Era a minha décima partida em FIFA 15. Eu era o Barcelona, a máquina Manchester United. Até ali, só tinha vencido uma vez, empatado outras cinco e perdido o restante. Àquela altura, estava empatando um jogo que parecia perdido, pois o adversário largou com dois gols na frente. Em um pênalti cometido sem querer (como outros vários), porém, os deixei voltar à dianteira do placar.

De repente, sem que eu faça qualquer tipo de configuração, meu time inteiro vai para frente e começa a atacar de forma opressiva. Os jogadores adversários estão claramente mais nervosos, fazem faltas e reclamam com o juiz. Faltando cerca de cinco minutos para o cronômetro chegar aos 90 minutos, perco a bola no meio campo e Di María, o atacante do inimigo, parte em direção à minha zaga, que agora está com um defensor e um goleiro. E aí o surpreendente acontece.

O argentino, como se soubesse do meu fraco contra catimbeiros, decide não fazer o gol, mas levar a bola para a linha de fundo e protegê-la rente à bandeira de escanteio. Ele quer que o tempo passe. Ele quer vencer o jogo. Ele quer me irritar. Ele age da mesma maneira que vi vários atletas agirem no final de uma partida (real) difícil - e diferente de todas as outras nove que eu havia jogado até ali. Ele sentiu o jogo. Ele sentiu o que precisava fazer. E, se pudesse, ele sentiria a raiva genuína que tive ao ser derrotado de uma forma humana por uma máquina.

Momentos como esse conseguem resumir as novidades boas e ruins do novo jogo da Eletronic Arts. As mudanças mais significativas para essa edição estão focadas na emoção, na reação dos jogadores. Por outro lado, a nova física aplicada aos atletas e à bola trouxeram um desequilíbrio em outras áreas do game, como as faltas e, consequentemente, a arbitragem. Entre esses prós e contras, FIFA 15 mantém o nível de seus antecessores, mas mostra que a evolução trazida pelos novos consoles carrega desafios à franquia - há melhorias para serem feitas como não se via há alguns anos.

As mudanças

Na prática, FIFA 15 pode ser considerado o início do futebol digital na nova geração de consoles. A diferença gráfica para o seu antecessor é a maior dos últimos anos. O gramado é desgastado de forma detalhada, a torcida reage com acenos e movimentos coletivos, sem contar nos modelos mais afinados de todos os jogadores - não há aquela barriga ou excesso de roupa característica. A apresentação segue o padrão da série, mas muda alguns quesitos táticos que ajudam na rapidez da edição do time, por exemplo. O menu está mais rápido e com artes mais expositivas. É mais fácil mexer na formação e escolher a estratégia antes da partida começar. Outra melhoria bem-vinda é a evolução da IA dos goleiros, agora sempre posicionados de forma coerente e espalmando de forma mais real, por pior que seja a situação.

Não é difícil notar também que o game está mais rápido. O jogo está mais rápido, tanto no ritmo do toque de bola quanto na recuperação dos atletas. Em FIFA 14, por exemplo, era complicado perder uma bola e voltar à disputa, alguns preciosos segundos eram gastos nesse movimento de retorno. Agora, para melhorar isso, a EA deixa o jogador mais maleável e reativo. Na verdade, a resposta é quase imediata. Isso acarreta em alguns problemas, entre eles o impacto (quase sempre) faltoso entre os atletas. Com a "ajuda" de uma arbitragem super rigorosa, FIFA 15 se torna, ao menos em seus primeiros momentos, uma festa de faltas e encontrões entre jogadores.

A liberdade cada vez maior que a EA dá nos controles, torna o usuário muito responsável pelas ações. Na edição desse ano, não é aconselhável, por exemplo, correr a esmo no campo. Caso um adversário esteja parado e acidentalmente você encoste nele, dificilmente não levará um cartão. Há quem diga que a punição é válida pela imprudência (outros dirão que é um bug mesmo). No entanto, nesse momento é que a simulação impacta na diversão, atrapalhando o entretenimento. Mesmo "pegando o jeito", fica notório o desequilíbrio entre a física usada para as colisões e a arbitragem desregulada. Esse é o primeiro desafio da EA na nova geração: achar o ponto ideal entre essa "liberdade de controle" e a mescla entre simulação e arcade que marcou a franquia nos últimos anos.

Hora de mudar

A melhor novidade nos modos de jogo é poder emprestar um atleta no Ultimate - fica menos arriscado comprar certas cartas e dá pra testar mais gente. Há também a melhoria nos atributos do Match Day, que agora mostra antes das partidas a situação dos jogadores. A narração de Tiago Leifert e Caio Ribeiro continua a aproveitar as peculiaridades brasileiras e torna a experiência melhor com atributos da nova geração. A dupla conta histórias, interrompe o papo em um lance perigoso e depois volta a contar o causo. O mesmo ocorre com Martin Tyler e Alan Smith, tão eficientes quanto os narradores nacionais.

Não há como esquecer da notável ausência dos clubes brasileiros. Por mais que digam que não há importância nisso (pois a maioria usa times estrangeiros), não tê-los é um defeito do pacote - eu, por exemplo, gosto de ter a opção de fazer um modo de treinador com meu clube do coração. Questões burocráticas à parte, os dois lados (game e clubes) perdem com isso - um pelo lado regional, o outro pela internacionalização da marca.

FIFA 15 traz o mesmo pacote eficiente de sempre. Nas entranhas desse material há uma nova etapa da série, que lidera sem preocupação o setor, mas terá que se mexer para manter a dianteira folgada. Assim como boa parte das desenvolvedoras, a EA ainda está entendendo Xbox One e PlayStation 4 e mostra aqui o primeiro resultado de um estudo profundo. Para 2015 há o que mudar de fato, não só melhorar, como era feito na última década. O jogo mudou.

Nota do crítico