Cavaleiros do Zodíaco: Bravos Soldados tinha tudo para ser o melhor jogo baseado na maior obra de Masami Kurumada. Após um fraco A Batalha do Santuário, a Namco Bandai teve tempo suficiente para melhorar os aspectos técnicos e narrativos da nova empreitada. O avanço, no entanto, se limita à quantidade de personagens e aos gráficos, mais bem acabados que o jogo anterior.

A reunião de todos os cavaleiros dos arcos do Santuário, Hades e Poseidon enchem os olhos do fãs. Há inúmeras armaduras, golpes clássicos e cenários inspirados no seriado. Por outro lado, a falta da dublagem joga contra a nostalgia de uma franquia que, no Brasil, tem sua grande força nas vozes dos personagens. Erros assim se destacam principalmente pelos controles repetitivos e a preguiçosa campanha. Não foi dessa vez que os guerreiros de Atena ganharam um jogo digno de sua reputação.

Mangá renovado em Power Point

Como um serviço visual aos fãs, Bravos Soldados é um acerto. A arte dos guerreiros é ótima e enaltece o brilho e detalhes das armaduras. Os Marinas de Poseidon, por exemplo, que têm uma grande quantidade de traços e diferenciação em suas roupas, foram bem cuidados pela Namco - assim como as várias armaduras de Seiya, Shun, Shiryu e Hyoga.

Os cenários não têm grande variedade, mas conseguem destacar objetos reconhecíveis aos olhos dos mais aficcionados. Seja no Santuário ou nos Pilares, as fases têm o mesmo formato, mas estátuas e cores do ambiente trazem uma mudança necessária para não soar como se tudo se passasse no mesmo lugar.

Por outro lado, a campanha por pouco não joga esse trabalho por água abaixo. Ao invés de mostrar cenas do anime ou mesmo animações digitais entre as lutas, a Namco opta por uma entediante apresentação com imagens e diálogos escritos. Nada poderia ser mais preguiçoso. Tivesse ao menos incluído o áudio em português, marca registrada da fama do anime no Brasil, o 'Power Point' de Bravos Soldados teria salvação.

A emoção de cenas históricas como o sacrifício de Shiryu contra Shura ou aparição de Ikki na Casa de Virgem são relegados a uma quantidade sem fim de imagens tremidas e pobres efeitos visuais. A falha perdura por todo e qualquer diálogo do game, seja dentro das batalhas (com a aparição quase imperceptível de ótimos personagens, como o Mestre Ancião) ou na introdução de uma nova saga.

Por Atena. Sempre...

Sem a parte romântica e mitológica, Cavaleiros do Zodíaco é sobre batalhas, lutas e uma pancadaria sangrenta. Se a tentativa de uma aventura/beat'em up falhou, a pura e simples luta 1vs1 parecia ser a melhor escolha. De fato é, mas não da forma como a Namco faz. Ao passo que agrada os fãs com inúmeros personagens, a desenvolvedora impõe uma jogabilidade repetitiva e rasa.

Bravos Soldados está clube do jogos de luta primários, sem chance de competir com games como Street Fighter ou Injustice: Gods Among Us. Os clássicos poderes estão lá, mas não exigem muito para a execução - basta, na verdade, apertar um botão. Além disso, há a dificuldade risível de toda a campanha principal, que deixará o mais leigo chegar a pontuação máxima com pouco ou nenhum treinamento.

Não bastasse a facilidade, há uma inexplicável opção de repetir (de novo) as lutas vencidas. Ou seja, não importa se completas um desafio ou extermina o inimigo sem levar um soco, sempre haverá a mesma luta novamente. Para não dizer que o combate é o mesmo, há um aumento em algum atributo dos personagens no segundo 'round' - medida de pura preguiça (de novo). A diversão fica por conta da tentativa do jogador em terminar um embate como no anime, algo que o jogo não exige mas sugere algumas vezes.

Ao fim da campanha, sobra o multiplayer, que acaba sendo mais divertido que todas as horas anteriores. Feito para ser o palco do encontro nostálgico entre fãs, esse é melhor modo de Bravos Soldados. Sem compromisso de narrativa, a arena é perfeita para descobrir poderes, relembrar momentos e se divertir com amigos que também conhecem a série - afinal, não há outro perfil de jogador que se interesse pelo título.

Pela nostalgia e quantidade

Mesmo na tarefa de ser um serviço aos fãs, Bravos Soldados comete alguns deslizes. No primeiro contato será difícil não se apaixonar novamente e brilhar os olhos com a reestilização visual feita pela Namco. Aos menos exigentes e interessados somente no multiplayer, talvez seja essa a impressão que perdure. Algo que não acontecerá com aqueles que passarem mais tempo com o game.

Não é de hoje que admiradores de Kurumada exigem um jogo de qualidade. A tarefa ficou longe de ser cumprida em A Batalha do Santuário, mas dá um passo a frente com Bravos Soldados. Nostalgia e lembranças entregues, o próximo degrau para a Namco é fazer um bom game de luta.

Nota do crítico