A MIBR como a conhecemos acabou. Dois dos maiores medalhões da equipe - fer e TACO - foram dispensados por ordem da própria organização juntamente com dead, enquanto FalleN, que completa o trio bicampeão de Major, pediu para ficar no banco de reservas. Restaram apenas trk e kNg, que também já demonstraram descontentamento com os cortes.

Em meio a essa frustração dos jogadores, brincadeiras com o que seriam uma The Last Dance - referência ao documentário de Michael Jordan na Netflix - começaram a surgir nas redes dos jogadores, principalmente por meio de Lincoln “fnx” Lau.

Ainda que o cenário de CS:GO seja repleto de “baits”, a situação ficou um pouco mais sério após Buyaka, fundador da Luminosity Gaming, anunciar que faria uma reunião para discutir esse reencontro caso atingisse 20 mil seguidores no Twitter.

Sem surpresa nenhuma, a meta foi batida com facilidade, abrindo portas para que o improvável retorno da line-up bicampeã mundial aconteça.

Por mais nostálgica que seja, entretanto, essa proposta traz consigo uma série de problemas, que vão desde à expectativa quanto ao desempenho desses jogadores, quanto à similaridade que ela traz com outras situações pelas quais FalleN e cia. já passaram.

Organizações x Brasileiros

Os desentendimentos entre os times comandados por FalleN e as organizações por eles representados não são nenhuma novidade: o time se envolveu em polêmicas já na troca de Luminosity Gaming para SK Gaming, ainda em 2016.

Na época, os jogadores haviam assinado carta de intenção para renovar seus contratos com a organização norte-americana, com seus salários e condições de trabalho já bem estabelecidos. Dois meses depois, entretanto, os alemães da SK Gaming entraram em contato para negociar a transferência.

A novela entre Luminosity e SK se estendeu por meses: alguns jogadores do elenco negociaram individualmente com a organização alemã, “pelas costas” de Buyaka - o mesmo que quer ver o renascimento da equipe -, levando a uma série de situações desconfortáveis que culminaram em uma transferência conturbada.

Mesmo que a SK fosse de origem europeia, FalleN e cia. seguiriam em Los Angeles como parte do cenário norte-americano, e teriam direito a utilizar as instalações da SK na Alemanha para fins de treinos e bootcamp.

Em 2018, mais uma intriga entre os jogadores e sua própria organização. Com uma série de manifestações, os players da SK Gaming mostravam que estavam descontentes com sua atual participação na equipe.

A gente está em conflito com a SK, todo mundo já sabe disso, está sendo muito difícil para o time. Nós não recebemos o suporte da organização que a gente precisava para treinar, por isso jogamos campeonatos menores para ter esse apoio”, desabafou coldzera em reportagem do TechTudo da época.

No ESL One de Belo Horizonte, a briga já era mais do que pública: Stewie2K subiu ao palco usando a camisa da Immortals - organização proprietária da tag MIBR -, enquanto cold chegou a pichar o logotipo da IMT após vencer um round.

Agora, mais uma briga pública com a organização: nenhum dos jogadores da equipe se contentou com o corte de seus companheiros, e todos eles foram bem vocais com relação a isso. Os únicos que não se posicionaram de maneira mais incisiva foram justamente fer e TACO, mas ambos já indicaram que poderão falar mais sobre o caso após resolver questões pendentes com a MIBR/Immortals.

Os três casos ainda denotam certa arrogância da equipe em lidar com questões fora do servidor. 2020 chega como um grande fator corroborante para esse ponto, com todas as polêmicas envolvendo a partida contra a FURIA, as acusações feitas contra a Chaos e as defesas desesperadas contra o abuso de bug realizado por dead.

Há esperança dentro de jogo?

Reprodução/HLTV

Problemas com organizações à parte, a torcida brasileira já estaria bastante satisfeita se a icônica line-up conseguisse atuar em alto nível mais uma vez. A recente derrocada da MIBR e, até mesmo, a má fase da FaZe Clan, não dão tanta esperança nesse aspecto.

Antes de tudo, é preciso falar sobre os projetos saudosistas no CS:GO. O exemplo mais recente é da Dignitas, que juntou jogadores históricos em uma line-up que, desde o início, não parecia nada promissora. Sem apresentar bons resultados e fora do Top 30 do HLTV, a organização anunciou recentemente que colocaria GeT_RiGhT e Xizt no banco de reservas.

Na verdade, o retorno triunfal de players lendários quase nunca funcionou bem no Counter-Strike: Maikelele, screaM, kioShiMa, NEO e TaZ são apenas alguns dos nomes vencedores que já se envolveram em novos projetos - nenhum deles com sucesso.

Sendo justo, a Fnatic trouxe talentos antigos de volta ao seu elenco e obteve sucesso: flusha e Golden fizeram parte do título da DreamHack Masters em Malmo, mas mesmo esse caso possui algumas ressalvas. A line-up já contava com KRIMZ, que foi Top 20 HLTV em 2018 e 2019, e Brollan, que com apenas 18 anos já possui bastante destaque internacional.

Dito isso, os números já mostram que FalleN, fer, coldzera e TACO podem estar na fase descendente de sua carreira. Todos possuem ratings decrescentes no HLTV, com algumas particularidades em cada caso.

Entre os quatro, FalleN é o que possui uma carreira mais consistente. Apesar de alguns altos e baixos, o jogador não fica tão distante da performance que obteve no auge da Luminosity e SK Gaming.

O mesmo não pode ser dito dos outros três, principalmente de coldzera, que teve uma baixa gigantesca nos últimos meses - coincidente com a grande queda de rendimento que a FaZe Clan vem enfrentando.

O quinto player da line-up seria fnx, o único que se manteve afastado do cenário internacional de CS:GO. Atualmente na Imperial, o jogador também não apresenta os mesmos números que teve no auge de sua carreira, apesar de já ter conseguido alguns bons resultados no CS:GO brasileiro.

Sucesso midiático

Divulgação/ESL

No fim das contas, FalleN e cia. se encontram em uma clássica encruzilhada de viver tempo o suficiente para se tornar o vilão. É quase certo de que, caso realmente aconteça um The Last Dance, o sucesso mercadológico será imenso, dada a força que a torcida brasileira possui.

Mesmo em fase terrível, sofrendo para vencer times de baixo escalão da Europa, a MIBR atingia números altíssimos de audiência, quase sempre comparáveis ou maiores aos da ESL Pro League, por exemplo.

A quantidade de espectadores também sempre foi mais alta em relação à rival FURIA, que está apresentando bons resultados em 2020 mas ainda não consegue chegar perto da influência da MIBR.

A título de comparação, a maior audiência na história da Twitch brasileira foi de Gaules durante uma final entre MIBR e Evil Geniuses, que chegou a 393 mil espectadores simultâneos mesmo com derrota dos brasileiros. A FURIA já venceu dois campeonatos no período de quarentena (DreamHack Masters e DreamHack Open) e em nenhuma dessas finais chegou perto dos 300 mil espectadores.

É fato que o engajamento seguirá onde quer que FalleN vá, e isso por si só pode atrair grandes organizações do esporte eletrônico internacional. Para o torcedor, entretanto, a garantia de que uma boa fase finalmente chegará é quase nula.

Talvez a solução mais óbvia seja justamente seguir caminhos diferentes. O próprio TACO encontrou grande sucesso na Team Liquid, time que subiu de patamar após a chegada do brasileiro em 2018. TACO, inclusive, vinha de uma fase ruim na SK, o que não o impediu de levar a Cavalaria para uma sólida posição de número 2 no mundo.

Reprodução/HLTV

Um exemplo similar pode ser aplicado à G2, que finalmente conseguiu sucesso após se desapegar de medalhões franceses e investir nos talentos de nexa e huNter. A saída de shox acabou sendo boa para os dois lados: o jogador atualmente está no topo do ranking mundial com a Vitality, posto que foi ocupado pela G2 há poucos meses.

Outro caminho poderia ser o de recrutar os melhores talentos do CS:GO brasileiro para formar um supertime, mas mesmo essa opção parece inviável: a FURIA está mais encaixada do que nunca, com todos os cinco jogadores tendo momentos de brilhar. O mesmo pode ser dito da BOOM, que encontrou seu ritmo no cenário brasileiro e dificilmente abriria mão de um projeto estável para se arriscar.

Isso sem falar na ausência de um técnico para o projeto: zews, que levantou as taças de Major junto do elenco, está em excelente fase da Evil Geniuses e já havia deixado algumas críticas sobre a mentalidade dos jogadores quando se despediu da MIBR. Desde então, o time seguiu com dead - que já era manager do time - como coach e afastou possibilidades de contratar um analista.

É claro que não há saída fácil para a MIBR. Manter um elenco que já mostra sinais de defasagens pode não valer o risco, ao mesmo tempo que o time pode não estar disposto a se separar de vez. Resta aguardar os próximos episódios da novela para saber qual será o caminho escolhido pelos jogadores.