Não é nenhum segredo que Anthem é um risco grande para a Bioware. Conhecida por seus RPGs com narrativas bem elaboradas e personagens marcantes, como as séries Mass Effect e Dragon Age, a produtora deixou fãs confusos e preocupados quando anunciou que seu próximo jogo seria um RPG de ação com grande ênfase na jogabilidade multiplayer.

Não ajudou muito o fato de que a Bioware pertence à Electronic Arts, publisher que ainda não conseguiu superar completamente o desastre que foi Star Wars Battlefront II e suas microtransações nada amigáveis – e, com esse fiasco ainda fresco na memória, boa parte da comunidade gamer ficou ainda mais desconfiada de que Anthem poderia ser apenas outro título impregnado de loot boxes.

Ao longo dos últimos meses, no entanto, Mike Gamble, produtor do jogo, e outros membros da sua equipe têm se esforçado para desconstruir a imagem que surgiu ao redor da nova IP – mostrando mais detalhes da rica história por trás do universo de Anthem e esclarecendo dúvidas pontuais da comunidade, como o fato de que o jogo não terá loot boxes ou passes de temporada.

Ainda assim, estamos a pouco menos de um mês da chegada de Anthem e algumas dúvidas persistem. A prova de fogo do jogo deve vir nos dois próximos finais de semana, quando a Bioware promoverá uma demo pública e uma demo VIP do jogo. Gamble, inclusive, insiste que quem ainda esteja incerto sobre Anthem, tire suas dúvidas durante a demo.

Em um evento na EA, nós tivemos a oportunidade de jogar antecipadamente boa parte do conteúdo de história que estará disponível na demo de Anthem, além de algumas missões da introdução do jogo e de parte de seu conteúdo de endgame, e contamos abaixo nossas impressões.

A história de Anthem gira ao redor do chamado hino da criação, uma força caótica utilizada por seres conhecidos como Shapers para a construção do universo em que os jogadores existem – o planeta em si ainda não recebeu um nome, mas a região é apelidada de Bastion.

Esses seres, no entanto, desapareceram antes de terminar a construção do mundo, o resultou em um universo instável, em constante transformação e mutação. Para piorar, relíquias imbuídas com essa energia caótica foram deixadas para trás pelos Shapers, com o potencial de criar eventos aleatórios e cataclismas ao redor do mundo quando são ativadas – gerando eventos como tempestades torrenciais ou até mutações das leis da física, como a inversão da gravidade.

Boa parte da história de Anthem será contada a partir de personagens do Forte Tarsis, fortaleza que abriga humanos dos efeitos climáticos destrutivos e das criaturas agressivas que habitam esse universo.

Os jogadores, por sua vez, farão parte de uma classe apelidada de Freelancers, grupo equipado de armaduras mecânicas apelidadas de Javelins – Lanças, em português – e que se aventuram além das muralhas do forte para cumprir contratos – como resgatar pessoas perdidas ou encontrar e desativar relíquias. É através destes contratos que fãs dos jogos single player da Bioware podem esperar que o equivalente à “campanha” de Anthem será contada.

A história de Anthem se inicia em um momento no qual os freelancers estão com a reputação em baixa, manchados após uma missão desastrosa que resultou na morte de uma boa quantidade deles.

Resta ao jogador recuperar a reputação de sua classe, entrando em contato com outras facções do mundo de Anthem e realizando missões resgatar a confiança nos freelancers. Ao mesmo tempo, uma nova ameaça apelidada de Domínio, um grupo belicista que deseja controlar o poder do Hino da Criação, também coloca a sobrevivência da população Forte Tarsis em risco.

Para quem esperava pelo clássico storytelling da Bioware, não há motivo para preocupação: Anthem tem uma trama rica o suficiente para interessar fãs de épicos de ficção científica com seu universo.

É verdade que, por ser uma IP nova, a trama pode ser um pouco intimidadora para quem pula no jogo pela primeira vez. Ainda assim, o jogo conta com um enredo bastante diverso de personagens carismáticos, que ajudam a explicar o universo do título e têm o potencial de desenvolver um relacionamento próximo ao jogador através de side quests – ainda que os tradicionais romances da Bioware estejam de fora desta vez.

Alguns personagens em especial, como o bem humorado Owen, assistente que está para o Freelancer como Jarvis está para o Homem de Ferro, e o Freelancer aposentado Haluk, não precisaram de muito esforço para nos conquistar e mostram que a Bioware não perdeu a mão na história apesar do foco multiplayer de Anthem.

Para quem quiser mergulhar mais ainda no universo do jogo, há também um Codex que reúne informações sobre eventos e criaturas descobertas ao longo da aventura, que mostra o nível de dedicação do time para o desenvolvimento do Lore da nova série.

Ainda assim, o foco é multiplayer

Mas mesmo com o universo complexo apresentado em missões principais e em side quests, Anthem é um jogo multiplayer – e não tem nenhuma vergonha de lembrar o jogador constantemente disso.

No tempo que tivemos com o jogo, experimentamos algumas missões em conjunto com outros jogadores e algumas missões solo. E, de fato, a experiência é bem mais divertida com um time completo de jogadores do que vagar sozinho pelas ruínas do jogo, acompanhado apenas da voz de alguns NPCs pelo rádio. Todos os sistemas do jogo são pensados para escalar a experiência multiplayer, não importa o nível dos jogadores que se reúnem, e matchmaking está disponível para todos os modos.

Isso porque Anthem brilha mais forte em um grupo de quatro jogadores, quando é possível se comunicar para coordenar ataques e aproveitar ao máximo a sinergia entre as quatros Javelins disponíveis no jogo: a Ranger, uma espécie de pau para toda obra; Colossus, um verdadeiro Hulkbuster especializado em armamentos explosivos; Storm, uma armadura com poderes elementais de eletricidade e gelo; e Interceptor, uma armadura ágil que pode entrar e sair de combate rapidamente e atacar inimigos com golpes corpo-a-corpo.

Dito isso, vale lembrar que é possível jogar Anthem sem outros jogadores em quase todos os momentos – à exceção do modo Freeplay, no qual o jogador pode explorar todo o mapa fora do Forte Tarsis livremente, e das Stronghold, missões de endgame similares às raids de outros jogos. Ainda assim, ao selecionar a opção de jogo “privado”, o próprio game sugere que o jogador volte para o matchmaking público através de uma notificação, relembrando que a experiência “ideal” de Anthem é multiplayer – uma insistência que fica bem chata após algumas partidas de jogo.

Quanto à jogabilidade, Anthem é bem familiar a jogadores de Destiny, com um combate que mistura armas comuns – como metralhadoras, pistolas, shotguns e outros armamentos –,  à habilidades especiais elementais de cada armadura – como descargas elétricas em áreas, explosivos que congelam inimigos ou granadas que incendeiam adversários e dão dano contínuo.

A grande novidade, no entanto, fica por conta da verticalidade dos cenários e do combate da Anthem. Todas as Javelins do jogo são equipadas com sistemas de voo ao estilo da armadura do Homem de Ferro, que podem ser ativados a qualquer hora durante o combate – tanto para fugir de uma situação complicada quanto para controlar o posicionamento dos inimigos.

Na prática, a jogabilidade lembra um pouco da agilidade que os irmãos Ryder tinham em Mass Effect Andromeda, capazes de ficar suspensos no ar por algum tempo para atirar de cima para baixo ou de se esquivar e se deslocar rapidamente pelo campo de batalha com seus propulsores.

Outro mérito de Anthem é não limitar o jogador a uma única Javelin ou obrigá-lo a investir em uma só armadura para evoluí-la. Todo jogador poderá escolher sua própria Javelin inicial em uma das primeiras missões do jogo, e poderá desbloquear as três outras após ganhar alguns níveis, gratuitamente.

As armaduras em si também não possuem um nível próprio, mas são evoluídas através de novos equipamentos de nível ou raridade maior descobertos em missões ou construídos através da forja. O jogador também ganhará equipamentos novos para todas as Javelins ao final de missões, não importa qual estiver usando durante o jogo.

Customização sem fim

Dado o fato de que jogadores de Anthem passarão a maior parte de seu tempo dentro da Javelins, a Bioware garantiu o máximo de granularidade possível para a customização das armaduras. E é claro que perdemos um bom tempo do nosso preview experimentando com cores e composições diferentes para nossas máquinas de guerra.

Antes de detalhar o sistema de customização de Javelins, vale dizer que o sistema de customização do seu personagem não é particularmente impressionante: jogadores escolhem apenas o sexo do personagem e o rosto através de alguns opções pré-definidas. Isso não chega a ser um problema, uma vez que o rosto do personagem mal é visto em Anthem – os trechos de jogo fora da armadura são sempre em primeira pessoa.

Quando chega na hora de se equipar para o combate, a customização é total: o sistema permite que o jogador seleciona cores diferentes para cada detalhe da Javelin, além da textura dos materiais que compõem a armadura: com aparência de borracha, cromada ou de metal escovado, por exemplo.

Também é possível trocar as “peças” – como braços, pernas e torso  – com diferentes designs e definir o desgaste da armadura, deixando-a com aparência antiga e enferrujada, suja ou novinha em folha. Além disso, uma série de animações de vitória, danças e gestos especiais também estarão disponíveis – para serem comprados na loja do jogo através da moeda comum ou de uma moeda especial comprada com microtransações.

Peocupação?

Após pouco mais de seis horas de jogo que tivemos com Anthem, vimos que o jogo combina uma jogabilidade online divertida com um mundo interessante o suficiente para agradar antigos fãs da Bioware.

Para quem quiser enfrentar o desafio todo sozinho, é bom ter a certeza que quase tudo está disponível no modo solo, ainda que ele não seja a experiência mais divertida do jogo.

É claro, o veredito final da competência da história criada pelo estúdio para a nova franquia, é claro, só poderá vir na versão final do jogo e com a evolução continuada do jogo – mais uma aposta de “jogo como serviço” da EA –, mas o tempo que tivemos foi o suficiente para mostrar que Anthem tem o potencial de abrir uma nova janela de possibilidades da Bioware e tem muito a acrescentar ao portfólio extenso do estúdio.

Anthem será lançado em em 22 de fevereiro para PlayStation 4, Xbox One e PC.