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Organização do Twitch Pride Day é acusada de transfobia e xenofobia
DJ, modelo e produtora independente, Vic Chameleon fez relato sobre caso em série de postagens no Twitter
DJ, modelo e produtora independente, Vic Chameleon acusou responsáveis pela produção do festival Twitch Pride Day de transfobia e xenofobia.
Organizado como uma celebração do mês do orgulho e visibilidade LGBTQI+, o festival virtual Twitch Pride Day aconteceu no último sábado (27) e contou com a participação de diversas personalidades, streamers e artistas ligados à comunidade e pautas LGBTQI+ para mais de 12 horas de programação, incluindo cinco festas.
Em uma sequência de mensagens postadas no Twitter na noite desta segunda-feira (30), a artista descreve uma série de experiências vexatórias que teria sofrido nos dias que antecederam a realização do festival virtual. A DJ afirma que foi convidada no último sábado (20) a apresentar uma versão virtual da festa NBomPartuy, realizada no Recife, durante o festival.
Segundo Vic Chameleon, o descaso já teria começado na primeira ligação que recebeu da organização do evento, quando teria sido tratada no masculino e chamada por um nome masculino com o qual não se identifica.
Os distratos teriam continuado nos dias seguintes, quando a artista afirma não ter recebido informações sobre quais os equipamentos necessários para que sua apresentação fosse ao ar.
"Me desdobrei e com muito esforço eu consegui alugar e adquirir emprestado todos os equipamentos essenciais para que eu pudesse exercer meu trabalho", escreveu.
"Ressalto que não foi feito nenhum tipo de adiantamento do valor que eu precisaria para ter acesso a esses recursos e deslocamento, e fui informada que todos esses custos seriam POR MINHA CONTA, descontados do MEU cachê(???)", continua, esclarecendo que uma cláusula do contrato do festival estabeleceria a responsabilidade do contratante de viabilizar a tecnologia para a apresentação.
A falta de transparência continuaria a véspera do festival, quando a artista foi informada que precisaria de mais equipamentos e de uma internet com upload de no mínimo 5 Mbps para que o conteúdo pudesse ser transmitido.
"Novamente isso poderia ter sido evitado se tivessem me comunicado nos e-mails qual o tipo de internet e velocidade mínima eu teria que ter para essa função", afirmou. Segundo a artista, a sugestão da produção é que fosse "para a casa de alguém ou escritório". "Sugeriram que eu me expusesse ao contágio [da Covid-19] para viabilizar algo que deveria ser da resposnabilidade dels", observou.
No dia da transmissão, a produtora teria disponibilizado um estúdio, mas Vic Chameleon afirma ter sido novamente responsável por arcar com as despesas de instalação dos equipamentos para a live.
Durante a instalação dos equipamentos no estúdio por um técnico contratado pela artista, um técnico da produtora teria feito ainda comentários xenófobos ao passar instruções para a instalação do sistema.
"Ao enfrentarmos dificuldades no processo de configurações do sistema, soltaram um 'eles são do nordeste', sugerindo que não estávamos conseguindo solucionar os problemas por sermos nordestinos", escreveu. Um dos produtores do festival também teria enviado um áudio "imitando" seu sotaque.
Vic Chameleon destaca também que estava sem contrato assinado até o dia do festival, e que o produtor teria reagido de forma alterada quando ela questionou sobre o documento antes do início do festival.
"O produtor, por sua vez, em tom muito alterado me dirigiu as seguintes palavras: 'você deveria agradecer', 'você é muito mal agradecida', 'você tá pensando que é a Beyoncé?', 'se não quiser dessa forma é só dizer pois a gente não tem problema em lhe excluir do festival'. Após isso ele desligou o telefone na minha cara e não falou mais nada", relatou.
Como forma de protesto, Vic Chameleon decidiu inserir uma intervenção durante seu próprio set na live. "Ao invés de corroborar com empresas que usurpam a nossa luta para interesses próprios, fortaleçam iniciativas de pessoas trans como @nbombparty @festivalmarsha @ssscapa dentre tantas outras", escreveu.
"Me senti humilhada. Isso tudo por exigir o mínimo: SUPORTE. Eles não tiveram tato nem SENSIBILIDADE alguma desde o início de tudo", afirmou. "E é importante que eu esteja aqui hoje relatando tudo isso pois dinheiro NENHUM paga minha dignidade. Eu mereço tanto respeito tanto quanto a Beyoncé merece. Como Qualquer outra artista merece. Como qualquer ser humano merece. Não vou deixar passar batido pois se trata de uma empresa milionária usufruindo do 'Pride' para se promover".
O relato gerou uma onda de indignação nas redes sociais que levaram múltiplos usuários a pedirem por um posicionamento oficial da Twitch Brasil sobre o tema.
The Enemy entrou em contato contato com a Twitch Brasil em busca de um posicionamento e para questionar se a empresa ainda mantém relações com os responsáveis pela produção. Em nota, a empresa afirmou que "não irá se pronunciar sobre o caso".