Capítulo III - Ascensão

A paiN inicia a final de 2015 contra a INTZ com duas partidas históricas

Bruno "LeonButcher" Pereira Editor de Esports
Foto: Bruno Alvares | Riot Games Brasil
Foto: Bruno Alvares | Riot Games Brasil

O Mylon vai agora pra cima do Alocs, ultimate do Kami! A paiN consegue um abate, mas a INTZ devolve e recua! A paiN quer lutar!”.

Com 1-0 no placar na grande final do CBLoL 2015, a paiN se vê com as costas contra a parede. O Inibidor do top fora destruído, os minions pressionando sua base enquanto a INTZ força o quinto Dragão, que concede bônus para as lutas. A iniciação do Fizz de Mylon pega Alocs desprevenido, mas os Intrépidos devolvem o abate em Thúlio enquanto tentam escapar com pouca vida pela rota inferior.

Cinquenta e cinco minutos de partida. Qualquer abate pode significar o final de jogo para a INTZ e o empate na série. Aqui, separam-se os homens dos meninos. Quem estará nas manchetes dos jornais no dia seguinte e de quem a história não se lembrará. A hora que qualquer decisão fará a diferença.

E talvez o maior deles, justo neste momento, erra.

BrTT pula pra cima da INTZ! ELE FOI ABATIDO! BRTT FOI ABATIDO!”, gritou Toboco, quando o Atirador arriscou uma jogada e foi prontamente eliminado pela INTZ.

Tockers e micaO perseguem Kami, o último que sobrou da paiN”, exclamou Tixinha, que depois gritou. “O YANG ESTÁ DANDO TELEPORTE NA BASE DA PAIN, NÃO TEM NINGUÉM PRA DEFENDER! VAI ACABAR O JOGO!”.

Imagine sair de Belo Horizonte, ou Santos, Recife, Florianópolis, Rio de Janeiro, ou da França para pisar em um palco de um estádio de futebol com doze mil fãs ensandecidos gritando o seu nome e o nome de sua equipe.

Para MiT, Mylon, SirT, Kami, brTT e Dioud, o sonho que nunca sonharam havia se tornado realidade. Apenas seis anos após o nascimento do jogo que mudaria as suas vidas, os seis pisavam no palco do Allianz Parque com a camisa mais pesada do cenário para disputar uma final de Campeonato Brasileiro de League of Legends. Uma final que já estava na história antes de ser disputada. E cabia a eles decidirem se seriam protagonistas ou meros coadjuvantes no capítulo que ficaria cravado como o ápice do cenário competitivo de LoL no Brasil.

Do outro lado uma INTZ com quatro fenômenos que surgiam no cenário de maneira explosiva, conquistando a Primeira Etapa 2015 com um jogo rápido e mortal. Sem Revolta na Segunda Etapa, os Intrépidos contavam com a experiência de um campeão brasileiro em Alocs.

Frente a frente no palco com os adversários do momento mais importante de suas carreiras, SirT, Caçador da paiN cravou os olhos nos de Alocs. Ou tentou.

“O cara tava de óculos escuros”, diz Thúlio. “E eu não estou nem brincando.”

“Sério, que porr* é essa?!”, riu brTT.

“A gente tem esse meme do Alocs de óculos escuros até hoje”, comenta Mylon. “Sério, não invente de subir num palco assim, a gente sabia que o cara estava em choque. Não é estilo, você só está tentando demais. Suba na moral e jogue. Pisar naquele palco pra fazer uma graça dessas significa que você não está lá naquele dia pra jogar League of Legends.”

“Os psicólogos sempre frisaram o quanto era importante a gente nunca se mostrar abalados ou tensos, mas estávamos realmente muito confiantes naquele dia”, diz MiT. “Quando vi o Alocs de óculos escuros, fiz questão de ir até ele, cerrar os olhos e apertar a mão dele bem firme pra desejar boa sorte, e quando voltei pra minha equipe falei: ‘Ganhamos esse jogo. Pra esse primeiro o Alocs não vem, não’.”

Aquela paiN estava com uma aura tão confiante, tão unida que farejavam qualquer vacilo dos adversários. Empurrados por milhares de fãs que gritavam a todos os momentos, qualquer mínimo detalhe era o suficiente para puxar o gatilho vencedor de uma equipe que acordou naquele dia para fazer história.

“Usamos toda a energia que vinha da arquibancada”, comenta Thúlio. “Todos aqueles jogadores gostavam muito de estar num favoritismo, ninguém estava preocupado. Por nós, que tivessem mais cinquenta mil na arquibancada, o jogo só acabaria mais rápido, a gente só cresceria mais, e maior seria a ruína da INTZ.”

“Naquele dia, a gente tinha o sentimento que a gente ganharia deles em qualquer coisa, de LoL a par ou ímpar”, diz MiT. “Naquele dia eles nunca passariam da gente. Poderiam reviver aquele dia mil vezes, nas mil eles iriam perder.”

Mas palavras e sentimentos não ganham jogo, a paiN precisaria provar com ações.

Foto: Bruno Alvares | Riot Games Brasil
Foto: Bruno Alvares | Riot Games Brasil

A paiN farejar a tensão de Alocs antes do início da final encaixou perfeitamente na preparação para aquela primeira partida. Como estreia da série, é de se esperar que os nervos estejam um pouco mais a flor da pele. É a ansiedade de acabar logo, seja qual for o resultado.

A preparação da paiN havia sido muito bem feita. A construção do sentimento de equipe, passando por uma fase de pontos mediana e uma invencibilidade total nas eliminatórias já havia ditado a vibração dos jogadores. A parte estratégica, no entanto, foi crucial para que a equipe entrasse afiada dentro de jogo desde o começo. “Eu e o John (Analista) estudamos muito todos os adversários desde o começo do CBLoL, mas para aquela final nós sentamos e cravamos que não íamos ligar para os outros. Iríamos focar no nosso”, diz MiT.

“O brTT gosta de jogar de hyper carry? Então ele vai.
O Kami consegue ceder mais e ainda ser brilhante? Então ele vai.
O Thúlio entende pra quem ele precisa jogar? Então ele vai.
O Dioud é uma esponja pra absorver toda a pressão? Então ele vai.
O Mylon gosta de ser participativo e proativo. Então. Ele. Vai.”

Olhar para o draft da paiN no decorrer daquela Segunda Etapa é entender como ele é construído com base na força de seus jogadores. SirT e Dioud, independente dos Campeões, jogando para absorver pressão dos companheiros e auxiliando pelo mapa. Kami com escolhas mais seguras, mas com potencial de criação de jogadas a partir do mid game. Mylon com tanques ou Campeões agressivos, para coordenar suas ações da melhor maneira possível no mapa, e brTT de hyper carry, né? Um artilheiro precisa fazer gols.

“Entendemos 100% daquela paiN, extraímos o potencial deles totalmente depois de meses de trabalho”, diz MiT, orgulhoso. “Hoje vejo que muitos times começam e terminam o CBLoL da mesma maneira. A gente começou de um jeito e terminou de outro totalmente diferente, porque a gente evoluiu. Algo te garante que só com treinamento você vai melhorar no League of Legends? Em nível alto nada te garante. Primeiro porque está competindo com outra pessoa, então teoricamente o nível vai aumentando a cada dia. Mas a segunda coisa é que precisa ter uma transformação mesmo, o jogo precisa ficar diferente pra você, e a melhor forma de você entender o jogo é entender as pessoas que estão ao seu lado.”

Para a primeira partida, a paiN chutava o que poderia acontecer. A INTZ havia feito um bootcamp na América do Norte para se preparar para aquela série, enquanto o que restou para a paiN no Brasil, na época que o calendário ainda não era otimizado, foram equipes de Tier 2 e Tier 3, já que as da elite já estavam de férias.

“Imaginávamos que eles viriam com uma composição de fast push”, diz Mylon. “Basicamente era pegar Tristana e Nidalee e forçar cercos, levar torres rapidamente. Uma composição chata de jogar contra e relativamente fácil de aplicar dentro de jogo.”

Mas quem quer ser campeão não pode jogar às custas do que pensa o adversário. Precisa impor o próprio jogo, e era isso que a paiN iria fazer. E o alvo principal? Alocs.

“A gente queria muito que o Alocs jogasse de Alistar”, crava Thúlio. “A gente não achava que ele jogava bem com o Campeão, então um dos pontos foi pegar Braum cedo pra ele responder de Alistar, algo bem comum na época.”

“E depois devolvemos com a Vayne em cima”, completou MiT. “Os caras vinham com fast push, pressão de torres e criar um efeito bola de neve com isso, e a gente queria lutar. Pegamos Campeões com uma liberdade criativa muito forte dentro de jogo, qualquer um conseguiria fazer plays.”

Podia parecer uma composição nada a ver, mas sabíamos que iríamos controlar a animação da torcida se jogássemos para cima deles. Eles querem jogar mapinha? Então a gente vai jogar na goela deles.
MiT

Sentado no palco prestes a jogar a primeira partida da final, SirT olha para cima, para as doze mil pessoas animadas por estarem vivenciando um momento histórico. O Caçador volta os olhos para a tela e fecha os olhos.

“Quando os psicólogos (Eduardo e José) entraram na paiN, eles trabalharam individualmente cada jogador, além da equipe”, comenta o Caçador. “Passaram uma respiração específica pra cada um, e eu usei ela antes da primeira partida. Quando abri os olhos, não via nada além da tela, e não era mais impactado por nada ao meu redor.”

Um homem em uma missão.

Para quebrar o cerco e a agressividade de estruturas que a INTZ tinha, a paiN precisava lutar. Era o único jeito de não ficar apenas olhando os Intrépidos jogarem. “Era muito frustrante”, resume Dioud. A paiN liderava em abates, mas os Intrépidos nunca perdiam a vantagem do ouro, construída em destruição de torres, principalmente.

Mas o principal que os levou até aquela final, a paiN não esqueceu.

“Se vocês estão vendo que alguém está correndo perigo, você vai deixar morrer, o seu irmão? Não vai!”

O discurso de brTT não apenas ficou famoso por ter sido emocional e dado o tom final para a paiN partir para a final de suas vidas. O seu significado passa diretamente pelo reflexo das palavras do Atirador dentro dos jogos.

“Veja o minuto 10 de jogo”, diz Thúlio. “O Mylon é gankado na rota inferior e o Jockster abate ele. Na sequência tem uma cavalaria da paiN descendo o rio pra cobrar isso e matá-lo.”

“Agora pule para o minuto 18:40. O brTT compra uma luta com o Jockster no rio, e pode ir pra qualquer lado. De repente, o Kami desce, dá um Flash e ult nele, o Mylon dá Teleporte pra fechar a saída e o Jockster morre. O brTT nem morreu e já estava todo mundo lá, pronto pra salvar ele e punir a INTZ.”

“Nisso tudo o jogo foi se encaminhando para nós”, diz Thúlio. “Fomos pegando kills e vantagens que não necessariamente refletiam no mapa ou no ouro, mas a INTZ sentia cada pancada, cada kill que a gente pegava. A gente foi jogando a torcida contra eles a cada abate”.

Focando nas torres, a INTZ abriu uma vantagem considerável de ouro, mas não conseguiam bater de frente com a paiN em nenhuma luta, e logo o ouro virou um recurso emocional. “A gente fica atrás em gold até os 36 minutos de jogo, mas ninguém sabe disso durante a partida, você só vê o reflexo disso no mapa e na postura dos jogadores. Como a gente sufocava eles, a INTZ pensava ‘estamos perdendo de muito’, e a gente pensava ‘estamos ganhando de muito’.”

O primeiro jogo de uma série é sempre crucial, ele pode ditar o ritmo da série. Pode animar os jogadores, com certeza coloca um favoritismo na cabeça de toda a torcida presente, e para a paiN isso era crucial. Os nervos ficam mais agitados, e para a paiN, não cair no jogo macro da INTZ e forçar um jogo caótico e com lutas era a armadilha perfeita. Os jogadores puniam cada passo a mais dos Intrépidos, e o Allianz vinha abaixo sobre suas cabeças.

Após pressionar e finalmente transformar a vantagem imensa de abates em pressão de mapa, a paiN invadiu a base da INTZ para finalizar o jogo.

“E quer falar em misticismo?”, pergunta Thúlio.

“Antes daquela final, a Riot fez uma votação de quem iria vencer aquela final, com casters, especialistas e convidados, totalizando 17 pessoas. Os palpites ficaram em 16 para a INTZ e apenas um (Tixinha) para nós. Quando invadimos a base deles e estávamos batendo no Nexus, o Kami foi pra cima do micaO dentro da fonte da INTZ e explodiu ele pouco antes do jogo terminar. Repare no placar.”

Com o primeiro jogo conquistado, o mais importante para a paiN era curtir o breve momento da vitória e resetar a cabeça para uma série que demandaria todo o seu potencial.

“Eu já saí da minha mesa gritando ‘zerou, zerou!”, diz Thúlio. Para os emotivos jogadores da paiN, era crucial que tratassem com indiferença o placar da série para lidarem com cada jogo de uma vez. A respiração passada pelos psicólogos novamente entrou em campo para a equipe acalmar os ânimos e voltar para um segundo jogo no qual a INTZ tentaria provar de uma vez por todas que também era merecedora daquele título.

“E foi a partida mais tensa da série, porque a gente estava a um fio de perder o jogo”, diz o Caçador.

Foto: Bruno Alvares | Riot Games Brasil
Foto: Bruno Alvares | Riot Games Brasil

Com uma composição tanque e com muito dano, a INTZ se apoiava em escolhas fortíssimas da época: Urgot ADC, Viktor no meio e o famoso Gnar nas mãos de Yang.

A paiN dominava como poucos o swap lane, um meta na época em que um lado do mapa, top ou bot, cederia pressão para o outro lado crescer. Com Dioud de Alistar e Mylon de Fizz AD, a paiN garantia um potencial de dive forte de um lado, enquanto o outro ficaria mais seguro. Uma cortesia, principalmente, de John. “O nosso swap era muito forte, e isso ficou ainda mais claro no Mundial depois, mas no CBLoL a gente já mostrava isso. Foi um trabalho 80% do John e do Mylon”, comenta MiT, entregando os louros para o analista da equipe.

A paiN segurou tranquilamente o começo de jogo, abatendo Yang em duas oportunidades. No entanto, nas lutas em equipe, o controle de grupo e o dano à distância do Urgot fizeram a diferença para a INTZ, que voltou na partida com força e dominou os objetivos, principalmente o Dragão. Por terem Campeões que absorviam muito dano, era difícil para a paiN lutar, e dificultava a vida dos carregadores e da linha de frente.

“Eles correram do nosso swap o começo de jogo inteiro, mas ainda conseguimos punir um pouco”, comenta Dioud. “Depois, deixei o brTT farmar sozinho para tentar impactar o mapa junto com o Thúlio, precisávamos criar vantagens porque a luta da INTZ era muito forte. Eu era o cara do time que iria morrer em qualquer situação. Nossa linha de frente era meio ruim, então meu papel era segurar o que eu conseguia para o resto fazer o seu trabalho. Novamente entra o discurso do brTT. Eu sabia que assim que iniciasse, a lentidão do Urgot significava que eu não voltaria vivo. Já o Thúlio entregou todos os campos da selva que conseguiu para o Kami crescer ainda mais, e ficou muito atrás do Jockster”.

Mas o jogo lento favorecia a INTZ. Com o potencial de zoning e a força nas lutas, principalmente com o Viktor de tockers com Zhonya’s e itemização completa, a equipe Intrépida pressionou os objetivos com perfeição, conseguindo o quinto Dragão e o Barão, e aproveitando a larga vantagem para pressionar a rota superior e destruir o Inibidor da paiN aos 50 minutos de jogo.

A equipe se segurava como podia, se apoiando no dano massivo da Orianna e Tristana de Kami e brTT, respectivamente, além de flancos precisos de Mylon. Com a pressão dos Super-minions que pressionavam a base, qualquer erro poderia significar o fim do jogo

E então, um deles falhou.

Com os minions invadindo a base da paiN no topo e pressionando as torres do Nexus, a paiN se viu obrigada a lutar no Dragão, que poderia ser novamente o quinto e mais forte pra INTZ. Melhor lutar do que esperar passivamente o jogo acabar, certo?

Em questão de segundos, a paiN puxou o gatilho. Sem tempo para perder, Mylon iniciou em Alocs, e o ult do Kami finalizou o trabalho. Thúlio pagou o preço por sua equipe, e a INTZ se afastava do Dragão pela rota inferior com Yang e Jockster quase abatidos. Foi aí que brTT colocou tudo a perder.

De Tristana, o Atirador pulou em cima dos quatro Intrépidos para abater Jockster e resetar o Salto Foguete da Campeã, mas foi prontamente ultado por micaO, na época em que o ultimate do Urgot causava supressão. O Atirador foi explodido, e a paiN entrou em pânico pela primeira vez na série. Mylon tentou correr, mas Yang imediatamente usou Flash e ult do Gnar para abatê-lo. Dioud, com menos de 100 de vida, se sacrificou para levar Jockster junto num combo de Cabeçada e Pulverizar do Alistar.

Só sobrou Kami contra os três carregadores da INTZ, um Inibidor destruído no topo, Super-minions invadindo sua base e mais de um minuto para cada jogador do seu time renascer.

E Kami brilhou.

“Meu coração parou quando vi o brTT pulando no meio da INTZ”, diz Dioud. “Eles mataram quatro, iniciaram o quinto Dragão e poderiam só acabar com a partida. Até que eles simplesmente esqueceram de tudo e foram atrás do Kami”.

“Muitos jogadores jogam sem sapatos nos palcos, para remeter ao conforto de como você joga quando está em casa ou na gaming house”, diz Mylon. “Depois daquela luta eu já estava calçando os meus tênis quando vi o Kami dançar com o micaO e o tockers. Pensei ‘meu Deus, eles não querem ganhar o jogo’.”

Na campanha de 2015, muitos se lembrarão da jogada de Viktor no Barão contra a Keyd, nas semifinais do campeonato. No entanto, para Kami, a maior puxada de responsabilidade que ele deu no campeonato foi exatamente quando todos os holofotes estavam nele, como único membro vivo daquela equipe da paiN que já havia aceitado que, dali, não passava. Iriam perder o jogo.

“Foi o meu grande momento no CBLoL”, diz Kami, abrindo um meio-sorriso. “Só eu fiquei vivo naquela luta, e eu precisava sobreviver de qualquer jeito”.

Sedenta por sangue, quase que arrogantemente para cravar a bandeira da INTZ e falar “Sim, nós também estamos aqui e podemos vencer”, os Intrépidos deixaram sua alcunha de lado na busca pela perfeição, quando em momentos tão delicados quanto estes, apenas o básico já é o necessário.

“O tockers e o micaO vieram para cima de mim, eu desviei das habilidades deles no dedo e comprei tempo”, narra Kami. “Quando eles haviam acabado de desistir de me perseguir, eu virei e dei o combo de Q + W da Orianna pra matar o tockers, mesmo sem ter visão dele.”

Foto: Bruno Alvares | Riot Games Brasil
Foto: Bruno Alvares | Riot Games Brasil

Enquanto isso, Yang, que havia voltado para a base com pouca vida, Teleportou na rota superior e começou a bater nas torres do Nexus.

E levou uma…

E levou a outra…

Quando o Nexus se aproximava da metade da vida, o Inibidor nasceu, fazendo a estrutura da paiN ficar invulnerável e dando tempo para Kami retornar.

Quarenta segundos para o restante de sua equipe nascer. Kami, sozinho, duelava contra Yang. Com tockers abatido e micaO finalizando o quinto Dragão, não teria apoio.

No momento em que Yang finalmente conseguiu derrubar o Inibidor, apenas cinco segundos restavam para Thúlio voltar, e a paiN, milagrosamente, se segurou.

“Meu coração parecia que ia saltar pela boca durante o minuto inteiro em que a jogada aconteceu”, diz Dioud. “Quando o Inibidor nasceu enquanto o Yang batia no Nexus eu só conseguia pensar ‘Não é para a INTZ ganhar hoje’.”

Não sei no que você acredita, em Deus, magia, destino… Mas até eu que sou cético de tudo pensei: “Não é para ser da INTZ, este dia é nosso”.
Dioud

A paiN precisava de mais um sinal para provar o sentimento. Só mais um.

E Mylon viu.

“Eu acompanhei o jogo inteiro no Tab (tecla para ver a itemização de aliados e inimigos)”, diz o Topo. “E eu entrei em choque a hora que eu reparei, aos 50 minutos, que o tockers tinha vendido a Zhonya’s. Exclamei ‘Não acredito, ele vendeu a Zhonya’s! Não acredito, esse cara vai perder o jogo pro time dele!”.

Sem o item que dá ao Campeão uma invulnerabilidade por alguns segundos, tockers, o grande carregador da INTZ, era presa fácil para a paiN Gaming. Ainda mais de, após luta no topo, o Meio Intrépido ter gastado o Flash, esgotando suas possibilidades de sair de uma possível iniciação.

“O Mylon era muito bom nos flancos, e ele ganhou o jogo pra gente flanqueando e pegando o Viktor nas lutas”, diz Dioud. “Basicamente, a INTZ era um castelo de cartas”.

No bater do relógio marcando uma hora de jogo, Mylon, em uma clássica sentinela colocada por Dioud no meio, Teleportou no flanco da INTZ.

“Cada vez que seguramos o jogo, cada grito que a torcida deu, cada brecha que aproveitamos, aquela carta na base da pirâmide tremia”.

Alocs foi prontamente abatido. Com vantagem numérica, a paiN caminhou pelo meio, destruindo a T2 e a T3 no processo.

“Era questão de tempo para a carta ceder, e com ela o castelo.”

Bastou um passo de tockers para frente para Mylon ver a abertura, usar o combo do Fizz para jogar seu ultimate nos pés do meio da INTZ e a paiN explodir o carregador Intrépido.

“Foi a jogada mais importante daquela final”, crava Mylon. “A gente trouxe um jogo perdido de volta das profundezas. Eu inicio no segundo exato que minha ultimate volta. Tudo o que a paiN precisava de mim naquele momento era que eu reconhecesse o que precisava ser feito.”

“E eu fui impecável”.

Qualquer pessoa num raio de 10 km de distância do Allianz Parque conseguiria ouvir o rugido que vinha do estádio na Zona Oeste de São Paulo. Para os jogadores responsáveis por ensandecer a torcida e protagonizar uma das maiores viradas da história do LoL brasileiro, a parte mais difícil foi tentar resetar novamente a cabeça, que explodia de adrenalina e serotonina.

“Eu saí da partida completamente alucinado”, ri Mylon. “Estava acelerado, quase passando mal. Precisei sentar e voltar àquela respiração que os psicólogos passaram individualmente, porque estava em outro mundo”.

“Ainda estávamos meio atônitos no backstage”, diz Dioud. “Mas precisávamos vencer mais uma pra finalmente vencer a final, e a gente não podia deixar o jogo subir a nossa cabeça”.

Então José Anibal, psicólogo da paiN, entrou na sala da equipe.

“Acabei de passar pela equipe da INTZ no caminho para cá. Eles estão olhando para o chão. Estão todos de cabeça baixa. A gente finalmente conseguiu, estamos dentro da cabeça deles. Acabamos com a mentalidade deles, eles não têm mais força”, disse.

“É jogo único agora. Deem o passo final. Voltem para lá e conquistem o que nós merecemos”.

Publicado 22 de Agosto de 2020
Texto Bruno "LeonButcher" Pereira
Tecnologia Igor Esteves, Eliabe Castro e Thays Santos
Imagens Bruno Alvares e Pedro Pavanato (Riot Games Brasil)