Capítulo I - Sou paiN

Antes de se tornarem campeões, MiT, Mylon, SirT, Kami, brTT e Dioud precisavam aprender a serem um só

Bruno Pereira Editor de Esports
Foto: Bruno Alvares | Riot Games Brasil
Foto: Bruno Alvares | Riot Games Brasil

Histórica, Tixinha, histórica essa final. Enquanto isso, a INTZ fica neste cerco no meio, já o Mylon se separa da paiN para pressionar no split push”.

Na tarde do dia 08 de agosto de 2015, Toboco e Tixinha sentiam a tensão no ar. O terceiro jogo da final da Segunda Etapa do CBLoL 2015 já estava 2-0 para a paiN sobre a INTZ, mas poderia muito bem estar 2-2 e a disputa valer o título para ambos os lados. Mesmo com os fones tapados ouvindo o jogo, os casters daquela final ouviam o rugido de mais de doze mil torcedores presentes no Allianz Parque, na maior final presencial que o League of Legends já viu até agora.

Com o Inibidor do meio já destruído, Mylon, o top laner da paiN, ignora a torre do bot e decide ir direto para o Nexus - sem proteção de suas torres, já destruídas.

Ele vai para o GG! O MYLON VAI PARA O GG!”, gritou Tixinha, ao lado do narrador.

Agora, mais do que ouvir os gritos da torcida, os casters sentiam o estádio tremendo.

A história e evolução da paiN Gaming se confunde um pouco com a do próprio competitivo de League of Legends no Brasil. A organização foi a primeira iniciativa profissional do cenário de LoL no país, antes mesmo do servidor chegar oficialmente. Conhecida pela sua torcida apaixonada, grandes ídolos e conquistas, a paiN Gaming sempre pareceu estar no lugar certo, na hora certa para conquistar ainda mais torcedores.

A revolução do cenário em 2015, com transmissões oficiais, partidas em estúdio e uma grade de conteúdo robusta impulsionou o cenário ainda mais, e em seu ápice, lá estava a paiN, pronta para brilhar. Era impossível não gostar daquela equipe, mesmo que você torcesse para algum rival.

Um sulista habilidoso,
Um recifense leal,
Um santista prodígio,
Um carioca marrento,
Um francês-brasileiro,
Um técnico mineiro.

Não houvesse quem olhasse para aquele elenco de 2015 e não se sentisse representado. Do nordeste ao sul, dos mais passionais aos mais racionais. Mas o principal era o elemento que unia pessoas tão distintas quanto essas. Aquela que colocou a organização paiN Gaming em outro patamar. Um que conquistou o respeito nacional e internacional. Acima da corrida de dezoito vitórias seguidas, acima da melhor atuação brasileira em um Mundial, acima até mesmo de um Allianz Parque abarrotado de vozes que rugiam em uníssono: “PAIN! PAIN! PAIN!”.

Vencer.

Com vocês, o elenco da paiN Gaming de 2015.

Um topo para a todos dominar

Após uma Primeira Etapa aquém do esperado, no primeiro campeonato do francês Dioud no Brasil, uma coisa ficou clara para os jogadores e para o técnico MiT: faltava alguma peça no quebra-cabeças.

Dioud trazia uma boa qualidade de jogo, apesar de forçar toda a equipe a se comunicar em inglês”, diz MiT. “Mas Suporte naquela época era um papel tático que não influenciava tanto assim no jogo, como é hoje. Não, o nosso problema era top side. O mapa estava desequilibrado, não gerávamos agressão na parte de cima e tudo recaía no brTT e no Kami, o que fazia o nosso jogo ficar extremamente previsível”. Além, é claro, de precisar ser alguém com uma mentalidade forte, e que não se intimidasse com o tamanho da torcida e os jogadores que compunham o elenco.

Eliminado nas semifinais pela INTZ, MiT decidiu ir para Florianópolis para a final do CBLoL 2015 entre INTZ e Keyd. Em sua cabeça, um objetivo: encontrar a peça que faltava.

Na época não existia regras anti aliciamento, então coloquei na minha cabeça que era naquela final que eu teria meu top laner. Quem perdesse aquela série entre Mylon e Yang eu chamaria para a equipe… e eu torci como nunca para a INTZ vencer.”

Mylon não só era um nome que MiT conhecia de longa data, mas era um jogador forte mecanicamente e que era conhecido por seu conhecimento de jogo. Não só isso, como a mexida da torre da paiN na contratação colocou em xeque a própria Keyd, equipe de Mylon. A paiN enfraquecia uma das suas principais rivais, que havia acabado de contratar Revolta, a estrela da INTZ campeã daquela Primeira Etapa.

Foto: Bruno Alvares | Riot Games Brasil
Foto: Bruno Alvares | Riot Games Brasil

Eu entrei com os dois pés na porta”, diz Mylon.

Foi um time formado para ser uma super equipe, e em um time assim você sempre vai botar a vitória acima de tudo. Não entrei lá para me encaixar, eu sabia exatamente o que eles precisavam para serem vitoriosos. Tinha uma lista de coisas pra falar na cara de cada um quando entrasse. Eu tinha sono de assistir a paiN jogando, e pra mim isso não é jogar League of Legends.”

Com seus 18 anos de idade, campeão do primeiro CBLoL e sem quaisquer escrúpulos para falar o que desse em sua telha, Mylon era um jogador difícil de se ter na equipe. No entanto, era igualmente genial em jogar o seu próprio jogo, coordenar o começo e as inversões de rota (que era o meta da época) e puxar o espírito de seus companheiros para cima.

Como escreveu brTT assim que Mylon foi anunciado, “Depois de jogar com Mylon no time é impossível desejar menos que Mylon.”

Da paixão para o mouse

Enquanto a paiN se mostrava uma equipe sem muito sal em Summoner’s Rift durante a fase de pontos, finalizada em terceiro lugar (3V, 3E, 1D), o verdadeiro trabalho acontecia em duas frentes: na parte estratégica, com MiT e Rng, e na casa dos loucos, dentro de uma equipe com personalidades fortes e dominantes.

Não fritávamos a cabeça para ganhar as partidas da fase de pontos”, comenta Thúlio. “Não necessariamente dávamos o nosso 100%, apesar de treinar com seriedade todos os dias e nos dedicarmos para melhorar. Do jeito que éramos como pessoas, se jogássemos todos os jogos com sangue nos olhos, íamos acabar nos matando em algum momento, então guardamos essa arma secreta que era a verdadeira sede de vencer.”

Alguma coisa simplesmente não encaixava na época”, diz Kami. “O nosso time era extremamente cabeça dura, ninguém cedia e era difícil tirarmos essa trava de todos para serem maleáveis, então nos desentendíamos muito durante o dia a dia e no campeonato mostrávamos uma paiN cansada e sem fortaleza mental, quando, na verdade, estávamos tentando nos entender no meio do CBLoL.

O maior atrito acontecia entre o técnico e o líder da equipe.

O MiT sempre foi um cara esforçado e que se dedicou muito”, diz brTT. “Ele tinha em mãos um time difícil de trabalhar, e lidou muito bem com isso pela sua personalidade. Não sou um cara fácil de trabalhar, eu bato de frente com decisões que eu não concordo e vou debater até você me provar errado, eu desafio as pessoas ao meu redor, e isso desgastava muito a relação.”

É sempre difícil trabalhar com pessoas competitivas”, diz Mylon. “Eu tenho um perfil muito parecido com o do brTT, exigia muito dos meus companheiros, e se eu fazia algo para te ajudar e você não fazia o mesmo, eu passava por cima de quem fosse para cobrar isso de você. O mesmo com as decisões que o MiT e o Rng (analista) tomavam. No entanto, eu nunca cobrava algo dos outros que eu mesmo não fizesse.”

Reservado e no seu canto, o francês Dioud estava em seu próprio mundo, visto que não dominava a língua portuguesa. “E era bom, porque eu via diversas coisas acontecendo na casa e dentro do jogo e eu apenas tentava absorver aquilo e transformar em algo positivo dentro de jogo, já que não tinha proximidade com eles. Recluso, eu aos poucos comecei a entender o Brasil e as pessoas daqui, e isso criou o carinho que eu comecei a ter pelo país.”

Com tantas personalidades diferentes, a entrada dos psicólogos José Anibal e Eduardo Cillo foram a porta para que a chave da paiN virasse e descobrisse o seu verdadeiro potencial.

O que não contavam era que o potencial de vencer teria um custo.

O próprio time.

Foto: Bruno Alvares | Riot Games Brasil
Foto: Bruno Alvares | Riot Games Brasil

Hourglass

Com o terceiro lugar na fase de pontos, a paiN estava nas eliminatórias. A equipe que foi montada para vencer teria que, de verdade, colocar as garras para fora. Para os cinco jogadores e o técnico de personalidade forte, agora havia verdadeiramente um sentido para todas aquelas discussões, os desentendimentos, o trabalho minucioso com os psicólogos para lidar com as questões de cada um individualmente, todo o trabalho estratégico e de conhecimento da equipe.

E ainda assim, algo a mais pairava sob o ar.

O que é, o que é?

Não entrava pela janela aberta ou pela fresta das portas da gaming house. Tampouco pelo gelado ar condicionado ou pelo som das mensagens privadas entre os jogadores.

Pairo sobre a sua cabeça, ainda que não me possa ver;

Sem som, sem gosto, sem cheiro e sem corpo.

Estou em todos os lugares, ainda que não me possa sentir;

Somente quem verdadeiramente vivia com aquela equipe, entenderia o que se passava.

Misturo todas as suas emoções, ainda que não me possa descrever;

Um sentimento.

Aquele time estava predestinado a acabar”, diz brTT. “Ninguém mostrava ou queria isso, mas todos sentiam. Parece que todos nos playoffs decidiram dar os seus 200% porque a gente não jogaria mais juntos. A partir do momento que isso ficou no ar, era tudo uma questão de fazer o sacrifício do time valer a pena, pelo tanto que batalhamos.”

Todos querem ser campeões, falar isso da boca para fora é fácil”, comenta Kami. “Mas não é apenas querer, é o que você faz, o quanto você sacrifica para chegar lá. O campeão acorda campeão, treina como campeão, comunica e joga Solo Queue como campeão, faz tudo, e eu digo TUDO, como se cada coisa colocasse a coroa mais perto da cabeça dele. E nós colocamos a coroa na nossa cabeça naquelas Eliminatórias, com toda a construção da equipe e do sentimento campeão que tivemos durante o CBLoL.”

Para a paiN, cada partida poderia ser a última.

Cada jogada, um grão de areia no vento.

Cada jogo, um punhado de grãos.

Éramos uma equipe extremamente habilidosa e problemática”, diz o mid laner. “Um time não precisa ser uma família, mas para aquela paiN isso era uma necessidade. Fomos uma equipe que se uniu pelas dificuldades que passamos, pelo tanto que aprendemos sobre cada um e o todo com os psicólogos.”

Para seis pessoas que o coração chega à ponta do mouse antes da cabeça, a rotina mudou. “Aconteciam diversos desentendimentos, mas apenas jogávamos para debaixo do tapete porque não tínhamos tempo a perder com aquilo”, diz SirT. “Colocamos o nosso futuro juntos em xeque em prol de conquistar o CBLoL, e é uma coisa bonita de se ver.

Então era bom que fizéssemos da maneira certa e vencêssemos.”

Recomendamos ouvir esta música enquanto lê a próxima parte

Trilhado com os esforços dos cinco jogadores, o técnico MiT, o analista Rng e os psicólogos José e Eduardo, além de toda a estafe da paiN Gaming, o caminho da paiN para transformar o seu suor em ouro, suas desavenças em título e seu sacrifício em história começaria nas quartas de final contra a INTZ Red, composta de um novato Robo, Caos, Brucer, Sacy e Eryon. A mesma equipe que havia surpreendido a paiN na fase de pontos, em uma atuação que colocou Robo no mapa ao carregar a partida jogando de Ekko contra o veterano Mylon.

Eu fiquei muito puto com o Mylon naquela partida”, confessa Kami. “Porque ele é um jogador brilhante, mas não tinha nem se dado o trabalho de estudar o Ekko para aquele jogo, que era um Campeão que tinha recém-saído.”

Eu era um cara muito teimoso, e isso custou a partida na fase de pontos”, comenta Mylon. “Quando a gente vai para os playoffs, tudo muda, é matar ou morrer, e eu me sinto muito mais determinado a fazer o possível para a gente vencer.”

A série contra a INTZ Red rodou muito ao redor do top, já que o Mylon queria provar que aquele jogo tinha sido apenas um jogo qualquer”, diz Kami. “Mas não víamos problema nisso, já que o mais importante naquela época era o quanto confiávamos na habilidade uns dos outros, mesmo depois de partidas como aquela. Mas para traduzir isso para uma mentalidade vencedora o que a gente precisava era realmente se unir em torno de um objetivo em comum, virar uma família realmente, e só a partir daí entendermos o que é ser paiN, o que é ser aquela paiN.”

A paiN voou naquela Md3. Jogando de Gnar e Fizz, Mylon liderou a equipe com flancos, chamadas rápidas e uma fase de rotas sólida contra Robo. Mas não só ele, como a equipe inteira parecia em um capítulo diferente de sua história, e a jogada do segundo jogo, com Kami de Cho’Gath, provou isso. Uma luta comprada nas condições perfeitas para a composição da equipe brilhar, mostrando o draft sólido que MiT montou e que a equipe acreditou.

A vaga nas semifinais não só deu mais gás para a equipe como também os colocou a um passo de uma final no Allianz Parque, naquele que seria o maior evento de esports da história do país.

Tínhamos construído uma história muito bonita entre nós, mas com a torcida também”, diz Dioud. “Representávamos muito para todos os fãs, por termos pessoas tão diferentes na equipe, e fazíamos questão de mostrar esse carinho com conteúdos de bastidores e streams pessoais. E não tinha um mundo sequer no qual a gente não estaria no Allianz Parque para participar deste momento histórico com os nossos torcedores.”

A adversária nas semifinais seria a Keyd Stars de Leko, Revolta, takeshi, esA e Loop.

A mesma Keyd que MiT havia mirado na construção daquele time, meses antes, ao contratar provavelmente o melhor jogador brasileiro do ano junto de Revolta. Uma oportunidade de ouro para MiT e Mylon provarem que a montagem do elenco havia sido um ataque feroz à rival, e uma conquista que poderia significar o ouro para a paiN Gaming.

Foto: Ricardo D'Angelo | Riot Games Brasil
Foto: Ricardo D'Angelo | Riot Games Brasil

O Mylon era um cara que passava por cima de decisões e sempre argumentava a respeito de outras”, diz MiT. “Ele batia de frente e te desafiava, assim como o brTT. Todo o trabalho da fase de pontos e do começo das eliminatórias ainda precisava ser provado nas semifinais, e felizmente foi antes dela que eu entendi que tínhamos conseguido o que queríamos.”

Na semana que antecedeu a semifinal, a paiN treinava focando na série contra a Keyd Stars.

Eu precisava que o Mylon jogasse de Nautilus contra Gnar, e ele não queria nem a pau”, lembra MiT. “Até então, eu e o Rng, que trabalhava da Europa, tínhamos acordado trabalhar em um sistema de good cop/bad cop. Ele dava mais broncas, e eu defendia mais os jogadores. Por estar ao lado deles pessoalmente, era importante que eles sentissem em mim um aliado, e que eu entendesse o lado deles no contexto da equipe. Mas naquele momento, eu precisava comprar a briga, ou a relação com o Rng ia desgastar ainda mais.”

MiT forçou o pick de Nautilus. Se aproximando de Thúlio antes do começo do jogo, MiT passou a instrução para o Caçador que foi mais moldado do que qualquer um do cenário para jogar para a sua equipe: campar a lane do Mylon e deixá-lo o mais confortável possível no jogo. A paiN desfilou no amistoso contra a INTZ, em grande atuação do top laner.

Ao final do jogo, ele disse um simples ‘É, eu acho que é um bom pick’”, diz MiT. “Não só isso, mas de noite, no dia antes da semifinal contra a Keyd, estávamos só eu e o Mylon na sala da gaming house, e ele me puxou e disse: ‘MiT, eu acho que o Leko vai querer jogar de GNar, e eu queria jogar de Rumble’. Aquilo era um problema, porque Rumble precisa de muitos recursos para funcionar e pode desbalancear o mapa, algo que o resto da equipe odiava que acontecesse. Sugeri ele continuar com as escolhas de Nautilus, Shen e etc, mas ele disse ‘Confia em mim’, e aquilo bastou para mim."

O técnico que havia comprado briga com um de seus jogadores de maior destaque durante a semana naquele instante entendeu que era a sua hora de devolver. “Mylon, você vai falar exatamente assim pro time: ‘Pessoal, conversei com o MiT e o John e achamos que Rumble é uma boa escolha aqui’. Quando, no dia seguinte, ele falou isso e o time comprou a ideia na hora, entendi que naquela hora deixamos de ser um time, e realmente nossos laços foram fechados. O Mylon é um cara que confia nele mesmo e nos companheiros, então quando ele falou sobre ele e a comissão, o próprio time entendeu o quão importante era aquilo, e comprou a ideia. Foi a coroação de um trabalho.”

Escrito em pedra

A Keyd era um time extremamente forte, eram muito espertos e sabiam dificultar o jogo de uma forma incrível”, diz Kami. “Hoje todos sabem que vencemos de três a zero e terminando sempre com mais de 10k de ouro de diferença, mas todas as minhas memórias remetem a uma série tensa.”

Ficou triste pelo spoiler? Não fique.

A paiN de 2015 não ficou conhecida apenas pela grife de seus jogadores, pela final no Allianz Parque em frente a mais de 12 mil torcedores, pela melhor atuação brasileira num mundial, não.

Aquela paiN ficou conhecida porque tinha o dom de encantar.
De transformar cinco jogadores em uma família.
De fazer com que jogadas virassem memórias afetivas em nossas mentes.

Quem não lembra do ult de Azir de Kami? Com Dioud ao lado gritando “Oh Kami, oh my god!
Do backdoor do Mylon? Com a paiN inteira perseguindo a INTZ.
De Kami roubando o Barão das mãos da Keyd? Com a equipe aos berros.

A paiN 2015 cativa emoções, cria esses laços nas nossas memórias. De jogadas que sabemos cada detalhe, cada campeão, cada palavra da narração. Cravando momentos em pedra na história do League of Legends brasileiro. Essa é a paiN.

E essa é uma de suas jogadas.

Eu não lembrava que estávamos sem a nossa bot lane, apenas que precisávamos roubar o Barão e que estava com medo do Kassadin”, recorda Kami. “Às vezes as pessoas acham que o áudio está atrasado, mas não, eu realmente falo que vou matar o Takeshi antes de matá-lo, e depois falo que vou roubar o Barão antes de roubá-lo. Não sei o que acontece, mas parece que quando você está no meio daquela adrenalina toda, o tempo passa devagar, e você tem tempo para transformar aquilo em um momento mágico.”

Após brTT e Dioud serem pegos no rio, a Keyd partiu para o Barão. Thúlio e Kami prontamente foram para o objetivo, e Mylon, que puxava a rota inferior, disparou pela selva inimiga para chegar a tempo.

A gente só precisava ter calma”, relembra Mylon, com a mesma calma da época. “Eu fui um dos primeiros a chegar, e meu único objetivo era matar quem poderia dar disengage na entrada do Kami e do Thúlio, que era a Janna. Então eu pulo lá dentro e instantaneamente foco o Loop. Eu só precisava causar dano e espalhar controle de grupo, minha atenção não estava no Barão, isso era com o Kami e com o Thúlio.”

Desde a minha entrada na paiN em 2012, eu fui moldado para ser o jogador que a paiN precisava”, diz Thúlio. “Existem Caçadores com melhores jogadas, outros com escolhas alternativas, mas todos os jogadores da equipe diziam que eu era o único que encaixava. Todo o meu trabalho durante aqueles anos foi focado em habilitar as outras pessoas do time a brilharem. Foi assim que eu e o Kami construímos a nossa sinergia, que acontecia como poucos, principalmente na hora dos objetivos.”

Eu via tantas vezes Kami e Thúlio roubar objetivos nos treinos que confiei cegamente que eles fariam isso de novo”, diz Mylon. “Construímos esse tipo de confiança porque o time era nutrido na admiração que uns tinham pelos outros, principalmente na habilidade individual de cada um em sua role. Então às vezes o que você mais precisa fazer é só confiar que o cara vai fazer o trabalho dele.”

Dioud falava a cada segundo a vida do Barão descendo. O Takeshi tentou vir para cima de mim e eu dei um passo para o lado. Em um segundo ele abriu a brecha, meus olhos cravaram nele e eu o explodi, e comecei a correr para o Barão.
Kami

Eu não lembro de gritar sequer uma jogada da minha carreira”, diz Kami, depois de rever a jogada pela centésima vez. “Simplesmente não é o meu perfil. Acho que até por isso me atribuíam como um jogador passivo na lane. Nunca fui um jogador de comemorar antes da hora, e na real nem mesmo quando a gente ganhava. Eu sempre senti mais alívio do que qualquer outra coisa nas nossas vitórias. Porque é uma carreira muito tensa, você treina todos os dias por meses, e tudo é definido em uma série, em momentos que duram segundos, e coloca a risca todos os sacrifícios e esforços que você fez, é quase que injusto.”

Alívio.

Em uma série dominada por uma paiN imparável e unida, alívio é a palavra que uma de suas maiores estrelas resume um dos momentos mais mágicos que já aconteceram.

A paiN acabou com o jogo pouco tempo depois. A adrenalina baixou, os jogadores voltaram a sentir que conseguiam respirar, não só como algo automático. Estava feito.

A paiN Gaming jogaria a final na frente de doze mil fãs no maior evento da história dos esportes eletrônicos no Brasil.

A próxima parada era o Allianz Parque.

Publicado 08 de Agosto de 2020
Texto Bruno "LeonButcher" Pereira
Tecnologia Igor Esteves, Eliabe Castro e Thays Santos
Imagens Bruno Alvares e Ricardo D'Angelo (Riot Games Brasil)