Aquele relacionamento com data de validade, em que os dois lados envolvidos sabem que vai chegar ao fim em algum momento, mas nenhum deles toma uma decisão a respeito até chegar em um nível insustentável: assim pode ser resumido o ciclo de Ranger pelo Flamengo.

A passagem do caçador pela equipe rubro-negra, inclusive, ficou marcada mais pelas polêmicas do que pelas boas atuações em Summoner's Rift. Além disso, o pro player talvez tenha sentido na pele um tipo de pressão que nenhum outro profissional do cenário de League of Legends (LoL) sofreu ao longo dos últimos anos.

Antes de tudo, é preciso contextualizar a forma e a situação como Ranger chegou ao Flamengo. No fim de 2019, ele era tido como um dos melhores caçadores do competitivo nacional, embora não tenha conquistado títulos com a KaBuM nos dois splits daquele ano. Inegavelmente, Ranger também representava uma excelente opção do ponto de vista do custo-benefício, já que era agente livre e poderia ser contratado sem custos. Logo, a chegada dele ao time vermelho e preto, doa quem doer, fazia sentido.

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Ranger (Foto: Bruno Alvares/Riot Games)

O grande problema, no entanto, foi o peso de substituir Shrimp. O sul-coreano era (e continua sendo) um dos principais ídolos da torcida rubro-negra na modalidade, uma vez que conseguiu disputar duas finais do Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLoL) e ser campeão em uma delas inegavelmente como o melhor jogador daquela edição da competição. Isso, portanto, elevou as expectativas em relação a Ranger.

Ainda assim, vale pontuar que Ranger, em comparação individual e de mecânica, não devia nada para Shrimp naquele momento. Só que, bem como ocorre muitas vezes no futebol, as boas memórias costumam vir à tona quando algo no presente não dá certo. E a sombra do caçador sul-coreano nunca deixou de estar presente nos arredores da Gávea ou do gaming office rubro-negro em São Paulo, seja pelos torcedores ou pela própria diretoria que, assim como dito por Ranger em participação no Combo Podcast, dá muita ênfase à opinião externa.

Para unir o útil ao agradável, a falta de títulos e os frequentes confrontos com a torcida minaram todas as possibilidades da continuidade de Ranger no Flamengo. Com somente um vice-campeonato em quatro etapas disputadas vestindo a camisa rubro-negra, a verdade é que o caçador não cumpriu nem suas ambições, quanto tampouco o propósito da organização de vencer, vencer e vencer.

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Ranger (Foto: Bruno Alvares/Riot Games)

Em função disso, é justo somente Ranger ser culpado pelas más campanhas do Flamengo nos últimos splits do CBLoL? Claro que não. Mas dada a personalidade forte de uma figura representativa dentro da comunidade junto com a esperança de que no fundo ele poderia render mais tanto dentro, como fora do jogo, a responsabilidade positiva ou negativa indiretamente caiu sobre os ombros dele.

No fim das contas, Ranger nunca conseguiu ser o cara do Flamengo e o Flamengo nunca conseguiu ter a cara do Ranger. Todas as tentativas do pro player de passar uma imagem condizente com o que é ter o DNA rubro-negro, desde demonstração de dedicação até soberba, acabaram caindo por terra a partir dos comportamentos polêmicos dele.

A gestão da organização, por sua vez, seguiu uma confusa linha de atitudes que chegou a colaborar para que a própria torcida, em alguns bons momentos, se virasse contra o time. Na junção dos fatores, o ambiente entre Flamengo, Ranger e torcida chegou ao previsível fim de uma conturbada relação ruim para todos os envolvidos.