Malbs é o único jogador da Team oNe de Counter-Strike: Global Offensive, que não é brasileiro. Natural da Guatemala, o jovem de apenas 18 anos mostra grande paixão pelo CS:GO e tem como ambição "ser o FalleN do seu país". Ao The Enemy, o Golden Boy contou sua trajetória até aqui e como pretende atingir seu grande objetivo.

O início de tudo para Malbs

Malbs conheceu o Counter-Strike em meados de 2008 e 2009 por conta do seu pai, que jogava em casa ainda contra BOTs. Ele conta que sua primeira partida online foi apenas em 2011 e só começou no CS:GO em 2013, mas jogava pouco porque todos seus amigos ainda preferiam o CS 1.6.

Segundo o guatemalteco, a coisa toda ficou mais séria somente em 2015, quando ele participou da seleção da Guatemala no World Championship, venceu El Salvador, mas foi freado em um duro 16 a 1 para Canadá, sendo o único ponto do seu país um ACE dele mesmo.

"Minha família nunca teve muito dinheiro. Quando eu jogava era com um PC que oscilava entre 70 e 100 de FPS. Quando joguei aquele campeonato, pensei comigo mesmo: 'Se nessas condições baixas eu já consigo jogar bem, acho que posso fazer mais se investir nisso'", disse o jogador.

Além do computador que não era dos melhores, Malbs lembra que teve mais um obstáculo dentro de casa. Quando ele contou aos pais que queria ser jogador profissional, seu pai ofereceu apoio incondicional, enquanto a mãe, por desconhecer o mundo dos esports, foi completamente contra.

"Lembro que uma vez eu iria jogar uma LA League e ela não queria me deixar viajar com o time porque achava que aquilo tudo era falso e que algo poderia acontecer comigo. Foi muito difícil convencê-la de que eu poderia ter uma carreira nos esports. Eram muitas perguntas sobre quem estava pagando, qual era o sentido disso e etc. O meu pai ajudou bastante nisso, a acalmou e deixou claro pra mim, de novo, que era para eu seguir meus sonhos", relembra.

Na contramão, Malbs tem grandes planos para o futuro

Em 2019 o jogo virou para Malbs, que na Full Send, pela primeira vez, recebeu um salário para jogar CS:GO: "A minha mãe adorou o fato de eu conseguir trabalhar de casa e receber meu dinheiro. Hoje em dia ela é minha maior fã e vive compartilhando tudo que posto no Twitter e Facebook".

A reação inicial da mãe de Malbs é completamente compreensível. Afinal de contas, a Guatemala tem na sua principal fonte de renda a agricultura, que emprega mais da metade da população. Até hoje o país não tem grande tradição no esporte eletrônico, o que dirá em 2015 quando o jogador da Team oNe iniciou a conversa com seus pais sobre se profissionalizar no meio.

Em uma espécie de contramão do próprio país, Malbs ainda sonha que a Guatemala possa se tornar uma potência no futuro. E é ele próprio que quer tentar iniciar este movimento por lá, com ações e projetos, no melhor estilo Verdadeiro. 

"Eu admiro muito o FalleN e quero ser o FalleN do meu país", cravou Malbs. "Assim como ele foi no Brasil, eu quero ser na Guatemala o cara que começou com tudo isso [esports]. Alguém que todos admiram e que as crianças possam enxergar um futuro nos esports e correr atrás disso pensando em mim, pois se eu consegui todas elas podem também", completou.

Ele também revelou um pouco da caminhada de como pretende chegar até isso: "Eu quero começar aos poucos, mas já estou apoiando meus amigos que estão nesta luta para crescer no CS também. Dou dicas sobre o jogo e também sobre como entrar numa equipe profissional. Quando eu evoluir ainda mais, gostaria de criar um projeto semelhante a Games Academy para as pessoas da Guatemala."

Apesar deste desejo e objetivo de vida, Malbs nunca conversou com FalleN a respeito do assunto. Mas isso é algo que ele gostaria sim de compartilhar com o brasileiro.

"Eu gostaria de conversar com o FalleN algum dia... Pedir algumas dicas de  como ele fez a Games Academy e em quanto tempo ele planejou o projeto, pois é algo a longo prazo. Também gostaria de saber como ele fez dar certo, pois tem muita gente fazendo muita coisa, mas a maioria infelizmente não dá certo. Outro ponto importante é como ele conquistou tanta confiança das pessoas, pois é algo que preciso conquistar no meu país."

malbs team one
Malbs em atuação pela Team oNe (Foto: ESL)

Foco na Team oNe e no Brasil

Enquanto o tal papo não acontece e o projeto não sai do papel, o grande foco de Malbs está realmente na Team oNe. Às gargalhadas, ele conta que foi chamado para o time após "amassar" B4rtiN e pesa em um pug e fazer um teste na vaga deixada por trk, que na ocasião estava de saída para o MIBR.

"No início foi difícil pois eu não falava nada de Português", se recorda Malbs. A primeira palavra que aprendi foi 'salve' [risadas]. Três dias depois já tinha um campeonato e eu me esforcei muito para aprender o nome das posições no mapa que eram todas diferentes pra mim. Teve uma situação engraçada com o B4rtiN que eu comecei a falar espanhol e ele não entendia nada, foi o pesa que ajudou na tradução, tudo isso no meio do torneio. Foi uma loucura! Mas felizmente deu tudo certo e eles gostaram bastante de mim", adicionou.

De acordo com Malbs, foram aproximadamente dois meses ou um pouco menos para a comunicação ficar mais fluida dentro de jogo. Ele não chegou a ter nenhuma aula, mas afirma ter se esforçado bastante durante os treinos, lendo e até escutando música, para se familiarizar com a língua materna do Brasil.

"O que eu costumava ouvir no início era MC Kevinho, nem lembro como eu conheci, mas foi o que comecei a ouvir", contou rindo. "Já as posições que eu mais esquecia era miolo na Nuke, janela na Mirage e árvore e tavares na Inferno. Quando esquecia falava em Inglês mesmo e depois eles me relembravam. Quando moramos juntos na Polônia, eu percebi que já estava muito melhor e falando e entendendo bem."

Segundo ele, o foco também está na torcida brasileira que o abraçou desde que entrou para a T1. Durante a entrevista, ele recordou que tinha apenas 400 seguidores no Twitter e hoje conta com mais de 8,5 mil, sendo a esmagadora maioria brasileiros.

"Eu tenho recebido muitas mensagens com as pessoas falando que gostaram de mim e outras dizendo até que eu já sou brasileiro pois gosto de zoar e brincar com todo mundo. Eu sempre dou muita risada com tudo isso e gosto bastante. Sobre cobranças, eu realmente não tenho recebido muitas. Só lembro de um brasileiro me cobrar, pois quando jogamos contra O Plano eu atirei no corpo do vsm [risadas]. Ele disse que eu não era ninguém comparado ao vsm e eu apenas li e achei engraçado."

O próximo capítulo...

Com apenas 18 anos, muito potencial, um objetivo gigante pela frente e um baita caminho a percorrer, Malbs terá o próximo capítulo de sua carreira nesta semana, na quarta-feira (1), quanto a Team oNe estreia pela ESL Pro League Season 14, no Grupo D, às 8h30, diante da Gambit.

Além de Team oNe, Gambit, FURIA, Team Liquid e Ninjas in Pyjamas também estão no grupo. Entre todos eles, apenas três avançam de fase.

Para acompanhar a competição, basta acessar o canal de Gaules, na Twitch.