"Passo a passo" e "sem pressão". Esses foram os conceitos cruciais que tornaram possível a grande evolução da GODSENT de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO), segundo felps. O jogador concedeu uma entrevista exclusiva ao The Enemy e falou mais sobre a criação do time, o começo difícil, a ascensão e também a classificação para o PGL Major Stockholm 2021.

O chamado de Deus

O primeiro contato entre felps e sua equipe atual aconteceu por intermédio de dead, em meados de novembro de 2020. Na época, mesmo em boa fase com a BOOM, felps pesou as decisões que tinha para tomar e escolheu ir em direção a nova aventura. 

"Desde o começo o projeto era criar uma line-up nova, buscar uma organização e disputar tudo que desse fora do Brasil. Já no início queríamos contar com essa molecada prodígio e o dead mencionou o nome do dumau, que eu também considerava um bom jogador. Eu acreditei na proposta pois achava que o time seria melhor, as oportunidades seriam maiores e eu também não queria que acontecessem algumas possíveis coisas que eu estava com medo. Então eu puxei o latt0 e o b4rtin, os caras chamaram o dumau e assim foi montado o time. Hoje creio que tenha sido a melhor escolha pra mim", falou felps enquanto relembrava do passo.

Como esperado, o início não foi tão simples. A recém-montada line-up fez algumas exibições bem mornas e mostrou que ainda faltava entrosamento, um trabalho maior em cima do map pool e mais. Algo totalmente esperado, mas que não impediu os fãs mais imediatistas de aparecerem para criticar. Críticas, no entanto, que não chegaram ao grupo, que soube bem como se fechar e trabalhar em silêncio.

"Mesmo com os resultados negativos do começo do projeto, a gente tinha em mente que neste ano montaríamos uma base sólida para só no ano que vem vir com tudo. Então, apesar das críticas e tudo mais, nós conseguimos nos blindar e fugimos dos holofotes. Por conta do Plano, FURIA e etc que estavam mais em alta, isso ficou até mais fácil e poucas críticas chegaram até nós. Acho que nem lembravam tanto assim da gente."

Apesar dos primeiros passos sendo dados com dificuldade, não demorou muito para o elenco entrar no ritmo: "Sabíamos do nosso potencial e só precisávamos de tempo para criar casca e foi exatamente isso que foi acontecendo. Acho que nós até superamos nossas expectativas para 2021, pois não planejamos tudo isso", disse felps.

De acordo com felps, para que esta mudança positiva pudesse acontecer, dois pontos importantíssimos foram postos em prática.

"Em primeiro lugar, somos um time que treinamos muito, ou seja, sempre revemos o tático, nos apegamos muito aos detalhes e nos cobramos muito. Quando juntamos isso ao fator confiança, pois temos players muito bons, já era de se esperar que acontecessem coisas boas", falou felps. "Éramos um time novo e tudo que precisávamos era ganhar um campeonato, como aconteceu contra a Extra Salt, que vencemos e começamos a acreditar mais em nós mesmos", acrescentou.

GODSENT/Reprodução

Enviados por Deus rumo ao Major

Com treino e confiança em dia, a GODSENT só precisou entrar na IEM Fall NA com a mentalidade certa para conquistar a vaga.

"O que fizemos para conseguirmos esta vaga no Major e superar as outras equipes foi não colocarmos pressão em nós mesmos. Desde o começo a mentalidade é que estávamos lá só para atrapalhar os outros times e, conforme começamos a vencer, vimos que realmente dava. Mas ainda assim não criamos muitas expectativas e jogamos todos jogos tranquilos e relaxados para dar nosso melhor. Este foi um grande diferencial para nós", revelou felps.

Durante a própria IEM Fall NA, a GODSENT foi capaz de superar grandes equipes. Até mesmo a favorita Team Liquid eles eliminaram para chegar na grande final: "Mérito grande da nossa molecada", disse felps sobre vitória diante de FalleN e companhia. "Foi bem legal pois vimos que podemos ir muito longe", completou.

As únicas derrotas que sofreram foram para a FURIA, tanto na fase de grupos quanto na decisão do título.

Para felps, o grande desafio de enfrentar a FURIA está na forma exótica que eles jogam: "O complicado contra a FURIA é se adaptar ao estilo de jogo bagunçado deles. Eles põem muita bagunça durante o jogo e a gente acaba se perdendo às vezes. É difícil jogar contra eles, mas da mesma forma que não fomos bem nessa final, fomos na qualificatória da IEM Winter. Creio que isso vai muito de como começamos as partidas contra eles e passamos a entender o que está acontecendo. A chave é não deixar eles se imporem pra cima de nós", explicou.

GODSENT/Reprodução

Passo a passo de uma estrada para percorrer

O Major será a maior prova de fogo que a GODSENT já enfrentou junta. Para os jovens dumau, b4rtin e latt0, será a maior da carreira. É por isso que, apesar de terem que enfrentar adversários bem fortes, o foco dos brasileiros continua neles mesmos.

"Nosso maior desafio neste Major será nós mesmos. Precisamos controlar a ansiedade, abaixar a pressão, ainda mais por ser a primeira LAN da molecada… Teremos que superar todas essas adversidades, mas creio que se conseguirmos vamos nos sair muito bem. Quanto aos adversários, é Major, todos são perigosos e tem seu mérito por estar lá."

Ainda assim, felps acredita que seus jovens companheiros tem tudo o que é preciso para se manterem tranquilos durante as partidas do maior campeonato do ano.

"Nossas jovens estrelas são estrelas que querem muito aprender e escutam bastante, o que facilita muito nosso trabalho. Tem muito moleque por aí que acha que já está no auge do mundo e acabam não escutando. Além disso, nosso clima é muito saudável nas discussões e dificilmente 'tretamos' ou discutimos algo de forma mais séria. Nós costumamos levar as coisas sempre como aprendizado", contou felps.

Quanto ao próprio felps, ele não esconde a satisfação de estar volta...

"Voltar ao Major é algo único pra mim, eu comemorei demais esta vaga. Apesar do time não colocar pressão em si mesmo, admito que eu estava fazendo contas enquanto a gente jogava para ver se era possível. É um campeonato que eu com certeza ficaria bem chateado se a gente não tivesse se classificado. É bom demais estar de volta e muito significativo jogar o Major."

Com este mix de experiência e diamantes a serem lapidados, a GODSENT chega ao Major sem objetificar pretensões, ao mesmo tempo que trabalha sério para vencer qualquer um, da mesma forma que fez durante o RMR. Em vários momentos da entrevista, felps fez questão de lembrar que o projeto é a longo prazo e prefere não pular nenhuma etapa. O que vier a mais, como a própria vaga em Estocolmo, é lucro.

"Nós queremos sim dar títulos para o Brasil, colocar nosso país no topo novamente e conquistar toda a torcida, mas sempre aos poucos", afirmou felps. "No momento não quero a pressão de achar que já devemos ser top 1 em pouco tempo ou algo do tipo. Nosso trabalho é passo a passo", concluiu.

GODSENT/Reprodução

O passo a passo da GODSENT no Major começa na próxima terça-feira (26), diante da ENCE. O PGL Major Stockholm 2021 de CS:GO acontece entre 26 de outubro e 7 de novembro. Por lá são 24 equipes em busca do título mais importante da modalidade, além da maior parte da premiação de US$ 2 milhões - cerca de R$ 11 milhões.