Poucos conhecem tão bem a frustração de quase conseguir um grande título quanto a Team Liquid. O time de Counter-Strike: Global Offensive foi um sólido número 2 durante quase toda a temporada de 2018, sempre esbarrando nos dinamarqueses da Astralis. Em 2019, com a adição de Jake "Stewie2K" Yip no lugar do brasileiro Epitácio "TACO" de Melo, a equipe já conquistou um título no iBUYPOWER Masters IV, mas foi derrotada nas quartas do Major de Katowice para a surpreendente ENCE.

Jonathan "EliGE" Jablonowski, que está no elenco desde 2015, acredita que esse ano pode ser diferente: "Nós conseguimos um pouco mais de fogo. Stewie traz um pouco a mais em termo de ânimo para o time. Ele gosta de levantar da cadeira e gritar, e acho que isso é bastante positivo para nós".

A experiência de Stewie2K na MIBR também fará a diferença, na opinião de EliGE: "Eles tiveram vários jogos bastante apertados com a Astralis. Não parecia tão difícil para eles quanto parecia para nós. Nós vencíamos algo como cinco ou sete rounds, mas quando a MIBR joga contra a Astralis, eles podem vencer a série, eles podem ter jogos super-apertados. Acho que Stewie tem um ótimo combustível jogando contra a Astralis, e ele também tenta encontrar os buracos em qualquer time que nós enfrentamos".

Dentro do jogo, tanto EliGE quanto o próprio Stewie concordam que a nova adição é mais agressiva em comparação a TACO. Entretanto, uma diferença de atitude também chama bastante a atenção: "Eu tomo mais iniciativas, gosto de usar minha própria voz e dizer às pessoas o que fazer em alguns momentos", conta Stewie.

EliGE pensa de maneira similar, dizendo que "Stewie é mais vocal em decisões no meio do round. Acho que essa atitude vem por conta das posições em que ele joga, que são bem mais ativas do que as que TACO joga. Quando TACO está jogando, ele é mais passivo e tenta segurar o controle do mapa. Taticamente, Stewie tenta conquistar o controle do mapa sempre que ele enxergar uma abertura"

Bart Oerbekke/ESL

Apesar da pouca idade, com apenas 21 anos, Stewie já conquistou um Major com a camisa da Cloud9. Logo depois, o americano se juntou aos brasileiros da SK Gaming com a intenção de vencer ainda mais. A experiência não deu tão certo no aspecto dos títulos - apenas dois troféus de baixa relevância foram levantados por aquela line-up. Mesmo assim, ele não se arrepende da decisão: "Se eu deixasse a Cloud9 e fosse para a Liquid hoje em dia, acho que não conseguiria ajudar a Liquid tanto assim".

"Depois de entrar na MIBR, eu aprendi muito com FalleN, coldzera e fer. Você olha para o jogo de maneiras muito diferentes, e com estilos diferentes; agora que estou na Liquid eu posso ajudá-los com o estilo deles também", ele completa.

Outra grande mudança no elenco da Liquid foi na comissão técnica: no lugar do experiente Wilton "zews" Prado, que foi junto de TACO para a MIBR, entra Eric "adreN" Hoag. Essa é a primeira experiência de adreN como técnico, mas sua vivência como ex-capitão da própria Liquid faz a diferença, segundo EliGE.

"Ele tenta pegar o melhor dos dois mundos, misturando o que ele gosta de fazer com as coisas que zews era muito bom, tentando incorporar os pontos fortes dos dois. Eu acredito que ele tem ido muito bem analiticamente, ele consegue realmente dissecar o jogo; ele sempre foi bom nisso, mesmo quando ele era capitão do nosso time, ele era muito bom em falar sobre algumas situações e como consertá-las e tentar tapar os buracos", conta o jogador.

Ainda assim, o americano não perde a oportunidade de mostrar seu respeito ao técnico brasileiro: "Se eu chegava para ele com um problema, como um maneira melhor de controlar a Banana, ele literalmente pesquisaria horas sobre alguns tipos de granadas, alguma maneira de conseguir o controle da Banana de uma maneira melhor. Acredito que zews era muito bom em lidar com personalidades e jogadores, e eu respeito ele por tudo que ele me ensinou. Acredito que ele me desenvolveu muito pessoalmente, e que nós crescemos uns com os outros".

A decepção no Major

Pouquíssimos esperavam uma vitória da ENCE sobre a Liquid nas quartas de final do IEM Katowice, entretanto, os finlandeses mostraram que a zebra não foi apenas sorte, e também superaram a Natus Vincere para chegar à grande decisão do torneio, onde foram derrotados pela Astralis. Mesmo com a derrota, EliGE acredita que seu time é superior, e coloca a culpa da derrota no estilo adotado pela Liquid durante o Major.

"Nós não estávamos realmente jogando nosso jogo. Quando treinávamos, jogávamos com um estilo completamente diferente; nós estávamos nos adaptando ao jeito que nossos adversários jogavam, e por conta disso não estávamos tão confiantes e perdemos rounds que não devíamos ter perdido, ou jogamos rounds de maneiras que nunca jogamos, e eu acho que isso foi muito por ser nosso primeiro grande torneio juntos", ele explica.

Com a confiança nas alturas, ele dispara: "Se tivéssemos jogados um ou dois meses depois, teríamos destruído eles".

Stewie ainda conta que o time não se abalou muito com a derrota, e rapidamente ergueu a cabeça para os próximos desafios: "Nós superamos bem rápido. Apenas dissemos que isso aconteceria eventualmente, e infelizmente aconteceu no Major, mas nós seguimos em frente, apenas mantivemos a cabeça erguida e focamos em como nos precisamos ficar melhores".

Um pouquinho "à brasileira"

Não é incomum ver EliGE exibindo seu excelente português em streams ou entrevistas. Mesmo sendo estadunidense, o jogador se apaixonou pela relação da cultura brasileira com o CS:GO, motivando-o a aprender a nova língua: "Em 2016, quando os brasileiros [da MIBR] vieram para os Estados Unidos, eles começaram a jogar muito bem e a comunidade brasileira cresceu muito. Eu comecei a admirá-los e querer fazer parte dessa comunidade, eu realmente amava aquilo e imaginei que era algo alcançável".

Stewie não fala português, mas também possui seus laços com a torcida brasileria e espera um torcida calorosa para a BLAST Pro Series de São Paulo: "Acho que os brasileiros vão torcer pra gente, já que EliGE fala português e eu costumava ser da MIBR", ele confirma.

A Team Liquid não conseguiu vencer a Astralis em sua estreia na BLAST Pro Series São Paulo, mas se recuperou contra a Ninjas in Pyjamas com o placar impressionante de 16 a 3. Os americanos ainda enfrentam MIBR, ENCE e FaZe para tentar buscar uma vaga na final do torneio.