Em tempos de vacas gordas para fãs de jogos no estilo ‘Metroidvania’, novas ofertas do gênero precisam de algum fator especial para se destacar em meio à multidão: uma mecânica única de combate, um protagonista inusitado… no caso de Blasphemous, o chamariz é a estética, que recupera e distorce cenas e personagens do imaginário cristão de uma maneira que nem mesmo Diablo teve coragem de fazer.

Desenvolvido pelo estúdio espanhol The Game Kitchen, o jogo se passa no reino de Cvstodia - uma terra que sofre com as consequências de uma terrível maldição. O mundo é inspirado pela arquitetura e pela cultura de Sevilha, e envolve os jogadores com uma atmosfera constantemente opressora.

O protagonista é chamado apenas de Penitent One - “o penitente”. Após acordar em cima de uma enorme pilha de corpos, ele descobre que é o único sobrevivente de um massacre. Então, vestindo um longo capacete pontudo e munido apenas de uma longa espada, ele parte em uma jornada para acabar com os males de sua terra e as monstruosidades que a assombram.

Logo de cara, no melhor estilo Dark Souls, o herói precisa enfrentar um chefe gigante que serve para apresentar as mecânicas de combate do jogo. A batalha em si é pouco memorável, e o que realmente fica marcado na passagem é a cena que acontece após a batalha: o Penitent One banha seu capacete no sangue que escorre por uma das enormes feridas do gigante, e depois o veste novamente.

Blasphemous se apoia no grotesco e no desconfortável para prender a atenção do jogador. Até mesmo os tipos mais básicos de inimigos têm um quê de bizarro, e a situação vai se agravando a cada nova área. A alta qualidade das animações acentua a sensação de desconforto: os monstros cambaleiam pelos cenários, atacam de maneira errática, e morrem em explosões de sangue e entranha particularmente gráficas.

Infelizmente, a mecânica de jogo de Blasphemous não é tão elogiável quanto a apresentação visual. O combate básico gira em torno do uso de uma única arma - a espada mencionada anteriormente -, que deve ser utilizada em combinação com feitiços de defesa e ataque que podem ser aprendidos ao longo da jornada. O herói é capaz de rolar para se esquivar, mas sua carta na manga é o comando de aparar ataques dos oponentes; caso o botão seja pressionado no momento certo, a investida do oponente é neutralizada, e o jogador ganha uma janela de oportunidade para revidar.

A combinação destes fatores resulta em um combate que rapidamente se torna repetitivo. A mesma estratégia básica de aguardar um ataque inimigo e revidar logo em seguida é suficiente para acabar com praticamente todos os oponentes do jogo. Para criar dificuldade, o jogo recorre à tática de lotar pequenas áreas com tipos diferentes de inimigos com padrões de ataques distintos - o que cria situações caóticas das quais é quase impossível sair ileso.

A fraqueza do combate fica ainda mais evidente durante as batalhas contra chefes. Os monstrões têm barras de vida enormes, e a melhor maneira de esvaziá-las é partir para cima de maneira desgovernada, sem qualquer preocupação com estratégia - afinal, o combate simplório não oferece ferramentas suficientes para que o jogador ‘resolva’ tais conflitos de maneira inteligente. Após vencer os vilões, a sensação que tive não foi uma de satisfação, mas sim a de que eu tinha atravessado um paredão na base da força bruta.

A primeira impressão passada por Blasphemous é a mesma que fica na cabeça após concluir a aventura: a de um jogo bonito e intrigante na apresentação, mas fraco na mecânica. Com jogos melhores no gênero como Hollow Knight e Ori and the Blind Forest disponível em várias plataformas, este lançamento não deve ser a prioridade.

Blasphemous está disponível para PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC.

Nota do crítico