Fã de longa data da série Borderlands, passei boa parte de 2019 certo de que Borderlands 3 figuraria entre os meus jogos favoritos do ano. Ao fim destes longos dozes meses, no entanto, me pego listando os títulos que mais gostei sem considerar o mais novo game da série de looter-shooters da Gearbox Software entre eles.

E o mais surpreendente é que isso aconteceu não porque Borderlands 3 é ruim – para fãs da franquia, Borderlands 3 é exatamente o que queríamos, com uma campanha recheada de personagens carismáticos e novos lugares para se explorar além de Pandora. Mas sim porque 2019 teve incríveis jogos e novas boas IPs em todos os frontes – de RPGs a games de ação, passando por shooters a puzzles.

Resolvi, então, dar um pouco mais de atenção às novidades do ano em minha lista, destacando jogos que supreenderam positivamente e que, com uma nova geração já no horizonte de 2020, foram um ótimo começo de despedida para os consoles atuais.

Control

De todos os jogos que experimentei no ano, Control foi aquele que me conquistou por completo: combinando uma excelente narrativa com uma jogabilidade prazerosa e visual impecável, o game da Remedy Entertainment é tudo o que mais gosto em jogos de ação e aventura. Em poucos minutos, eu já estava imerso e fascinado pelo mundo bizarro de Control – e com sérias dificuldades de largar o controle.

Imersão e fascínio, inclusive, são as únicas palavras possíveis aqui. A história críptica de Jesse Faden e do Departamento Nacional de Controle me absorveram completamente, misturando elementos de Arquivo X, Twin Peaks e da SCP Foundation que me envolveram na narrativa bizarra do jogo – me incentivando a buscar cada documento e vídeo espalhados pelo game para aprender mais sobre sua história e ambientação.

Isso, é claro, sem contar os cenários brutalistas e estilizados de Control, repleto de estruturas arquitetônicas que estão entre as mais impressionantes que já vi em um game. Definitivamente, as mais impressionantes que vi no ano.

Uma parada obrigatória para qualquer fã de histórias obscuras, de ação e de tudo aquilo que foge do mundano.

Divulgação/Remedy Entertainment

Baba is You

Eu não sou uma pessoa de jogos de quebra-cabeça. Um quebra-cabeça ou outro no meio de um game de outro gênero, até vai. Jogos inteiros de puzzle, no entanto, não são minha preferência. Baba is You foi a grande exceção de 2019.

Criado por um só desenvolvedor, o finlandês Arvi Teikari, o título independente chamou minha atenção por conta de sua proposta inusitada: transformar as próprias regras do jogo em parte da jogabilidade, obrigando o jogador a literalmente ler e entender o quebra-cabeça antes de agir para resolvê-lo.

Ajudou também o fato que, apesar de extenso, Baba is You introduz novos elementos de jogo aos poucos, aumentando a complexidade de seus puzzles de forma gradual e sem afogar o jogador com regras demais de uma só vez.

Definitivamente, um dos games do ano que comprovou como games indies ainda são o grande celeiro de inovação da indústria – e que mostrou para mim que puzzles podem ser divertidos.

Reprodução/Arvi Teikari

Pokémon Sword & Shield

Não há como negar que fãs dos RPGs da série Pokémon ficaram apreensivos nos meses antes do lançamento de Sword & Shield por conta do temido "Dexit" – a decisão da produtora Game Freak de excluir boa parte dos monstrinhos de gerações anteriores nos dois novos jogos.

Para quem desembarcou em Galar após cinco gerações distante da série Pokémon, como foi meu caso, Sword & Shield teve poucos motivos para reclamações. A série aproveitou bem as novas capacidades do hardware do Switch para trazer gráficos renovados e novos elementos bem-vindos de jogo – como a excelente Wild Area –, além de um elenco extremamente simpático de Pokémon inéditos (alô, Yamper).

Até a mecânica Gigantamax, que tinha a aparência de ser uma novidade artificial e sem graça, surpreendeu – dando uma nova dimensão às batalhas de ginásio, que agora lembram algo como batalhas de Pokémon Stadium versão Kaiju.

Pokémon Sword foi, talvez, o jogo no qual mais investi horas em 2019 – e não me arrependo em nada. Sim, mesmo com o Dexit.

Divulgação/Game Freak

Resident Evil 2

Um dos mais aguardados jogos do ano, o remake de Resident Evil 2 superou expectativas de fãs da série acabou se tornando uma espécie de benchmark para remakes de games – um equilíbrio quase perfeito entre novidades e respeito ao material original. Não atoa, Resident Evil 3 remake já está mais que confirmado para 2020.

O destaque fica por conta da belíssima adição de Mr. X, Tyrant que dá uma camada extra de terror ao game, perseguindo o jogador incansavelmente pelos corredores da delegacia de Racoon City e dando um novo senso de urgência aos puzzles enfrentados.

No mais, Resident Evil 2 foi mais um belo exemplo das capacidades gráficas do RE Engine, motor gráfico da Capcom que já foi usado em Resident Evil 7 e Devil May Cry 5 e que entregou cenários incríveis reconstruídos para o remake.

Ansioso desde já pela chegada de Jill, Nemesis e cia.

Divulgação/Capcom

Disco Elysium

De longe, Disco Elysium foi a maior surpresa do ano para mim. O jogo chamou minha a atenção por conta de uma espécie de “efeito Bacurau” – assim como aconteceu com o filme brasileiro de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, o jogo estoniano, de repente, virou o assunto mais discutido à minha volta, sempre apontado como um dos jogos obrigatórios do ano. E todas essas recomendações estavam corretas.

Apesar de ser desenvolvido por um estúdio independente, Disco Elysium é um dos jogos mais ambicioso que experimentei no ano, combinando um sistema bem próximo de um RPG de mesa com uma narrativa complexa e cheia de possibilidades, na qual diferentes partes da personalidade do protagonista se intrometem na história para levá-la em diferentes direções.

Além do visual estilizado e da ótima trilha sonora, me surpreendeu a forma como a narrativa que experimentei de Disco Elysium foi completamente diferente daquela de outros colegas – o que, é claro, significa que vou ter que jogá-lo várias e várias vezes.

E você também deveria. Tanto assistir Bacurau quanto jogar Disco Elysium.

Divulgação/ZA/UM

The Outer Worlds

Em meio ao oceano de jogos como serviço, lotados de microtransações e elementos de multiplayer online, The Outer Worlds foi um respiro por ter sido uma experiência extremamente nostálgica, de certa forma. Simples e direto ao ponto, o jogo da Obsidian Entertainment entregou exatamente o que eu queria: um RPG single player de qualidade.

Vale ressaltar que a “simplicidade” aqui não tem nada a ver com falta de conteúdo: The Outer Worlds é cheio de possibilidades e finais distintos, além de estar povoado por alguns dos NPCs mais carismáticos do ano e de várias side quests criativas.

Tudo isso, é claro, acompanhado por um roteiro digno da Obsidian, bem-humorado e repleto de alfinetadas políticas e críticas aos problemas do capitalismo tardio.

Para um jogo que começou como um "Fallout no espaço”, The Outer Worlds se mostrou capaz de ir bem além disso, com personalidade e carisma próprios. Merecedor, inclusive, de uma sequência.

Divulgação/Obsidian Entertainment