções para explorar o jogo. O versus local relembra os “contras” entre amigos, inclusive trazendo uma ferramenta de torneio para você cair matando ao melhor estilo dos jogos da série no Super Nintendo.

O Arcade também é uma adição interessante, ainda mais com vários caminhos e variações diferentes para testar habilidades no combate. A loja permite que você compre títulos, acessórios, cores e mais cosméticos com as moedas das lutas, sem falar em liberar novos personagens.

E, para complementar a jogatina regada a pancadas, a trilha sonora explora muito do rock no mesmo estilo que temos em Guilty Gear. Não é difícil, com isso, ficar extremamente empolgado com uma melodia correndo ao fundo enquanto você está descendo a lenha nos inimigos.

O que pode incomodar os fãs

Dragon Ball FighterZ tem 24 personagens iniciais e que passam por diferentes eras da série. 24 lutadores é um número grande para um game de luta, mas ao mesmo tempo é pequeno se comparado à série Dragon Ball.

Quem é acostumado a desbravar literalmente todo o elenco do universo nas séries anteriores ficará limitado por aqui. Afinal, um fã sempre vai sentir a falta de seu personagem favorito como ele existia em Budokai Tenkaichi ou Xenoverse.

Outro ponto importante a ser levantado: o jogo não está dublado em português.

Mas isso não significa que a Arc System Works não trará mais personagens por DLC, além de que o elenco inicial já traz uma variedade grande de personagens para você aprender e explorar durante as pancadarias. Sem falar que, como estamos falando de times, há mais de 1,7 mil variações para você aproveitar das suas sequências de magias e assistências preferidas.

Eu, pessoalmente, gosto de brigar com Gohan adulto na linha de frente e sempre ter Goku e Cell para dar assistência enquanto vou para cima. Você pode montar o seu time preferido da mesma forma.

Outro ponto importante a ser levantado: o jogo não está dublado em português. Esse fator é crucial visto que, aqui no Brasil, Dragon Ball edificou uma base sólida de nostalgia. E basta ler “oi, eu sou o Goku” em voz alta para você perceber que, sem querer, leu no mesmo ritmo do nosso querido dublador Wendel Bezerra.

Visto a forte associação do jogo com o nosso idioma — e também outros trabalhos de dublagem nos jogos anteriores da Bandai Namco, como Cavaleiros do Zodíaco: Alma dos Soldados — não restam dúvidas que um pedaço importante acabou faltando no produto perfeito para o público brasileiro.

Especialmente aos profissionais

No âmbito das partidas em alto nível, a Ark System fez um trabalho pensando em facilitar a vida dos jogadores apaixonados que vão passar horas e mais horas na pancadaria do game.

Para começar, o training mode é repleto de funções para você testar os seus combos e reações para as diversas ações dos seus oponentes. E esse aspecto é ainda mais dinâmico e rápido que outros games de luta atuais, como o Street Fighter V. Em Dragon Ball FighterZ, você pode trocar os lutadores sem precisar voltar para a tela de seleção ou ainda gravar os comandos e reproduzí-los com um simples toque no direcional.

É possível salvar replays e até acompanhar partidas de jogadores de alto nível por meio de canais online que passam eles sem parar na sua tela. Ou ainda pode filtrar e procurar por jogadores que usam personagens parecidos com o seu.

O ponto mais drástico a ser citado aqui é o equilíbrio e a diversidade técnica do game. Conforme você passa as horas jogando, treinando e estudando as táticas avançadas, é possível perceber que o elenco inicial do game não explora muitas maneiras de jogar. Goku, Gohan jovem, Vegeta, Cell e muitos outros compartilham às vezes das mesmas estratégias e combos. Com isso, volta e meia você se vê numa batalha constante de magias na tela para ver quem acerta o primeiro golpe para fazer um combo e terminar com um Super.

Isso vai na contramão do que a Arc System está acostumada a fazer. Guilty Gear, por exemplo, é um jogo de luta que explora dezenas de maneiras diferentes de jogar. Por lá, Faust explora técnicas que são únicas para ele, assim como Eddie, Venom e muitos outros.

A impressão aqui é que temos poucos personagens com estilos únicos levando em conta o tamanho do elenco. A novata Android 21, por exemplo, é um ponto fora da curva que consegue copiar os movimentos do adversário e usá-los durante a partida — algo extremamente complexo e divertido em muitos pontos.

Claro que há outros exemplos e, com o tempo, você vai descobrindo particularidades específicas que só o seu personagem pode fazer. Gohan adulto, por exemplo, se desenvolve muito bem indo pra cima do oponente com golpes e ofensivas variadas aos desavisados — ainda mais com o poderoso teleporte que permite um golpe por cima do oponente.

Mas isso não acaba sendo um problema a longo prazo, principalmente com as assistências diversas que permitem formas diferentes de ofensiva.

E, falando nisso, outra característica marcante de Dragon Ball FighterZ é seu favorecimento extremo à ofensiva. Não há uma mecânica de “burst” como em Guilty Gear para salvar a pele. Em momentos da partida, apenas um golpe é suficiente para destruir completamente seu personagem se um combo for encaixado direito.

Isso acaba virando uma batalha constante de quem acerta o primeiro “hit” em meio a dúzias de assistências caindo na tela. Não vejo isso como um problema, afinal, quem está acostumado ao caos de Marvel vs. Capcom acaba levando isso como uma briga rotineira — mas já fique avisado que alguns golpes tomam tempo e doem muito. Mas muito mesmo.

A graça, nesse caso, é ver que você é um lutador poderoso e que precisa aproveitar cada abertura do adversário. Mas não posso dizer o mesmo do coitado do outro lado da luta que acabou tomando um kamehameha nível três na boca.

Diversão a mais de oito mil

Depois de horas e mais horas de jogatina, é possível ver que Dragon Ball FighterZ tem raízes fortes no universo original do anime/mangá e também no gênero de luta. A Arc System Works não decepcionou em trazer um meio fácil dos fãs de todos os níveis entrarem rapidamente no ritmo e em pouco tempo explodirem os adversários com combos gigantescos e magias que explodem com a tela.

O jogo tem problemas específicos e que podem incomodar os dois públicos que citamos acima. Quem é apaixonado por Dragon Ball sentirá falta das vozes que marcaram a infância. Os que exploram a fundo os games de luta podem sentir a falta de diversidade técnica de golpes e outros detalhes menores, como se transformar durante as lutas.

Apesar de tudo, Dragon Ball FighterZ é um pacote recheado de opções para todos os tipos de público. É um nível de diversão em mais de oito mil, seja passeando pelo Arcade, pela história, pelo versus, jogando sozinho ou com amigos.

Pessoalmente, sinto que a comunidade esperou durante anos para se reunir frente a Shenglong e pedir o melhor jogo já criado para a série. Assim nasceu Dragon Ball FighterZ. E novamente a caçada pelas Esferas do Dragão trouxe uma aventura inesquecível para os fãs — afinal, não importa o que aconteça, tudo vai ficar melhor.

Dragon Ball FighterZ está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC (Steam). O jogo foi testado em um Xbox One X. Clique no nome das plataformas para conferir o preço nas versões digitais.

Nota do crítico