Fã de Cavaleiros do Zodíaco, tenho uma boa notícia para você: Alma dos Soldados é o melhor jogo baseado na obra de Masami Kurumada. Mas, antes que você se empolgue muito, também tenho uma má notícia: levando em conta a qualidade média das adaptações da saga dos cavaleiros de Atena nos games, a afirmação acima não é lá um grande elogio.

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Alma dos Soldados continua a progressão lenta e gradual da franquia nos games, inciada em Batalha do Santuário (2012) e ampliada em Bravos Soldados (2013). Esta evolução resulta no game de Cavaleiros do Zodíaco que nós queríamos desde o começo, já que, pela primeira vez podemos jogar todos os arcos da série clássica - aqueles que você acompanhou na televisão.

A história original de Cavaleiros está finalmente completa com a adição da saga de Asgard, arco exclusivo do anime que, apesar da pecha de filler, é melhor do que muita história original do mangá. Até dá para argumentar que a história não está adaptada na íntegra - faltam os episódios que levam à batalha das 12 Casas e vários personagens secundários -, mas as lutas mais importantes da história estão todas representadas no game, e, melhor ainda, podem ser selecionadas pelo jogador logo de cara. Ou seja, você não precisa passar pela saga do Santuário para conferir Asgard, por exemplo.

Daí a campanha começa e você percebe que os desenhos estáticos de Bravos Soldados foram substituídos por cutscenes. Ótimo! Mas a empolgação desaparece rapidinho, quando você percebe a completa falta de animação nestas cenas. Os cavaleiros ficam parados na maior parte do tempo e, quando há ação, ela é um pouco vergonhosa (não dá pra entender porque não usaram as CGs dos ataques de Big Bang aqui), e tome diálogo expositivo para explicar o que acontece na trama. Isso fica ainda mais evidente em Asgard, que, no anime, detalha muito bem a história dos Guerreiros Deuses em flashbacks - todos eles cortados do game.

Alma de Ouro

Soul of Gold não está no game, mas você pode jogar com as armaduras divinas estreadas do recém-finalizado anime. O modo Batalha de Ouro gira em torno delas, com batalhas isoladas que colocam os cavaleiros dourados em embates que, até então, só existiam na imaginação dos fãs: e se Aiolos enfrentasse seu algoz Saga, ou Shaka medisse forças contra Shun usando a armadura de Virgem? Aqui, a estrutura travadona das cutscenes funciona melhor, pois eles são apenas diálogos que dão contexto a estes combates.

A jogabilidade teve algumas novidades pontuais, como a adição de combos aéreos, o mas o combate é o mesmo de Bravos Soldados, o último game produzido pela Bandai Namco. Ainda que o ponto forte dos games de Cavaleiros (e dos títulos de anime em geral) esteja no conteúdo, isso acaba se tornando um problema a longo prazo, pois as lutas acabam ficando repetitivas e sem desafio em algum momento.

Me dê sua força, Pégaso

Sem dúvida, um dos principais atrativos de Alma dos Soldados é a localização, com as vozes clássicas do anime fazendo sua estreia nos games da franquia. Eleger a dublagem brasileira como o melhor motivo para conferir um novo produto de Cavaleiros têm sido praxe nos últimos anos, mas isso aplica de forma ainda mais contundente a Alma dos Soldados. É impossível não abrir um sorriso ao ouvir Hermes Baroli, Letícia Quinto e companhia já nos menus, ou não se empolgar com os vozeirões de Leonardo Camilo Gilberto Baroli após soltar aquele Ave Fênix ou uma Explosão Galáctica no inimigo.

Mesmo com algumas mudanças - algumas, inevitáveis, como a de Maralisi Tartarini (dubladora da Shina, falecida no ano passado), outras ausências sentidas, como as de Marcelo Campos (Mu) e Sidney Lilla (Shido) -, boa parte do elenco se mantém o mesmo e representa seus personagens com maestria, mesmo enfrentando um processo de gravação bem mais difícil e duradouro, já que games exigem o registro de frases avulsas que deixam o dublador muito mais tempo dentro do estúdio.

Com uma progressão de conteúdo que vêm sendo construída há mais de três anos, Cavaleiros do Zodíaco: Alma dos Soldados é, finalmente, o jogo do anime que o fã sempre sonhou. Ainda que o título passe longe de dominar o sétimo sentido da jogabilidade, está formada uma base sólida para a equipe da Bandai Namco continuar trabalhando em cima e, quem sabe, transformar CdZ em uma das principais marcas da empresa também nos videogames.

Nota do crítico