Outriders é um jogo que representa bem a transição entre gerações de videogame que estamos prestes a vivenciar. Confirmado para PlayStation 5 e Xbox Series X, o game do estúdio polonês People Can Fly carrega consigo vários dos elementos que definiram a atual geração, de PlayStation 4 e Xbox One: é um híbrido entre jogo de tiro e RPG, com foco em coleção de equipamentos e classes de personagem. Parece familiar, não?

Mas, apesar das inspirações conhecidas, o título publicado pela Square Enix guarda algumas surpresas. Há quatro anos em desenvolvimento para as quatro plataformas citadas acima, além do PC, Outriders é fruto de um longo processo de transição para a People Can Fly, que viu a saída dos criadores de seus jogos mais famosos após ser adquirida pela Epic Games e passou a maior parte da atual geração trabalhando em Fortnite, antes de voltar a ser independente.

Mesmo com uma equipe criativa diferente, Outriders tem reflexos do DNA do estúdio e traz uma mistura do gameplay de Gears of War, com a perspectiva em terceira pessoa, o sistema de cobertura e as mecânicas de tiro, com a estrutura narrativa dos jogos como serviço (muito embora a PCF faça questão de dizer que o game não se encaixa neste gênero).

Outriders
Divulgação/Square Enix

Outriders vai contar a história de um futuro alternativo no qual a sociedade esgota os recursos da Terra e se vê obrigada a emigrar para outro planeta habitável. Uma guerra sangrenta marca a despedida da humanidade do nosso planeta, e os traumas ainda estão vivos quando os colonizadores chegaram em sua nova casa, Enoch.

Mas tudo dá errado logo quando os Outriders, a equipe responsável por preparar o terreno para a chegada dos colonizadores, pisa em Enoch. Uma onda de energia misteriosa intitulada Anomaly (anomalia) devasta a equipe de colonização, mas lhe confere misteriosos poderes.

Ainda assim, você é colocado em sono criogênico e acorda 30 anos depois, quando o restante dos colonizadores foi obrigado a descer para o solo de Enoch e o caos voltou a reinar entre homens e mulheres. Neste mundo desolado, sua missão é caçar a origem da anomalia, na esperança de devolver a esperança a uma espécie que preserva apenas resquícios da civilização que já foi um dia.

Um mundo deslumbrante

Outriders

O idílico cenário das primeiras horas de Outriders

Divulgação/Square Enix

A primeira coisa que me chamou a atenção durante o teste de Outriders, realizado a convite da Square Enix nos Estados Unidos, é a beleza dos gráficos. O fato de o game ser produzido para a atual geração deve atrair olhares para a sua parte técnica e a versão que testamos, ainda não finalizada, impressionou de fato. As primeiras horas de jogo, que mostram uma Enoch antes da anomalia, são deslumbrantes: a luz percorrendo por entre as árvores e as texturas de vegetação mostram um ambiente que começa a exibir o potencial dos novos aparelhos.

Entretanto, ainda não conseguimos dizer como o jogo vai se comportar em cada uma das plataformas. Durante o teste, a People Can Fly evitou entrar em detalhes sobre PlayStation 5 e Xbox Series X (até porque as duas máquinas não tem especificações técnicas oficiais detalhadas), e limitou-se a dizer que o PC utilizado para os testes é equipado com uma GeForce RTX 2080 Ti, topo de linha entre as placas de vídeo do mercado.

O nível de detalhe e o tamanho dos mapas, aliado à ação, me faz ter algumas dúvidas sobre como será o desempenho nos consoles atuais, especialmente nas versões padrão de PlayStation 4 e Xbox One, que já sofrem para rodar alguns dos jogos atuais. Mas isso não passa de especulação e precisamos esperar para ver o desempenho de Outriders nestes aparelhos.

Como funciona

Boa parte da sessão - incluindo o gameplay divulgado publicamente pela Square Enix - se passa no capítulo inicial de Outriders, que, segundo a People Can Fly, representa apenas uma fração dos ambientes que veremos em Enoch. Ao despertar do sono criogênico, seu Outrider é lançado em meio a um cenário de guerra entre grupos que ainda preservam parte do espírito colonizador dos que deixaram a Terra, enquanto outros se renderam à loucura e à revolta.

Outriders
Divulgação/Square Enix

Aqui começa a se revelar a estrutura de jogo de Destiny, com uma base na qual você pode comprar itens e conversar com outros personagens. Os diálogos são surpreendentemente prolongados para um jogo do gênero, contando inclusive com opções extras que te permitem descobrir mais sobre o mundo e os NPCs. Já o sistema de equipamentos e até mesmo os menus se assemelham ao modelo popularizado pela Bungie na atual geração, com armaduras e armas divididas por raridade e nível de poder.

A dinâmica de progressão da história, dividida entre missões principais e paralelas, também tenta emular a dos jogos como serviço, mas com um porém: em vez de uma base fixa, você vai levá-la consigo ao longo de sua jornada por Enoch, por meio de um caminhão customizável (que, infelizmente, não poderemos dirigir).

No campo de batalha, Outriders mostra melhor os resultados de sua combinação de eventos familiares. A primeira delas, diretamente transportada dos tempos de Gears of War: Judgement, é a sensação de peso das armas e, principalmente, o coice das metralhadoras na hora de descer o dedo no gatilho - algo raro de se ver nos Destinys da vida.

Outriders
Divulgação/Square Enix

A segunda, e mais importante, é o uso de poderes do seu personagem. Alterado pelos eventos da Anomalia, seu personagem desenvolve a capacidade de manipular tipos diferentes de elementos. Isso se traduz em quatro classes de jogo, das quais três foram reveladas durante o teste: Pyromancer, um disparador de fogo à média-distância; Trickster, união de controle do tempo e luz com teleportes e golpes à longa-distância; e Devastator, manipulador do solo com golpes corpo-a-corpo.

Classes de jogo

Joguei com Trickster e Devastator, e não demorou muito para que o meu personagem se tornasse praticamente um Deus entre os soldados rasos das missões de Outriders, seja desintegrando corpos com a espada de luz do Trickster, ou derrotando seis inimigos de uma vez com a onda de terra criada com um soco do Devastator.

Cada classe terá uma árvore de habilidades extensa, dividida em três subclasses diferentes, mas você não precisará seguir à risca uma das ramificações, o que indica um arsenal poderoso à disposição do jogador em momentos mais decisivos da aventura.

Quando passamos para o modo cooperativo, no qual até três jogadores podem se juntar ao combate, o desbalanceamento ao seu favor é gigantesco. Na hora de testarmos o modo cooperativo, nosso grupo tinha tantos poderes à disposição que sequer se importou em utilizar os murinhos para se esconder.

Mas, para quem se interessar em desafios, Outriders encontrou uma maneira de oferecê-los com quinze níveis de dificuldade, intitulados World Tier, que interferem nos níveis de inimigos e na taxa de entrega de itens. O mais interessante é que os níveis podem ser ajustados automaticamente: se você derrotar muitos oponentes sem morrer, aumenta o nível de dificuldade do jogo; se morrer muitas vezes, diminui a dificuldade.

À primeira vista, Outriders parece não oferecer nenhum elemento que se sobressai, mas, com o controle na mão, a experiência aparenta ser competente e divertida. Somada à promessa de uma aventura que passa por diversos biomas e um RPG com uma intenção de se aprofundar mais em diálogos do que outros jogos de tiro com loot, o game da People Can Fly pode conquistar os jogadores.